Discurso durante a 149ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Avaliação sobre a participação do Brasil nos jogos paraolímpicos realizados em Sydney na Austrália

Autor
João Alberto Souza (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MA)
Nome completo: João Alberto de Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE.:
  • Avaliação sobre a participação do Brasil nos jogos paraolímpicos realizados em Sydney na Austrália
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2000 - Página 21974
Assunto
Outros > ESPORTE.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, ATLETAS, PORTADOR, DEFICIENCIA FISICA, OLIMPIADAS, PAIS ESTRANGEIRO, AUSTRALIA.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, ESPORTE, PAIS, OBJETIVO, MELHORIA, INTEGRAÇÃO, DEFICIENTE FISICO, SOCIEDADE.

           O SR. JOÃO ALBERTO SOUZA (PMDB - MA) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, No dia 29 de outubro, com brilho e entusiasmo, encerraram-se os Jogos Paraolímpicos de Sydney. Contrariamente ao que aconteceu nos Jogos Olímpicos, o Brasil saiu da competição de cabeça erguida e auto-estima recuperada: seis medalhas de ouro, dez de prata e seis de bronze. Um total de vinte e duas medalhas, o que posicionou o País em vigésimo quarto lugar no contexto das nações concorrentes, ficando na frente de países como Nova Zelândia, Suécia e Portugal. O Brasil apresentou-se com atletas que chamaram a atenção dos especialistas em desportos dessa natureza, como Ádria Santos, medalha de ouro no cem e duzentos metros, e Roseane Santos, também medalha de ouro no lançamento de disco e arremesso de peso. 

           A realização dessa vigésima primeira edição dos Jogos Paraolímpicos descortinou um horizonte de esperanças para o futuro esportivo dos atletas com deficiência física. Durante os onze dias da competição, ficou comprovada a aceitação dessa modalidade de jogos mediante a venda de 1,1 milhão de entradas e a quebra de mais de quatrocentos recordes.

           A festa de encerramento foi abrilhantada por cerca de cem mil pessoas que explodiram em aplausos quando os organizadores afirmaram terem sido as Olimpíadas de Sydney as melhores da história. De fato, no que diz respeito à organização, a Austrália obteve um êxito difícil de superar. Inclusive, no campo das expectativas relacionadas à participação popular, houve superação total das previsões, com público numeroso, presente e vibrante em todos os momentos.

           Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não é, porém, meu objetivo tratar dos Jogos Paraolímpicos. Quero tão somente externar alguns comentários sobre o contexto geral vivido por nosso País particularmente durante a realização dos Jogos Olímpicos, sob o aspecto da importância que eventos dessa natureza têm para a educação e motivação da juventude.

           No caso dos Jogos Olímpicos, o ouro não veio. A atuação dos atletas brasileiros foi vista com desânimo, frustração e até lágrimas. As esperanças de vitórias desmancharam-se no ar.

           De acordo com muitas avaliações, depois de 111 anos de República e 80 anos de participação em olimpíadas, o País ainda não criou um patamar de projeção no esporte olímpico. Pelo contrário, entra no novo milênio caindo do 25º para o 52º lugar. Os resultados obtidos em Sydney colocaram o Brasil no mesmo nível dos jogos de Montreal, realizados em 1976, dos quais nossos atletas também voltaram sem medalhas de ouro.

           A exemplo do cavalo Baloubet du Rouet, que, diante do obstáculo, se negou a obedecer ao comando de Rodrigo Pessoa, o Brasil teria empacado. Fatores vários estariam corroborando para essa situação, desde influências políticas pouco ou nada construtivas, até falta de entrosagem, inexistência de investimentos sistemáticos e bem coordenados, ausência de planejamento de longo prazo tanto em nível de governo quanto no que refere à atuação das empresas particulares. Além disso, as universidades brasileiras, detentoras de um enorme patrimônio cultural no campo dos esportes, atendem exclusivamente as classes sociais privilegiadas e se dão o luxo de manter na ociosidade laboratórios e espaços que poderiam estar a serviço de atletas olímpicos. O resultado de tudo isso é a perpetuação de uma realidade de insegurança, medo, falta de confiança e resultados frustrantes.

