Discurso durante a 160ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM AO EX-DEPUTADO, EX-SENADOR E EX-MINISTRO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, GUIDO FERNANDO MONDIM.

Autor
José Fogaça (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: José Alberto Fogaça de Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AO EX-DEPUTADO, EX-SENADOR E EX-MINISTRO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, GUIDO FERNANDO MONDIM.
Publicação
Publicação no DSF de 24/11/2000 - Página 23035
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, GUIDO MONDIN, EX-DEPUTADO, EX SENADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), EX MINISTRO, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU), ARTISTA, PINTOR, ESCRITOR, ELOGIO, ATUAÇÃO.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Dona Talita Mondin, amigos e parentes de Guido Fernando Mondin que nos dão a honra de suas presenças nesta sessão solene do Senado da República, esta Casa vive realmente um momento de grande intensidade e de grande emoção neste dia em que homenageamos a memória do artista, do pintor, do escritor, do contador, do economista, do folclorista, do animador do carnaval, das festas carnavalescas, do empresário, do Deputado Federal, do Vice-Prefeito de Caxias, do Senador, do Ministro e Presidente do Tribunal de Contas da União, o gaúcho Guido Fernando Mondin.

Quando Guido Mondin nasceu, em maio de 1912, já havia dois anos que o Czar Nicolau II havia sido deposto na Rússia e Vladimir Lenine dava início ao que seria a União Soviética. Faltavam apenas dois anos para que o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, da Áustria, assassinado por um sérvio, em Sarajevo, fosse o estopim para a deflagração da 1ª Guerra Mundial. Era um momento angular deste século. Os setenta anos subseqüentes a essa data foram os anos mais intensos e dramáticos do século XX, possivelmente o período de maiores e mais profundas mudanças científicas, sociológicas, políticas, econômicas e tecnológicas de toda a história do homem sobre a terra. Período tão extraordinário que o historiador inglês Eric Hobsbawn, em seu extraordinário livro A Era dos Extremos, denominou o período compreendido entre 1914 e 1991 o “verdadeiro e breve século XX”. Para Hobsbawn, o século XX começou em 1914 e terminou em 1991. Esse foi o período de grande parte da vida de Guido Mondin.

Quando Mondin nasceu não havia rádio e televisão no Rio Grande do Sul. Notícias dos grandes centros culturais do mundo levavam semanas para chegar. Uma viagem de navio à Europa demorava mais de quinze dias. Quando S. Exª foi eleito para o Senado pela primeira vez, em 1958, Fidel Castro marchava contra Fulgêncio Batista em uma Cuba dominada e decadente. Aliás, foi em 1958 que tive meu primeiro encontro com Guido Mondin. Meu pai era proprietário de uma farmácia, no Bairro Petrópolis, em Porto Alegre, na esquina da Avenida Protásio Alves. Na esquina fronteira havia uma banca de jornais que vendia a Folha da Tarde. Colocavam a primeira e a última páginas sempre expostas para que os passantes fossem atraídos por sua leitura e comprassem o jornal. Ontem à noite em minha casa, quando escrevia essas linhas para aqui hoje fazer este pronunciamento, essa lembrança me ocorreu. Pedi ao meu pai que comprasse a Folha da Tarde porque falava do Pelé, que era a grande figura extraordinária surgida no futebol, no esporte brasileiro e perguntei-lhe sobre dois outros nomes que me geraram interesse naquele noticiário: quem era Fidel Castro e Guido Mondin. A única coisa que me lembro é que a impressão que ficou ao longo do tempo sempre foi muito positiva. Eu tinha apenas 11 anos de idade.

Por isso, talvez por isso, eu tenha visto a figura de Guido Mondin não só pela ótica política, mas principalmente como um homem das artes, como um homem deste breve século XX, essencialmente um homem deste breve século XX, o século das guerras mais violentas da História; o século das inovações mais fantásticas e inimagináveis que a mente humana jamais sequer suspeitou que pudesse criar; o século das lutas ideológicas mais intensas e profundas que a História registrou e um século de grandes conquistas e mudanças, como a revolução da mulher, a revolução dos jovens e a emancipação da família.

