Pronunciamento de Júlio Eduardo em 05/02/2001
Discurso durante a 3ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Balanço da atuação parlamentar de S.Exa. por ocasião de sua despedida do Senado Federal. Transcrição do artigo do jornalista Elio Gaspari, publicado no jornal Folha de S.Paulo, intitulado "Jefferson Péres é perigoso. É um homem decente".
- Autor
- Júlio Eduardo (PV - Partido Verde/AC)
- Nome completo: Júlio Eduardo Gomes Pereira
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
SENADO.:
- Balanço da atuação parlamentar de S.Exa. por ocasião de sua despedida do Senado Federal. Transcrição do artigo do jornalista Elio Gaspari, publicado no jornal Folha de S.Paulo, intitulado "Jefferson Péres é perigoso. É um homem decente".
- Aparteantes
- Eduardo Suplicy, Paulo Hartung, Ramez Tebet, Roberto Saturnino, Tião Viana.
- Publicação
- Publicação no DSF de 06/02/2001 - Página 357
- Assunto
- Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. SENADO.
- Indexação
-
- REGISTRO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, PERIODO, SUBSTITUIÇÃO, MARINA SILVA, SENADOR, AGRADECIMENTO, CONGRESSISTA, SENADO, APOIO, REIVINDICAÇÃO, PROJETO, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, VALORIZAÇÃO, DIREITOS HUMANOS.
- SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIA, ELIO GASPARI, JORNALISTA, ELOGIO, ATUAÇÃO, JEFFERSON PERES, SENADOR, IMPORTANCIA, LANÇAMENTO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA, SENADO.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, dentro de dois dias, com o auspicioso retorno da Senadora Marina Silva aos trabalhos desta Casa, encerrarei o período de quatro meses durante o qual procurei cumprir, com entusiasmo e sincero esforço, o dever político e cidadão implícito na suplência, de manter contínua e ativa a representação delegada pelo povo do Acre.
Esta ocasião, portanto, é de despedida, de reflexão e de avaliação das lições que aqui aprendi, como também de prestação de contas ao Brasil e ao Acre das minhas ações no exercício do cargo de Senador da República.
Inicio com algumas palavras sobre meu Partido, o Partido Verde. Coerente com nossa história e filosofia, animou-nos o objetivo de, durante este breve mandato, ajudar a manter vivas na pauta do Congresso as discussões sobre sociedade, meio ambiente e direitos humanos, temas tão bem expressos no mandato da Senadora Marina Silva. Coincidentemente, minha chegada a esta Casa aconteceu no momento em que o PV saía das urnas, em novembro último, com muita energia, recebendo dez vezes mais votos do que na eleição anterior.
Esse sinal de fidelidade dos ideais verdes na sociedade brasileira animou-nos a colocar mãos à obra para crescer e corresponder politicamente à evidente expectativa de que sejamos, de fato, uma expressão das novas propostas e novos movimentos que hoje fermentam o desejo de mudança, no mundo todo, para um modelo de desenvolvimento mais justo e equilibrado, tanto do ponto de vista social quanto do ecológico. A partir de meu posto neste Senado procurei colaborar para dinamizar ao máximo esse momento especial do Partido Verde. Cumpri valiosa agenda de contatos nacionais e internacionais, negociando alianças com forças sociais e políticas afins. Incentivei e participei da discussão partidária interna, indispensável para pensar o presente e o futuro, ganhar quadros, abrir novas frentes e formar lideranças. Asseguro que o fato de o PV ter tido o seu primeiro Senador nessa fase contribuiu positivamente para esse processo de reciclagem e fortalecimento partidário. Quando isso ocorre, independentemente do Partido, é sempre um bom fruto do Parlamento e resultado de grande interesse para a população, visto que se reforçam estruturas democráticas, se agitam águas paradas e se abrem espaços para maior participação, parcerias e troca de idéias.
Entre os temas específicos que pude tratar durante esse breve período, destacarei três.
O Sr. Paulo Hartung (PPS - ES) - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Ouço V. Exª com prazer.
