Pronunciamento de Pedro Simon em 15/12/2000
Discurso durante a 175ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Considerações sobre a globalização, o processo de privatização no País, a soberania da Amazônia, a necessidade de uma política governamental para integrar os brasileiros excluídos do mercado, a importância de se dar prioridade à produção agrícola e a estratégia do governo americano de enfraquecer o Mercosul.
- Autor
- Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
- Nome completo: Pedro Jorge Simon
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
COMERCIO EXTERIOR.
SOBERANIA NACIONAL.
POLITICA AGRICOLA.:
- Considerações sobre a globalização, o processo de privatização no País, a soberania da Amazônia, a necessidade de uma política governamental para integrar os brasileiros excluídos do mercado, a importância de se dar prioridade à produção agrícola e a estratégia do governo americano de enfraquecer o Mercosul.
- Aparteantes
- Ricardo Santos.
- Publicação
- Publicação no DSF de 16/12/2000 - Página 25464
- Assunto
- Outros > COMERCIO EXTERIOR. SOBERANIA NACIONAL. POLITICA AGRICOLA.
- Indexação
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- COMENTARIO, EFEITO, GLOBALIZAÇÃO, CRESCIMENTO, CONCORRENCIA, ECONOMIA, COMERCIO EXTERIOR, CRITICA, AUSENCIA, PLANEJAMENTO, REALIZAÇÃO, PRIVATIZAÇÃO, EMPRESA ESTATAL, PAIS.
- COMENTARIO, APREENSÃO, AMEAÇA, INTERVENÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, FLORESTA AMAZONICA, AGRESSÃO, SOBERANIA NACIONAL.
- DEFESA, NECESSIDADE, GOVERNO FEDERAL, INVESTIMENTO, POLITICA AGRICOLA, DESTINAÇÃO, MELHORIA, ALIMENTAÇÃO, POPULAÇÃO, REDUÇÃO, POBREZA, MISERIA.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, praticamente chegamos ao final do nosso ano legislativo. Chegamos ao final do segundo milênio e nos aproximamos do raiar do ano 2001. Lembro-me quando, no final do ano passado, eu vim a esta tribuna e chamava atenção para a minha angústia de verificarmos a Nação, a humanidade se aproximarem não só de um novo século, mas também de um novo milênio, sem a preocupação, a análise, o sentimento, a evocação, ou pelo menos a tentativa, de que o porvir seja um pouco melhor.
Há pouco tempo, o mundo vivia um momento muito importante na sua história. Este século teve duas grandes guerras mundiais sucedidas por uma Guerra Fria cruel, quando o mundo preparou-se para a guerra como se a terceira fosse inevitável e essa seria nuclear, colocando em dúvida a sobrevivência da humanidade. Houve gastos enormes com a preparação para a guerra e fortunas destinadas à política nuclear. O mundo dividido entre Estados Unidos e União Soviética e a Guerra Fria que estabeleceu limites cruéis no mundo inteiro, a começar, ali, na Alemanha, com o Muro de Berlim dividindo a pátria em duas como, aliás, aconteceu na Coréia, no Vietnã e pelo mundo afora. Surpreendentemente, sem guerra, sem revolução, eu diria, até, surpreendendo os fatos - estive na Alemanha e visitei o Muro de Berlim poucos meses antes do que aconteceu e ninguém imaginava o que viria a ocorrer. Estive no parlamento alemão e ninguém comentava a perspectiva da queda do Muro. Surpreendentemente, ninguém comentava uma revolução, uma luta, um acontecimento político na União Soviética. De repente, acabou a União Soviética; implodiu o Comunismo, praticamente; caiu o Muro de Berlim; unificou-se a Alemanha; terminou a divisão do leste europeu; as nações satélites da Rússia se tornaram absolutamente independentes, e ficávamos a imaginar uma perspectiva positiva para a humanidade. Infelizmente, isso não aconteceu.
Se a queda da União Soviética terminou com a Guerra Fria, ela trouxe um fato novo. Desde o tempo do Império Romano que não se via a superposição de uma nação sobre as outras na história do mundo, como acontece atualmente com os Estados Unidos. Não há duas nações, não há divisão. O Brasil, no século que termina, está acostumado a ver grandes nações, como Inglaterra, França, Espanha, Alemanha, Japão e Estados Unidos debatendo-se, digladiando-se, principalmente, economicamente. Ficaram os Estados Unidos como superpotência.
