Pronunciamento de Ernandes Amorim em 27/12/2000
Discurso durante a 1ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Pronunciamento de despedida do Senado da República, em virtude da assunção à Prefeitura do Município de Ariquenes, Estado de Rondônia.
- Autor
- Ernandes Amorim (PPB - Partido Progressista Brasileiro/RO)
- Nome completo: Ernandes Santos Amorim
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
- Pronunciamento de despedida do Senado da República, em virtude da assunção à Prefeitura do Município de Ariquenes, Estado de Rondônia.
- Aparteantes
- Iris Rezende, Moreira Mendes.
- Publicação
- Publicação no DSF de 28/12/2000 - Página 25597
- Assunto
- Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
- Indexação
-
- COMENTARIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, OPORTUNIDADE, DESPEDIDA, SENADO, MOTIVO, POSSE, PREFEITURA, MUNICIPIO, ARIQUEMES (RO), ESTADO DE RONDONIA (RO).
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. ERNANDES AMORIM (PPB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, estou ocupando esta tribuna talvez pela última ou penúltima vez neste mandato, não para me despedir desta Casa, mas para dizer um até breve, um até logo.
Assumi este mandato de Senador - uma experiência nova - depois de ter sido, até então, Deputado Estadual por duas vezes e Prefeito de uma cidade importante do Estado de Rondônia. Há seis anos, ao ingressar nesta Casa, em meus primeiros passos, fui enxovalhado por denúncias contra a minha pessoa. Graças a Deus, fiz a minha defesa e, contando com o apoio da maioria dos Srs. Senadores, durante esses seis anos, exerci o mandato de Senador com dignidade.
Lamento apenas, neste momento de despedida, momento pelo qual passaram já vários colegas, não ter a oportunidade de ver alguns deles. Ao aqui chegar, Sr. Presidente, encontrei companheiros, como os Senadores Humberto Lucena, Alexandre Costa, Onofre Quinan, Darcy Ribeiro e Vilson Kleinübing, os quais não tiveram a felicidade de estar conosco num momento como este; não tiveram a oportunidade de dizer um “até logo”. Essas figuras ilustres faleceram no curso de seus mandatos e não tiveram a felicidade, como muitos colegas, de uma despedida festiva nesta Casa. Nós, que aqui ficamos, estaremos trabalhando numa nova missão.
Quero dizer aos nobres colegas Senadores que cheguei a esta Casa cheio de esperanças, cheio de projetos; pensava que seria uma das pessoas que aqui resolveria os problemas do Brasil; mas, na verdade, o Brasil tem vários problemas. Tivemos oportunidade de discutir vários deles, de contribuir para grandes melhorias por meio de votações nesta Casa, apoiando o Governo Fernando Henrique Cardoso, apoiando o povo brasileiro. Ocorre que, lamentavelmente, ainda restaram muitas questões que, neste mandato, não tivemos condições de discutir, de resolver, de contribuir para que os nossos Pares e o próprio Presidente da República pudessem resolver.
Temos à frente a questão da reforma agrária, que provocou tantas discussões nesta Casa, das quais eu participei. Vi que, apesar do esforço do Ministro Raul Jungmann e de toda a sua equipe, de sua competência, da boa vontade do próprio Presidente da República, não andamos muito na questão da reforma agrária. Há muita gente precisando de um pedaço de terra para trabalhar. As terras foram desvalorizadas no País, mas, ainda assim, não se buscou uma solução para assentar as muitas pessoas que querem sair da área urbana e ir para a área rural a fim de produzir.
O Governo Federal teve a boa intenção de criar o Banco da Terra, que, em alguns Estados, já está funcionando. No meu Estado, infelizmente, ainda não houve oportunidade de instalá-lo. Todavia, conversando com o Ministro Raul Jungmann, pude perceber que, agora, na minha nova batalha como Prefeito de Ariquemes, no Estado de Rondônia, poderei contribuir com a implementação da reforma agrária na região, como o fiz quando prefeito daquela cidade em mandato anterior, dando início a um processo bem sucedido. Volto agora, com mais experiência, para contribuir com o processo de reforma agrária. Quem sabe, nesses dois anos de mandato dos nobres colegas, V. Exas não buscam, juntamente com o Senhor Presidente da República, uma saída honrosa para o Brasil no que diz respeito a essa importante questão.
A agricultura é um tema que todos comentam, tanto assim que todos os Partidos têm, como ponto de seus programas, o desenvolvimento da agricultura e da agroindústria; há até uma bancada ruralista, mas, em momento algum, se vê esse Partidos se dando as mãos para defender o homem do campo, a agricultura.
O atual Ministro da Agricultura, Dr. Pratini de Moraes, é um dos mais competentes ministros do Governo Fernando Henrique. Não sei se a S. Exª tem faltado um pouco mais de recursos, mas muita coisa mudou na área da agricultura: a produção de grãos já aumentou; com a contenção da febre aftosa, a pecuária vai ajudar muito o Brasil; a agroindústria está se desenvolvendo. Todavia, sei que muito há a se fazer nessa área.
