Discurso durante a 158ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Contestação de críticas de setores da imprensa, que condenam as iniciativas progressistas e os avanços econômicos da região Amazônica, referindo-se principalmente à Zona Franca de Manaus. Campanha de ONGs em favor da tese da "soberania relativa" brasileira sobre a Amazônia.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SOBERANIA NACIONAL.:
  • Contestação de críticas de setores da imprensa, que condenam as iniciativas progressistas e os avanços econômicos da região Amazônica, referindo-se principalmente à Zona Franca de Manaus. Campanha de ONGs em favor da tese da "soberania relativa" brasileira sobre a Amazônia.
Aparteantes
Henrique Loyola, Ney Suassuna, Ramez Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 22/11/2000 - Página 22755
Assunto
Outros > SOBERANIA NACIONAL.
Indexação
  • CONTESTAÇÃO, CRITICA, IMPRENSA, CONDENAÇÃO, PROGRESSO, REGIÃO AMAZONICA, ESPECIFICAÇÃO, EXPANSÃO, REDE DE ENERGIA, APROVEITAMENTO, HIDROVIA.
  • DEFESA, PRESERVAÇÃO, SOBERANIA NACIONAL, REGIÃO AMAZONICA.
  • CRITICA, CAMPANHA, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), DEFESA, REGIÃO AMAZONICA, PATRIMONIO, MUNDO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há pouco o eminente Senador Ney Suassuna registrava a preocupação dos Estados vizinhos, quando V. Exª, Senador Geraldo Melo, indagava-lhe sobre as proximidades dos Estados.

            Sr. Presidente, cada vez mais me convenço de que o Nordeste e o Norte devem unir-se, até porque há uma disparidade nas informações. Pouca gente sabe que hoje o Nordeste é um pólo exportador para a Europa, sobretudo no campo frutífero, de dar inveja a alguns Estados. Por igual o meu Estado, o Amazonas, tem tido a possibilidade de se organizar para ser o que Alexander von Humboldt dizia: o celeiro do mundo.

Ora, notícias desencontradas, análises apressadas, quando não causam distorções mais graves, pelo menos orientam quem as lê, desencadeando um fator de perturbação, de inquietação.

Sr. Presidente, aparentemente deve ter sido uma coincidência o fato de que duas revistas de grande porte - recuso-me a registrar seus nomes, para que aqui não haja nenhuma outra convicção senão a de que devo analisar o conteúdo, o lado intrínseco do problema - abordaram o tema “Amazônia”, revivendo o que até há pouco tempo convencionava-se chamar de “queimadas da Amazônia”.

Parece-me, Sr. Presidente, que há uma determinação adrede preparada, elaborada, no sentido de deslocar o eixo da riqueza que pode existir no Nordeste e no Norte, para fazer com que essas regiões não tenham capacidade de auto-sutentabilidade.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - V. Exª me permite fazer uma rápida colocação?

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) - Imediatamente, com prazer.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Eu diria a V. Exª que não são só o Norte e o Nordeste que se encontram nessa situação. O Centro-Oeste tem recebido o mesmo tratamento secundário. Parece até que nós, dessas três Regiões, fazemos parte de um Brasil de segunda categoria, de um Brasil problema, de um Brasil que não é solução. Concordo com V. Exª em gênero, número e grau, mas gostaria de incluir nessa visão distorcida, nessa má vontade, nesse tratamento secundário, também a Região Centro-Oeste. Imagino que, se essas três Regiões estivessem unidas, teríamos condições de enfrentar esse problema e de acabar com esse preconceito extremamente pernicioso para essa grande parte do Brasil.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) - A inteligência de V. Exª, Senador Ney Suassuna, chega a ser até telepática. V. Exª, por uma espécie de mensagem telepática, intuiu que eu iria incluir a Região Centro-Oeste nesta nossa conversa. As três Regiões - Norte, Nordeste e Centro-Oeste - conseguiram sair vitoriosas na Assembléia Nacional Constituinte por terem se unido em torno de suas tristezas, dos seus desenganos, dos seus desencontros. E ali se travou uma grande batalha, para que chegássemos a um denominador comum.

E por que eu iria chegar ao Centro-Oeste? Ainda há pouco, o Senador Maguito Vilela, ex-Governador de Goiás - foi meu companheiro na Assembléia Nacional Constituinte -, deixava o seu Governo e implantava, na seqüência do que ali realizara o seu antecessor, um trabalho de atração de grandes empresas para Goiás. É o que temos procurado fazer nas Regiões Norte e Nordeste. Mas, quando reportagens - que merecem, por suas revistas, um crédito - distorcem a realidade por um momento, estamos enfrentando dificuldades.

