Discurso durante a 165ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Presta homenagens pelo transcurso do centenário de nascimento do ex-Senador Milton Campos.

Autor
Leomar Quintanilha (PPB - Partido Progressista Brasileiro/TO)
Nome completo: Leomar de Melo Quintanilha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Presta homenagens pelo transcurso do centenário de nascimento do ex-Senador Milton Campos.
Publicação
Publicação no DSF de 01/12/2000 - Página 23480
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, MILTON CAMPOS, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), EX MINISTRO, EX SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, DEMOCRACIA.

  SENADO FEDERAL SF -

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            O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente da sessão, Senador Carlos Patrocínio, Exmº Sr. Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Carlos Velloso, Srs. Ministros, Sr. Presidente da Fundação Milton Campos, Senador Jarbas Passarinho, Srªs e Srs. Senadores e familiares do homenageado, comemoramos, dia 16 de agosto passado, o centenário da figura política senão a mais importante, a mais interessante do século, Milton Campos, que, ocupando cargos diversos nos governos estadual e federal, foi exemplo de retidão para correligionários e opositores. Teve uma vida marcante no cenário republicano brasileiro. Íntegro no trato da coisa pública, leal às tarefas que lhe foram impostas, coerente nas posições políticas, suave no trato com o próximo. A nobreza de ações e sentimentos marcou-lhe a vida.

            O ideário político de Milton Campos trilhou os caminhos da liberdade. Um liberal, “por índole, temperamento e vocação”, como convém aos mineiros de boa cepa. Admirador de Laski, adotou-lhe e desenvolveu, para a nossa cultura, os conceitos de liberdade e igualdade, que considerava os “dois pontos de atração da democracia moderna”, a única forma de se atingir a justiça social. E continuava: “Sem a liberdade cairemos na opressão política. Sem a igualdade consolidaremos a opressão econômica. Num e noutro caso estará esquecida a pessoa humana e a democracia falhará em sua missão.”

            De Milton Campos a famosa frase “um governo mais da lei do que dos homens”, traduzindo a sua formação jurídica, em que o império da lei era da maior importância para uma sociedade justa e equânime. Eleito Governador de Minas - contra todas as expectativas -, logo após a ditadura de 1937-1945, foi competente na restauração da ordem democrática, sereno, tolerante, tratando com a mesma simplicidade vencidos e vencedores. O planejamento - então pouco em voga - foi a mola da sua atuação na política, na agricultura, na educação, na saúde e no desenvolvimento do Estado.

            Prevendo os abusos que poderiam advir do excesso do intervencionismo estatal na vida do País, em 1949 já se referia à humanização da economia, “para que se assegure conforme as melhores inspirações cristãs, o primado do espírito sobre a matéria e do homem sobre a riqueza”.

            Da mensagem que enviou à Câmara Legislativa, ao final de seu Governo, constam as sábias considerações: “é preciso que o exercício do poder não deforme a personalidade nem altere a orientação das inspirações formadoras. (...) A fidelidade aos princípios é o único meio de evitar que o homem público adote passivamente as idéias de sua posição em vez de, como lhe compete, tomar sempre a posição de suas idéias”.

            As raízes de seu humanismo e liberalismo tiveram origem nas discussões vespertinas de seus parentes, nas calçadas convidativas de sua cidade natal, a imperial Ponte Nova, onde cultivou o ceticismo e a ironia, talvez influenciado pelas conversas voltairianas e montaignianas dos tios mais velhos. Adotou a moral como fundamento de sua ação política.

            Cortês, delicado, grande causeur, Milton Campos, personalidade incomum, trazia em seu temperamento contradições: cético, mas religioso, de uma fé profunda; amável no trato, mas tímido e fechado; prudente, mas corajoso; humilde, mas altivo; irônico, mas bondoso; equilibrado, mas emotivo. A continuidade entre sua vida pública e particular advinha, provavelmente, de seu autêntico humanismo, de sua vasta cultura, de seu senso jurídico, de seu permanente equilíbrio. Gestos elegantes, tom de voz baixo, era dotado de um senso de humor britânico que encantava os amigos.

            Intuitivo, exonerou-se do Ministério da Justiça, no Governo Castello Branco, livrando-se de assinar o Ato Institucional nº 2, que contrariava toda a sua formação democrática. Sentira as paixões que começavam a surgir no seio do Governo, transformando a revolução que acreditara ser da liberdade em um movimento reacionário, distante de sua formação. As razões pelas quais aceitara o cargo já não mais existiam. O bipartidarismo fora implantado, as eleições, além de adiadas, iam ser indiretas. Sua voz democrática já não se fazia ouvir pelos governantes. Era hora de sair. E assim o fez. Não mais podia lutar pelos direitos humanos, não mais podia trabalhar pelo aperfeiçoamento das instituições democráticas. E, apesar da insistência do Presidente Castello Branco em mantê-lo no cargo, foi resoluto na decisão e respondeu-lhe: “Em certas circunstâncias, o Ministro tem o direito e o dever de demitir-se, assim, o senhor me permita, Presidente, que eu use do meu privilégio de Ministro e me demita”.

            Sr. Presidente, numa hora em que o Brasil clama por justiça social, em que o descontentamento popular cresce celeremente, em que as diferenças sociais se agravam, em que os movimentos de base se multiplicam, sentimos falta da sabedoria - moderna no pensamento e na ação - de Milton Campos, capaz de se manifestar e de agir com isenção, na procura de caminhos que atendam às aspirações de um povo, no limite de seu sofrimento. Eis um bom momento, o melhor momento para que todos nós, governantes e governados, voltemos os olhos para o ideário democrático de quem sempre pautou a vida dentro de princípios liberais e cristãos.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado. (Palmas)


            Modelo15/16/243:32



Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/12/2000 - Página 23480