Ainda esta semana, Senador Antonio Carlos Magalhães, estive na Bahia, passando uns dias em Salvador, e, em reportagem da TV local, pude ouvir estatísticas que afirmam ser a Bahia o Estado brasileiro que mais gente tem no campo. Isto é sinal de que os administradores baianos olharam para a questão da agricultura, para a reforma agrária, dando apoio a projetos de assentamento. É isso que tem de acontecer no Brasil: uma reforma que leve o homem para o campo. Não posso crer que, com toda essa extensão de terras, ainda haja pessoas que briguem por dois ou três hectares de terra para morar. Fiquei sabendo agora, com a criação do Banco da Terra, da possibilidade que se tem de assentar essas pessoas, até porque um hectare de terra, Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, é mais barato hoje no Brasil do que a diária de um hotel de terceira categoria. Então, não vejo porque não investirmos no Banco da Terra, não assentarmos essas famílias para trabalharem a terra, não valorizarmos a exportação da produção agrícola de nosso País.
Nós, parlamentares, quando estamos em campanha nos nossos Estados, dizemos que iremos nos eleger Senadores ou Deputados Federais para buscarmos recursos em Brasília. Contudo, isso é uma tremenda decepção, pois a crise assola o País, afora as questões do Orçamento e das emendas parlamentares. Ainda há muita gente que pensa que os recursos das emendas ao Orçamento são destinados aos Deputados e Senadores. Na verdade, não é nada disso!
Quando se sai de um Estado, como saí do Estado de Rondônia, para buscar alguns recursos, os parcos recursos que conseguimos levar têm um grande valor para o Estado. O dinheiro que sai daqui é destinado à construção de uma ponte, de uma escola, para fazer melhorias na cidade, investir na reforma agrária, como fiz, comprando maquinário. Então, essa é a obrigação do parlamentar quando chega a esta Casa.
Lamentavelmente, vejo findar o ano sem que tenha alcançado sucesso com relação às emendas que apresentei ao Orçamento do ano passado - a ser executado este ano -, e trata-se de um direito do Parlamentar. A explicação é a de que não existe dinheiro no Orçamento, que não há dinheiro para aplicar.
Deixo este registro, para que se busquem mudanças; que haja leis que apoiem as emendas dos Parlamentares, daqueles Colegas que aqui vão ficar.
Tenho certeza de que os Parlamentares do meu Estado vão poder ajudar Rondônia e a minha prefeitura, aliás todas as prefeituras do Estado que representam.
Relembro as discussões que tivemos em plenário a respeito da questão ambiental. O meio ambiente tem que ser preservado; é preciso que o sistema educacional introduza matérias que formem as pessoas para preservar, para cuidar das florestas. Mas, acima de tudo, é preciso cuidar do ser humano. Não posso aceitar que se crie, no meu Estado, com uma floresta praticamente inteira, um projeto que distribui de 2 a 5 hectares de terra para o produtor rural e não lhe permite acesso ao banco, porque o Departamento de Meio Ambiente não dá autorização para que esse cidadão vá buscar um pequeno recurso para sobreviver, para que ele deixe a cidade e vá para o campo produzir.
A questão do meio ambiente perde um pouco o sentido quando olho, entre os esgotos das favelas das grandes cidades, o povo morando em cima da lama e das fezes. Não os vejo buscarem recursos para cuidar da saúde daquela gente, mas vejo meia dúzia de barbudos das ONGs nas florestas, brigando para que não se derrube uma árvore, mesmo que seja para fazer uma casa, mesmo que seja para fazer um curral. Criam problemas para quem está trabalhando; não deixam o agricultor plantar um pé de feijão. Enquanto isso, a população das periferias das grandes cidades está morando no esgoto e tomando sopa de papelão por não ter alimentos. Vejo dar-se prioridade à questão ambiental, mas não vejo dar-se prioridade à vida e ao ser humano.
Houve tantas reformas nesta Casa. E a tão decantada Reforma Tributária? Aqui fizemos discursos exigindo que houvesse por parte do Governo Federal uma cobrança sobre a Câmara dos Deputados, onde o Projeto de Reforma Tributária adormece na mão de um Deputado há sete anos! Sabemos que o desenvolvimento do País está emperrado por causa da Reforma Tributária que cochila na mão de um Parlamentar, numa falta de respeito a esta Casa que aprovou a matéria e a encaminhou à Câmara. Hoje paga-se 60 impostos para se produzir. Pensei que haveria mais empenho dos nobres Colegas e do próprio Presidente da República para que a Reforma Tributária fosse feita, a fim de que o País pudesse, com maior velocidade, produzir mais e também exportar. O Brasil tem tudo para vender lá fora o que produz. A agricultura aqui é uma fonte de riquezas incomensurável.