Um dos tópicos que, no passado - talvez, Senador Ney Suassuna, isso até se aplicasse mais à sua região, o Nordeste, do que à nossa -, nos Estados Unidos, foi o grande incentivador das riquezas foram as estradas que se construíram, rasgando de norte a sul o país. A Califórnia, por exemplo, era um deserto.

Hoje, quando se fala para os habitantes da região amazônica que é possível construir uma estrada, parece que é uma catástrofe. Em qualquer parte do mundo, sempre que se fala em estrada, é o festejo do progresso que se avizinha. Na nossa região, algumas organizações - até agora, não consegui, realmente, saber por que, o que há por trás disso - insurgem-se, dizendo que vamos quebrar sobretudo o lado que dá suporte ao meio ambiente ou, por outro, que estamos danificando as reservas, como se fosse possível alguém se privar de ser inteligente para notar e registrar o que precisa ser feito.

Um outro ponto ali anotado - e este, permitam-me dizer, conheço bem de perto - é o problema da água. A notícia diz que, na Amazônia, há cerca de 20% de água doce ou de água potável do mundo. É evidente, Sr. Presidente, que há um equívoco. A região possui cerca de 14% da água doce do planeta, e, desse percentual, detemos um quinto.

Tenho dito aqui, repetidas e reiteradas vezes, que a água é o ouro do século XXI. Aqui anunciei que estão lançando um papel na Bolsa de Chicago, chamado water commodities, que será da ordem de uns US$20 bilhões. O que há por trás disso?

Nesse particular, é simples o raciocínio. O Canadá exporta água para a Índia. Hoje as grandes regiões situadas no Extremo Oriente estão padecendo pela falta de água. Os países lindeiros, limítrofes, já não querem conquistar o território por um palmo a mais de terra, mas, sim, pelo filete de rio que separa as duas unidades. O Nordeste - e V. Exª é testemunha disso - começa a sentir o racionamento d’água, para não dizer a falta. Lá falava-se no jumento que carregava a água, chamado “jumento-pipa”, mas hoje já se fala em “homem-pipa”, para transportar um pouco de água para a sobrevivência. São Paulo começa a sentir o problema da escassez desse líquido precioso. Ora, se na região amazônica estamos detendo esse potencial enorme, é claro que estamos sobre uma riqueza fantástica.

Para o petróleo, cujos mananciais estão sendo esgotados, podem criar uma alternativa, mas, para a água, não há alternativa. A água é a fonte da vida. Só a água pode dar sobrevivência ao ser humano, sem que se diga que para ela há um substituto. Essa água, na região amazônica, será muito mais importante para a sobrevivência do ser humano do que as riquezas que estão subjacentes, que estão na terra. Essa história de nióbio, ouro e prata, tudo isso passa a ser secundário quando há escassez de água, a fonte da vida.

Neste instante, trata-se de um tópico a mais para o qual quero chamar a atenção na nossa região. No passado, falava-se na internacionalização da Amazônia, precedida por um órgão que era a Hiléia Amazônica, que Arthur Bernardes conseguiu estancar. Depois, falava-se no Lago Amazônico. À época, como Deputado Federal, tive oportunidade de pedir a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que impediu que isso se concretizasse. Hoje, notando as Organizações Não-Governamentais, constatamos que há uma volta de olhos para a Amazônia, que se consubstancia nos mitos que se espalham por aí afora, um dos quais o de que a Amazônia é o “pulmão do mundo”. Esse é o maior mito e a maior balela dita por quem não conhece a região. Diz-se também que os índios impedem o avanço da região. Fala-se também no problema da madeira. Há um conjunto de trabalhos contra a região para os quais precisamos estar atentos.

Por exemplo, vejam este dado: há necessidade de um planejamento de investimento da ordem de R$40 bilhões, em oito anos. Isso é tão estarrecedor para quem ali vive, que não conseguimos entender o que desejam esses de fora quando se fala que se deve manter aquela região intocável. Ora, até parece que os que são dali ou os que ali nasceram e foram para a região e fizeram dela o seu segundo torrão natal terão de ser meros contempladores da riqueza, sem jamais exercitá-la, como se estivéssemos ali fazendo uma reserva, para mais adiante os grandes grupos internacionais voltarem seus olhos e dizerem que irão tomar posse da região.