O Sr. Paulo Hartung (PPS - ES) - Senador Júlio Eduardo, neste momento em que V. Exª usa a tribuna para fazer um balanço desse período em que ocupou, como suplente da Senadora Marina Silva, a vaga no Senado Federal, registro a enorme alegria de ter convivido com V. Exª. Quem nos assiste pode pensar que essa alegria origina-se na amizade, no convívio pessoal, mas infelizmente isso não foi possível. Entretanto, essa satisfação vem da contribuição que V. Exª trouxe a esta Casa nos debates a respeito de cidadania, democracia, meio ambiente. Assisti a duas excelentes intervenções de V. Ex.ª no plenário desta Casa. Uma delas dizia respeito à Região Amazônica e, naquela oportunidade, nos foi apresentado um ponto de vista novo, atualizado, que para nós, Parlamentares de outras regiões do País, configurou-se de muita valia. Por isso, reitero a V. Ex.ª, ao povo acreano e ao povo brasileiro que nos assiste neste momento que foi muito bom conviver com V. Exª. Espero que prossiga na vida pública e ocupe outros espaços importantes, porque V. Ex.ª tem, seguramente, muito a contribuir com a política de qualidade que precisamos construir no Brasil. Parabéns! Tenho certeza de que o povo brasileiro ganhou muito nesse pequeno período de participação de V. Exª na vida parlamentar brasileira. Muito obrigado.
O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Presenteado por tão carinhoso aparte, agradeço a sua bondosa manifestação e o exemplo que V. Ex.ª representou para mim na minha atuação.
O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Concede-me V. Ex.ª um aparte?
O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Pois não, Exª.
O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Senador Júlio Eduardo, também quero participar deste momento em que V. Exa deixa o mandato originalmente pertencente à Senadora Marina Silva. Externo a minha admiração, reafirmo o meu respeito e amizade pelo trabalho que V. Ex.ª desempenhou tanto a favor do Parlamento brasileiro como da juventude e da sociedade brasileira, que deseja ter no meio ambiente um horizonte novo, envolvendo estabilidade entre o presente e o futuro. Não é possível mais imaginarmos a pós-modernidade, a contemporaneidade sem uma política de meio ambiente definida para os povos deste planeta. V. Ex.ª, de maneira muito especial, apresentou esse debate e aprofundou a questão indo de encontro ao conteúdo e à forma do trabalho legislativo que a Senadora Marina Silva desenvolve de maneira tão sublime nesta Casa. Somente quero dizer-lhe que retornará ao nosso Estado, ao Acre, levando uma nova visão de vida, adquirida no Parlamento brasileiro, dividindo com a juventude e com toda a sociedade brasileira a importância de um profissional reto, coerente e honesto, capaz de olhar o amanhã de maneira desprendida e a favor do desenvolvimento humano e ambiental. Sem dúvida alguma, a sua passagem no Senado Federal reafirma a possibilidade de se fazer política decentemente, coerentemente, a possibilidade da construção de um mundo melhor, de um novo amanhecer para o nosso País. O que fica de mais importante ao longo de sua passagem pelo Senado Federal é o elo que tentou estabelecer com a juventude, mostrando que ela em que se apegar. V. Exa visualizou um horizonte a compartilhar com as futuras gerações e a possibilidade de construção de um país diferente, verdadeiro, onde matar, mentir, roubar não sejam mandamentos aceitos por aqueles que vivem em sociedade. Um país onde a idéia de ser fanático pela verdade ou de esquecê-la não seja o elemento fundamental, mas, sim, a razão, a coerência, o equilíbrio do homem como alguém que pode viver uma idéia de felicidade em sua passagem pelo nosso planeta. Imagino que V. Exª ganha do Brasil, ao deixar o mandato, um “muito obrigado” e o desejo de retorno, no futuro, às Casas Legislativas do Brasil. V. Exª é um condutor da política de saúde para este País, para o nosso Estado. É o que mais espero. Acredito, também, que as mulheres terão muita alegria no reencontro com V. Exª, ginecologista e obstetra, e, sem dúvida alguma, os bebês, quando olharem o mundo pela primeira vez, verão em V. Exª um profissional de qualificação e elevada personalidade médica, que os acolherá com carinho e respeito, confirmando o sentido da sua profissão. Muito obrigado e muito êxito.