A Europa, na minha opinião, dá um exemplo fantástico! Nesse final de milênio, ela mostra a capacidade de resistir, praticamente se constituindo numa confederação. O antigo Mercado Comum Europeu transforma-se com o parlamento, com a justiça, com a moeda única, numa supernação, disposta a se defender do Japão e dos Estados Unidos.
O Japão, juntamente com outros países do Oriente, querem e impõem a sua presença. Chega a globalização e, de repente, o Brasil e a América abrem os olhos para a sua importância.
Os nossos Presidentes - o Collor antes, e o Fernando Henrique depois - dão importância à globalização, quando falam da inexorabilidade da globalização e que o Brasil deveria se adaptar a ela. Dentro desse contexto, abre-se a economia do Brasil, e o nosso País vende a imensa maioria de suas empresas; empresas essas construídas com muito suor, com muita dificuldade, ao longo de dezenas de anos. Algumas com empréstimos externos, e outras mediante uma certa chantagem externa, como ocorreu com o Dr. Getúlio Vargas, que, para participar da guerra, exigiu a criação de Volta Redonda. Algumas com lutas internas, não armadas, mas de pensamento, como foi a criação da Petrobras.
O Brasil privatizou para pagar a dívida externa. Lamento muito o que ocorreu com a Vale do Rio Doce, que, na minha opinião, nunca deveria ter sido privatizada. Poderiam, no máximo, privatizar a estrada do aço, as reservas minerais ali, o porto acolá, mas a holding, a Vale do Rio Doce, com os milhares de títulos de propriedade que ela tem, de alvarás, não. A empresa é propriedade da Nação, e, pelo pagamento de 15 dias da dívida externa, a venda não foi feliz.
O Brasil teria ganho mais ou menos US$100 bilhões com as privatizações. Entrou dinheiro do BNDES e dos Fundos de Pensões, que, em rigor, é dinheiro nosso, do povo brasileiro. Os títulos podres, de 200 a 300 anos atrás, que não valiam absolutamente nada - do valor de face valiam 10% a 15% -, foram aceitos pelo preço integral. Chegamos ao final devendo, hoje, oito vezes mais do que devíamos quando o Dr. Fernando Henrique Cardoso assumiu. Pagamos 100 milhões. Com o dinheiro das privatizações, não construímos estradas, não construímos hidrovias, não construímos absolutamente nada e devemos a importância que devemos. Nesse momento, chegamos a nos perguntar qual o caminho a ser seguido pelo nosso País, Sr. Presidente!
Em relação à vitória do Sr. Bush, houve até um momento que pensei em vir a esta tribuna pedir que designássemos uma comissão de Senadores para fazer uma visita aos Estados Unidos ou a uma Comissão da Organização dos Estados Americanos para ver o que estava acontecendo. Por que, afinal de contas, se aquilo tivesse acontecido em qualquer outro país da América Latina, o mundo inteiro ficaria se perguntando o que houve.
A democracia americana, graças a Deus, se impôs, embora os principais jornais americanos tenham entrado com uma ação judicial - aliás, muito interessante! -, pedindo para fazer a apuração dos inúmeros votos da Flórida, cuja recontagem a Suprema Corte, surpreendentemente, não permitiu que fosse feita.
Assume o Sr. Bush. Republicano. No debate feito com o seu antecessor, houve palavras que me assustaram. Ele disse que acha que a dívida externa brasileira poderá ser negociada a qualquer momento em troca da Amazônia; ou seja, entregamos a Amazônia e diminuímos a dívida. Achei essas palavras as mais graves e as mais pesadas para o Brasil neste final de milênio. Atrás delas, há um desafio para o nosso País neste final de milênio, que é exatamente a soberania da Amazônia.
Todos sabemos que esse interesse não é só do Sr. Bush e não é só dos Estados Unidos. O primeiro-ministro inglês disse que a soberania do Brasil na Amazônia é relativa. O presidente francês disse a mesma coisa. Pelo mundo afora, há uma espécie de sentimento de que a Amazônia deve ser internacional; deve ser uma espécie de Antártida, onde todo mundo deve dar uma “cuidadinha”. Não sinto, no Brasil, preocupação com a Amazônia. Acho, repito, que esse é um grande problema que levamos para o próximo milênio.