Não quero nem falar em termos ideológicos. Essa abordagem não deve ser feita sob o ponto de vista emocional. O que quero é que racionalmente possamos entender que a Amazônia é uma região que começa a preocupar não só nosso público interno, por intermédio das nossas Forças Armadas, mas também o público externo.

Registro, Senador Ney Suassuna, três pontos fundamentais que V. Exª, junto comigo, tem acompanhado bem de perto. Veja a Operação Colômbia, o narcotráfico, a possibilidade de guerrilhas paramilitares se juntarem a esses narcotraficantes quando daqui denunciamos o que estava existindo e que hoje se consubstanciou na ameaça de morte ao irmão do Senador Tião Viana - ontem eu apresentava a minha solidariedade a S. Exª -, porque começou a desbaratar ou, quando nada, a apontar caminhos ou soluções possíveis para melhorar o trânsito em seu Estado.

Ora, quem conhece a região chamada Cabeça do Cachorro sabe que, à medida em que esses bilhões de dólares forem aplicados para a repressão ao narcotráfico - não se fala na história da guerrilha -, essa turma começará a ser imprensada em direção ao meu Estado, à fronteira, que é praticamente deserta.

E vemos tecnoburocratas que acham que não é possível se destinar uma verba maior para o chamado Programa Calha Norte, porque eles não conhecem absolutamente nada da região. Sabemos que Geografia se aprende mais com a sola dos pés do que com as citações de terceiros.

Estamos vendo o panorama se desenrolar, fazendo como que uma espécie de lavagem cerebral ou uma indicação para que os que lêem desprevenidos comecem a formar opinião.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Senador Bernardo Cabral, V. Exª me permite um aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) - Daqui a pouco, concederei o aparte a V. Exª.

O que me traz à tribuna? É o fato de todos podermos discutir a forma como esse processo tem ocorrido: se se ouve um certo segmento e se deixa de assistir outro.

Por exemplo, criticou-se, ferozmente, a expansão da rede energética com o aproveitamento das hidrovias. Ora, quem conhece as quedas d’água ali - e hoje a Agência Nacional de Águas é destinada especificamente para fiscalizar essa circunstância - sabe que é muito melhor haver o aproveitamento energético por intermédio da hidrelétrica do que se pagar o óleo diesel, porque sai caríssimo o quilowatt.

Desse modo, isso me dá desesperança, pois vejo que, cada vez mais, nós nos distanciamos do que é nosso, por omissão de alguns, por desejo incontido de outros e, quem sabe, por ambição de muitos.

E olhem que não será muito fácil amanhã, quando estivermos sentados à praça, lembrarmos Bertold Brecht: um cidadão, tendo visto um guarda espancar um bêbado, ia protestar, mas pensou que não bebia e que, portanto, não tinha nada por que protestar. Na semana seguinte, tendo visto um maltrapilho ser espancado, disse que não era maltrapilho e não tinha por que reclamar. Não protestou e, no dia em que lhe foi dado também o prêmio de apanhar, viu que era tarde demais para fazê-lo.

Estou aqui, portanto, no tempo devido, impedindo que outros digam que, por omissão, não registramos, no Senado, esse tipo de invasão que se quer fazer à Amazônia, pelo lado oblíquo de uma propaganda que é altamente nefasta, quando se pensa que é educativa.