O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Senador Tião Viana, grande amigo, agradeço esse aparte na certeza de que a proximidade do nosso ideário é muito grande. A forma como V. Exª atua no Parlamento brasileiro serve como uma diretriz para nós todos aqui ou em qualquer outra Casa Legislativa. Muito obrigado.
O Sr. Roberto Saturnino (PSB - RJ) - Concede-me V. Exª um aparte?
O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Concedo o aparte a V. Exª.
O Roberto Saturnino (PSB - RJ) - Senador Júlio Eduardo, deixo também o meu depoimento da excelente impressão que V. Exª causou a todos nós nas intervenções feitas durante esse curto período em que substituiu a Senadora Marina Silva. Árdua missão, grande responsabilidade, que V. Exª cumpriu muito bem. Quero deixar aqui registrada a minha admiração. V. Exª, em todos os momentos, revelou senso de responsabilidade da representação e interesse pelas coisas do seu Estado e do nosso País e ainda uma independência muito grande em relação a comprometimentos menores de natureza política. Enfim, V. Exa deixou em todos nós uma sensação de enobrecimento da Casa. Dito isso que expressa efetivamente um sentimento meu, e acredito que seja de toda a Casa, resta esperar que V. Exª ainda nos brinde com seu retorno a esta Casa o mais breve possível, para continuar colaborando com as causas de interesse do povo brasileiro e do seu Estado.
O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Senador Saturnino Braga, o meu agradecimento a suas palavras é imenso, até porque, antes de ter o prazer de representar o Estado do Acre, vivi politicamente o nosso Rio de Janeiro, e a minha admiração por V. Exa é anterior a tudo isso. Agradeço a V. Exa pelas palavras, porque sei da consistência e da experiência que, certamente, reunidas com a bondade, o fizeram proferir. Muito obrigado.
Dos três temas que gostaria de citar, o primeiro deles é aquele que figura no topo da agenda de preocupações de meu partido, de ambientalistas em geral e de governantes conscientes em todo o mundo: as ameaças de escassez de água e os riscos de poluição que atingem os depósitos disponíveis, especialmente para abastecimento humano. No Brasil, esse problema tem sido objeto de intensas negociações, principalmente na última década, resultando na Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos e na lei que criou a Agência Nacional de Águas.
Mas ainda restam pontos importantes a serem regulados, pontos que geram conflitos de entendimento e prejuízo público. É o caso dos aqüíferos que ultrapassam os territórios dos Estados e envolvem águas subterrâneas. Para avançar nessa matéria, apresentei proposta de emenda constitucional, acatando sugestões da área técnica do Ministério Público Federal, com o objetivo de eliminar dúvidas quanto à titularidade dessas águas, definindo-as como de domínio da União. A mudança trará maior segurança jurídica e responsabilidade administrativa ao gerenciamento dos recursos hídricos e à outorga de direitos sobre águas subterrâneas. Essa é uma contribuição que tenho a honra de deixar em trâmite no Legislativo e que aqui será, estou certo, muito enriquecida pela discussão técnica e política da qual continuarei participando como cidadão e militante.
O segundo tema é o da própria Amazônia e, em especial, do Acre, que procurei manter em destaque neste plenário e nas comissões. Evidenciei não apenas problemas, mas sobretudo as soluções que emergem da importante fase de transição que forças responsáveis da região procuram direcionar para um futuro sustentável, de economia inteligente e, certamente, um desenvolvimento social e ambientalmente justo. Nesse sentido, reafirmo o papel das entidades representativas da sociedade civil, de setores do Governo Federal (a exemplo do Ministério do Meio Ambiente), de governos estaduais como o do Acre e do Amapá, de prefeituras de capitais como Belém e de pequenos municípios, que formam uma rede de esforços para propor alternativas realmente amazônicas, porque idealizadas no conhecimento técnico e científico da natureza, no respeito à população local e sua sabedoria, no melhor uso da solidariedade global e na convicção de que há vida e esperança fora dos modelos tradicionais predadores e excludentes.
O terceiro tema que nesse período mobilizou inúmeras reuniões e seminários dos quais participei representando o Senado e o Acre foi o das mudanças climáticas globais. Importa atentar para suas interações com os modelos de produção e consumo dominantes no mundo e também com a necessária proteção da biodiversidade e da própria integridade do Planeta, ameaçada por descontroles artificialmente produzidos pelo excesso de poluição.