Por outro lado, Sr. Presidente, acho que a globalização pode ser inexorável. Mas, meu amigo Presidente Fernando Henrique, creio que devemos nos preparar para essa globalização. Imaginar que o mundo terá uma economia global e que essa globalização terminará com a miséria e as injustiças das nações mais pobres é uma piada. Isso está provado.
Na verdade, as grandes nações crescem e se desenvolvem cada vez mais, e está provado que não será a globalização que trará o desenvolvimento ou terminará com a miséria e a fome mundiais. O interessante é que quem diz isso é o Banco Mundial, é o Fundo Monetário Internacional, fazendo um mea culpa e reconhecendo, nos seus relatórios, que a globalização trouxe mais injustiça social, mais concentração de renda e mais miséria ao mundo.
Logo, se reconhecermos que são irreversíveis a internacionalização, a Internet e a abertura do mundo, perceberemos que é impossível nos ilharmos, fugindo dos fatos. Fica evidente que deveremos ter nossa fórmula, nosso modo e nossas propostas para entrarmos nessa globalização. Por isso, considero um absurdo a venda da Vale do Rio Doce. Se o mundo será global e as discussões, mundiais, a Vale do Rio Doce - como uma das duas maiores empresas de minério do mundo - daria ao Brasil condições de participar de negociações no que tange ao subsolo.
Repito, Sr. Presidente, que o Brasil deve partir para a globalização com as suas propostas. A primeira delas, na minha opinião, é olharmos para o nosso País e entendermos que o melhor mercado que existe para o Brasil chama-se mercado interno brasileiro.
Concordo com esse esforço dramático e fantástico que estamos suportando para podermos exportar. Exportar é importante, jamais eu pensaria diferentemente, mas mais importante que isso é cuidar dos quarenta milhões de brasileiros que, hoje, não participam do mercado, não produzem e não consomem.
O Sr. Ricardo Santos (PSDB - ES) - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com o maior prazer, Senador.
O Sr. Ricardo Santos (PSDB - ES) - Senador Pedro Simon, ouço, com muita atenção, o discurso de V. Exª, que, com certeza, é um dos mais importantes pronunciamentos feitos durante o período de seis meses em que me encontro no Senado Federal. Diante do mundo globalizado em que nos encontramos, V. Exª nos alerta para o grande desafio que representa para as nações - em particular para as do Terceiro Mundo, chamadas de nações emergentes, como o Brasil - manter um mínimo de soberania para o estabelecimento de uma política de desenvolvimento que atenda aos anseios de seu povo e conseguir, com isso, negociar e fugir das grandes restrições impostas pelas instituições multilaterais, em particular o FMI. Dessa forma, agradeço e louvo a iniciativa de V. Exª, que nos alerta para esse que será, certamente, um dos grandes desafios do Senado Federal nos próximos anos.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado pela gentileza e pela oportunidade do aparte. Realmente, V. Exª chegou ao âmago do que pretendo expor e daquilo que acredito, como V. Exª, ser importante para o País nesta hora.
Para o Brasil, neste final de milênio, a angústia é a Amazônia. A nossa geração recebeu o Brasil com 8,5 milhões de km² e devemos entregá-lo assim ao nossos descendentes. A Internet já publica mapa em que metade do território da Amazônia não é mais brasileiro.
A nossa segunda preocupação são esses 40 milhões de brasileiros. Sr. Presidente, precisamos desenvolver uma política voltada basicamente para que essas pessoas se integrem na vida brasileira, produzindo e consumindo. Como isso não acontece, esses brasileiros não são considerados gente, não são cidadãos, não contam, não têm carteira, não têm certidões, não têm casa.
A apuração que está sendo feita pelo censo não pesquisa as pessoas de rua. Não serão contadas as pessoas que moram embaixo da ponte, porque se chegou à conclusão de que isso não é possível. Existem entidades paragovernamentais e universitárias que tentarão fazer o levantamento desse Brasil que o censo oficial vai ignorar.
Devemos dar prioridade, nesse milênio que entra, para esses 40 milhões, para o problema da fome, dos sem-casa, dos sem-terra e do desemprego.
Quando eu era Líder do Governo Itamar, iniciamos um programa de combate à fome com o Betinho, a que o Governo de Fernando Henrique, de certa forma, deu continuidade, mas sempre no sentido da caridade, de dar o peixe e não de ensinar o cidadão a pescar.
