Discurso durante a 168ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Importância e complexidade da triticultura para o País, setor que merece toda atenção do Poder Executivo.

Autor
Carlos Patrocínio (PFL - Partido da Frente Liberal/TO)
Nome completo: Carlos do Patrocinio Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Importância e complexidade da triticultura para o País, setor que merece toda atenção do Poder Executivo.
Publicação
Publicação no DSF de 06/12/2000 - Página 24335
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • NECESSIDADE, POLITICA, PRODUÇÃO, TRIGO, BRASIL, ANALISE, MERCADO INTERNO, EXPORTAÇÃO, MAIORIA, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, RECLAMAÇÃO, MOINHO DE TRIGO, REDUÇÃO, QUALIDADE, PRODUTO IMPORTADO.
  • REIVINDICAÇÃO, PRODUTOR, ESTADO DO PARANA (PR), APOIO, GOVERNO, AUMENTO, PRODUÇÃO, TRIGO, TENTATIVA, SUBSTITUIÇÃO, METADE, IMPORTAÇÃO.
  • GRAVIDADE, GEADA, PREJUIZO, SAFRA, TRIGO, ESTADO DO PARANA (PR), EXPECTATIVA, POSSIBILIDADE, TRITICULTURA, REGIÃO CENTRO OESTE, CERRADO, ROTATIVIDADE, CULTIVO, UTILIZAÇÃO, IRRIGAÇÃO, ESPECIE, SEMENTE, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL - TO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a produção de trigo no Brasil é uma questão importante, sensível e complexa, das que mais exigem uma política governamental atenta e bem calibrada. Este ano de 2000, com suas perspectivas iniciais de safra frustradas por geadas desastrosas no Paraná, ensejou muita polêmica: discussões em torno do trigo brasileiro, da usual importação de trigo argentino, do papel dos moinhos que produzem farinha de trigo e da pressão potencial do setor tritícola sobre a inflação.

            Vale a pena examinar alguns aspectos dos argumentos esgrimados pelos mais diretamente envolvidos nas complexidades do setor. Isso sem esquecer o balizamento necessário e indispensável para todo esse debate, que é a adequada compatibilização dos interesses dos produtores agrícolas, dos que industrializam o trigo, da economia nacional e dos consumidores dos produtos finais do trigo.

            O interesse do consumidor e a sensibilidade do custo de vida aos preços do trigo e da sua farinha são fáceis de entender: é enorme a penetração, no consumo popular, do pão, das massas, dos biscoitos e da farinha de trigo de uso doméstico.

            Sr. Presidente, vem de longa data, no Brasil, a discussão sobre o quanto apoiar, com recursos públicos, a produção nacional de trigo. No panorama mundial, o Brasil não é um produtor natural, por assim dizer; a produção se concentra nos países frios, onde é uma cultura de verão. Os grandes exportadores são países como Estados Unidos, Canadá e Argentina. No entanto, é bom notar que o clima não é fator incontornável. Afinal, o trigo foi domesticado há milhares de anos, na Mesopotâmia, região quente. Voltarei a esse ponto mais adiante.

            O fato é que, nos últimos anos, o consumo total do Brasil tem sido de 9 milhões de toneladas de trigo. A produção nacional tem se mantido em cerca de 2 milhões de toneladas, com tendência a situar-se acima disso. Importamos, portanto, cerca de 7 milhões de toneladas; quase tudo, 95%, da Argentina. Deve-se considerar um fator positivo o fato de termos um país vizinho que pode suprir nossas necessidades, ensejando ainda, com isso, a integração comercial no âmbito do Mercosul. No entanto, os moinhos nacionais vêm reclamando de quedas recentes na qualidade do trigo argentino.

            Os produtores nacionais, principalmente os do Paraná, maior Estado produtor, afirmam que nossas safras de trigo poderiam aumentar substancialmente, desde que o Governo desse um apoio creditício mais efetivo ao plantio e à comercialização. Os paranaenses afirmam que a produção do Estado, hoje de 1,5 milhão de toneladas, poderia crescer, nos próximos anos, a ponto de atender até à metade do consumo nacional do cereal. No início do ano, encaminharam estudo nesse sentido ao Ministério da Agricultura.

