O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senador Eduardo Suplicy eleva a qualidade do Senado da República ao ocupar a tribuna para se referir a um assunto tão candente na nossa América Latina.

Sr. Presidente, gostaria de tomar a liberdade de anunciar a presença, no nosso Plenário, da Prefeita eleita de São Paulo, Marta Suplicy. (Palmas)

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Já que V. Exª fez a interrupção, a Mesa vai transmitir as boas-vindas ao visitante peruano e associa-se a V. Exª na saudação à Prefeita Marta Suplicy.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) - A minha intervenção não será longa, Sr. Presidente.

Dizia eu que o Senador Eduardo Suplicy eleva a qualidade do Senado da República ao abordar um assunto tão candente como a questão da democracia no Peru.

Eu, pessoalmente, de maneira mais ou menos encabulada, quero me solidarizar com o Sr. Alejandro Toledo e com o povo do Peru e pedir desculpas pela atitude irresponsável e atabalhoada do Executivo brasileiro.

Realmente, Senador Eduardo Suplicy, é incompreensível a posição do Presidente da República de dar guarida e respaldo à fraude eleitoral ocorrida no Peru. Não resta dúvida, a qualquer latino-americano bem informado, de que as eleições no Peru foram fraudadas. E estamos aqui, neste Plenário, hoje, diante do Presidente de fato, do ganhador real das últimas eleições.

No entanto, não compreendo a surpresa manifestada pelo Senador Eduardo Suplicy em relação às posições tomadas pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso. Se hoje sabemos que o Chefe do Serviço Secreto de Informações no Peru é traficante de cocaína e de armas e tem valores depositados em paraísos fiscais, e que ele era o operador da compra de votos no Congresso Nacional, para servir aos interesses de Fujimori, nós também sabemos que algo semelhante ocorreu no Brasil, no nosso Congresso Nacional, por ocasião da reeleição.

O repúdio à atitude do Presidente Fernando Henrique Cardoso vem pela direita e pela esquerda. Parte do ultradireitista Mário Vargas Llosa e vai até os movimentos de esquerda e os movimentos populares do Peru. É rigorosamente ininteligível. Mas parece que o modelo instalado pelo Fujimori, com algumas nuanças, ou pela força, ou pelo domínio da mídia, ou pela satanização da oposição, é o mesmo modelo latino-americano. E o suporte que Fujimori tem é um suporte de conveniência do modelo a ser instalado na América Latina.

No Brasil, a desinformação e a satanização das Oposições é orquestrada, disciplinadamente, pela grande mídia.

Não é que sempre, Sr. Presidente, essas coisas tenham sucesso. Às vezes, não. A eleição da nossa Marta Suplicy, em São Paulo, é uma prova de que o sucesso não é necessariamente inevitável. Mas as coisas ocorrem dessa forma. Lá no Peru como aqui temos uma agência de informação, uma perigosa agência de informação que foi sancionada e autorizada pelo Congresso Nacional, numa manifestação muito clara de ingenuidade.

Fujimori, no Peru. Não é o apoio uma façanha única do Executivo brasileiro. Nós temos apoiado, também, o absurdo paraguaio.

O Macchi, Presidente do Paraguai, Senador Geraldo Melo, foi sagrado Presidente pela Suprema Corte paraguaia porque era senador e presidente do Senado. O seu mandato acabou, mas ele continua sendo Presidente da República, sem ser presidente do Senado ou sequer senador. E o Paraguai elege um vice-presidente, numa eleição direta, para ser o vice-presidente de um presidente eleito por nove pessoas por ser senador e presidente do Senado. Alguém que não é hoje nem senador nem presidente do Senado. São os equívocos do Executivo brasileiro.

Mas tenha certeza o Sr. Alejandro Toledo que as atitudes do Presidente da República, seguramente, não são respaldadas pelos senadores democratas e não são respaldadas pelo sentimento democrático e libertário do povo brasileiro.

Receba V. Exª, por ocasião desta visita, minhas encabuladas escusas pelo comportamento do Executivo brasileiro até aqui. E a manifestação de uma esperança remota de que esse comportamento mude.

Obrigado, Sr. Presidente.