Com relação à moradia, nenhuma de muitas propostas resolveu o problema que, na verdade, sempre aumenta e se multiplica.
O problema do desemprego é cruel, porque nos defrontamos com um cidadão com 40 anos de idade sem chance, sem possibilidade, sem perspectiva e sem projeto.
Sr. Presidente, considero prioritário darmos importância a essas questões. Nesse milênio que entra, o Governo e o Brasil devem dar prioridade absoluta à produção de alimentos.
O Brasil, maior reserva mundial de terras agricultáveis e de água doce, não pode importar arroz, feijão, não pode importar milho, trigo, não pode importar produtos básicos da sua alimentação!
Temos terra, água e gente para produzirmos esses produtos básicos para os 40 milhões que precisam e para produzirmos esses produtos básicos para bilhões de irmãos na terra inteira, que passam fome e morrem de fome. Se analisarmos, a agricultura é o que há de mais fácil para nos dedicarmos. A agricultura não precisa de dólar, não precisa de empresa internacional, empresa multinacional, a agricultura não precisa de tecnologia estrangeira, pois o Brasil tem a melhor tecnologia em termos de produção agrícola, igual à mais moderna do mundo! Olhar para a agricultura, dar-lhe força! Pegar os bilhões que são gastos por aí afora e destiná-lo prioritariamente à agricultura, basicamente na agricultura familiar! E aí nós estaremos equacionando o problema da fome, deixando de importar bilhões de dólares em alimentos, e poderemos ter um grande fator de exportação exatamente na agricultura.
Agricultura, agricultura familiar, um projeto de distribuição de alimentos, um projeto de construção de moradia popular, mas que seja sério, que não envolva empreiteira, onde, efetivamente, a prefeitura entre com o terreno, o Estado, com a infra-estrutura e a União, com o dinheiro. Fábricas de casas! Onde a construção não é feita tijolo sobre tijolo, mas em dois dias, com as paredes já prontas, faz-se uma casa por cerca de R$5 mil ou coisa que o valha. Junte-se a isso um grande banco popular, onde tenhamos coragem de botar bilhões de dólares, como tivemos coragem de fazer para o Proer, para tapar os buracos - R$40 bilhões para o Banespa; R$12 bilhões no Nacional; não sei quantos bilhões no Econômico e no Bamerindus. O Governo achou que tinha que botar ali os dólares e botou para tapar os buracos. Pois vamos fazer um grande banco popular - tenho dito isso mil vezes - como em Bangladesh, para que possamos pegar o miserável, mas que tem condições de progredir, e dar-lhe condições de ter um microempreendimento, através do qual ele vai avançar, vai construir, vai desenvolver seu barquinho de pesca, a sua cozinha semi-industrial, a sua máquina de costura, e lá pelas tantas é um, são dois, são três, são quatro trabalhadores. Eu acho que capacitar um grande números de microempresas, e, com o aval do Governo, elas possam se desenvolver é a grande proposta para combater o desemprego!
Eu acho, Sr. Presidente, que há que ter coragem nesse sentido para apresentar coisas que sejam concretas e reais para o milênio que entra. Eu acho que nesse milênio que entra, Sr. Presidente, o Brasil tem que fazer profundas modificações na sua estrutura. A ética tem que ser uma questão realmente nacional. Não pode ser um discurso de um parlamentar, ou o movimento de uma entidade nacional usada de fórmula demagógica, ou coisa que o valha, no sentido da busca de um objetivo. Este País tem que ter uma profunda revisão nos seus conceitos. Há que ter coragem de se fazer de cima para baixo essa revisão e mudar a maneira de fazer política e de administrar este País. Nós temos que terminar, Sr. Presidente, com as fórmulas, por meio das quais as elites dirigem e o povo assiste, e buscarmos as fórmulas através das quais o povo participe e as elites executam. Porque essa fórmula de buscar sempre um santo milagreiro, que foi o Getúlio Vargas, que foi o Jânio Quadros, que foram os militares, que foi o Collor, que foi o Fernando Henrique e que será sei lá eu quem, todas deram em nada, Sr. Presidente! Se não houver um trabalho de conjunto participativo, em que as nossas elites - das quais tenho profundas restrições -, não se identifiquem com as bases populares e não permitam que a sociedade brasileira seja mais participativa, e que o conceito de falar “porque a cidadania”, “porque os direitos”, “porque a transparência e não sei mais o quê” sejam realmente coisas da realidade.
