Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a participação do PT no segundo turno das eleições municipais e o ressurgimento da dicotomia direita/esquerda.

Autor
José Eduardo Dutra (PT - Partido dos Trabalhadores/SE)
Nome completo: José Eduardo de Barros Dutra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Considerações sobre a participação do PT no segundo turno das eleições municipais e o ressurgimento da dicotomia direita/esquerda.
Aparteantes
Júlio Eduardo.
Publicação
Publicação no DSF de 27/10/2000 - Página 21152
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • ANALISE, CARACTERISTICA, SEGUNDO TURNO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, PERMANENCIA, DISPUTA, CANDIDATO, PREFEITURA, PARTIDO POLITICO, APOIO, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • DEFESA, IMPORTANCIA, INICIATIVA, INCENTIVO, ETICA, EXERCICIO, POLITICA, OBJETIVO, COMBATE, CORRUPÇÃO, BUSCA, ATENDIMENTO, DEMANDA, POPULAÇÃO.
  • ELOGIO, PARTICIPAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ELEIÇÃO MUNICIPAL, CRESCIMENTO, INFLUENCIA, NUMERO, PREFEITURA, MUNICIPIOS, PAIS.

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O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos nos aproximando do segundo turno das eleições municipais nas cidades em que se fez necessário. O processo de campanha, o debate que vem acontecendo, no segundo turno, em algumas cidades, particularmente em São Paulo, em Curitiba e em Recife, na minha opinião, já serviu para algo muito importante: sepulta de vez a falácia propagandeada por alguns do fim da história da de que não há mais diferença entre Direita e Esquerda.

De um modo geral, as pessoas que sempre procuravam propagandear esta tese de que, com a globalização, com a modernidade, não havia mais dicotomia ou diferença entre a Direita e a Esquerda normalmente eram de Direita. O irônico é que a ressurreição do confronto entre Direita e Esquerda, que alguns davam como sepultado, seja feita nessa campanha exatamente pela Direita.

Entretanto, se há esse lado positivo, deve-se lamentar que a ressurreição da dicotomia do confronto entre Direita e Esquerda, feita pela Direita nessas eleições, venha acompanhada da ressurreição dos argumentos mais retrógrados, obscurantistas, rasteiros e baixos, feitos por alguns candidatos. É até natural que isso aconteça, dado o desespero de setores das elites, setores conservadores, de Direita, que estão percebendo que, inexoravelmente, a marcha da história e do eleitorado brasileiro aponta para a diminuição desses privilégios.

Agora, temos a obrigação de responder, não enveredando pelo mesmo tipo de baixaria, pelo tipo de acusações pessoais, calúnias, rasteiras, como tem acontecido, particularmente, em São Paulo. Temos que responder à altura no debate que queremos travar, sim. Apesar de alguns dizerem que havia sido sepultado, há um confronto, uma diferença, sim, entre Direita e Esquerda. E continua havendo, no Brasil e no mundo, apesar de alguns dizerem que havia sido sepultada essa diferença. E é bom que esse debate aflore, mesmo em eleições municipais.

Por outro lado, tem-se que registrar que alguns dos argumentos brandidos por alguns candidatos, particularmente pelo Sr. Paulo Maluf, em São Paulo, não são argumentos simplesmente de direita. Existe a direita civilizada, a que devemos respeitar, com a qual queremos continuar debatendo; existe a direita moderna. Contudo, os argumentos brandidos particularmente em São Paulo e em Recife não são de direita; são argumentos do obscurantismo, dos saudosos da ditadura, das viúvas da ditadura militar, que, da mesma forma que acontecia na época da ditadura em todas as vezes que os estudantes iam às ruas, procuram sempre estabelecer uma correlação, um sinônimo entre movimento popular, entre livre organização dos trabalhadores e baderna ou crime - ou seja, algo que tem que ser absolutamente reprimido.

Esses argumentos dos saudosos da ditadura, externados pelo candidato Paulo Maluf, em São Paulo, e pelo candidato Roberto Magalhães, em Recife, não surpreendem, até porque ambos são oriundos, aliados, cúmplices da ditadura militar, das torturas, do exílio, do assassinato de brasileiros. Não é à toa que particularmente em São Paulo haja uma convergência tão ampla de forças políticas e sociais, de lideranças, em torno da candidatura da companheira Marta Suplicy. São pessoas com que temos divergências, embates bastante duros aqui no Congresso e também no Estado de São Paulo, mas que mantêm compromissos tanto de caráter quanto de prática política; compromissos esses, em primeiro lugar, com as liberdades democráticas e com tudo o que foi conquistado graças à mobilização social, graças à capacidade de organização dos estudantes e dos trabalhadores, que foram para as ruas e viabilizaram este momento de liberdade que vivemos. Essas pessoas, portanto, que estão hoje apoiando a candidatura da companheira Marta Suplicy, têm isso muito presente, apesar das divergências políticas e ideológicas com o PT e com a própria candidata.

