Discurso durante a 156ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem ao jornalista Wilson Frade, falecido na madrugada de hoje, em Belo Horizonte/MG. Solicitação do envio de condolências, em nome do Senado, à família e aos jornais Estado de Minas e Diário da Tarde.

Autor
Francelino Pereira (PFL - Partido da Frente Liberal/MG)
Nome completo: Francelino Pereira dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao jornalista Wilson Frade, falecido na madrugada de hoje, em Belo Horizonte/MG. Solicitação do envio de condolências, em nome do Senado, à família e aos jornais Estado de Minas e Diário da Tarde.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2000 - Página 22637
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, WILSON FRADE, JORNALISTA, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, MARIA HELENA LINHARES, MARIO FONTANA, JORNALISTA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, ESTADO DE MINAS, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), HOMENAGEM POSTUMA.
  • SOLICITAÇÃO, MESA DIRETORA, VOTO DE PESAR, FAMILIA, DIRIGENTE, JORNAL, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), HOMENAGEM POSTUMA, WILSON FRADE, JORNALISTA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL - MG. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, logo mais irei a Belo Horizonte para cumprir uma dolorosa missão, pois estou sendo informado, pelo telefone e pela imprensa, de que faleceu, nesta madrugada, na nossa fascinante Belo Horizonte, um jornalista que exerceu sua profissão, com a admiração e o culto à capital mineira, nos planos político, social e cultural. Morreu aos oitenta anos, inteligente, ameno no trato, cordial no relacionamento com Minas e os mineiros, admirado por todos.

Este é um momento de dor, de tristeza e de expectativa quanto ao vazio deixado pelo jornalista Wilson Frade, dos Diários Associados, mais particularmente dos jornais Estado de Minas e Diário da Tarde. Ele desaparece na nossa Belo Horizonte e seu sepultamento será hoje, às 16h. Estarei presente, como não poderia deixar de ser, pois ele era um expoente da imprensa brasileira. Sempre conversávamos como dois amigos e discutíamos os horizontes de nossa bela capital. Tivemos sempre saudades dos poentes de Minas Gerais, das primeiras décadas e dos tempos de hoje.

Wilson Frade nasceu em 1920 e, agora, com oitenta anos de uma vida dominada pelo encantamento e pelo respeito de todos, desaparece e nos deixa uma apaixonante saudade. Jornalista, pintor, poeta, homem de cultura, exemplar pai de família, ele, nesta hora, está em Belo Horizonte cercado dos seus familiares, de seus amigos e muitos daqueles que residem no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Norte do Brasil estarão viajando agora, pela manhã, para a nossa capital, a fim de dar o seu último adeus ao jornalista Wilson Frade.

O jornal que ele mais venerou foi o Estado de Minas - que eu exibo aqui -, o qual pertence à história mineira. É o maior jornal dos mineiros. Nele, a jornalista Maria Helena Linhares abre a dolorida notícia do infausto passamento, dizendo exatamente: “Morre o jornalista Wilson Frade”. Aqui a sua foto, aqui a data do seu nascimento, 02/07/1920, e da sua morte, 16/11/2000. Ele nasceu exatamente no mesmo dia em que, logo depois, nascia, no Piauí distante, este cidadão que se tornou mineiro. Nessa mesma data nasceram Paulo Camilo de Oliveira Pena, meu colega de turma, que também desapareceu, e Celso de Mello Azevedo, ex-Prefeito de Belo Horizonte, um líder da maior dimensão em nosso Estado.

Não resisto ao desejo e ao dever de ler o que Maria Helena Linhares escreveu, hoje, no Estado de Minas, cujo teor solicito que passe a integrar este discurso.

Em julho deste ano, o jornalista, poeta, pintor, compositor e colunista Wilson Frade comemorou com amigos do mundo político, social e cultural, os seus 80 anos, dos quais, 51 dedicados ao jornalismo, principalmente assinando a coluna “Notas de um Repórter”.

Wilson Frade não começou sua carreira como colunista social. Estudante de Direito, curso que arrependeu-se de não ter terminado, começou na Folha de Minas como repórter de política. Depois, transferiu-se para o colunismo social a convite de Moacyr Andrade, para ocupar o lugar de Sérvulo Tavares. “Assim, meio por acaso”, disse ele.

De colunista da Folha de Minas foi convidado para o Diário da Tarde, acumulando uma coluna também no Estado de Minas, e depois apenas neste último.

Repórter por vocação, Wilson Frade dizia que, se voltasse no tempo, começaria tudo de novo, pois o jornalismo só lhe proporcionou prazeres. “A ele sou grato por todas as conquistas de minha vida.”