Que o Brasil não tenha um povo que só vem na hora de votar e depois volta. Sendo que, desses 40 milhões que não produzem, muitos nem vêm votar e nem sabem o que está acontecendo!
Eu acho que um princípio de ética, de brasilidade, é fazer com que o Brasil se conheça, fazer com que os meios de comunicação no Brasil, ao lado das novelas, ao lado dos shows, ao lado dos noticiários que mostram principalmente as desgraças que existem, também divulguem as coisas do Brasil. Que exija o debate, o conhecimento do que é o Brasil e das propostas que nós temos que fazer para melhorá-lo, com o trabalho comunitário, com o trabalho voluntário, com a convocação para que cada um dos brasileiros faça a sua parte. Eu não tenho nenhuma dúvida - e tenho andado pelo Brasil e tenho sentido isso - que no momento em que houver um movimento, um sentimento e dizermos: “olha, temos que colocar o Brasil nos seus eixos. Vamos fazer as grandes modificações para todo o povo. Você está sendo convocado!” - cada um vai dar a sua parte. O cidadão, aquele, vai dar três horas por dia para se dedicar à creche tal. O outro vai dar duas horas por semana para trabalhar na escola tal. Experiências estão sendo feitas, Sr. Presidente, e são experiências fantásticas. E são experiências emocionantes, feitas por entidades particulares, religiosas ou não.
O problema da droga no Brasil. Eu falo com médicos e entidades, eles dizem que, no Brasil, como praticamente no resto do mundo, o problema da droga na mocidade está nos derrotando! A única fórmula que está existindo de combate à droga, de combate ao alcoolismo são as entidades, religiosas ou não, mas são as entidades particulares, que, na base do amor e do carinho, tentam salvar essa mocidade. Não há um lugar, no mundo inteiro - nas grandes clínicas psiquiatras, nos grandes hospitais, através das grandes fórmulas - onde se diga que haja uma entidade para equacionar esse problema. O Amor Exigente, que existe inclusive aqui em Brasília, é um local onde as pessoas reúnem esses jovens. Durante oito meses, ficam ali dedicando-se ao trabalho, dando carinho e afeto. Quarenta por cento dos jovens que ali se encontram estão completamente recuperados para a vida.
Há muito a se fazer, Sr. Presidente, com a participação e com a presença da sociedade, e não com o Governo e seus órgãos que, geralmente, não funcionam quando querem fazer o que geralmente não fazem.
É claro, Sr. Presidente, que, neste início de milênio, o Brasil tem que ter uma resposta para o problema da impunidade. Não teremos nada que dê certo no Brasil, nenhuma proposta que dê certo, enquanto isso for um fato excepcional. Não posso dizer que só ladrão de galinha vai para a cadeia, porque o Juiz Nicolau dos Santos Neto está na cadeia. Mas é a exceção que confirma a regra, Sr. Presidente. Por obrigação, temos de fazer alterações profundas no Código de Processo Penal, na legislação, para que, neste País, todos cumpram a lei. Na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, quem não cumpre a lei paga um preço muito caro. E são cobrados. No Brasil, quem tem dinheiro por que vai cumprir a lei? Não precisa. Por que vai pagar imposto? Por que vai cumprir as determinações se sabe que, com um bom advogado e uma boa causa, nada lhe acontece? Acabar com a impunidade, Sr. Presidente, considero essencial para o nosso País.
Neste final de milênio, Sr. Presidente, devemos nos aprofundar na noção de que o capitalismo não é a solução, de que o comunismo, como materialização em país praticamente não existe. Se o comunismo não resolve porque dá o pão, mas tira a liberdade, o capitalismo não resolve porque dá a liberdade, mas não dá o pão para todos. Parece-me, Sr. Presidente, que há de ter uma modificação no conceito da sociedade. Na época da revolução, o Brasil tinha que crescer para depois distribuir o bolo. Vivi 20 anos ouvindo essa tese, e aí se dizia que era o “milagre brasileiro”, que o Brasil tinha crescido. O Brasil crescia mais do que o Japão; o Brasil explodia em desenvolvimento. Logo ali vão distribuir o bolo. Quando foram ver, o Brasil havia crescido. É o 9º produto interno bruto do mundo, mas a miséria cresceu mais, assim como a injusta distribuição da renda e a concentração da renda nas mãos das minorias.
