Discurso durante a 145ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre entrevista concedida pelo governador do Paraná, Jaime Lerner.

Autor
Osmar Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Considerações sobre entrevista concedida pelo governador do Paraná, Jaime Lerner.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/2000 - Página 21278
Assunto
Outros > ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • COMENTARIO, PRONUNCIAMENTO, JAIME LERNER, GOVERNADOR, ESTADO DO PARANA (PR), REFERENCIA, FRUSTRAÇÃO, PROIBIÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, MOTIVO, REPUTAÇÃO, OCORRENCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO ESTADUAL.
  • SOLICITAÇÃO, JAIME LERNER, GOVERNADOR, ESTADO DO PARANA (PR), ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ECONOMIA, ESPECIFICAÇÃO, QUEBRA, BANCO DO ESTADO DO PARANA S/A (BANESTADO), CRESCIMENTO, DIVIDA PUBLICA, MOTIVO, EXCESSO, IRREGULARIDADE, ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. OSMAR DIAS (PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje de manhã cedo, liguei o rádio do carro e ouvi uma infeliz entrevista com o Governador do Paraná, Jaime Lerner, na qual S. Exª demonstrou a sua frustração por ter sido proibido de participar da campanha em Curitiba. O seu candidato, do PFL, proibiu-o de sair na televisão e de aparecer nas ruas e nos comícios, preocupado com a imagem que S. Exª tem hoje em Curitiba em função do seu péssimo governo e, principalmente, do alto nível de corrupção que acabou por destruir o Banco do Estado do Paraná.

O fato de o Governador ter sido impedido de participar da campanha no 1º turno, tanto em Curitiba quanto nos municípios paranaenses, deve servir de incentivo para que S. Exª raciocine e reflita a respeito do seu comportamento como Governador. Ao invés de querer iniciar uma campanha depois da eleição, deve começar a administrar melhor o Estado do Paraná, a investigar os escândalos de corrupção do seu Governo, a buscar os responsáveis pelo assalto que se praticou no Banco do Estado do Paraná, a punir os responsáveis e a tentar recuperar o dinheiro roubado.

Como Senador do Paraná, estou à disposição do Governador no Senado para, juntos, fazermos uma análise acerca da situação financeira a que chegou o Estado do Paraná em função de uma administração incompetente, irresponsável. Tendo contratado um empréstimo, o Estado paga hoje taxa de permanência, uma multa, já que o Governador, que afundou o Paraná em dívida, não consegue sequer utilizar o dinheiro em função do estado de calamidade financeira em que se encontra o tesouro estadual.

Sugiro ao Governador que esqueça a sua frustração por não ter sido possível a sua participação na campanha eleitoral, já que gosta tanto da mídia e de aparecer. Isso acontece. Vamos sentar em volta de uma mesa e conversar seriamente a respeito do futuro do Estado. Vamos conversar sobre os R$15 bilhões da dívida construída nestes seis anos de mandato do Governador Jaime Lerner. Vamos conversar sobre como podemos ajudar o Estado do Paraná a sair desse atoleiro em que S. Exª o colocou. Vamos conversar sobre as denúncias que recebo diariamente, como esta que me chegou às mãos hoje - já protocolada no Ministério Público -, informando que o Secretário da Fazenda do Estado do Paraná, Giovani Gionédis, e sua família, recebem mensalmente salários equivalentes a R$150 mil, destinados, a princípio, a servidores inativos; e que o pai do Secretário da Fazenda atua como procurador de contas de aposentados.

Gostaríamos de discutir por que o Banco do Estado do Paraná foi vendido por um valor muito abaixo do avaliado pelo próprio dono do Itaú, que comprou o Banco do Estado. Temos de conversar sobre o futuro do Estado. Não devemos utilizar as emissoras de rádio do Paraná, os jornais, para caluniar, para mentir, para falsear, para continuar julgando o povo do Paraná como se fosse menos inteligente e não soubesse julgar o que está acontecendo.

Festejar a venda do Banco do Estado é o mesmo que festejar essa falsa vitória de Curitiba, porque a diferença de votos foi pequena. Só houve essa diferença de votos em favor do candidato vencedor em função da campanha milionária que ocorreu. Todos os cargos comissionados foram obrigados a trabalhar na rua para o candidato da situação. A máquina foi utilizada de forma intensa na campanha eleitoral, principalmente no dia da eleição.

