Discurso durante a 153ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Transcrição de pronunciamento de S.Exa, que enaltece os Jornais O Estado de Minas e o Diário da Tarde.

Autor
Francelino Pereira (PFL - Partido da Frente Liberal/MG)
Nome completo: Francelino Pereira dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Transcrição de pronunciamento de S.Exa, que enaltece os Jornais O Estado de Minas e o Diário da Tarde.
Publicação
Publicação no DSF de 14/11/2000 - Página 22388
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, TRANSFERENCIA, SEDE, JORNAL, ESTADO DE MINAS, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), OBJETIVO, MODERNIZAÇÃO, APERFEIÇOAMENTO, SERVIÇO, DIVULGAÇÃO, PUBLICAÇÃO, INFORMAÇÃO, SOCIEDADE.
  • CONGRATULAÇÕES, JORNAL, ESTADO DE MINAS, DIARIO DA TARDE, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), EMPENHO, VALORIZAÇÃO, ATIVIDADE, JORNALISMO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, estou submetendo a V. Ex.ª, sob o título Um jornal com o nome de Minas, um pronunciamento que deve constar nos Anais, exatamente por traduzir o sentimento de Minas, quando o nosso jornal O Estado de Minas e o Diário da Tarde, da Cadeia Associada, mudam as suas sedes para instalação num novo local da cidade de Belo Horizonte. O Estado de Minas é tradicionalmente o jornal dos mineiros e, naturalmente, nesta hora, quando dá um salto na sua economia, no seu trabalho tecnológico e até no sentimento de cada um dos jornalistas, não pode, evidentemente, traduzindo a vontade de Minas, que o Senado fique diferente a este salto muito importante na vida desse jornal de Minas Gerais.

Encaminho à Mesa o discurso, pedindo que faça transcrever nos Anais da Casa esse documento.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR FRANCELINO PEREIRA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

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O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL - MG) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Depois de 42 anos na tradicional rua Goiás, em um prédio que parece mais um labirinto, o jornal Estado de Minas, o maior e o mais tradicional da imprensa mineira, acaba de mudar-se para um imponente edifício na avenida Getúlio Vargas, nº 291, com nove andares e sete mil e 500 metros quadrados.

Na velha sede da rua Goiás, o Estado de Minas viveu os grandes momentos - bons e maus - de sua longa trajetória. As escadas de acesso à redação acolheram passos de grandes estadistas, como Juscelino Kubitschek, como de censores, nos momentos mais duros das ditaduras déspotas e dos regimes de exceção.

O velho prédio, que manterá um elo com o jornal, pois lá, no centro da cidade, continuará o “Balcão de Pequenos Negócios”, os tradicionais anúncios populares, deixa justificadas saudades a todos - diretores, jornalistas, demais trabalhadores e também aos leitores do Estado de Minas - mas todos ganharão com as novas instalações, amplas, modernas e tecnologicamente atualizadas.

            De todos os empreendimentos com os quais convivemos nesse tempo de economia sem pátria e sem identidade, as empresas jornalísticas talvez sejam as que adotam uma postura de preservação dos valores e da missão que marcaram a trajetória do jornalismo desde a sua origem, sem prejuízo de novas idéias e novas tecnologias.

Mesmo buscando resultados financeiros e adaptando seus processos gerenciais às necessidades do mercado, essas empresas mantêm uma relação com os seus produtos que transcende o ciclo básico de produção, distribuição e comercialização.

Nas empresas jornalísticas, inclusive nas mais modernas, cultiva-se um sentimento de responsabilidade social que aglutina empregados e empregadores, tornando difusa a fronteira entre a função pública e as necessidades econômicas da organização.

Por isso, a atividade nessas empresas é normalmente cercada de uma entrega pessoal de seus profissionais, de uma paixão e de uma dose de romantismo que não costumam ser percebidas em outros setores da iniciativa privada.

Jornalistas, gráficos, empresários e os profissionais da administração percebem-se como agentes de um processo de formação e informação do público, sentem-se responsáveis pelos movimentos da opinião popular e exercitam diariamente a consciência de que a sua atividade representa um poder concreto na organização política e social do País.