Estar diretamente inserido nessas negociações e rodadas técnicas foi, para mim, um fator de crescimento pessoal e político. Reforçou-me a certeza de que, na situação de grave e progressiva quebra do equilíbrio ambiental pela qual passa o Planeta, a mais ingente ameaça não é ecológica, é a resistência do poder político, insensível, a agir para além dos interesses particularistas, gananciosos e mesquinhos. Mais importante para o mundo do que a capacidade tecnológica para responder aos desafios e ameaças que os próprios seres humanos criaram é a capacidade de cada um de nós representados e representantes de mudar a política, tirá-la do julgo das razões econômicas que costumam privilegiar tão poucos e colocá-la sob a égide da ética e dos valores humanos.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?
O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Ouço V. Exª com prazer.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quero cumprimentar o Senador Júlio Eduardo pela sua intensa participação nesses meses em que substituiu e muito honrou a cadeira do Senado da Senadora Marina Silva, uma das melhores surpresas da história do Senado Federal, posto que a referida Senadora tem demonstrado aqui como é possível trazer o conhecimento da floresta, das coisas da Amazônia e do Acre, defendendo tão bem o sentimento da cidadania e, nas suas palavras, da “florestania”. Ao substituir a Senadora Marina Silva, durante o período em que S. Exª precisou cuidar da saúde, representando o Partido Verde pela primeira vez aqui no Senado, V. Exª soube honrar muito bem sua missão. Como membro do Partido dos Trabalhadores, gostaria de dizer que tenho grande afinidade com o Partido Verde e com sua postura de defesa da Amazônia, das florestas, dos manguezais. O PV defende o direito à cidadania e a preservação do ambiente inteiro, como nos fala Leonardo Boff. V. Exª nos trouxe um grande conhecimento, inclusive como médico, companheiro do Senador Tião Viana, que é um batalhador na área da saúde, e ressaltou sua condição de médico especialista no nascimento dos novos seres. Quero dizer que o outro representante do Partido Verde no Congresso Nacional, o Deputado Fernando Gabeira, é uma das pessoas com quem tenho a maior afinidade. Muitas vezes participei, juntamente com o Deputado Fernando Gabeira, de ações em defesa da cidadania, da democracia e de uma melhor qualidade de vida, como os membros do Partido Verde costumam defender. Quero também cumprimentar e saudar o crescimento do Partido Verde em todo o Brasil nas últimas eleições municipais. Muito obrigado por sua colaboração junto ao Senado Federal.
O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Ilustre Senador Eduardo Suplicy, agradecendo de coração o seu aparte, quero salientar que essas considerações, vindas de uma pessoa de tamanha bagagem político-cultural, muito me honram e certamente servirão de estímulo para continuarmos, com várias formas de parceria, a caminhar juntos em direção a uma sociedade mais justa, em que todos acreditamos.
Muito obrigado.
Essas considerações vêm a propósito de reflexão que me ocupa nos últimos dias a respeito do sentido propriamente político de minha experiência no Senado: aquele que diz respeito à observação e à vivência como parte das múltiplas funções e responsabilidades do Poder Legislativo para com a Nação e cada um de seus cidadãos. Em primeiro lugar, afirmo que nesses 120 dias cresceram meu respeito e admiração por aqueles que aqui trabalham - parlamentares, técnicos e funcionários - e trabalham muito, para dar conta de uma agenda móvel, sempre crescente, ao sabor dos radares sociais, culturais e econômicos, no poder da República mais exposto, mais transversal, mais aberto.
Vi-me da ampla perspectiva nacional que nos tira de nossas cidades, rios, aldeias e mostra que efetivamente existe um Brasil de teias e ramificações nem sempre claras, nem sempre bem entendidas, mas fortes e inescapáveis, por mais que queiramos cuidar do nosso pedaço ou acreditar que ele é um mundo à parte. Aqui, senti-me um instrumento de soluções gestadas no debate, um elo possível de integração plena da diversidade. E também constatei, de um posto privilegiado, porque dentro do coração do engenho político brasileiro, quão dramaticamente é aquela mudança ética, metodológica e conceitual na política de que tratava há pouco. Refiro-me ao processo, em curso, de escolha dos novos dirigentes do Congresso, os Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Não quero me alongar em considerações a respeito, mas cito artigo de Elio Gaspari, que li na Folha de S.Paulo, sob o título “Jefferson Péres é perigoso. É um homem decente”, do qual solicito transcrição nos Anais desta Casa.
