Discurso durante a 171ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem pelo centenário de nascimento do ex-Senador e empresário José Ermírio de Moraes.

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo centenário de nascimento do ex-Senador e empresário José Ermírio de Moraes.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/2000 - Página 24688
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, JOSE ERMIRIO DE MORAES, EX SENADOR, EMPRESARIO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), OPORTUNIDADE, RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, PAIS.

  SENADO FEDERAL SF -

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SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há cerca de dois meses, constava da nossa Ordem do Dia uma sessão especial marcada para homenagear o ex-Senador e empresário José Ermírio de Moraes, Senador por Pernambuco. Infelizmente, por causa de doença de um membro de sua família, a sessão não pôde realizar-se.

            Neste momento, trago algumas palavras em homenagem a esse importante brasileiro que neste ano completaria 100 anos de vida. Meu discurso não substitui a sessão, mas não poderíamos terminar este ano sem o seguinte registrado nos Anais do Senado.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, presto hoje merecidíssima homenagem ao empresário, filantropo, ex-ministro e ex-Senador José Ermírio de Moraes, por ocasião da passagem do centenário de seu nascimento.

            Esse meu conterrâneo - pernambucano, nascido em 1900, na então pequena Nazaré da Mata, a 60 quilômetros de Recife - é uma dessas raríssimas personalidades eminentes que, em razão de sua rica e respeitosa biografia, deixam a existência concreta, terrena, para povoar o imaginário da Nação na qualidade de cidadãos modelares, a partir dos quais, entre outros elementos, todo um povo constrói sua identidade.

            José Ermírio de Moraes apresenta todos os qualificativos de um brasileiro exemplar. Na história da indústria e do desenvolvimento econômico brasileiros do século XX, José Ermírio tem lugar assegurado e de relevo. No que se refere à dedicação e ao amor ao próximo, José Ermírio, a vida inteira, associou-se a iniciativas que visavam promover o bem-estar da comunidade. Na discussão dos problemas nacionais e na ação para resolvê-los, José Ermírio, igualmente, esteve sempre à frente dos acontecimentos, revelando incomum espírito público.

            Normalmente, ao se falar do ex-Senador José Ermírio de Moraes, põe-se em realce, antes de tudo, sua vitoriosa trajetória de empreendedor - e se faz isso com toda a razão. Desde bem jovem, José Ermírio revela sua natureza ativa e diligente, à qual nunca faltou a noção de responsabilidade pessoal.

            Aos 16 anos, é enviado aos Estados Unidos pela mãe, D. Chiquinha, uma forte personalidade, para que estude e se forme em Engenharia de Minas, graduação que obteve na Colorado School of Mines. O pai de José Ermírio, pertencente à aristocracia rural de Pernambuco e morto quando o garoto contava apenas dois anos de idade, externara o desejo de ver seu filho dotado de sólida formação técnico-científica. Não lhe agradava o bacharelismo em voga no Brasil de então. Após alguns meses do desembarque nos Estados Unidos, o ainda adolescente José Ermírio, em carta enviada à mãe, dispensa-lhe o encargo de suas despesas: havia arranjado emprego fora do horário das aulas, o que lhe garantiu prover o próprio sustento até o fim de seus estudos.

            O compromisso com o trabalho duro, o senso de independência e a vontade de realizar por conta própria - verdadeiros atributos do self made man, do homem que se faz por si mesmo - acompanharão José Ermírio de Moraes por toda a vida. E, na maior das venturas concedidas a poucos homens, José Ermírio conseguirá transmitir tais valores, como herança maior, a todos os seus ilustres filhos, quando o mais comum é que a prole dos grandes empreendedores se conforme com as comodidades conquistadas pelos pais, dissipando com facilidade o que foi amealhado a grande custo.

            Após o regresso ao Brasil, que se deu em 1921, José Ermírio aceita o convite que lhe fora feito, anos antes, para trabalhar na maior tecelagem brasileira da época, a Votorantim, cuja sede ficava na cidade de Sorocaba, no interior paulista. Em 1925, assume uma diretoria na empresa. Nesse mesmo ano, ocorrem duas felizes alianças. O matrimônio com D. Helena, única filha do proprietário da Votorantim, o imigrante português Antônio Pereira Inácio, e a parceria nos negócios entre esses dois grandes empreendedores.

            A partir do seu ingresso na Votorantim, assiste-se à mais impressionante história de sucesso do capitalismo brasileiro. De fábrica de tecidos - sempre impulsionada pelo espírito inquieto e empreendedor de José Ermírio, que assume o seu comando em 1933 -, a Votorantim transforma-se em gigante complexo industrial, de capital inteiramente nacional, com participação nos mais variados setores da economia. Assim é que, dois anos após a morte de José Ermírio, ocorrida em 1973, o Grupo Votorantim espalhava-se pelos ramos da indústria química, siderúrgica, metalúrgica, petroquímica, açucareira, têxtil, de metais não-ferrosos, de cimento e de papel e celulose. Congregava 46 empresas com presença em vários Estados brasileiros e empregava 33 mil trabalhadores.

            No ano passado, o Grupo Votorantim foi escolhido pela revista Exame, que faz um trabalho sobre todo o setor produtivo brasileiro, como a Empresa do Ano pelos seus resultados não só na área econômica como na área social.

