O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Como Líder. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente Geraldo Melo, Srªs e Srs. Senadores, aproveito esta oportunidade, em nome da Senadora Heloísa Helena, do Bloco da Oposição, do Partido dos Trabalhadores e de todos os Srs. Senadores - tenho certeza -, para saudar a presença, na tribuna de honra do Senado Federal, do Dr. Alejandro Toledo, Líder da oposição peruana, que foi candidato à Presidência da República, neste ano, escolhido não apenas por seu partido, o Peru Possible, mas também por toda a oposição peruana, contra o Presidente Alberto Fujimori, candidato ao cargo pela terceira vez consecutiva.

            Dentro de instantes, também estarão presentes a Srª Eliane de Toledo, sua esposa, e o seu Secretário de Imprensa, Roger Toledo; acompanhados pelo Sr. Raul de Tonet, Conselheiro Subchefe da Assessoria Parlamentar do Ministério das Relações Exteriores.

Ontem, o Sr. Alejandro Toledo visitou o Presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem teve a oportunidade de expressar o seu sentimento quanto à posição do Governo brasileiro nos últimos episódios, que, inclusive, foram objeto de reflexão dos diversos Chefes de Estado integrantes da Organização dos Estados Americanos.

Nós, no Senado Federal, acompanhamos de perto a luta do povo peruano por democracia, liberdade e justiça. Assim, estranhamos muito o gravíssimo crime perpetrado contra a democracia e a ética, tão ofensivo à consciência democrática dos americanos, dos povos do mundo, e de todos que lutaram pela democracia, como Thomas Jefferson, George Washington, Simón Bolívar, José Martí, Tiradentes, Zumbi dos Palmares, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães. Sentimo-nos ultrajados pela cena em que o Sr. Vladimiro Montesinos, Chefe, não sei se formal ou informal, do Serviço de Inteligência Nacional do Peru - cargo sob a responsabilidade direta do Presidente Alberto Fujimori -, sacou de seus bolsos trinta moedas, quinze mil dólares ou quantos fossem, para que um Deputado Federal da Oposição votasse nos projetos de interesse do Governo Alberto Fujimori. Aquela cena feriu todos os peruanos e também todos nós, americanos, do Alasca à Patagônia, do Canadá à Argentina.

Imaginamos que os Chefes de Estado, incluindo o Presidente Fernando Henrique Cardoso, compreendessem o sentimento de indignação do povo peruano, que, indo às ruas, disse que não mais admitiria a continuidade do mandato de Alberto Fujimori. Diante disso, não houve alternativa para Alberto Fujimori senão dizer: “Eu não fico mais na Presidência, porque o povo não me aceita mais. Diante desse episódio tão vergonhoso, assumo o compromisso de chamar novas eleições”. A princípio, essas eleições seriam realizadas em meados do ano, mas foram marcadas para 08 de abril, embora o Sr. Alberto Fujimori ainda não tenha levado adiante seu compromisso e enviado mensagem ao Congresso.

O mais estranho, Sr. Presidente, é que o Presidente Fernando Henrique Cardoso telefonou para a Presidenta do Panamá, Srª Mireya Moscoso de Gruber, pedindo-lhe que recebesse, em seu país, o Sr. Vladimiro Montesinos, o qual, pela lei peruana, deveria estar preso, ou pelo menos enfrentando a Justiça do Peru.

Ao tomarmos conhecimento do fato, apresentamos um requerimento, encaminhado à Comissão de Relações Exteriores pelo Presidente Antonio Carlos Magalhães, para que o Ministro Luiz Felipe Lampreia venha ao plenário do Senado explicar a posição do Governo brasileiro e do Presidente Fernando Henrique Cardoso sobre esses episódios. Anteontem, o próprio Presidente daquela Comissão, Senador José Sarney, ex-Presidente da República, avocou a si o parecer, manifestando-se favorável à vinda do Ministro de Relações Exteriores ao Senado. O requerimento foi aprovado consensualmente e deverá vir a plenário para a deliberação final. Acredito que com o parecer favorável, o Plenário do Senado, obviamente, aprovará a convocação do Ministro Luiz Felipe Lampreia.

Eu gostaria de transmitir isso ao Dr. Alejandro Toledo. Nós, aqui no Senado, estaremos indagando ao Ministro das Relações Exteriores - pelo qual temos o maior respeito - que razões levaram o Governo brasileiro a uma situação como essa.

Mas mais grave, Senador Roberto Requião, é a descoberta de que o Sr. Montesinos tem depositados na Suíça, no Paraguai, no Uruguai e nas Ilhas Cayman US$70 milhões. Parece que ele conseguiu acumular bem mais do que o Sr. Paulo César Farias, pessoa tão próxima do ex-Presidente Fernando Collor de Mello.

O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Concedo o aparte ao Senador Roberto Requião. Excepcionalmente.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Senador Eduardo Suplicy, perdão, mas V. Exª ocupa a tribuna como Líder e, infelizmente, não são permitidos apartes nesse tipo de intervenção.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, Senador Geraldo Melo, antes de concluir o meu pronunciamento, avalio que seria importante permitir que outros Senadores também fizessem a saudação ao representante do Peru.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Todos os Srs. Senadores são livres, se quiserem, para se manifestar. Mas, infelizmente, o Regimento não permite apartes nesta fase da sessão.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Então, Sr. Presidente, transmito a minha saudação e a minha solidariedade ao povo peruano. Que aquele povo possa, o quanto antes, realizar uma eleição. Acredito que o Sr. Alejandro Toledo será candidato novamente. Temos tido notícia de que possivelmente outros candidatos surjam. Que bom que o povo peruano pudesse escolher, dentre os partidos existentes, os candidatos, e assim ter uma eleição a mais livre possível!

Nossas saudações e nossa solidariedade.

Muito obrigado, Sr. Presidente.