Pode-se dizer, portanto, que a vida do Senador Guido Mondin correspondeu a um dos períodos mais excepcionais da aventura humana, um dos períodos de maior e mais drástica mudança no espírito do homem, na sua visão do mundo, nas suas expectativas éticas e morais, nos seus anseios e necessidades materiais, na sua concepção do universo, no seu conhecimento sobre si mesmo e as coisas que o cercam.

Pode-se dizer que Guido Mondin era um homem deste século. É importante e fundamental dizer isso. Não seria honesto com as minhas impressões e com o meu sentimento em relação a Guido Mondin se não revelasse essa visão que tenho da sua personalidade múltipla, complexa, rica e extraordinária. O Senador Guido Mondin foi um homem que viveu à altura do seu tempo, pela sua personalidade sagaz, ativa, atilada, permanentemente atualizada e sensível a um mundo em ebulição. Ousado para o sonho, inquieto com sua arte, equilibrado para as ações da política, diligente e operoso como Juiz de Contas da União, Guido Mondin foi um homem do seu tempo, foi um homem do seu século. Muito pequeno ainda, aos sete anos de idade, já expunha seus trabalhos artísticos, demonstrando desde cedo uma inquietude e uma disposição ímpar para aquilo que seria uma marca da sua vida e da sua personalidade rica e múltipla.

Guido Mondin foi mais do que um contador, um economista, um empresário, um folclorista, um Deputado Federal, um Vice-Prefeito de Caxias, um Senador da República e um Ministro do Tribunal de Contas. Guido Mondin foi um criador, era possuído de uma disposição permanente e essencial para o ato criativo. Cada etapa da sua vida foi marcada por essa disposição incontida de criar e isso lhe deu feição à personalidade. Sob meu ângulo, modestamente, a marca mais predominante da sua existência é a capacidade, a disposição, a coragem de criar, de construir, de elaborar, de fazer, de reproduzir, de transformar e de não se satisfazer com as formas estáveis das coisas. Guido Mondin criou como Senador, como pintor, como líder político, como escritor, como artista, como homem de belas artes e letras, como orador desta tribuna, como poeta, como cidadão e representante popular.

Guido Mondin não era uma figura comum. Não era nem conseguia ser apenas um hóspede passageiro e eventual de Brasília. Ele jamais conseguiu ver Brasília, a cidade que o acolheu por tantos anos, de um modo indiferente. Há Parlamentares que passam décadas e décadas de mandatos e não enxergam Brasília, olham-na e não a vêem. Brasília geralmente não está ao alcance dos seus limitados olhos. Porém, Guido Mondin era rigorosamente o homem da não-indiferença, da inquietude. Ele não conseguia ser um simples hóspede passageiro desta cidade, como muitas vezes ocorre e até como muitas vezes é necessário que assim seja na nossa atribulada, intensa e tão corrida vida de Parlamentar em Brasília.

Como homem de sentimento, que leva o coração e a alma para todos os lugares aonde vai, ele aprendeu a amar Brasília. E escreveu coisas do seu tempo, que estão muito vivas ainda e que comovem a qualquer um que vive os espaços, os eixos, os vãos imensos e infinitos de Brasília, a imensa solidão que esconde nos seus vazios, nas primeiras luzes do seu amanhecer e nos seus contornos inéditos e surpreendentes.

Guido Mondin escreveu, no aniversário de Brasília, em 1963:

Brasília, (...)

Quantas vezes, nas horas caladas da noite, eu me debruço à janela, contando as últimas luzes que se vão apagando nos apartamentos e fico a meditar sobre o destino de quantos aqui vieram para povoar-te. Em tais instantes, em minha mente fervilham confrontos.

Tenho, confesso, saudade do meu Rio Grande.

            Isso apenas confirma aquilo que, desta tribuna, asseverou e ressaltou o Senador Pedro Simon em resposta ao aparte do Senador José Roberto Arruda.