            No que se refere a diversos produtos que passaram a ser fabricados no Brasil, a participação do empresário foi decisiva e pioneira. Entre eles, o cimento, o óleo de semente de algodão, o rayon - espécie de fibra têxtil já produzida pelo Grupo Matarazzo -, seda artificial, nitrocelulose, ácido sulfúrico, ácido nítrico, produtos siderúrgicos e alumínio - metal em cujo futuro José Ermírio, acertadamente, sempre apostou. Além de atuante administrador de suas empresas, José Ermírio foi também ativo como líder empresarial, sendo tantos os cargos que assumiu ao longo da vida e as associações que ajudou a fundar, que seria enfadonho enumerá-los todos. A Ciesp e a Fiesp talvez sejam as mais conhecidas.

           Na política, coerente com a sua trajetória de empresário brasileiro vitorioso, a atuação de José Ermírio sempre se pautou pela defesa dos interesses nacionais, assumindo, desde cedo, visão nacionalista dos problemas brasileiros.

           Um rápido passar de olhos no itinerário político do empresário irá encontrá-lo, em 1929, juntamente com as associações patronais de São Paulo, apoiando a candidatura de Júlio Prestes à Presidência da República, contra a candidatura de Getúlio Vargas, da Aliança Liberal. Após a Revolução de 30, participa ativamente da Revolução Constitucionalista de São Paulo, contra o Governo Provisório de Vargas.

           Passados alguns bons anos de interregno, no que diz respeito à atuação mais direta na vida político-partidária do país, José Ermírio, em 1960, participa ativamente da campanha presidencial de Jânio Quadros. Em 1961, assume um cargo público, convidado pelo então Governador de São Paulo, Carvalho Pinto: o de Presidente da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Em 1962, é eleito Senador pelo Estado de Pernambuco, na legenda do PTN, em coligação com o PTB. Apóia a campanha de Miguel Arraes ao Governo do Estado, que também sai vitorioso.

           Mal assume a cadeira no Senado, é nomeado pelo Presidente João Goulart, em janeiro de 1963, Ministro da Agricultura. Sua curta permanência de cinco meses no Ministério foi marcada pela aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural, que regulava as relações de trabalho entre patrões e trabalhadores rurais e definia proteções a esses últimos. Assumindo sua vaga de Senador, em julho do mesmo ano, usa da tribuna da Casa para defender suas posições nacionalistas. Com a eclosão do Movimento Militar em 1964, José Ermírio passa a correr risco de cassação, o que, no entanto, não acontece. Um ano depois, é eleito Presidente do Diretório do PTB, cargo que exerce até a extinção dos Partidos e a implantação do bipartidarismo, quando se filia ao partido de oposição ao regime militar, o MDB. Encerra seu mandato no Senado em 1971, havendo sido derrotado em sua tentativa de reeleição por Pernambuco um ano antes. Faleceu em 1973.

           Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não poderia encerrar o presente discurso sem antes enaltecer a faceta do homem José Ermírio de Moraes que talvez seja a menos lembrada, embora esteja muito longe de ser a menos relevante: refiro-me a sua situação como filantropo. José Ermírio foi um empresário que sempre julgou que o grande realce que alcançara nos negócios devesse estar necessariamente ligado a uma ativa responsabilidade social. Uma coisa implicava outra. Por isso ao longo de toda a sua vida, sempre administrou o seu escasso tempo de modo que pudesse cumprir junto à sociedade brasileira as funções pelas quais se sentia obrigado.

           Em 1945, José Ermírio compra em São Paulo, o Liceu Rio Branco, que passava por dificuldades financeiras e o doa à Fundação dos Rotarianos de São Paulo, entidade que ajudara a fundar. Sempre participante do Rotary Clube, essa sociedade civil voltada ao bem da comunidade, é seu Presidente de 1949 a 1951. Nos dois anos seguintes está a frente da Fundação dos Rotarianos. Nesse período promove várias campanhas de significado público, como a da sinalização de São Paulo.

           Ainda em 1951, é eleito Presidente da Beneficência, cargo que ocupa até 1963. No mesmo ano de 1951, dirige a campanha de vacinação contra a tuberculose, promovida pela Cruz Vermelha Brasileira. Em 1952, doa a essa entidade o Pavilhão Rotary. E - feito extraordinário! - inaugura, em 1957, o Hospital São Joaquim, de São Paulo que, na época, era o maior hospital particular da América Latina.

           É importante dizer que José Ermírio era progressista e avançado não somente em sua atuação na sociedade. Suas empresas foram precursoras da assistência social aos empregados. Desde 1938, a Votorantim fazia adiantamentos a seus empregados para que pudessem adquirir a casa própria. Em 1951 - em atitude pioneira, quando não se ouvia falar disto nem nos países desenvolvidos -, José Ermírio criou um sistema para que trabalhadores com certo tempo de casa pudessem tornar-se acionistas da Votorantim, participando de seus lucros.

           Sr. Presidente, concluo este pronunciamento e esta justa homenagem, fazendo votos para que os empresários, os políticos, enfim, a classe dirigente deste País possa mirar-se em exemplos como o deste homem, em quem o êxito sempre esteve associado a invulgar capacidade de trabalho; em quem sempre houve seriedade no trato da coisa pública e noção do interesse nacional; em quem a afluência nunca abalou a austeridade da vida pessoal; em quem, ao final de tudo, o senso de comunidade e a vocação de servir foram sempre o traço distintivo.

           Era o que eu tinha a dizer.

 

            


            Modelo15/15/2412:16



Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/2000 - Página 24688