É bom que conversemos a sério com o Governador sobre o Estado do Paraná. S. Exª não tem sido responsável na condução dos destinos daquele Estado. Disse hoje S. Exª que é o grande vencedor do PFL. Até estranhei, porque ontem eu ouvia entrevistas de outros líderes do PFL, falando de vitórias espetaculares em outros Estados. Há líderes que conquistaram 92% das prefeituras municipais em seus Estados, e no meu Estado o PFL não teve um desempenho que possa ser considerado assim tão vitorioso. Apesar da vitória na capital, o PFL levou uma surra no interior; e agora o Governador vem à rádio e diz ser o grande vitorioso no cenário nacional do PFL. Disse S. Exª que era o grande vitorioso e que, estando nos Estados Unidos e não pensando em ser Prefeito, as circunstâncias o fizeram ser por três vezes Prefeito de Curitiba. Disse ainda S. Exª que não era político. Foi Prefeito por três vezes de Curitiba, duas vezes nomeado e outra eleito, Governador por duas vezes do Estado do Paraná e ainda diz não ser político. Gostaria de encontrar um nome para isso, porque quem participa da política há 30 anos, sem fazer outra coisa durante todo esse tempo, se não é político, o que é?

S. Exª disse que, como grande vitorioso, tem o direito de aspirar a coisas maiores. Como cargo maior que o de Governador do Paraná só o de Presidente da República, fico pensando como o PFL, Partido do Governador Jaime Lerner, vai encarar essa. Se S. Exª quer ser candidato, terá que haver uma decisão do Partido, e não quero dar palpite em outros Partidos, mas é bom conhecer a história do Governo Jaime Lerner antes de tomar uma decisão. O PFL, evidentemente, quer ser vitorioso ao entrar numa campanha, sobretudo agora que estamos nessa discussão sobre a ética na política. É preciso, realmente, encontrar candidatos que tenham uma ficha limpa.

Em sua entrevista, o Governador afirmou hoje que já tem dois candidatos ao Governo do Paraná: o Ex-Ministro Rafael Greca e Alcenir Guerra. Os dois estão à altura do Governo Jaime Lerner, ambos têm a cara do Governo Jaime Lerner. Um tem 600 ações protocoladas no Ministério Público da época em que foi Ministro do Esporte. Evidentemente, Rafael Greca, também proibido de aparecer na televisão durante a campanha eleitoral, tem contas a acertar com a Justiça brasileira. É bom que o Governador Jaime Lerner comece a pensar que pode ser que se encontrem muitas dificuldades para a consolidação da candidatura de alguém que tenha tantas ações protocoladas no Ministério Público, que enfrenta tanta dificuldade com a Justiça.

Mas o povo brasileiro está muito mais atento, mais informado. A TV Senado, atualmente, atinge grande parte da população brasileira. Assim é mais fácil contar a realidade do que acontece no Estado.

Li no Jornal do Brasil - não sabia que este periódico se prestava a tal tipo de serviço - um editorial condenando os três Senadores do Paraná. Tenho o direito de interpretá-lo e de dizer que não foi escrito gratuitamente. Quem o escreveu não sabe nada a respeito do que aconteceu com o Banco do Estado; não sabe que o Banco do Estado foi assaltado, não sabe que o Banco do Estado - roubado que foi - não teve até agora nenhum centavo devolvido; não sabe que o Banco foi utilizado até mesmo para levantar dinheiro para a campanha eleitoral.

Gostaria de saber o endereço de quem escreveu aquele editorial para mandar uma carta que tenho em mãos. Carta de um deputado da base aliada ao Governador Jaime Lerner, endereçada ao Governador, em que coloca todas as suas mágoas, porque uma operação feita no Banco do Estado do Paraná para levantar dinheiro para a campanha acabou dando errado, e esse deputado precisou se valer de amigos empreiteiros para cobrir a conta no Banco do Estado do Paraná, e - vale repetir - era dinheiro para a campanha eleitoral.

Eu não disse isso na campanha, mas menciono aqui com muita indignação, mas também com muita tranqüilidade, porque pode até parecer que eu fui o adversário do Governador na campanha em Curitiba, e não o PT.

O Governador disse: “Não, o PT é um grande adversário, mas foi o Senador que impediu os empréstimos para o Paraná”. Essa história, pensei que já estivesse sido bem explicada ao povo.