Lembro o mar acariciando a costa, desde Torres ao Chuí; o ar suave da Serra, onde branquejam ao sol os paredões agressivos, a imensidão do pampa na beleza repousante dos pastoreios - e fico a pensar se algum dia voltarei, porque agora estás tu, Brasília, em meu caminho, como estás no caminho dos que partiram do Ceará, da Bahia, do Paraná, de todas as procedências. Então, chego à conclusão de que a contribuição primeira e maior que poderíamos dar-te consiste na renúncia às nossas velhas vinculações sentimentais para que resplandeça, como um padrão humano de bondade, afeto, entusiasmo e de radiosa poesia o nosso sentimento por ti.

            Um dia estarás consolidada. As gerações que se seguirem não lembrarão e talvez nem compreenderão o sentido do mesmo tempo amargo e sublime desses primeiros tempos na vida dos que aqui vieram. Isto não importa. O que importa é que levaremos para o supremo repouso a consciência e a honra de que também te construímos. Não somos arquitetos, nem engenheiros, nem pedreiros. Os nossos instrumentos são os nossos corações e a nossa técnica são as manifestações da alma.

Esse texto foi publicado no dia 21 de abril de 1963, no Correio Braziliense.

E Guido Mondin sabia enxergar Brasília. Tinha olhos para ver.

Dizia ele:

Os que te combatem com a mordacidade da sua crítica negativa, os que te conhecem apenas pelo prisma da sua cupidez, os que te inquietam no sinistro propósito da sua ação revolucionária, hão de esbarrar, minuto a minuto, com a fortaleza incoercível da nossa disposição anímica e da nossa atuação objetiva.

No sincronismo do crescimento nacional, és a grande e inédita etapa. A formação das cidades brasileiras condicionou-se sempre a um concurso de circunstâncias que não são as tuas. Tu nasceste para criar e para redimir. És o amálgama de anseios regionais. És a síntese de uma Pátria e o fulcro de um Império. Por isso, mais que de ferro e cimento, te hás de consolidar em sentimentos.

            Essa foi a palavra de Guido Mondin sobre Brasília.

            Da obra extraordinária de Guido Mondin sobre esta cidade, é sempre importante lembrar a Lenda do Lago, sobre a forma como ele via o Lago Paranoá e o seu surgimento, não admitindo nunca que fosse um lago artificial. Para isso, ele escreveu a belíssima Lenda do Lago, que foi tão divulgada e conhecida nesta cidade.

Da obra singular extraordinária de Guido Mondin como pintor ficam para os tempos, principalmente, a sua extraordinária Via Sacra, que foi doada à Igreja Matriz de Otávio Rocha, no Rio Grande do Sul, na qual se sobressai o Cristo carregando o grande tronco de madeira cortada, que constituía a base vertical da cruz. Guido Mondin tinha plena convicção, com base em pesquisas que havia feito na Terra Santa - e isto havia sido comprovado mediante pesquisas com documentos históricos -, de que o Cristo carregou apenas o tronco vertical da cruz, sem a barra transversal. Foi assim que ele viu o Cristo e é assim que está, na sua Via Sacra, a visão do sofrimento de Cristo. É uma imagem que a sua imaginação de artista visualizou a partir de pesquisas e estudos que fez na Terra Santa.

Para mim, no entanto, o seu mais belo e vigoroso trabalho como pintor está na reprodução pictórica da epopéia farroupilha. Talvez seja um trabalho menos conhecido que seu trabalho confessional-religioso. Retrata Anita Garibaldi, carregando seu filho - que estava destinado a ser um famoso e eminente general na Itália, no final daquele século luminoso que foi o século XIX, a cavalo, fugindo para o Uruguai. Essa é uma imagem inesquecível na tela de Guido Mondin não só pela força e pela energia humana que dali se transmitem, mas porque é um trabalho pictórico que nos deixa com os olhos pregados por longo tempo, até nos darmos conta de que estamos por aquela imagem hipnotizados.

Infelizmente, esse trabalho, publicado no Rio Grande do Sul, talvez nunca tenha chegado aos outros Estados brasileiros, mas é, sem dúvida alguma, uma das formas documentais reprodutivas mais fascinantes das grandes personagens da Revolução Farroupilha.

