Discurso durante a 165ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Presta homenagens pelo transcurso do centenário de nascimento do ex-Senador Milton Campos.

Autor
José Roberto Arruda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: José Roberto Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Presta homenagens pelo transcurso do centenário de nascimento do ex-Senador Milton Campos.
Publicação
Publicação no DSF de 01/12/2000 - Página 23485
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, MILTON CAMPOS, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), EX MINISTRO, EX SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, DEMOCRACIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eminentes Senadores, Deputados Federais, autoridades presentes, peço licença para cumprimentá-los todos, saudando aqui a presença do Ministro Carlos Velloso, Presidente do Supremo Tribunal Federal, que compõe esta Mesa com o sempre Senador Jarbas Passarinho e com o Professor Raul Machado Horta.

            A minha responsabilidade nesta tribuna - reconheço - é bem maior do que a de eminentes homens públicos que já falaram e que ainda hoje vão falar sobre Milton Campos, porque praticamente todos eles - Senadores Pedro Simon, Francelino Pereira, José Alencar, Arlindo Porto e tantos outros -, de uma maneira mais ou menos direta, conviveram, acompanharam o grande brasileiro Milton Campos. Todos eles, ao menos, perceberam as mesmas circunstâncias históricas que moldaram, no mineiro do interior, no mineiro de Ponte Nova, o grande brasileiro como referência do pensamento político deste século em nosso País. A minha responsabilidade é maior, Sr. Presidente, porque venho a esta tribuna representando a geração que entrou na vida pública quando não existia mais PSD e UDN, que entrou na vida pública, portanto, como herdeira inconsciente do legado conceitual, do legado de princípios que foram moldados principalmente a partir dos anos 30 no Brasil.

            E como falo em herdeiros, quero chamar a atenção para um fato. Os que não têm o privilégio de estar aqui neste momento podem não ver o conjunto de pessoas que aqui estão, mas nós temos o privilégio, nós Senadores, de ter aqui no Senado uma amostra significativa do que é a herança de Milton Campos. Só ele, só o seu exemplo, só o seu legado para trazer nesta manhã à mais alta Casa Legislativa do País o Ministro Carlos Velloso, ele próprio herdeiro dos ideais de Milton Campos, que preside neste instante a nossa Suprema Corte; de trazer a este plenário o Ministro e Senador Jarbas Passarinho, não apenas como presidente do Instituto Milton Campos, mas, principalmente, como pensador que é da vida pública brasileira; trazer a este plenário homens como Murilo Badaró, que não se acomodou com a contribuição que deu como político, como homem público e acresce a isso a sua contribuição como estudioso, como pesquisador, escritor, biógrafo. Estão presentes homens como o Ministro Humberto Souto, homens como Israel Pinheiro - e eu o cito para homenagear todos aqueles herdeiros daquela geração de udenistas e pessedistas, não importa, mas de construtores dos pilares em que se assenta a democracia brasileira. Estão aqui homens como Homero Santos, como o Vice-Governador de Brasília, Benedito Domingos, ele também um mineiro - há uma contribuição histórica de Minas para esta cidade, desde Juscelino Kubitschek. Estão presentes neste plenário homens como Reginaldo Oscar de Castro, Presidente Nacional da OAB, até para lembrar que Milton Campos presidiu a seccional da OAB em Minas Gerais.

            E como falei sobre algumas das muitas ilustres presenças nesta Casa, devo dizer de uma bem simples, mas tocante, importante, até porque exemplar do que a democracia e a liberdade podem realizar. Está aqui, neste plenário, um filho de ferroviário, de um guarda-freio da antiga estrada de ferro Rede Mineira de Viação, conhecida por alguns críticos da ferrovia, na primeira metade deste século, pela sua sigla RMV, a qual, muitas vezes, era traduzida como “ruim, mas vai”. O filho de guarda-freio da estrada de ferro tem a honra de ter nascido numa “casa da turma”. Para os que não sabem, “casa da turma” eram as casinhas simples que a Rede construía na beira da linha. É esse filho de guarda-freio que vem a esta tribuna para, orgulhosamente, dizer que Milton Campos foi também ferroviário da Rede Mineira de Viação.