É claro que esse sentimento não poderia ser mantido se do outro lado das páginas impressas não houvesse leitores que comungam um pensamento semelhante.

De fato, é na opinião dos leitores que a atividade jornalística se completa, e é na fidelidade do seu público que um jornal conquista personalidade e significado.

Srªs e Srs. Senadores, essas considerações iniciais têm o objetivo de situar o sentimento que envolve as transformações físicas ocorridas nos grandes jornais, mesmo quando se trata apenas de uma mudança de endereço.

Em qualquer outra atividade econômica, esse seria um fato meramente funcional, motivado pelas necessidades de expansão dos negócios ou por imposições de ordem administrativa.

Mas, quando se trata de uma empresa jornalística, toda mudança ganha um significado maior, gera novas expectativas e revolve lembranças há muito adormecidas.

É o que ocorre agora, quando o jornal Estado de Minas deixa para trás a sua antiga sede na rua Goiás, no centro de Belo Horizonte, para ocupar um grande edifício na avenida Getúlio Vargas.

Fundado por Assis Chateubriand no final da década de 20, o “grande jornal dos mineiros”, como ficou conhecido, tornou-se uma verdadeira instituição no Estado.

Mesmo depois que o império formado pelos Diários e Emissoras Associados foi diluído, com a extinção de várias empresas que integravam o grupo, o Estado de Minas continuou a brilhar como um dos maiores jornais do Brasil e referência fundamental para quem deseja conhecer Minas Gerais.

Mas isso é só uma descrição para quem vive em outras terras. Para os mineiros, o Estado de Minas significa muito mais.

Ao longo dos seus 42 anos de existência, o jornal tornou-se leitura obrigatória, um companheiro de todos os dias, uma espécie de bússola que consultamos pela manhã para conhecer a direção dos ventos políticos, econômicos, sociais e culturais que sopram no Estado.

Por suas páginas passaram as maiores personalidades mineiras da segunda metade deste século, os grandes movimentos econômicos que marcaram a modernização de Minas, as convulsões sociais e as revoluções que mobilizaram os mineiros.

Em suas páginas pontificaram alguns dos mais brilhantes jornalistas deste País, poetas e escritores que conquistaram admiração nacional, políticos e empresários que ajudaram a escrever a nossa história com seus atos e suas crônicas.

Mas, como dissemos no início, um jornal não é só papel impresso, imagens e textos que perdem o sentido no dia seguinte, substituídos pelas notícias do momento.

Um jornal, como o Estado de Minas, representa os sonhos, as lutas e os ideais de todas as pessoas que contribuíram e contribuem para a sua realização, encarna as expectativas, os hábitos e as opiniões de seus leitores e ganha significado até pelo espaço físico que ocupa na cidade.

Para todas as pessoas que viveram em Belo Horizonte nestas últimas décadas, a rua Goiás era quase um sinônimo do jornal que tinha ali a sua sede.

Afinal, o trecho compreendido entre a avenida Augusto de Lima e a rua da Bahia viu o Estado de Minas crescer em meio ao chumbo derretido que alimentava as incansáveis linotipos.

Ali, nas mesas da extinta Lanchonete Nacional, jornalistas, boêmios e intelectuais acompanharam o processo de modernização do jornal, com a chegada do off-set e, mais tarde, com a adoção da cor.

Ali, entre lavadores de carros, despachantes e funcionários públicos, o centro de Belo Horizonte despediu-se das grandes máquinas impressoras, quando o jornal inaugurou o seu moderníssimo parque gráfico no bairro Santa Efigênia, próximo da Saudade, com financiamento isento concedido pelo meu Governo, através do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.

Ali, sob a varanda da redação, os belo-horizontinos buscavam informações nos momentos de alegria ou de sobressalto.