Ouço V. Exª, Senador Ney Suassuna.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Senador Bernardo Cabral, solidarizo-me com V. Exª de todas as formas e aponto mais alguns argumentos. Primeiramente, quem reclama e hoje fala disso internacionalmente são os mesmos que queimaram as suas florestas, arrasaram o seu solo e depois fizeram plantações que não tinham nada que ver com a flora original. Em segundo lugar, será que essa colocação é de boa-fé? Vemos publicações, em alguns Estados americanos, nas quais o Brasil aparece sem a Amazônia. Houve várias denúncias aqui, e o Itamaraty reclamou de publicação divulgada nos Estados Unidos em que a Amazônia aparece como área internacional. Em terceiro lugar, chegamos aos Estados Unidos e vimos, inúmeras vezes, na TV, desenhos animados ecológicos em que bandidos estão sempre colocando fogo na Amazônia e super-heróis vêm de lá para combater esse mal. O que se está fazendo com essa geração de crianças? Com certeza, trata-se de uma maquinação, de algo programado. Fico pensando se o problema da Colômbia não é um dos itens dessa programação, até porque vai criar - não resta dúvida - conseqüências. Hoje, onde os grandes grupos americanos poderiam vender armas, senão nas Américas, onde não há nenhuma guerra instalada? A Ásia e a África já acabaram; sobra o nosso continente. Estou apenas especulando, fazendo um brain storm, um levantamento de idéias, mas tudo isso nos faz crer que as coisas são muito mais complexas do que imaginamos. Enquanto aqui estamos pensando no ontem, Senador Bernardo Cabral, eles fazem programações para daqui a 400 anos. Esses podem ser apenas os itens colocados como metas de um objetivo final. Espero que estejamos errados nessa elucubração. V. Exª nos está alertando sobre um mal maior. Estarei solidário, porque pessoas como V. Exª e todos os amazonenses viveram com sacrifício para colonizar aquela terra, para criar a única cidade na área tropical. Hoje, é um sucesso a Zona Franca de Manaus e tudo mais, e os olhos de muitos crescem em relação a algo que é nosso. Como disse, estou solidário com V. Exª. Creio que cabe a nós alertar a nossa população, para que não venha a acontecer um mal maior. Muito obrigado.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) - V. Exª, Senador Ney Suassuna, atacou o ponto fundamental. E não é absolutamente nenhuma tempestade cerebral, conforme V. Exª anunciou, mas uma realidade paupável. V. Exª acerta, quando toca em duas palavras mágicas: Zona Franca. A Zona Franca de Manaus conseguiu manter a floresta amazônica. Falo pelo meu Estado, não me refiro ao Acre, Roraima e Rondônia e aos demais Estados. Na nossa área, a Zona Franca conseguiu manter intactos 98% da floresta. Ora, isso deve ser para os de fora algo tão colossal, que impede que se diga que não estamos cuidando do nosso meio ambiente. Nesse ponto, V. Exª tem razão. V. Exª tem observado que há uma corrente de empresários que defendem a Zona Franca de Manaus tal como ela foi criada.

O meu Estado tem uma tradição histórica de riqueza que não deve a nenhum político. Primeiro, foi o ciclo da borracha. O Amazonas, no fim do século XIX para o começo do século XX, contribuía com 51,2% do Orçamento da Nação. Era a borracha, o nosso lado silvestre, o que a natureza nos deu. No entanto, com o descuido das áreas governamentais, a borracha foi para a Malásia e lá ficou, e houve o débâcle. Depois, a segunda grande ajuda para a região foi a militar. O General Humberto Alencar Castello Branco, sentindo o vazio amazônico, porque era o Comandante da 8ª Região Militar - V. Exª sabe que estou muito à vontade, porque fui cassado pelo Governo militar, perdi o meu mandato de Deputado Federal, dez anos de direito político e o meu lugar de professor da Faculdade de Direito; dessa forma, o que falo aqui não cheira a nenhum elogio, mas a um reconhecimento -, sabia do perigo de não integrar para depois acabar entregando a região. Assim, criou, por meio do Decreto-Lei nº 288, a Zona Franca de Manaus, dizendo: “Será a única fórmula possível de conseguirmos reter o homem aqui e trazer outros de fora”. A migração era enorme. Nós, jovens, íamos todos para o sul do País, para tirarmos o curso. Ali só havia a Faculdade de Direito; quem queria ser engenheiro ou médico emigrava para o sul, e, à medida que isso acontecia, o vazio se ampliava.

Hoje, a Zona Franca de Manaus sofre ataque de todos os lados. Será que é porque ela tem conseguido fazer a manutenção dessa área estratégica? Será que ela não impede que os capitais de fora, vindo para cá, ao decretarem a sua valência, contribuam para que o vazio se restabeleça? O que há por trás de tudo isso? Qual é a montagem?

Sabe V. Exª, Senador Ney Suassuna, que a maturidade nos dá a capacidade da compreensão, da tolerância e do raciocínio, com que podemos ver adiante o que a mocidade não nos permitiria, por nos fazer infletir para o lado emocional. Agora, o lado racional é muito mais vantajoso, porque estamos vendo à distância; é como se sentíssemos o temporal que viesse acercando-se e tomássemos conta de ir para um abrigo para nos proteger.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - V. Exª me permite um aparte?

