Discurso durante a 155ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Premência da adoção de medidas para o fomento do setor pesqueiro nacional.

Autor
Ademir Andrade (PSB - Partido Socialista Brasileiro/PA)
Nome completo: Ademir Galvão Andrade
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PESCA.:
  • Premência da adoção de medidas para o fomento do setor pesqueiro nacional.
Publicação
Publicação no DSF de 17/11/2000 - Página 22621
Assunto
Outros > PESCA.
Indexação
  • DEFESA, POLITICA NACIONAL, PESCA, AQUICULTURA, COMBATE, DEFICIT, BALANÇA COMERCIAL, PESCADO, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, RENOVAÇÃO, FROTA, AUMENTO, CREDITO ESPECIAL, SETOR, INCENTIVO, LEVANTAMENTO, INVENTARIO, ZONA ECONOMICA EXCLUSIVA, FORMAÇÃO, PESSOAL, REFORÇO, INDUSTRIA, BENEFICIO, EXPORTAÇÃO, ALIMENTAÇÃO, POPULAÇÃO.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero chamar a atenção de V. Exªs para um assunto de grande interesse nacional e que necessita de urgente solução. Refiro-me a um setor importante da economia nacional, o setor pesqueiro, que vem enfrentando dias difíceis, especialmente por falta de uma ação concatenada do Estado, que se traduza numa política nacional de pesca e aqüicultura coerente e abrangente, capaz de impulsionar de maneira efetiva o desenvolvimento dessa atividade no País.

A própria situação desse assunto na estrutura da Administração Pública Federal, incumbido a um departamento do Ministério da Agricultura, o Departamento de Pesca e Aqüicultura, já revela descaso e impede que ele ganhe o relevo necessário na agenda governamental.

Considerando dados de 1998, a situação do setor pesqueiro encontra-se bastante crítica. Por mais de 5 anos a produção esteve estagnada em torno de 700 mil toneladas/ano. O déficit da balança comercial de pescado foi no ano de 98, algo em torno de US$400 milhões, com importações de US$520 milhões.

O Ministério da Agricultura tem anunciado um plano, prometendo um incremento do setor, dizendo que até 2003 a produção saltará dos pouco mais de 700 mil toneladas, para 1 milhão e 250 mil tonelada/ano, o que representaria cerca de 70% de aumento. Promete ainda, uma inversão na balança comercial, passando do atual déficit para um superávit de US$400 milhões.

Gostaria de acreditar nisso. Mas a realidade ainda está muito distante. Para que isso venha a ocorrer em curto prazo, como promete o Governo, precisariam investimentos maciçamente na aquicultura e na pesca oceânica. Nossa frota está sucateada. Necessitaríamos de grande aporte de recursos e linhas de créditos específicas, seja através do BNDES ou qualquer outro agente financeiro que dê condições de médio e longo prazo de financiamento para que pudesse promover a renovação da frota, entre outros investimentos.

A necessidade de investimentos não pára por aí. Para conciliar produção com equilíbrio ecológico é preciso investir em conhecimento. É inconcebível que o País não tenha ainda um inventário completo de riqueza tão importante como o pescado disponível dentro da Zona Econômica Exclusiva.

Apenas para exemplificar os problemas por que passa o setor pesqueiro, no Pará, terceiro produtor nacional de pescado, 15 grandes empresas desse setor quebraram, nos últimos anos, em razão da falta de mercado interno e de incentivos, de problemas cambiais, que interferem nas operações de comércio internacional, e do sucateamento da frota pesqueira.

É um absurdo que um país que detém 12% da água doce do planeta, 3,6 milhões de km² de Zona Econômica Exclusiva e 8.400 km de costa, além de clima extremamente favorável à aqüicultura, seja apenas o 25º produtor mundial de um alimento que é a terceira fonte mais importante de proteína animal, atrás das carnes suína e bovina. O Brasil contribui com menos de 1% - cerca de 700 mil toneladas/ano - para a produção mundial, que já ultrapassou 120 milhões de toneladas.

O que se tem feito é muito pouco. É preciso uma ação enérgica e coordenada do Estado para que possamos ocupar o espaço que é inaceitável que não ocupemos no cenário mundial de produção de pescado. Sem uma ação efetiva do Governo Federal, que conte com a imprescindível e decidida colaboração do Congresso Nacional, não se conseguirá fortalecer a indústria nacional de pescado, de maneira a transformá-la em um setor pujante, exportador, à altura da importância econômica do Brasil. E se não o fizermos de maneira urgente, perderemos os empregos e as divisas que esse setor pode gerar em quantidade, pela falta de exploração adequada de uma das nossas mais cobiçadas riquezas naturais.

Apenas para oferecer-lhes um dado a mais sobre a importância da produção de pescado, estimativas da FAO prevêem que existirá um déficit na oferta mundial desse produto de cerca de 20 milhões de toneladas em 2010, mantidos o padrão de consumo e os percentuais de crescimento populacional de 1996.

Não é por outra razão, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, que desejo deixar registrado o meu apelo no sentido de que o Governo Federal cumpra com urgência o papel que lhe cabe nessa questão, compreendendo a importância e o potencial desse setor da economia nacional.

Esperamos providências que incluam uma hierarquização da questão da pesca na Administração Pública Federal condizente com a sua importância econômica; o envio de projeto de Código de Pesca ao Congresso, equacionando de vez as questões de produção e de preservação; e a adoção de medidas de crédito que ajudem a fortalecer a indústria nacional do pescado.

Também é imprescindível e urgente investir no inventário da Zona Econômica Exclusiva e atuar decididamente na formação de pessoal para a atividade de produção de pescado, isso sem contar com o estímulo à aqüicultura, negócio de grande futuro na produção de pescado no Brasil e no mundo.

Deixo também o alerta a esta Casa, quanto à urgência e a relevância desse assunto e quanto à necessidade do nosso empenho para que o Brasil venha a ocupar, em breve, o seu lugar no cenário mundial de produção de pescado, importante fonte de proteínas para a nossa população e fonte segura de divisas para o País.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/11/2000 - Página 22621