Ali aconteciam as primeiras batalhas de confetes dos antigos carnavais e ali, diante do sóbrio matutino, passou a concentrar-se mais tarde a irreverente “Banda Mole”, maior manifestação carnavalesca da capital mineira em nossos dias.

São incontáveis as histórias que se desenrolaram à sombra e nas imediações do velho prédio, tantas vezes reformado e adaptado. Casais que se conheceram e se separaram, filmes, poemas e romances que brotaram das mesas da Camponesa ou da Gruta Metrópole, conspirações e inconfidências tramadas entre uma sessão e outra do Cine Metrópole, boatos e informações que se desdiziam ao sabor da passagem apressada dos repórteres, que voltavam da rua com suas matérias rabiscadas em laudas dobradas no bolso do paletó.

Srªs e Srs. Senadores, embora seja uma cidade relativamente jovem, Belo Horizonte guarda poucos traços do seu passado. O crescimento desordenado, a ausência de uma política de preservação da memória urbana e a voracidade da especulação imobiliária somaram-se para soterrar a maior parte do patrimônio histórico, arquitetônico e afetivo da capital.

Por isso, é com uma ponta de pesar que assistimos à mudança de endereço do Estado de Minas. Sabemos que em sua nova sede, muito mais espaçosa, moderna e adequada, o jornal estará mais bem instalado para enfrentar os desafios que o esperam.

Sabemos, também, que esta mudança é resultado do próprio crescimento da empresa, que soube expandir suas atividades sem perder de vista os objetivos e a missão que estiveram em sua origem.

Mas, ainda assim, sentimos que Belo Horizonte perde uma importante referência física do seu passado recente.

Nas imediações da rua Goiás já não existem a Lanchonete Nacional, o Cine Metrópole, a Camponesa, a Livraria Oliveira e Costa.

Há muitos anos, os intelectuais, políticos e boêmios se renderam ao movimento frenético do centro, indo buscar abrigo em outras regiões da cidade.

Até o hábito de buscar a notícia na fonte, junto aos jornalistas e às rotativas, deixou de existir há tempos, fazendo com que o prédio do jornal se tornasse mais uma edificação entre tantas outras pelas quais passamos os olhos quase sem ver.

Mas quem viveu de perto a efervescência da rua Goiás e acompanhou o crescimento e a consolidação do Estado de Minas, não esquece o que se passou ali.

Srªs e Srs. Senadores, neste momento em que o “grande jornal dos mineiros” deixa para trás a sua velha sede, ocupo esta tribuna para homenagear todos os profissionais, jornalistas e diretores, que contribuíram com seu trabalho e sua dedicação para transformar o jornal nessa verdadeira instituição que é hoje.

Sei que, entre esses profissionais, vários comungam comigo a nostalgia do velho prédio da rua Goiás.

Mas sei que, como eu, eles alimentam a expectativa e a confiança de que, em sua nova sede, o jornal terá melhores condições para expandir seu raio de ação.

A lembrança dos corredores sóbrios, do burburinho da redação, da Lanchonete Nacional com suas mesas na calçada, das sessões do Cine Metrópole, da velha rua da Bahia que cruzava a Goiás como se fosse a encruzilhada do nosso mundo é só um retrato na parede.

Mas, ao contrário do que dizia o poeta Drummond de sua Itabira natal, não chega a doer, pois sabemos que, mesmo instalado em outro local, o Estado de Minas permanece, continua a crescer e a estampar em suas páginas o sentimento, a alma e a inteligência do povo mineiro.

Registro aqui os nossos votos de sucesso para a S/A Estado de Minas em sua nova casa. E também para o Diário da Tarde que, ao seu lado, cresce cada vez mais aos olhos do povo da nossa efervescente e múltipla Belo Horizonte, sendo dos mais lidos dentre todos os jornais que circulam em nossa Região Metropolitana.

Que a mudança para a avenida Getúlio Vargas represente um novo tempo de prosperidade, rigor e credibilidade para o jornal que recebeu o nome de Minas e vem honrando esse nome ao longo de toda a sua existência.

Muito obrigado.

 


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/11/2000 - Página 22388