Identifico-me com a argumentação do artigo e vejo nela o cerne das reflexões mais gerais que levo comigo para o Acre e para minha prática política cotidiana. Levo aguda a consciência de que a mudança já está em curso, mas pelas mãos da sociedade, visível na exigência ética que ficou clara nas últimas eleições, no peso e na consistência do trabalho mostrado por entidades organizadas no Fórum Social Mundial de Porto Alegre e em tantos outros sinais, como a vinda de três Parlamentares do Partido Verde da Suíça para participar do Fórum em Porto Alegre, aos quais muitos daqueles que se consideram profissionais da política preferem fazer ouvidos surdos, olhos cegos e coração morto.
Grande engano! O poder formal parece sólido, mas tende a ignorar quando o formigueiro que lhe está sob os pés começa a se mexer em outra direção e a cavar o enorme buraco no qual o soterrará. A direção em que as formiguinhas da sociedade brasileira caminham hoje é o de uma mudança estrutural da ação política, que não só tem a ver com a formação de novas redes de tomada de decisão e novos foros de legitimidade da ação pública, como tem a ver com a exigência de novos perfis para os postos de representação do sistema democrático.
Por isso, é tão oportuno o artigo de Gaspari, do qual quero citar o seguinte trecho inicial: “O Governo não admite a possibilidade de uma vitória de Péres. Não a admite porque ele é o candidato da Oposição. Pena. O Planalto está mobilizado contra a decência. A figura miúda, meticulosa e seca do Senador amazonense tem essa única característica. É um homem decente.” E de minha lavra qualificado competente e preparado.
E mais adiante, à guisa de conclusão: “(...) a teia de interesses que equilibra a aliança governista chegou a tal decadência que a cada remendo corresponde nova goteira. Havendo um candidato de oposição com a marca da decência, o Presidente da República reagiu a uma ação do PFL ameaçando demitir pessoas que o Partido indicou. Se Fernando Henrique as nomeou porque eram competentes, não pode demiti-las por vingança. Se as nomeou acreditando que eram competentes, e elas se revelaram ineptas, já deveria tê-las demitido há muito tempo.
O Governo pode ficar tranqüilo, as chances de Jefferson Péres vir a ser eleito Presidente do Senado são praticamente nulas. Agora, a aliança governista não tem por que temer esse homem decente, mas deve se lembrar que em 2002 terá de bater a porta da choldra para pedir os votos”.
Esse é o texto de Elio Gaspari.
Despeço-me do Senado, mas não da política do cotidiano, das ruas, dos ideais do meu Partido, da lealdade à minha consciência. Volto transformado pela experiência das lições que aqui recebi, orgulhoso de ter aqui, pela primeira vez, representado o Partido Verde e ter revalidado em mim e em muitos companheiros a certeza dos rumos que nosso ideário aponta.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, agradeço o apoio de todos e a compreensão muitas vezes necessária para ajudar esse "verde" Senador a entender os meandros do Congresso. Parafraseando mote muito em voga entre os ambientalistas há muitos anos, que dizia “seja maduro, defenda o verde”, eu digo: estou maduro, continuo cada vez mais verde.
Agradeço a todos, Senadoras e Senadores, a acolhida carinhosa que aqui tive.
O privilegiado e denso aprendizado e a oportunidade de, como cidadão brasileiro, viver a excelência da condição de realização nesta magna Casa legislativa me reveste do dever de testemunhar para a sociedade brasileira o ritmo intenso e prolongado de trabalho no Senado Federal, que, produtivo e consistente, honra o papel de representação dos Estados brasileiros.
O Partido Verde, na primeira passagem por esta Casa, agradece o espaço oferecido pelos ilustres Senadores e o respeito à sua atuação enquanto Partido. Além disso, com a volta da nobre Senadora Marina Silva, sente-se representado e continua à disposição do Parlamento.