O Mondin das telas religiosas, pungentes, cheias de dor, sensibiliza-nos e nos convida para a reflexão. Mas o Mondin das telas históricas nos arrebata, convoca-nos para nos engajarmos no que ele via e fazia.

Mondin criou, como homem, como cidadão, como ser humano, como pintor, como escritor e como político. Os discursos que pronunciou no período em que exerceu o mandato de Senador pelo Rio Grande do Sul constituem esse atestado mais eloqüente da sua preocupação com o País, com o seu Estado, o Rio Grande do Sul, com o seu povo, com a sua gente, seus problemas e dificuldades, mas, sobretudo, constituem a demonstração inequívoca de que Guido Mondin era um criador, um autor inquieto, buliçoso, agitado, alguém que não resistia à necessidade de manifestar e exteriorizar o caudal de pensamentos, de reflexões, de caminhos, de soluções e idéias que nasciam do seu espírito criador.

Guido Mondin integrou a Mesa do Senado na gestão Petrônio Portella e teve participação decisiva na reforma administrativa realizada naquele período. Mas, quando se realizavam os preparativos para as comemorações do Sesquicentenário do Parlamento - e aqui se engalanava e se ornamentava o Plenário para as comemorações -, ele vinha com os operários para, pessoalmente, coordenar e orientar o trabalho. Trabalhou lado a lado com os operários, para que a ornamentação do Senado fosse feita de acordo com o planejado, porque ele não resistia ao impulso de criar. Era sua índole participar no fazer, no construir, no elaborar, no realizar, num impulso irresistível da sua personalidade.

A propósito disso, é importante também relembrar que, na eleição de 1958, ele enfrentou uma das mais difíceis tarefas criativas da sua vida: produzir um discurso e uma proposta política para aquela coligação tão contraditória, de pólos políticos tão distanciados. De um lado, estava o Partido Trabalhista Brasileiro, e, de outro lado, o PRP, Partido de Representação Popular. E aí, mais uma vez, destacou sua capacidade criadora. Naquela campanha, fez mais de 1.500 discursos por todo o Rio Grande, o que significa dizer que ele não se escondeu, mas sim mostrou-se, trouxe à evidência o seu pensamento. Tanto foi criativo e coerente, que foi eleito Senador da República.

Em 1974, no encerramento de seu mandato, ele resolveu não mais concorrer. Aliás, algum tempo antes, demonstrando uma rara capacidade de desprendimento, ao anunciar que não mais disputaria o Senado Federal - e dava espaço e liberdade ao seu Partido, então a Arena -, para que propiciasse o surgimento de outra liderança, Guido Mondin, nesse caso, dá uma demonstração de grandeza, de abnegação. Isso é raro na vida pública. Eu mesmo não tenho conhecimento, ao longo desses 20 anos de vida parlamentar, de que isso tenha acontecido, já que a minha vida parlamentar começou após, em 1978. Portanto, não tenho notícia de que esse gesto tenha sido reproduzido ou imitado em outra oportunidade.

Foi esse mesmo Guido Mondin que, se de um lado tinha essa capacidade de abnegação, de desprendimento, teve tenacidade, competência e habilidade para costurar e conduzir uma das mais conflitivas e contraditórias alianças políticas já realizadas no Rio Grande do Sul: a aliança entre o PTB, Partido de Leonel Brizola, e o PRP, Partido de Representação Popular, de conotações bastante mais conservadoras.

Tudo indicava que a sua candidatura poderia naufragar, uma vez que ele pertencia a um partido então pequeno, limitado nas suas possibilidades eleitorais, um partido que, sozinho, não elegeria jamais um Senador. Era preciso que os votos dos eleitores de toda a coligação também fossem carreados, também fossem transferidos para ele. Para isso, ele precisava merecer e justificar esses votos.

Fez 1.509 discursos em todo o Rio Grande do Sul, que, àquela época, não tinha mais do que seguramente 200 Municípios. Ali acreditava-se que ocorreria possivelmente uma grande - e até esperada - situação de desvantagem. Esperava-se que aquela coligação garantisse o mínimo que Brizola precisava para vencer e se eleger Governador, mas, por um processo de defasagem natural, o representante do partido menor na coligação não teria todos os votos e, portanto, não chegaria a ser vitorioso e a ganhar a Cadeira no Senado. Mas ele conseguiu e se elegeu numa campanha estafante, mas extremamente criativa; e se elegeu com larga vantagem sobre o seu oponente.