O Sr. Henrique Loyola (PMDB - SC) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) - Sr. Presidente Geraldo Melo, V. Exª é do Nordeste, região que eu alinhava no começo juntamente com o Centro-Oeste. Todos devemos ter a percepção do que acontece. E essa percepção, Sr. Presidente - sei que V. Exª me adverte do tempo - não seria completa se eu não ouvisse os meus dois Colegas, o Senador Ramez Tebet, em primeiro lugar, e o Senador Henrique Loyola, em seguida. Permita-me V. Exª conceder-lhes os apartes, só para concluir, tal a importância do tema?

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - Pois não, Senador.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Bernardo Cabral, agradeço a V. Exª ter pedido ao Presidente, que dirige os nossos trabalhos, permissão para que eu juntasse as minhas palavras humildes às palavras sábias e cheias de patriotismo de V. Exª. Eu estava em meu gabinete, quando, por meio da televisão, dei-me conta da presença de V. Exª na tribuna, tratando de assunto que é preocupação de V. Exª e de todos nós: a defesa intransigente da nossa soberania, da integração nacional, dos incentivos - que são naturais - para que, por exemplo, a Zona Franca de Manaus possa continuar contribuindo para o desenvolvimento do Estado do Amazonas e de toda aquela região, ficando, portanto, a serviço dos interesses nacionais, que, na minha opinião, estão sendo hoje mais ameaçados do que ontem, Senador Bernardo Cabral. E isso a ponto de a Região Amazônica estar sendo alvo não só de discussões no exterior, mas de ocupação no país vizinho, na Colômbia - e, de forma encoberta, já estão dentro do nosso território sob a forma de organizações não-governamentais e de outras entidades contrárias aos interesses do nosso País. É preciso, realmente, que V. Exª faça isso que faz: ocupar constantemente esta tribuna. Com a autoridade de V. Exª, vamos alertando este País para o perigo que corre a Região Amazônica. Quero, portanto, agradecer a oportunidade que V. Exª me concede ao permitir que eu também participe deste seu pronunciamento, porque o que está acontecendo no território amazônico já está acontecendo lá no meu Pantanal e em outras regiões do País. Há uma frase, parece-me que ela é de V. Exª, mas, se não for, é bem usada por V. Exª. “A água não é mais o petróleo...

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) - A água é o ouro do século XXI.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - É o ouro do mundo. Existe água em abundância na Região Amazônica, daí os interesses internacionais na região - isso, para não falar em outras riquezas. Cumpre-nos, portanto, trabalhar intransigentemente nessa defesa. Quero até dizer a V. Exª, se me permite estender-me rapidamente neste aparte, que falo isso com um pouco de conhecimento que me proporcionou o estudo de um projeto de lei no Senado, projeto que foi muito polêmico: a liberação dos recursos para o projeto Sivam/Sipam, do qual fui relator. Animou-me naquela ocasião, inspirou-me naquela ocasião, em razão dos estudos que fiz, a certeza que eu tinha de que o assunto, entregue às Forças Armadas, sem dúvida nenhuma, seria em favor da soberania nacional. Sinto-me hoje recompensado ao ver esse projeto avançar celeremente, dando a sua contribuição, portanto, para a defesa daquilo que é nosso. Quero cumprimentar V. Exª efusivamente, porque não é a primeira vez que faz isso; essa é uma bandeira de V. Exª.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) - Senador Ramez Tebet, quero dizer a V. Exª, já que o Presidente me concedeu mais alguns minutos, que há em marcha uma conscientização mundial no seguinte sentido: que a Amazônia seja considerada de soberania relativa. Temos que nos insurgir contra isso, porque já partiu de chefes de Estado e, inclusive, de militares estrangeiros, a afirmativa de que, em sendo ela relativa, a qualquer momento - se fosse considerada patrimônio mundial -, a Amazônia poderia ser invadida.

Ora, a Amazônia é nossa, é brasileira. A soberania nacional não se permuta com coisa nenhuma. Os problemas nacionais têm que ter soluções nacionais. Por isso, eu me rebelo. E, ao me rebelar, fico muito feliz em tê-lo em minha companhia. V. Exª também é de uma área fronteiriça e sofre os rigores da adversidade ali perto. E tão perto que V. Exª falou no seu Pantanal, que também é patrimônio nosso, é brasileiro.

Em sendo brasileiro, ouço o meu colega catarinense, Senador Henrique Loyola - para encerrar, Sr. Presidente.