A perpetuação do sucesso dos representantes da Federação é o desejo do cidadão brasileiro Júlio Eduardo e o do seu Partido. Eternamente grato pela oportunidade dessa magnitude, despeço-me desta tribuna com os agradecimentos já proferidos.
O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - V. Exª permite-me um aparte?
O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Concedo, com prazer e honra, o aparte ao Senador Ramez Tebet.
O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Júlio Eduardo, vim do meu gabinete para expressar a V. Exª minha satisfação com nosso convívio, meu prazer em trocar idéias com V. Exª. Manifesto minha admiração por ver com que espírito, talento e amor V. Exª ocupou a tribuna do Senado em defesa dos seus ideais, em defesa do seu Estado, o Acre. Desejo-lhe muita felicidade. V. Exª bem representou seu Estado nesta Casa. Várias vezes ouvi atentamente seus pronunciamentos, todos eles coerentes e voltados para o bem comum. Isso é muito importante, Senador Júlio Eduardo. V. Exª vai deixar um vazio aqui. Queria dizer-lhe que esse convívio foi muito agradável. Não só eu mas também os seus Colegas e o Senado da República vão lembrar-se com carinho da sua passagem pelo Senado. V. Exª. cumpriu com brilhantismo o seu mandato. Assumiu no lugar da Senadora Marina Silva, que agora retornará. Podemos dizer que S. Exª. é eficiente e V. Exª. também o é. No dia em que S. Exª. tiver que se ausentar novamente, o Estado do Acre não perderá nada, porque V. Exª. está à altura da defesa dos interesses daquele Estado. Um abraço.
O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Agradeço, emocionado, a sua declaração, que, é claro, vem revestida de toda bondade já reconhecida, mas serve como estímulo para que eu sempre possa contribuir, de alguma forma, com os debates, mesmo que em posições diferentes, porém sempre tentando elevar a discussão.
O Sr. Carlos Patrocínio (PFL - TO) - Concede-me V. Exª. um aparte?
O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Gostaria de contar com a bondade do Presidente, para ouvir o Senador Carlos Patrocínio.
O Sr. Carlos Patrocínio (PFL - TO) - Eminente Senador Júlio Eduardo, em pouquíssimas palavras, gostaria de cumprimentar V. Exª. e, sobretudo, o Estado do Acre. V. Exª. se desincumbiu como poucos da sua missão de substituir a eminente Senadora Marina Silva e representar aquele grandioso Estado da Federação brasileira. Permita-me apenas dizer que estamos aqui, neste momento, entre a cruz e a espada: de um lado, satisfeitos com o retorno da eminente Senadora Marina Silva; de outro, muito tristes com o regresso de V. Exª ao seu consultório no Estado do Acre.
O SR. JÚLIO EDUARDO (Bloco/PV - AC) - Sou-lhe muito grato pelo carinho expresso em tão bondosas palavras. De acordo com o que pensa o Partido Verde, também no dia-a-dia do consultório, estaremos contribuindo politicamente com a sociedade. Tenho certeza de que, enriquecido de participações, experiências e troca de idéias com uma pessoa de sua envergadura, voltarei mais engrandecido à minha atuação profissional.
Reitero os agradecimentos a todos. Nada disso teria acontecido da forma distinta como vivenciei se não tivesse sido possível contar com a qualidade da assessoria do gabinete com que fui presenteado e, evidentemente, com a compreensão amiga de todos os Srs. Senadores, especialmente do meu sempre parceiro, Senador Tião Viana, e da minha competente e maravilhosa Líder, Senadora Heloisa Helena.
Agradeço à Bancada do Acre, ao Deputado Federal Marcos Afonso, que muito me auxiliou a honrar o nosso querido Acre nesta Casa, pois pude absorver um pouco da sua grande experiência.
Reitero que estou muito grato por ter podido participar desta Casa.
Era o que tinha a dizer.
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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR JÚLIO EDUARDO EM SEU PRONUNCIAMENTO:
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Elio Gaspari
Jefferson Péres é perigoso. É um homem decente
Há dois candidatos à presidência do Senado: Jader Barbalho e Jefferson Péres. O governo não admite a possibilidade de uma vitória de Péres. Não admite porque ele é o candidato da oposição. Pena. O Planalto está mobilizado contra a decência. A figura miúda, meticulosa e seca do senador amazonense tem essa única característica. É um homem decente.