            Ao assumir a responsabilidade de contribuir modestamente nesta justa homenagem ao grande brasileiro Milton Campos, homenageio também os grandes mineiros de toda a História, que ajudaram a edificar as bases morais e conceituais da sociedade brasileira. Mas homenageio principalmente o homem simples do interior de Minas, que Milton Campos era; o homem que muitas vezes, como meu pai, não passou do grupo escolar; mas homens que retiraram das terras mineiras, do clima de montanha, do sentimento de mineiridade, que só Guimarães Rosa conseguiu traduzir, a sabedoria, que muitas vezes não é proporcional ao conhecimento e que se transmite não pelas idéias, mas pelos exemplos.

            Se Milton Campos deve ser lembrado pela sua contribuição à formação intelectual do Brasil moderno; se Milton Campos deve ser lembrado como Governador de Minas, o Governador das leis e não dos homens; se Milton Campos deve ser lembrado pela sua participação na Revolução de 1930, à qual deu sustentação ideológica; se Milton Campos deve ser lembrado pela coragem que teve de discordar, em 1937, e de ser acusado de mudança, quando tinha consciência de que a Revolução é que havia mudado da sua origem; se Milton Campos deve ser lembrado como Constituinte de 1946, um homem que ia à tribuna e era ouvido menos pela sua capacidade de orador e mais pelos conceitos que traduzia e expressava; se Milton Campos deve ser lembrado pelo seu legado libertário, como advogado, atuante na Ordem dos Advogados do Brasil; se Milton Campos deve ser lembrado como autor de uma das mais importantes assinaturas ao Manifesto dos Mineiros, em 1943, e tudo que isso representou para todos nós; se Milton Campos deve ser lembrado pela grandeza do pleito que disputou com Bias Fortes e que até hoje serve de referência àqueles que desejam disputar eleições defendendo idéias e não privilégios; se Milton Campos deve ser lembrado por tudo isso, pela sua contribuição à vida política e intelectual brasileira, devo dizer que Milton Campos deve ser lembrado e homenageado muito mais por sair de uma origem humilde, de uma cidade pequena do interior de Minas Gerais, e se transformar num cidadão nacional, num homem pleno, porque pleno de conteúdo, de conceitos, de grandeza e de riqueza humana.

            Milton Campos deve ser lembrado mais pelo exemplo do que pelas idéias. Por mais edificantes que tenham sido as idéias que defendeu, por mais significativas que tenham sido, no plano intelectual, as coisas que escreveu, Milton Campos é reverenciado aqui hoje muito mais pelo seu exemplo.

            O exemplo de Milton Campos, Sr. Presidente, eminentes mineiros aqui presentes, eminentes brasileiros, conseguiu ser maior que sua compreensão do mundo, conseguiu ultrapassar a sua capacidade de absorção de conceitos e idéias. Milton Campos conseguiu, com o seu exemplo de simplicidade e de grandeza, de retidão moral e de dignidade, ser maior do que o seu próprio legado político e intelectual.

            Que a nossa geração de brasileiros, que tem o desafio de inaugurar o novo milênio, tenha a capacidade de olhar para a sua história com reverência e humildade, mas com um pouco mais de auto-estima. Que a nossa geração de brasileiros possa se mirar no exemplo desses grandes brasileiros como o único caminho para construir uma sociedade mais justa, menos desigual, mas, principalmente, uma sociedade que tenha na liberdade e na democracia, sonhadas por brasileiros como Milton Campos, a marca de sua caminhada.

            Concluo, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Sr. Presidente do Supremo Tribunal Federal, Senador Jarbas Passarinho, eminente Presidente da Fundação Milton Campos, que deveria nos dar o privilégio de sua convivência mais amiúde, todos os senhores que estão neste plenário e todos os brasileiros que, por qualquer dos meios de comunicação, estão nos ouvindo, dizendo o seguinte: um eminente professor de Topografia da Escola de Engenharia de Itajubá, onde tive o privilégio de nascer e estudar, que depois fez também vida pública - foi Deputado, Governador, Vice-Presidente da República e Presidente da República -, e que, até hoje, carinhosamente chamo de Professor Aureliano Chaves, dizia nas aulas de Topografia, mais ou menos assim: “Olhem aqui, meus caros - e o gesto era sempre o mesmo -, quem não tem linha de ré, não tem ponto futuro”. Tomo as palavras deste outro grande mineiro, Aureliano Chaves, para dizer que se não tivermos a linha de ré edificada, construída por grandes brasileiros como Milton Campos, não teremos ponto futuro.

            Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas)


            Modelo15/19/244:03



Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/12/2000 - Página 23485