Outro aspecto que viabiliza essa aliança em São Paulo é a defesa da ética na política. É a posição de que não dá mais para continuar com o velho argumento “ademarista” e que, infelizmente, continua perpassando campanhas eleitorais: “rouba, mas faz”. Nesta cruzada, nesta luta, existem pessoas de esquerda, de direita, comunistas, socialistas, socialdemocratas, liberais com a convicção e a certeza da necessidade de que é possível fazer política com ética, sem roubar o dinheiro do povo, sem provocar os rombos no orçamento, nas prefeituras, nos governos de Estado ou no Executivo Federal.

Logo, esse debate é que tem permitido a ampliação de candidaturas do nosso Partido, não só em São Paulo, mas também em Goiânia, onde há um candidato do PT que recebe o apoio declarado do PMDB e de setores majoritários do PSDB, contra uma candidatura que personifica a aliança da direita mais reacionária, retrógrada com a corrupção. Até lamento esse fato, porque, no caso de Goiânia, com o candidato e ex-Prefeito Darci Accorsi, a única referência que me ocorre neste momento é aquela famosa peça: “Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá”. Digo isso porque ele foi Prefeito pelo PT e agora diz que nunca foi de esquerda e coisas do gênero.

Sr. Presidente, dizem até que há uma praga do PT contra os que saem do nosso Partido; depois que saem, caem no ostracismo. Não acredito nisso, não há essa praga. Contudo, muitas vezes, pessoas ocupam cargos e recebem destaque no Partido dos Trabalhadores e passam a se considerar maiores do que a instituição. Depois que saem, percebem seu verdadeiro tamanho. Em Goiânia, por exemplo, o ex-Prefeito Darci Accorsi foi candidato a Deputado Estadual na eleição passada e não se elegeu; agora está enfrentando um candidato do PT. É lógico que também em Goiânia a pesquisa errou redondamente no primeiro turno, mas as pesquisas mostram que seremos vitoriosos lá.

Há outros exemplos, inclusive o da minha Aracaju, em que o candidato do PT apoiado na eleição de 1996 foi para o segundo turno, mas perdemos por pouco mais de 10 mil votos. Depois disso, ele passou a se julgar maior do que o PT, saiu do Partido e foi candidato agora, chegando em quinto lugar, atrás do PHS, que teve pouco mais de 2 mil votos. Foram menos votos do que os obtidos pelos vereadores eleitos pelo PT. Não é praga do PT. É que algumas pessoas passam a se considerar maiores do que as instituições, mas o fato é que não o são.

Srs. Senadores, voltando à questão do debate no segundo turno, o PT está participando dele em 16 cidades com candidato a prefeito e mais em cinco com candidatos a vice-prefeito. Em algumas dessas cidades, há franco favoritismo dos nossos candidatos, de acordo com as pesquisas eleitorais - sempre é bom registrar. Em outras cidades, a metade delas mais ou menos, há uma disputa bastante equilibrada, sempre com empate técnico; em alguns casos, estamos atrás; em outros, na frente. Independentemente do resultado final, acredito sinceramente que o PT tem chances reais de ganhar as eleições em pelo menos metade dessas 16 cidades em que disputa no segundo turno. Em pelo menos 3 grandes capitais dentre as 6 capitais em que estamos disputando, existe ampla vantagem dos nossos candidatos, com crescimento permanente, constante e seguro do nosso Partido, sem inchaços.

Já tive a oportunidade de registrar aqui que essa eleição tem números para todos os gostos. Cada Partido pode dizer que ganhou a eleição, dependendo do critério que utilizar: número de prefeituras, número de votos, número de votos nas cidades grandes ou números de votos nas cidades médias. Há números para todos os gostos. Todo mundo pode dizer que é vitorioso nessas eleições. O que faço questão de afirmar é que existe um crescimento constante do nosso Partido, de eleição para eleição. Não houve uma eleição em que o PT diminuísse, sejam eleições municipais, sejam eleições nacionais, como também nenhuma em que houvesse o inchaço, a explosão: “O PT extrapolou até as suas possibilidades”. Não, esse crescimento seguro e permanente é que nos dá a certeza da possibilidade de nós, um dia, virmos a governar este País, não sozinhos, porque nós, do PT, eu particularmente, já banimos do nosso ideário a idéia de que algum Partido possa vir a governar qualquer país que seja sozinho, principalmente um país tão difícil como o Brasil.