Aos 68 anos, é ave rara. Não há um único funcionário no governo federal nomeado a seu pedido. Recusa-se a endossar até mesmo indicações da bancada. (Bem que poderia ter evitado a nomeação de uma cunhada para seu gabinete.) Viveu como professor de economia da Universidade Federal do Amazonas. Tem mais de 35 anos de serviço, recusa-se a requerer aposentadoria. Defende a política econômica do governo com mais ardor que a maioria do Ministério de FFHH. Sustenta que o presidente do Banco Central deve ter mandato, programa e metas. Em 1997, relatando as contas do governo, demonstrou que ele havia reduzido os gastos na área social. Rebarbou os doces pedidos para retirar suas restrições.
Personagem anticlimático, é capaz de participar da sabatina de um presidente do Banco Central dizendo que aquela sessão de perguntas e respostas era um teatro praticamente inútil: "O Senado finge que tem poderes e que participa do processo quando pode muito pouco e participa quase nada." Foi nomeado para a comissão especial que tratou do caso Eduardo Jorge e avisou: "Isto aqui não vai dar em nada, por falta de instrumentos legais." Deu em nada.
Pode-se ver a marca da decência de Péres nas coisas que ajudou a fazer funcionar. Trabalhou para regulamentar os planos de saúde e defendeu a entrada de empresas estrangeiras no mercado. Apoiou a proibição da propaganda do tabaco e propôs que ela fosse estendida ao álcool. Visitado pela turma das cervejarias, foi a público: "A pressão da indústria da bebida é maior que a dos fabricantes de cigarro." Relatou o trabalho da comissão que pediu a cassação do mandato de Luiz Estevão. Foi dele a iniciativa de obter do Senado a repreensão dos senadores Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho pelos bate-bocas que produziram no plenário.
Para o Planalto e para a coligação governista, Jefferson Péres não pode presidir o Senado porque é de oposição. Esse argumento é forte, mas até agora os doutores do governo só conseguiram produzir Jader Barbalho. Vale lembrar que a base de sustentação política da ditadura chegou a um impasse quando o melhor candidato que conseguiu produzir chamou-se Paulo Maluf. Graças a isso deu-se o milagre de Tancredo Neves. Como lembra o senador Roberto Freire: "O que está acontecendo hoje em Brasília é a marcha da insensatez."
Jefferson Péres está na oposição, não é de oposição. Distanciou-se do governo por decência. Começou a fazer política nos anos 50 e foi candidato a vereador em Manaus, com o apoio velado do Partido Comunista. Quando veio a ditadura, retraiu-se. A maneira como conta isso é um bom retrato de sua personalidade:
"Eu não tinha vocação para herói. Fiquei com medo de perder o meu emprego na universidade e abandonei qualquer militância política."
Péres reemergiu em 1988, filiando-se ao PSDB, que fazia oposição à política úmida do morubixaba Gilberto Mestrinho. Foi um caso raro de vereador que foi para o Senado sem escala na Câmara. Deixou o partido em 1999, depois que os tucanos aliaram-se ao governador Amazonino Mendes, herdeiro de Mestrinho em troca dos votos para a aprovação da emenda da reeleição. Saiu do PSDB tocado pela mesma decência que levou Mário Covas e FFHH a saírem do PMDB de Orestes Quércia.
O PFL poderá criar uma alternativa a Jader Barbalho achando um novo candidato em outro partido. Parece coisa fácil, mas a teia de interesses que equilibra a aliança governista chegou a tal decadência que a cada remendo corresponde nova goteira.
Havendo um candidato de oposição com a marca da decência, o presidente da República reagiu a um chilique do PFL ameaçando demitir as pessoas que o partido indicou. Se FFHH as nomeou porque eram competentes, não pode demiti-las por vingança. Se as nomeou achando que eram competentes e elas se revelaram ineptas, já deveria tê-las demitido há muito tempo.
O governo pode ficar tranqüilo. As chances de Jefferson Péres vir a ser eleito presidente do Senado são praticamente nulas. A aliança governista não tem por que temer esse homem decente, mas deve-se lembrar que em 2002 terá que bater à porta da choldra para pedir-lhe votos.
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