            De fato, o Paraná dispõe de terras, maquinário e tecnologia. A qualidade de seu trigo vem atraindo a indústria de moagem. No inverno, os campos plantados com as culturas de verão de soja e milho estão disponíveis para o trigo e, como alternativa, para o chamado milho de safrinha.

            Os paranaenses acabaram por plantar, este ano, a mesma área do ano passado: 750.000 hectares, com previsão de colheita de 1,5 toneladas. Em meio a essas aspirações e expectativas, ninguém poderia ter previsto o desastre climático que se seguiu. Primeiro, longas e intermináveis semanas sem chuva, seca que prejudicou as lavouras. Logo a seguir, nos dias 17 e 18 de julho, terríveis geadas que dizimaram a safra paranaense, reduzindo-a significativamente.

            A perspectiva de quebra de safra no Paraná elevou, de imediato, os preços do trigo argentino em 10%. Os moinhos do Paraná sentiram-se prejudicados e, em ação combinada, tentaram impor ao mercado brasileiro como um todo um fortíssimo aumento do preço da farinha de trigo. Esse movimento de alta ameaçou transformar-se em pressão inflacionária. De fato, houve pequenos aumentos no preço do pão ao consumidor. A farinha de trigo tem participação de 23% no custo do pão. Também a farinha de trigo de uso doméstico sofreu aumento.

            O Governo Federal adotou medidas enérgicas para impedir que se formasse essa cadeia inflacionária; promoveu uma devassa no movimento de cartelização dos moinhos do Paraná, denunciando seus aspectos ilegais. A ameaça inflacionária esvaziou-se, tendo esse processo incluído a negociação, entre Governo e moinhos, de novos valores de quotas de importação, assegurando um razoável equilíbrio econômico aos moinhos.

            Com a redução de mais de um terço na safra nacional de trigo, aumentou a necessidade de importação de trigo estrangeiro. Este ano, importaremos 8,3 milhões de toneladas e não os 7,5 milhões inicialmente previstos. A safra argentina foi grande, de 17 milhões de toneladas, não havendo, portanto, perigo de escassez do produto. De qualquer forma, importar mais de 8 milhões de toneladas colocará o Brasil como maior importador mundial do cereal, posição pouco invejável.

            A vulnerabilidade brasileira e as geadas no Paraná levantam a questão interessante da possibilidade da produção de trigo nas regiões quentes do Brasil. Essa produção já existe, em pequena escala, com utilização de irrigação. O custo mais alto é compensado pela altíssima produtividade.

            De fato, graças aos esforços da Embrapa Cerrados no desenvolvimento de variedades de trigo adequadas, torna-se cada vez mais comum ver campos cobertos por trigais no centro do Brasil. Por exemplo, em Goiás e no Distrito Federal os produtores têm obtido boa qualidade, produtividade e rentabilidade. Há, no entanto, dificuldades de comercialização, pois a demanda está restrita aos poucos moinhos existentes na região.

            Mas é evidente ser o trigo uma lavoura que está atraindo os produtores das nossas vastas regiões de cerrado, principalmente os que plantam feijão irrigado. Eles buscam uma lavoura que promova a desejada rotação de culturas. Marcos no progresso da triticultura no cerrado foram o lançamento, em 1992, da variedade Embrapa 22, e, em 1997, da Embrapa 42. Ambas, variedades adequadas à região de Brasília, onde a produtividade média é de 5,4 mil quilos por hectare.

            As pesquisas da Embrapa de melhoramento de trigo para os cerrados, continuam. No próximo ano, será lançada uma nova variedade para os cerrados de Minas Gerais. É possível visualizar, nessas pesquisas e na produção incipiente do cerrado, um caminho de alto interesse para o País: o da diversificação das regiões produtoras de trigo e o do aumento da produção nacional, aumento, de resto, já proposto pelos produtores das regiões tradicionais do Sul do Brasil.

            Sr. Presidente, é evidente a complexidade do setor de triticultura. Mas são evidentes, também, sua importância e suas potencialidades. O trigo, o pão, tão carregados de significados simbólicos para a humanidade, têm, claramente, para nós, significados muito concretos e relevantes, que merecem nosso atento acompanhamento e toda atenção por parte do Poder Executivo.

            Muito obrigado.


            Modelo112/19/247:30



Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/12/2000 - Página 24335