No entanto, de repente, o Governador sai pagando editoriais, pagando para que sejam divulgados por toda a imprensa. Quem abriu os jornais - se não me engano, hoje ou ontem - pôde ler um editorial escrito no Jornal do Brasil. Sabemos como esse editorial foi escrito: o Secretário da Fazenda, que está sendo denunciado por receber um salário de $150 mil, esteve no Rio de Janeiro. O Jornal do Brasil, que é um jornal respeitado, não pode se prestar a esse tipo de serviço.

Estou dizendo que o editorial do Jornal do Brasil foi mentiroso, não ouviu as duas partes e não poderia ter escrito da forma como o fez. Chamar de provincianos aqueles que estão querendo defender o patrimônio público no Estado do Paraná é irresponsabilidade!

Hoje se comemora, em Curitiba, a eleição do Prefeito Cássio Taniguchi. Tudo bem, o Prefeito Cássio Taniguchi ganhou as eleições. É a aprovação da sua administração? Em tese, sim. Entretanto, é preciso analisar o que aconteceu durante a campanha eleitoral, o massacre da máquina ou das máquinas do Estado e da Prefeitura de Curitiba. É preciso que o Governador Jaime Lerner tenha em mente que metade da população de Curitiba está desgostosa com o seu estilo administrativo e, no interior do Estado, há crítica em cima de crítica a respeito do desmanche que se está fazendo do Estado do Paraná. O desmanche lá não é só da quadrilha dos automóveis, mas também pertence àquele outro tipo de quadrilha, a que foi colocada no Banco do Estado, a que, no Governo do Estado, enxerga somente os seus interesses e vende empresas estatais a preço de banana para alguns amigos, sempre companheiros nos momentos de campanha eleitoral. Isso precisa ser conversado.

Governador, vamos parar de tentar, no rádio e nos jornais, difamar, caluniar, mentir, porque o povo do Paraná é inteligente e já entendeu que a sua administração fez um mal enorme e que as gerações futuras terão que pagar uma conta muito cara, em função da irresponsabilidade que predominou na sua gestão, ao lado de uma corrupção que nunca vi acontecer com tanta intensidade e com tanta força na administração pública do Estado do Paraná.

Estou à disposição do Governador para conversar sério, com os papéis na mão, e analisar por que a dívida do Estado chegou aos 15 milhões, por que o Banco do Estado quebrou, por que temos agora um Estado sem condições de fazer novos investimentos, sem poder utilizar os empréstimos e analisar por que há tanta insatisfação dos setores produtivos do Estado, que não conseguem ter nenhum apoio efetivo de um Governo que faz muita propaganda, mas, na hora de espremer, não deixa cair nada da peneira.

É preciso que Governador do Estado do Paraná comece a falar com mais seriedade e aja com mais responsabilidade.

Eu disse que não faria um discurso a esse respeito. Apenas faço um convite ao Governador: vamos conversar e esquecer todas essas mágoas do passado. Ele está levantando essas mágoas não sei a troco de quê. Deve estar magoado com a coordenação de campanha do Cássio Taniguchi, que não o deixou participar da campanha, e não comigo. Não tenho nada a ver com isso. Não participei da campanha no segundo turno e, aliás, participei muito pouco do primeiro turno, porque não me deram muito espaço. Fui à televisão, não fui proibido, mas não me deram muito espaço. No segundo turno, fui convidado pelo PT. Não participei, mas deveria ter gravado e ter contado toda a história a respeito do que aconteceu com o Banco do Paraná e também que o atual Prefeito de Curitiba era Secretário do Planejamento no Governo Jaime Lerner.

Ao Prefeito Cássio Taniguchi, os meus cumprimentos pela vitória. Não se esqueça, Prefeito, temos conversado seriamente a respeito de Curitiba e do Paraná; não entre nessa de fazer calúnia, de mentir também, como fez hoje pela manhã, porque a minha resposta será em um tom duas notas acima do que se tem ouvido no rádio e na televisão do Paraná.

Por enquanto, eles têm o poder da mídia, mas as eleições de 2002 estão chegando. Em 2002, tenho certeza, o povo vai reagir e, reagindo, eles não terão mais a mídia, e, então, muita coisa que está jogada sob o tapete vai aparecer.

É bom conversar seriamente a respeito disso.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR OSMAR DIAS EM SEU PRONUNCIAMENTO.

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/2000 - Página 21278