Quando jovem, Wilson Frade tinha o hábito de participar de programas de rádio, até mesmo como cantor. Um aficionado intérprete de modinhas, chegou a concorrer, junto com Haroldo Lopes, num concurso de marchinhas de carnaval no Rio de Janeiro. Venceu, com a música “Girassol”.

Amigo de Sílvio Caldas, sua casa, durante muitos anos, foi o lugar preferido de hospedagem dos cantores que vinham a Belo Horizonte para shows. Recebia Maysa, Dorival Caymmi e outros grandes nomes nacionais.

Talvez devido a essa convivência, ele, que não conhecia uma nota sequer, acabou compondo várias músicas que, em 1992, transformaram-se no disco “Wilson Frade - Músicas de um Repórter”, produzido por Milton Nascimento, com arranjos de Gilvan de Oliveira. Participaram desse disco cantores como Sylvio César, Paulinho Pedra Azul, Pena Branca e Xavantinho, Tino Gomes e outros.

Orgulhava-se de tocar pandeiro como ninguém. “Aprendi com um amigo”, dizia ele enquanto fazia os gestos tradicionais de quem toca aquele instrumento. “Ensinei a muita gente. A gente precisa ter uma malandragem ao bater no couro do pandeiro e deslizar a mão com absoluta tranqüilidade. O som sai puro”.

Homem de vários instrumentos, Wilson Frade lançou, em 1991, Poemas de Um Livro Só. “Todo ser humano jovem, mesmo sem externar pela palavra seus descobrimentos, transmite suas sensações pelo gesto e pelo olhar”, escreveu então.

Apaixonado por pintura, Wilson Frade possuía um dos mais selecionados acervos da cidade, com obras de Inimá, Jenner Augusto, Mário Silécio, Leonello Berti, Scaldaferri, Augusto Rodrigues, Sylvio Pinto, Maria Helena Andrés, Yara Tupinambá, Bracher, Nello Nuno, Manabu Mabe e muitos outros.

Nascido dessa paixão e também por hereditariedade - sua irmã Nelly Frade é pintora - Wilson Frade enveredou por essa arte, chegando a fazer três exposições, que chamou de “Exposição de um não-pintor”. “Digo que sou um não-pintor porque não dediquei minha vida inteira a isso. Não é nesta altura da vida que vou me chamar de pintor. E, por outro lado, se alguém quiser criticar meus trabalhos, posso dizer: mas eu não sou pintor”, brincava ele.

Em 1967, ele criou o Caderno de Turismo do ESTADO DE MINAS, um dos primeiros da imprensa brasileira, fazendo dele um marco do turismo em Minas. O que foi reconhecido por todo o setor no fim do ano passado, quando os maiores nomes do turismo mineiro se reuniram para lhe prestar uma homenagem no Automóvel Clube.

Também na abertura da Multi-Minas, em 1999, a sua importância no setor foi destacada pelo atual diretor-geral dos Associados/MG, Edison Zenóbio, no discurso inaugural da grande feira.

Como jornalista, Wilson Frade viajou o mundo inteiro, dizendo sempre que a imprensa tinha que abrir o leque de informações ao leitor. O que não impedia, entretanto, que tivesse suas paixões. Uma delas era Roma, para ele a verdadeira Cidade Eterna.

Nascido em Belo Horizonte em 2 de julho de 1920, Wilson Frade casou-se com Edma Frade. É pai de Anna Paola, casada com o ministro das Comunicações, João Pimenta da Veiga; e de Wilson Filho, casado com Elaine. Tem três netos que faziam a sua grande alegria. Amante da vida, ele deixou uma frase que simboliza bem o que pensava: “Não tenho medo da morte mas sinto uma saudade antecipada da vida”.

Também passo a ler , para que conste dos Anais desta Casa, o artigo em que o cronista Mário Fontana dá seu adeus ao companheiro de todos os dias, Wilson Frade.

ADEUS AO BITÔ

Nem me lembro mais quando tiveram início minha amizade e convivência com Wilson Frade. Talvez tenha se iniciado em uma festa no Iate antigo, na época em que estava na Faculdade de Direito, quando fiquei amigo de Hélio Garcia, José Luiz Azevedo, Yeyé Baptista de Oliveira e outros rapazes que freqüentavam o clube e que já eram conhecidos do Wilson.

Nessa época, há 40 anos atrás, ele já era colunista social do “Diário da Tarde”, uma novidade na imprensa não só de Minas, como de todo o Brasil, que fazia grande sucesso. Foi quando herdei do jornalista Sérvulo Tavares, nosso amigo comum, o hábito de tratá-lo pelo apelido de Bitô. Ultimamente, só eu o chamava assim.