           Terminados os jogos, no entanto, mais do que lamentações, o que efetivamente deve ser analisado é o desempenho geral do Brasil na Austrália. Da análise, pode-se extrair valioso ensinamento para um plano estratégico realista de desenvolvimento dos esportes no Brasil.

           Em Sydney, o Brasil foi o que é. Demonstrou o que se preparou para ser. De acordo com estudos feitos por professores da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, o Brasil não foi tão mal. Ocupou o lugar certo do país, do estágio em que se encontra. Ficou na frente dos países subdesenvolvidos e atrás dos países ricos e dos do ex-bloco União Soviética. 

           Em Sydney, a opção brasileira foi apresentar-se no maior número possível de modalidades. Levou para a Austrália 205 atletas e competiu em 24 modalidades, numa demonstração de que concentrou esforços para se representar em múltiplos esportes e crescer em modalidades diferentes. Nesse quadro, pode-se visualizar um salto de qualidade no esporte brasileiro, orientando-se para a diversificação, para uma evolução que deverá projetar nossos atletas em vários setores, em várias modalidades.

           Uma lição surge claramente no que diz respeito à preparação de bons atletas: é preciso começar cedo. Se o Brasil quiser dispor de equipes vitoriosas, deve começar a formação do atleta desde criança. A potencialidade do atleta se revela e se cultiva na infância. É nessa fase que ele aprende a saltar, a equilibrar-se, a alongar-se, a dar ao físico a elasticidade básica a ser trabalhada ao longo dos anos da meninice e da adolescência. É nessa fase, enfim, que são adquiridos os fundamentos básicos dos esportes, a versatilidade, a criatividade e a capacidade de surpreender, gerando e ultrapassando expectativas.

           Nesse sentido, levantamento executado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP, do Ministério da Educação, para conhecer quantas escolas possuíam bibliotecas e acesso à Internet até 1999, revelou algo que deve ser revisto urgentemente, para melhorar a perspectiva da prática de esportes no Brasil. No ensino fundamental, foram contadas 183 mil e 448 escolas, públicas e particulares, das quais 114 mil e 857 localizadas na zona rural e 68 mil e 591 no meio urbano. Do total, somente 33 mil e 234 têm quadras para esportes, ou seja, apenas 18,1 % das escolas brasileiras de ensino fundamental têm espaço para exercícios desportivos dos alunos. Desse percentual, 1,7 % dos espaços localiza-se no meio rural e 16,4 % no meio urbano.

           Por sua vez, as escolas de ensino médio - 18 mil e 603 no total - 71,5 % possuem locais para prática desportiva. Na fase etária dos alunos do ensino médio, porém, segundo especialistas e professores, já é tarde para desencadear a formação de um atleta com padrão técnico internacional.

           No Brasil, o entusiasmo e o investimento se concentram fácil e de maneira ufanista em poucos atletas “prontos”, projetados exaustivamente pela mídia, desconectados do coletivo, estrelas solitárias cujo brilho parece não provir da energia e da engrenagem do conjunto. Esporte, no entanto, é conjunto, é esforço coletivo, é envolvimento, é gradualidade, é processo que se inicia na infância. Depende de planejamento e logística para que mentes e corpos sejam prepararados. Em Sydney, como nas Olimpíadas passadas, mais uma vez ficou comprovada essa verdade. Em Sydney, ficou demonstrado também a pujança de uma juventude motivada por ideais, justificada na existência, projetando e engrandecendo nações. A infância e a juventude do nosso País têm potencialidade para muito, graças à grandeza de sua alma e de seus anseios.

           Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2000 - Página 21974