Discurso durante a 158ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Líbano pelo transcurso de seu aniversário de independência.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Líbano pelo transcurso de seu aniversário de independência.
Publicação
Publicação no DSF de 22/11/2000 - Página 22816
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DATA NACIONAL, INDEPENDENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, LIBANO, SAUDAÇÃO, POPULAÇÃO, DESCENDENTE, EMIGRANTE, BRASIL.
  • EXPECTATIVA, PAZ, DEMOCRACIA, CONCILIAÇÃO, CONFLITO, RELIGIÃO, PAIS ESTRANGEIRO, LIBANO.

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O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nesta semana em que se comemoram os 57 anos da independência da República do Líbano, é com grande emoção que ocupo esta tribuna para enviar meus cumprimentos a todos os cidadãos daquele país irmão, bem como a todos os componentes da comunidade libanesa residentes no Brasil. Sou, como sabem todos os colegas, filho de libanês, e guardarei sempre em meu coração as descrições que de sua terra natal me fazia o meu pai, Taufic Tebet, que aqui chegou há mais de 70 anos, em 1929, para abraçar uma nova vida e uma nova pátria, sem jamais esquecer, entretanto, aquela que foi a pátria de seus antepassados e, ouso dizer, aquela que é, de certa forma, uma das pátrias da humanidade.

Creio que é justo chamar desse modo a terra em que se criou o primeiro alfabeto de que se tem notícia, o alfabeto fenício, e que viu nascerem três das mais importantes religiões de todos os tempos: o judaísmo, o cristianismo e a religião muçulmana. Foi nessa terra, ainda, que se criou a primeira escola de Direito do mundo, o que rendeu a Beirute o título de “mãe da leis”.

Acompanhar o desenvolvimento da história libanesa é acompanhar as vicissitudes da espécie humana sobre o planeta, em sua busca por patamares cada vez mais elevados de felicidade e bem-estar material e espiritual.

Ocupada primeiramente pelos fenícios, muitos milênios antes da Era Cristã, foi ali, na região onde hoje se localiza a República do Líbano, que se ergueram alguns dos primeiros núcleos urbanos importantes de nossa história - um desses núcleos foi a cidade de Byblos, sendo a única do mundo que continua sendo habitada ininterruptamente, desde há seis mil anos antes de Cristo. Foi ali, portanto, que os homens puderam, pela primeira vez, libertar-se da escravidão imediata aos ditames da natureza, e começaram a organizar suas vidas, tendo em vista os valores criados pela própria comunidade, pelos seres humanos trabalhando em conjunto para sobreviver e desenvolver-se. Esse pode ser considerado o início da história verdadeiramente humana, dessa história que continuamos construindo a cada dia, seguindo o exemplo daqueles nossos distantes antepassados.

É nesse sentido, Srs. Senadores, que o Líbano pode ser considerado uma das pátrias fundadoras da humanidade, juntamente com a Grécia, com o Império Romano e algumas poucas outras civilizações que se tornaram, por mérito dos seus criadores, fonte perene de civilização e de cultura, que nos inspiram e continuarão a inspirar os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos.

O Líbano esteve presente, muitas vezes de forma dramática, em todos os períodos importantes da história universal e teve o seu território ocupado por praticamente todos os impérios que se sucederam ao longo desse tempo: foi incorporado à civilização grega durante o Império de Alexandre Magno, transformando-se depois em província romana; foi conquistado pelos árabes em sua avassaladora expansão; durante as Cruzadas, constitui-se, por breve tempo, em reino cristão, sendo posteriormente retomado pelos árabes.

O Líbano moderno começa a se estruturar no século XVII, época em que também se encontravam em formação a maioria das nações atuais. Foi então que se começou a estabelecer sua unidade territorial e que se criou o poder central correspondente. Mas o Líbano sofreria ainda o domínio do Império Otomano e do Egito, e sua real independência só ocorreria em 1947, depois, portanto, da Segunda Guerra Mundial, quando o país finalmente se livrou da tutela francesa a que estava submetido desde a Primeira Guerra.