No alegre e movimentado ir-e-vir de nossa mocidade, em vez de me tornar advogado, como queria meu pai, que era magistrado, acabei mergulhando de corpo e alma no jornalismo, principalmente por obra e graça de Odin Andrade, que me cedeu sua coluna no “Diário de Minas”.

Daí em diante, minha convivência com Wilson Frade se acentuou. Ele se tornou colunista do “Estado de Minas” e eu do “Diário de Minas”, então os dois principais matutinos da cidade. Como é habitual na classe, tivemos algumas divergências, ma acabou tudo em pizza.

Eu fazia o baile das debutantes do Automóvel Clube e desfiles, e ele, que já promovia o “Miss Minas Gerais”, também fez o mesmo. Mas fomos em frente.

Por uns tempos, deixei o jornal para ser chefe do Cerimonial nos governos de Magalhães Pinto e Israel Pinheiro, mas logo volvei ao setor, primeiro na Força Nova e depois de novo nos Associados, no “Diário da Tarde” e em seguida no “Estado de Minas”. Nessa época nossa amizade se acentuou.

Viajamos juntos inúmeras vezes para a Europa, Estados Unidos e várias outras partes do Mundo. No governo de Magalhães Pinto preparei o local de seu casamento com Edma, que foi realizado na capela do Palácio da Liberdade. Assisti ao batismo e vi crescer os seus filhos Anna Paola e Wilsinho.

Nosso relacionamento ficou mais intenso depois de 1985 quando passei a trabalhar com ele em sua coluna diária e no Caderno de Turismo. Aí a nossa convivência era diária.

Nesses mais de 40 anos de convívio com Wilson Frade, jamais encontrei um jornalista tão apaixonado pela profissão como ele. Vivia 24 horas por dia a sua atividade. Orgulhando de que sua coluna jamais deixou de ser publicada um só dia. Nas viagens que fazíamos ele era incapaz de se desligar. Arrumava sempre um pretexto para enviar uma notícia para quem o estivesse substituindo, fosse de que lugar fosse. Era uma persistência incrível.

Outra característica que o distinguia era a sua extrema honestidade. Jamais admitiu favores tendo em contrapartida notícias em sua coluna. Jamais negociou o seu espaço. De gênio reconhecidamente difícil, era, no entanto, um grande amigo de seus amigos. Defendia empregos e favores para eles e brigava por eles. Dono de uma saúde de ferro, só nos últimos anos é que passou a baquear, a ceder, mas sem jamais se desligar de sua coluna diária.

Ontem, cumprindo o seu destino, Deus o chamou para o seu convívio. Com sua morte, a imprensa brasileira perde um jornalista puro e autêntico, que jamais se sentiu seduzido por outras plagas. Sua família e seus amigos ficam desfalcados de uma extraordinária figura humana, e Minas perde um homem de fibra, que será sempre lembrado pelo seu inquebrantável espírito de luta e de amor à profissão que exerceu durante toda sua vida. Adeus, meu prezado Bitô.

O jornal Estado de Minas, em matéria especial, publica uma foto, em três colunas, de Juscelino Kubitschek, que foi padrinho de casamento de Wilson Frade e de quem ele não se cansava de admirar e respeitar.

Anna Paola, sua filha e muito amiga nossa, é esposa do Ministro das Comunicações Pimenta da Veiga, que já está na Capital mineira, dominado pela dor e pela tristeza, diante da perda do grande amigo.

Sr. Presidente, a imprensa também registra as palavras do Ministro Carlos Velloso, Presidente do Supremo Tribunal Federal; do Governador de Minas, Itamar Franco; do Prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro; do Diretor-Geral dos Associados/MG, Edison Zenóbio; do Diretor-Executivo dos Associados/MG, Álvaro Teixeira da Costa; do Deputado Anderson Adauto, Presidente da Assembléia Legislativa e do nosso colega Senador José de Alencar.

Com essas palavras, Sr. Presidente, peço a Mesa que transmita à família de Wilson Frade, especialmente à esposa, Edma Frade, e aos filhos Anna Paola e Wilson, aos demais familiares e aos dirigentes dos Diários Associados, em Minas - o Estado de Minas e o Diário da Tarde -, as condolências do Senado da República.

Ao jornalista Roberto Elísio Filho, meu abraço amigo neste momento em que choramos ante o desaparecimento de Wilson Frade. Os dois assinavam a coluna diária que o Estado publica diariamente no caderno “Espetáculos!.

Sr. Presidente, falo em nome de Minas e dos mineiros.

Muito obrigado.

 


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2000 - Página 22637