Por isso, Sr. Presidente, temos de ter a coragem de realizar uma política social. Se não é o comunismo ou o capitalismo, podemos chamar de humanismo, de solidarismo. Podemos dizer que não queremos os meios de produção só nas mãos do Estado, que ficarão aí, mas com o princípio de que todos somos responsáveis por todos, de que o cidadão tem, em primeiro lugar, direito ao trabalho e, em segundo lugar, quem trabalha deve receber uma remuneração que lhe dê condições de viver com dignidade - alimentação, casa, educação, saúde e lazer. Essa é a responsabilidade do Governo e de cada um de nós.
Quando tivermos um Brasil como os Estados Unidos, onde 85% a 90% da população é classe média, 5% é classe rica e 5% é pobre, sendo que a maioria dos pobres tem o seguro desemprego, poderemos pensar cada um em crescer mais. Mas, quando vemos milhões de brasileiros que não têm emprego, comida, trabalho, ou têm emprego com uma remuneração insignificante, não podemos pensar em nosso crescimento antes de pensar em ajudar esse cidadão. Nesse caso, há uma hipoteca social na cabeça de cada um de nós. Não podemos dizer que só o Governo é responsável. Claro, que sim. Mas cada um de nós é co-responsável por isso que está acontecendo. Se não forjarmos esse sentimento, se o Governo não participar, se não houver participação de entidades, como a OAB, CNBB, ABI, nesse sentimento, ficará difícil.
Embora não veja neste final de milênio um grande movimento no mundo - está lá o Oriente Médio encerrando o milênio com a mesma guerra e com o mesmo ódio e injustiça com que iniciaram este século -, embora sinta que as grandes nações estão tentando esmagar os pequenos, os Estados Unidos estão tentando, de todas as maneiras, impedir que o Mercosul tenha chance e, por intermédio da Alca, querem já estabelecer um mercado comum na América, onde seremos todos satélites dos americanos, sem chance de termos vida própria, neste momento, temos a obrigação de firmar um compromisso, e só voltaremos a nos reunir no próximo milênio, Sr. Presidente. Temos obrigação de estabelecer o compromisso de olhar o nosso futuro.
Neste final de ano, mais uma vez, escrevi uma carta - não tive o prazer de uma resposta - ao Presidente Fernando Henrique, por intermédio da qual levei à Sua Excelência a proposta que fiz aqui desta tribuna. O ano que vem será um ano que poderá ter várias destinações. Poderá ser um ano em que continuará a briga entre o Sr. ACM e o Senhor Fernando Henrique e sei eu lá mais quem. Poderá ser o ano em que o governo vai definir qual é o seu candidato, no qual jogará todas as fichas.
O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Senador Pedro Simon, V. Exª faz uma retrospectiva e, mais do que isso, uma profissão de fé impecáveis. Todavia, V. Exª já ultrapassou em mais do dobro o seu tempo, e todos os outros Senadores que estão aqui presentes pretendem falar.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Sr. Presidente, estou encerrando.
O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Concedo a palavra para que V. Exª possa terminar.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pode usar esse tempo para começar a fazer, e já noticiam mudanças no Ministério. Sabemos que, quando o Governo quer transformar uma mudança de ministro em um fato político, leva um mês cozinhando o assunto em banho maria, etc e tal e vai ganhando o noticiário. Acredito, a mim me parece, tivesse eu a intimidade que tinha no passado com o Presidente Fernando Henrique, eu saía daqui, atravessava a praça e entrava no gabinete dele para dizer isso: Oh, Fernando, o ano que vem é o ano da nossa reeleição. Tu não fizeste as reformas que prometeste e que esperávamos, nem no primeiro, nem no segundo ano do teu primeiro mandato, nem no primeiro ano, nem no segundo ano do teu segundo mandato. Tu te preocupaste em fazer a tua reeleição, os maus conselheiros te orientaram nesse sentido, conseguiste a reeleição, com tropeços, dificuldades e interrogações, mas o que tinha que ser feito, não o foi.