Em 1964, quando houve neste País a implantação de um regime de exceção - uma mudança brusca, uma ruptura institucional -, iniciava-se um outro tempo, uma República distinta daquela em que anteriormente se havia vivido, pós-Constituinte de 1946. Nesse período, ele se filiou à Arena e, em 1966, reelegeu-se Senador pelo Rio Grande do Sul.

E eu me lembro também, numa memória já não tão distante como a de 1958 - porque eu já tinha idade para votar -, que os quatro nomes que disputavam a eleição eram: Mário Mondino, Synval Guazzelli, Sigfrid Heuser e Guido Mondin.

Uma das razões pelas quais entrei na vida pública e aceitei um dia ser candidato a Deputado Estadual, a convite do Senador Pedro Simon, foi o fato de que meu pai, que tinha sua preferência pessoal, dizia-me: “São quatro homens decentes, que merecem grande respeito e admiração”. E, sem dúvida alguma, essa era uma verdade essencial sobre aquela eleição para o Senado. Foram quatro grandes homens públicos que honraram e honram a vida política do Rio Grande do Sul.

Hoje, grande parte da população eleitora escolhe seus candidatos em razão de um pequeno diferencial - pequeno na importância eleitoral, mas extremamente grande na importância moral -, em razão da imagem ou da convicção de honestidade desses candidatos, porque vê nisso um diferencial básico, extremamente notório e necessário para distinguir os homens de vida pública hoje. E olhamos para aquela eleição para o Senado de 1966 e vemos que, se fosse por esse vezo, por esse viés, não haveria como fazer uma opção eleitoral, ter-se-ia que votar nos quatro homens públicos que disputavam uma vaga para o Senado da República.

Desses exemplos do passado, evidentemente muitas carreiras políticas surgiram em nosso Estado. Posso dizer que sou, pessoalmente, um exemplo. Sempre entendi - foi o que me ensinaram os homens públicos que me antecederam - que a questão da honestidade, da seriedade, da decência no trato da coisa pública é um pressuposto e não uma qualidade diferencial. Isso está na essência da vida pública, do ato político como tal. Para que estejam comprometidos nesse processo, todos têm que ser honestos.

Não posso deixar também de registrar a minha homenagem paralela ao Deputado Synval Guazzelli, que aqui se encontra e que disputou aquela eleição. E aqui, sentados um ao lado do outro, S. Exª me disse: “Foi pequena a diferença”. Eram três candidatos na Arena, em sublegenda, disputando a eleição.

De fato, o que há como marca profunda e inapagável dessa plêiade de homens públicos é seu compromisso básico e inextinguível com a honestidade e com a decência.

Mas é importante dizer que Guido Mondin, depois que se elegeu em 1966, veio para Brasília e aqui deixou a marca do seu talento, da sua afabilidade, da sua pertinácia, da sua imensa capacidade de trabalhar, de produzir e de criar.

Volto aqui, no encerramento destas palavras e desta homenagem, a relembrar o que eu já disse em outro momento desta tribuna: Guido Mondin era ousado para o sonho, inquieto para a arte, equilibrado para as ações da política, diligente e operoso como Juiz de Contas da União.

Guido Mondin foi um homem do seu tempo, uma personalidade a um tempo vocacionada para a aventura da criação e para a serenidade da liderança política. Foi uma personalidade múltipla, ao mesmo tempo inquieta e serena e, a um só tempo, determinada e respeitosa, abnegada e atenta. Jamais, no entanto, foi um homem distraído do seu tempo. Jamais foi indiferente ao que o cercava. Jamais foi insensível ao ambiente humano em que viveu. Guido Mondin honrou seu século, honrou seu tempo, dignificou o seu mandato e a sua vida. Sua obra e sua vida não serão esquecidas pelo Rio Grande e pelo Brasil.

Muito obrigado. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/11/2000 - Página 23035