Queremos continuar trabalhando na perspectiva de formar uma grande aliança de centro-esquerda, que congregue os socialdemocratas, os progressistas, os comunistas, os socialistas no sentido de virmos a governar este País. Não sei se isso ocorrerá daqui a dois ou seis anos, mas acredito sinceramente que seja possível trazer inclusive setores que fazem parte hoje do Bloco do Governo, mas que são sinceramente progressistas e socialdemocratas.

O Sr. Júlio Eduardo (Bloco/PV - AC) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT - SE) - Concedo com muito prazer o aparte ao Senador Júlio Eduardo.

O Sr. Júlio Eduardo (Bloco/PV - AC) - Como V. Exª, também tenho observado toda essa movimentação do segundo turno, e o Partido Verde passa por uma situação emblemática. O Partido Verde, que defende a não hegemonia do poder, está disputando uma prefeitura que tem uma importância histórica para o Partido. No Município de Guarulhos, o Partido Verde e o Partido dos Trabalhadores disputam o segundo turno. Eu, que sempre fui um torcedor e contribuinte para o crescimento das propostas progressistas da sociedade, observando a movimentação no Município de Guarulhos, vi que as discussões políticas têm acontecido e que as divergências existem entre os dois Partidos. Em termos de pesquisa, existe um empate técnico; em termos de atuação, são óbvias as diferenças que fazem os dois Partidos terem nomes diferentes, estatutos diferentes e propostas diferentes. Mas tenho certeza absoluta de que, independentemente do resultado do segundo turno no Município de Guarulhos, que representa a segunda maior arrecadação no Estado de São Paulo e que tem uma realidade de 320 favelas, o futuro será diferente. Independentemente da vitória do PT ou do PV, tenho certeza de que Guarulhos passará a viver uma nova realidade, progressista, que respeita o bem público, que respeita o dinheiro público e que faça o Município que tem 1.250.000 habitantes viver novos tempos. Muito obrigado a V. Exª.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (Bloco/PT - SE) - Muito obrigado, Senador Júlio Eduardo, pelo aparte de V. Exª.

Não conheço o candidato a Prefeito pelo PV em Guarulhos. Conheço o candidato do PT, o Deputado Estadual Eloi Pietá, um dos Deputados mais atuantes da Assembléia Legislativa de São Paulo e que tem desenvolvido um trabalho firme e permanente em defesa da ética. Mas o segundo turno acaba propiciando essa situações em que há candidatos do mesmo campo disputando a eleição. Com certeza, nesses casos, o debate ocorre num nível mais elevado.

            Passando os olhos em alguns dados sobre outras cidades onde ocorrerá o segundo turno, salvo engano, vejo que Diadema, além de Guarulhos, é a única outra cidade - pelo menos onde o PT está disputando - em que há disputa entre candidatos do campo de esquerda. Em Diadema, concorre com o PT um candidato pelo PPS que inclusive já foi Deputado e Prefeito pelo PT, o José Augusto. Mas, em quase todos os outros Municípios, há uma disputa clara entre diferentes visões, entre projetos diametralmente opostos, a velha disputa entre direita e esquerda que alguns pensavam estar sepultada.

Sr. Presidente, aproveito a oportunidade para desejar sorte e sucesso a todos os nossos candidatos que disputam a eleição em segundo turno no próximo domingo: os companheiros Tarso Genro, em Porto Alegre; Ângelo Vanhoni, em Curitiba; Marta Suplicy, em São Paulo; Pedro Wilson, em Goiânia; João Paulo, em Recife; Edmilson, em Belém; Pepe Vargas, em Caxias; Marco Maia, em Canoas; Fernanda Marroni, em Pelotas; José Cláudio, em Maringá; Nedson Micheleti, em Londrina; Eloi Pietá, em Guarulhos; Osvaldo, em Mauá; Filipe, em Diadema; Telma de Souza, em Santos; e Toninho, em Campinas. Desejo também sucesso aos candidatos de outros Partidos com quem compomos a chapa majoritária: Célio de Castro, do PSB, em Belo Horizonte; Inácio Arruda, do PCdoB, em Fortaleza; Luciana Santos, do PCdoB, em Olinda; Jorge Roberto Silveira, do PDT, em Niterói; e Edinho Araújo, do PPS, em São José do Rio Preto.

Aguardamos a manifestação soberana das urnas, tendo a certeza de que, independentemente do resultado do próximo domingo, o Brasil que sai das urnas dessas eleições municipais será um Brasil diferente, mais esperançoso, mais progressista e que acredita ser possível construir um país que venha a garantir sobrevivência, cidadania e dignidade a todos os seus filhos.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/10/2000 - Página 21152