De lá para cá, a história é conhecida por todos, marcada pelos conflitos que envolvem as diversas nações árabes entre si e frente ao Estado de Israel. São lutas, muitas vezes fratricidas, lutas que lançam irmãos contra irmãos, lutas que a humanidade espera ver superadas para que possamos assistir renascerem, naquela região, tempos de paz e de prosperidade e para que se façam valer os fundamentos éticos que estão na base das religiões que inspiram os povos envolvidos. Não podem, portanto, esses valores e fundamentos serem invocados para justificar a continuidade desse quadro de desequilíbrio e de tragédia.

O Líbano, em verdade, sempre foi palco de guerra descrita de maneiras diferentes: guerra civil, religiosa, dogmática para uns; para outros, guerra externa. Esse é o cenário da terra libanesa. Será que o Líbano será sempre vítima de sua localização geográfica?

Srs. Senadores, em recente visita a Campo Grande, falando à comunidade libanesa de Mato Grosso do Sul, o Embaixador do Líbano no Brasil, o Dr. Ishaya El-Khoury, acompanhado da Embaixatriz, lembrou, com muita propriedade, as palavras do Papa João Paulo II, segundo as quais o Líbano, mais do que uma nação entre outras nações, é uma mensagem para todas as nações. Lembrou o Sr. Embaixador que, naquele país, procuram conviver democraticamente duas grandes comunidades, a cristã e a muçulmana, dividindo a população quase que meio a meio, e que ambas têm seus papéis e seus direitos garantidos pelos poderes públicos e pela Constituição da República Libanesa.

Aliás, como sul-mato-grossense descendente de libaneses, quero manifestar meu sincero agradecimento e o de toda a comunidade libanesa residente no meu Estado pela honrosa visita de S. Exª o Embaixador, acompanhado de sua digníssima esposa, a Embaixatriz. Quero cumprimentar a Associação Cultural Libanesa do meu Estado pela grande recepção que ofereceu a S. Exª o Embaixador.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero neste momento, parafraseando o Papa e S. Exª o Embaixador, dizer que tenho plena confiança de que o Líbano será sempre a terra dos diálogos e dos encontros. Tenho confiança de que o bravo povo libanês, que aprendeu as virtudes da resistência, da persistência e da esperança ao longo de sua história tão atribulada, saberá reconstruir o país em harmonia e em paz.

Tenho confiança de que a terra que já nos concedeu tantas dádivas saberá conceder-nos mais uma, a mais importante de todas, provando-nos que é possível a convivência democrática e fraterna entre os povos de distintas culturas e religiões e que é possível reconstruir a amizade e a solidariedade entre as pessoas e as nações além de todas as guerras, além de toda intolerância, além de todos os interesses econômicos que muitas vezes se escondem por trás dessas tragédias coletivas, como foi a tragédia vivida em anos recentes pelo povo do Líbano.

Nesses tempos de globalização econômica, quando se aceleram mais uma vez os conflitos originados da competição desenfreada entre países e grandes corporações, o povo libanês pode nos fazer relembrar o mais importante dos mandamentos, aquele que está na base das crenças religiosas das duas grandes facções de seu povo, a cristã e a muçulmana: “Amai-vos uns aos outros”. Essa é a minha mais ardente esperança. Esses são os votos de um descendente de libaneses, que tem orgulho disso e que, recentemente, tendo visitado o Líbano, foi à cidade onde seu pai viveu, porque queria conhecer a casa onde seu pai nasceu e, infelizmente, a encontrou em ruínas. As relações entre o Brasil e o Líbano são muito profundas. Alguém já disse que o Líbano tem duas asas: uma, a dos seus filhos que lá se encontram; a outra, a dos seus filhos que se encontram esparramados pelo mundo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil é o país que tem a maior população de descendentes de libaneses e de seus descendentes. São 6 milhões de libaneses e de seus descendentes, que amam o Brasil, que não esquecem as suas origens e que rogam pela plena soberania do Líbano e pela felicidade de seu povo e de sua gente.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/11/2000 - Página 22816