Fernando, tu podes fazer agora, em fevereiro e março. Chama os membros de tua base parlamentar; depois, o PT, o PDT, o partido comunista, todos os partidos. Chama a OAB, a CNBB, a ABI e diz o seguinte: Nós temos condições agora - não vou falar em pacto, porque é uma palavra tão ridicularizada, tão desmoralizada, que não tenho coragem -, de chegar a um entendimento. É um momento em que podemos sentar à mesa, para fazer com que 2001 seja o ano em que vamos fazer as transformações e as modificações de que Brasil precisa e que até hoje não fez. Por que, nesse ano, tudo estará facilitado para isso? Primeiro, porque eu, Fernando Henrique, não tenho interesse; essas reformas vão entrar em vigor no próximo governo. Assim, não há que se dizer que estou fazendo para mim, para o meu governo. Não, isso vai entrar no próximo governo.
Eu vejo ali sentado o Lula, que pensa que vai ser o Presidente. O Lula tem interesse nessas reformas. Eu vejo ali o PSDB, que garante que vai eleger o próximo Presidente. O PSDB tem interesse nas novas reformas. Eu vejo ali o PFL, garantindo que vai ganhar. O PFL tem interesse nessas novas reformas. Eu vejo ali o PMDB. Eu vejo ali o Sr. Ciro Gomes. Eu vejo ali o Sr. Itamar. Eu vejo ali tantas pessoas que têm interesse e que são candidatas legítimas.
Como, para o ano que vem, não há candidatura definida e não dá para dizer quem vai ganhar, todos os partidos e entidades podem sentar à mesa e concordar em fazer as reformas político-partidária, tributária, administrativa, judiciária - não essa que veio da Câmara, com a qual, com todo o respeito, as coisas continuarão iguais, mas uma reforma judiciária no processo penal, para que as normas realmente garantam que ladrão vá para a cadeia e que a impunidade desapareça. Nós temos todas as condições para isso. O ano que vem é o ano em que o Sr. Fernando Henrique pode transformar-se em estadista. É preciso deixar de lado as briguinhas do Sr. Antonio Carlos. É preciso deixar de lado as brigas da base, as questiúnculas. Esse é um ano em que vamos cuidar do futuro do nosso País.
Duvido, Sr. Presidente, que, sabendo que as mudanças se operarão no dia 1º de janeiro de 2003, com o novo Presidente, não haja uma mobilização fantástica, para que as coisas dêem certo, e que algum partido não venha sentar à mesa para discutir.
Neste final de século e de milênio, na última sessão desta Casa neste milênio, Sr. Presidente, penso que essa é a grande saída. Mais uma vez, dirijo-me ao Presidente, aos Líderes partidários, à OAB, à ABI, à CNBB - com cujos presidentes já falei - e a várias outras entidades, para conclamá-los a sentar à mesa e transformar 2001 no ano das grandes mudanças.
Com muita modéstia, Sr. Presidente, numa campanha singela, tenho percorrido o Brasil, tentando imitar um pouco Ulysses Guimarães, quando fez a campanha do anticandidato, e Teotônio Vilela, que, com quatro cânceres e duas bengalas, percorreu o Brasil, defendendo as reformas e o pagamento das dívidas social, política e econômica. Tenho levado não a minha candidatura, o meu nome, Sr. Presidente, já que isso é uma eventualidade e não tenho esse fanatismo, nem sou dos que acham que existem salvadores da Pátria, mas tenho falado nos mais variados auditórios de todos os Estados da Federação sobre essa tese. Vamos nos unir, Brasil! Vamos nos dar a mão! Vamos cobrar a transformação necessária. Agora, se ela viesse de um ato do Presidente, se o Presidente convocasse a Nação para sentar à mesa, penso que daríamos o grande passo para aquilo que o Brasil está esperando.
Um feliz próximo milênio a V. Exª, Sr. Presidente, e que o Natal, quando festejaremos os 2000 mil anos do nascimento de Cristo, entre no lar de V. Exª, dos Srs. Senadores, dos funcionários desta Casa e do povo brasileiro, para que não seja apenas o Natal do Papai Noel e dos presentes - pode ser também, e isso é bom -, mas do afeto e da amizade. Que o grande presente para todos nós seja um raio do Espírito Santo, uma força que nos atinja a todos, para termos um sentimento de fraternidade, de brasilidade, no sentido de levarmos avante essa bandeira.
Era o que tinha a dizer.
Muito obrigado pela tolerância de V. Exª, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Muito obrigado, eminente Senador Pedro Simon. Pessoalmente, desejo a V. Exª e a toda a sua família um feliz Natal. Creio que a Mesa do Senado também. E que a pregação de V. Exª ecoe por todos os cantos deste País.