Discurso durante a 158ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Resposta ao pronunciamento do senador Nabor Júnior sobre as denuncias de ameaça de morte do governador Jorge Viana.

Autor
Tião Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Afonso Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Resposta ao pronunciamento do senador Nabor Júnior sobre as denuncias de ameaça de morte do governador Jorge Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 22/11/2000 - Página 22819
Assunto
Outros > ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • REPUDIO, DISCURSO, NABOR JUNIOR, SENADOR, FALTA, ETICA, INJURIA, GOVERNADOR, ESTADO DO ACRE (AC), DESCONHECIMENTO, DENUNCIA, AMEAÇA, MORTE.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, só tenho a lamentar o fato de ter que ocupar esta tribuna pela razão que vou ocupá-la neste momento, porque o objetivo da minha inscrição era fazer a leitura de um memorável artigo do Ministro da Saúde, José Serra, refletindo sobre uma relação de amizade e sobre a construção de um modelo de saúde para o Brasil, de um modelo de libertação social neste País, na figura de um companheiro admirável e patrimônio do Partido dos Trabalhadores, o médico sanitarista David Capistrano.

Todavia, sou obrigado a mudar o teor do meu discurso e, mais uma vez, responder a atitudes caluniosas, injuriosas praticadas lamentavelmente pelo Senador Nabor Júnior.

Só tenho a lamentar por entender que esta Casa não é o fórum próprio a este tipo de discussão. Já convidei o Senador para um debate no Estado, para lá discutirmos os problemas políticos; porém, S. Exª sempre se reserva a ocupar a tribuna para fazer esse tipo de acusação, utilizando-se agora, além de suas palavras, de um editorial. Lamento profundamente.

Uma hora o Senador afirma, sentado ao meu lado, que irá ao Acre tentar fazer um acordo, que tem uma proposta para que não haja essa relação desnecessária de confronto entre os projetos políticos apresentados; momentos depois, vem à tribuna destilar seu veneno, fazendo injúrias e acusações. No momento seguinte, ainda, faz reflexões sobre as justificativas de seu Governo, assume que superfaturou medicamentos, que aumentou os preços praticados pelo mercado e imputa a aliados a culpa pelo superfaturamento. Nos bastidores, incita a atitude de desmoralização da figura do Governador. Não entendo as razões de S. Exª. Creio que tal atitude não irá trazer votos para o Senador que me antecedeu, pois há, ainda, dois anos para a eleição, e não vejo qualquer razão para se fazer política dessa maneira.

Um debate de idéias seria tão oportuno, tão elevado! Poderíamos defender o que é bom para o Acre, o que é bom para a construção de políticas públicas para o Estado. No entanto, o Senador faz questão de ser agenciador, de ser influenciado pela figura de criminosos que, hoje, agem no sentido de desmoralizar a imagem pública do Governador Jorge Viana. É assim que o fascismo age: primeiro procura a desmoralização, depois parte para a eliminação física.

Temos o depoimento, prestado ao Ministério Público, de um preso que relata a iminente ameaça de morte que sofreu o Governador Jorge Viana. Temos uma fita de vídeo - e já convidei o Senador para vir ao meu gabinete assisti-la - na qual presos afirmam que iam matar o Governador. Diante da dificuldade de eliminar o Governador, iriam partir para a eliminação de seu pai e de sua filha de cinco anos. O Senador não vai ao meu gabinete assistir à fita nem pede uma cópia, mas vem à tribuna fazer críticas injuriosas e difamantes. Realmente, não entendo essa forma de fazer política.

Advoga S. Exª a representação do editorial de um jornal local que não caberia ser apresentado aqui. No Acre, todos sabem a origem desse jornal, comprado que foi com o dinheiro da corrupção praticada no Governo de um amigo do Senador que aqui está ao meu lado. Trata-se de uma pessoa que hoje elogia um deputado federal que deveria ter seu mandato cassado por práticas criminosas; uma pessoa que, se tivesse seus sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados, estaria preso. A essa pessoa o Senador faz elogios aqui, como fez elogios à figura do ex-Deputado Hildebrando Pascoal desta tribunal, e traz agora a figura de um jornal que, se hoje defende essa prática injuriosa contra a pessoa do Governador, há menos de três meses fazia elogios ao Governador. Hoje ofende porque vê um horizonte de envolvimento com um novo modelo comercial dentro da vida pública do Acre.

Não posso entender esse tipo de prática. Não entendo política dessa maneira, mas com ética, com responsabilidade e com respeito à honra das pessoas, e não com dupla face. Uma hora faz de conta que está querendo justiça, porque diz que está enviando ao Ministro da Justiça o pedido de um delegado da Polícia Federal; todavia, isso se desmente porque quem fez esse pedido foi o Governador Jorge Viana. Eu, juntamente com o Senador Júlio Eduardo, procurei o Dr. Geraldo Brindeiro, Procurador-Geral da República, e fizemos aos setores de segurança esse pedido. Agora, o Senador vem dizer que o fez para tentar diminuir a intensidade do veneno que lança contra a figura do Governador.

O Sr. Nabor Júnior (PMDB - AC) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC) - Não vou permitir aparte a V. Exª. Fiz questão de não o apartear em respeito ao direito que V. Exª tem de participar. Venha à tribuna e use seu direito. De minha parte, não quero alimentar esse tipo de debate.

Não admito que se use esse método fascista de desmoralização da honra de um Governador, para, depois, alimentar a sua eliminação. Foi assim com Chico Mendes. Desmoralizaram toda tentativa de apelo que Chico Mendes fazia para que não fosse assassinado.

Na própria Polícia Federal, à época, ironizou-se e deu-se descrédito à sua afirmação e ao pedido de socorro. Foi eliminado há onze anos. Foi assim com o ex-Governador do Acre, que, numa quinta-feira, dentro do Congresso Nacional, disse que voltaria dentro de cinco dias para dizer quanto custava o dinheiro público para o Acre naquela época. Ele disse que voltaria na terça-feira; na segunda-feira, foi assassinado o ex-Governador Edmundo Pinto.

Então, não se pode admitir isso. Os fatos são claros, as evidências são absolutas de uma trama aberta para eliminação do Governador, e vem um Senador fazer injúrias, expor dúvidas quanto a isso. Não admito esse tipo de prática política.

O que tenho a dizer sobre a honradez desse dono de jornal que fez esse editorial quero fazer no Estado do Acre, porque aqui não é o foro, mas não admitirei, em nenhum momento, que a honra de um Governador do Acre, que luta tanto, que enfrentou o narcotráfico, o crime organizado, a corrupção pública, que está pagando o preço por não aceitar um envolvimento dentro do Governo hoje, venha a ser difamado por um Senador, seja ele quem for.

Eu gostaria que o debate fosse de idéias e da defesa de projetos políticos, Sr. Presidente, mas, se não é possível, vale a defesa da honra com altivez e dignidade.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/11/2000 - Página 22819