O Sr. Henrique Loyola (PMDB - SC) - Senador Bernardo Cabral, associo-me à preocupação de V. Exa com relação a essa matéria. Chegam a ser incompreensíveis certas posições adotadas por alguns brasileiros, que mais parecem estar a serviço do estrangeiro do que do próprio País. É inquestionável que a Amazônia é nossa. A propósito, muito me surpreendi ao ouvir um aparentado meu dizer, após concluir um curso nos Estados Unidos, ter cursado matéria em que se afirmou ser a Amazônia patrimônio universal e, portanto, não ser mais brasileira, ser de interesse geral. Conseqüentemente, não existiria mais sequer autonomia dessa região e muito menos o poder do País sobre aquela área. Também me surpreende - e nesse tema também me associo a V. Exª - ver que há limitações ao uso de quedas d´água para a geração de energia elétrica lá disponíveis em larga escala e termos que ficar sujeitos à dependência do gás boliviano. Hoje, vejo que a minha preocupação era fundada, pois foi manifestada a preocupação do Peru e da própria Bolívia em manter um esquema militar para evitar que, com a eclosão de um problema qualquer na Colômbia, seja colocado em risco o suprimento da adutora de gás para o País. Sou consumidor de gás no sul do Brasil. Como é que fica essa situação? São coisas que não conseguimos entender. Confesso ser leigo no assunto, mas conheço Manaus, conheço o resultado da Suframa, participei desse processo levando para lá indústrias do Sul, da minha terra, e vejo que a iniciativa é um sucesso. No entanto, entendo que isso deva ser - e aí é que quero me associar a V. Exª - objeto de preocupação de todos nós. As Forças Armadas teriam que se preocupar ainda mais com o tema e talvez somar a essa ocupação econômica da Amazônia, por meio de projetos bem sucedidos como foi a Suframa, a abertura das fronteiras, com novos acessos, com rodovias e hidrovias. Isso tudo, obviamente, tomando-se a devida cautela quanto à questão ecológica, afinal não somos tão ignorantes para deixar de lado o aspecto ecológico do problema. Mas o que seria do nosso País, por exemplo, se não tivéssemos ocupado o cerrado no Centro-Oeste? Não teríamos sequer algodão para fabricar fios. Estaríamos numa dependência completa do estrangeiro. Hoje vemos o sucesso dessa plantação racional no Centro Oeste - Goiás, Mato Grosso - e até mesmo parte já se dirigindo ao Amazonas. Esse tipo de iniciativa deve ser apoiada, evidentemente inserida em projetos tecnicamente completados. A preocupação com aquela área não é de hoje: Hitler já pensava na Amazônia. Acho que as ONGs têm que se preocupar com o Missouri-Mississipi, com o Ruhr, com o Reno e outros rios. Na Europa, inclusive, vi rios com leitos calçados por paralelepípedos. No nosso País, no entanto, não se pode mexer numa margem. Exemplo disso é o que tem acontecido em minha terra, Joinville. Lá, um operador de máquina foi preso ao fazer o saneamento de uma saída. Com 64 anos de idade, ficou incomunicável por estar fazendo um bem - um bem dirigido, orientado e decidido pela Prefeitura Municipal de Joinville. Portanto, reitero o meu apoio às palavras de V. Exª. Que esse assunto seja considerado com toda a importância que merece.

            O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) - Senador Henrique Loyola, quero agradecer a V. Exª, porque seu aparte trouxe um ponto fundamental: a referência no sentido de que seremos pouco inteligentes se não tivermos em mente o problema da ecologia, o problema do meio ambiente. Talvez queiram nos fazer mais tolos do que aparentamos ser, porque, em verdade, o que há - e isso é indiscutível, não há dúvida nenhuma - é que nós, brasileiros, nos acomodamos e temos a mania de imitar o que há lá fora; sempre somos subdesenvolvidos. Mas se há um exemplo gritante, Sr. Presidente, de que não somos tão inferiores assim, é o resultado do pleito eleitoral dos Estados Unidos, que transformou aquela potência também no lado humilde de verificar que nem todos são comandantes do mundo.

            Hoje, a nossa região precisa estar voltada para os brasileiros, para o sentimento dos brasileiros, para que possamos desfraldar uma bandeira, mas ao sabor de todas as intempéries, venham de onde vierem, e dizer: a Amazônia é nossa! A Amazônia é brasileira!

            Muito obrigado pela tolerância, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/11/2000 - Página 22755