A propósito, o programa que o Governo Federal está empreendendo para levar luz elétrica ao campo é um programa de grande importância e que devemos ajudar a desenvolver.
Conheço o Estado do Senador Iris Resende e vi o que fez S. Exª, quando Governador: eletrificou Goiás quase que na totalidade, criando até mesmo um projeto de urbanização, construindo casas para o povo pobre. Eu vi o quanto a eletrificação ajudou o Estado de Goiás a desenvolver sua área rural.
Há, portanto, muitos instrumentos para nos ajudar a desenvolver. A Bancada ruralista teria de reunir-se mais, gritar mais em favor do produtor e do desenvolvimento da área rural.
O mundo inteiro consome e está faminto. O nosso País produz. O meu Estado não tem enchente, seca ou terremoto. Tem terra boa. Produz-se no mesmo solo - sem irrigação - arroz duas vezes ao ano e milho duas vezes ao ano. Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por que importar arroz da China? Por que importar milho da Argentina? Por que cometer o crime de importar leite de outros países? Eu, que nasci no campo, “puxando enxada para os pés”, sei da dificuldade de produzir leite, para competir com o leite subsidiado importado.
Esta Casa ainda tem tempo de, nos próximos dois anos, fazer correções junto ao Presidente Fernando Henrique Cardoso. Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho certeza de que o Presidente Fernando Henrique Cardoso está desenvolvendo um bom trabalho. É difícil governar um País com tantos problemas. E o Brasil mudou, e esta Casa ajudou essa mudança. Criamos leis, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, e tantas outras que ajudam a conter a corrupção, que ajudam o Governo a implantar grandes projetos. Podemos mudar. E meu suplente, Fernando Matusalém, contribuirá bastante com os nobres Pares desta Casa na mudança do sistema de produção.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tive a honra de participar da Mesa do Senado, assim como o Senador Renan Calheiros, quando o Senador José Sarney foi o Presidente desta Casa. Graças a Deus, tivemos oportunidade de aprovar a TV Senado, a Rádio Senado e projetos importantes. Antigamente, a imprensa “via” o que não viu e publicava o que não viu. E os políticos ficavam mal vistos. Agora, estamos falando para milhões de espectadores. O Brasil está tomando conhecimento do verdadeiro papel do Parlamentar, graças a um trabalho feito pelo Senado e sua Mesa. Continuidade tem sido dada pelo Presidente Senador Antonio Carlos Magalhães, que, com seu pulso firme na condução da Presidência, mudou, perante a opinião pública, a visibilidade que tinha esta Casa. Tudo isso por causa da presença de V. Exª no comando desta Casa. Reclamam. Cada um tem a sua choradeira. Dizem que o Presidente Antonio Carlos Magalhães “é durão”, “não dá aumento”; “ainda hoje pedi aumento ao Presidente, mas esse aumento não sai”.
Tudo bem. V. Exª fez um trabalho sério e, com mão de ferro, comandou e está comandando esta Casa com dignidade. Hoje, o Senado da República tem a honra de dizer: “nós somos Senadores e pertencemos a um Poder que merece respeito”.
Está de parabéns a Mesa desta Casa.
O Sr. Iris Rezende (PMDB - GO) - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. ERNANDES AMORIM (PPB - RO) - Concedo o aparte ao nobre Senador Iris Rezende.
O Sr. Iris Rezende (PMDB - GO) - Agradeço o aparte que V. Exª. me concede, com a tolerância do nosso digno Presidente. Quero cumprimentá-lo pelo pronunciamento que faz, praticamente se despedindo do Senado, uma vez que assumirá, no próximo dia 1º de janeiro, a chefia do Executivo Municipal do próspero Município de Ariquemes.
O SR. ERNANDES AMORIM (PPB - RO) - Obrigado.
O Sr. Iris Rezende (PMDB - GO) - Gostaria de felicitar V. Exª pelas considerações feitas da tribuna, nesta tarde, e pelo trabalho que realizou, nesta Casa, durante seis anos. É claro que, no Parlamento, sempre estamos sujeitos a avaliações, umas positivas, outras não. Mas posso dar o meu testemunho de que V. Exª foi, durante esse período, um Senador esforçado, um Senador que conseguiu se aprofundar nas pesquisas, nas discussões de todas as questões importantes colocadas em debate. V. Exª, indiscutivelmente, correspondeu à expectativa de seu povo. Em nome de Goiás, cuja realidade se assemelha muito à de seu Estado, são Estados que têm como fundamento da sua economia a agropecuária, que estamos sempre como V. Exª manifestou nesta tarde preocupados com a política agrícola desenvolvida neste País, que nem sempre tem acudido aos anseios dos produtores rurais, quero desejar a V. Exª muito sucesso na administração do seu Município, o que, salvo engano, ocorrerá pela segunda vez. Quero dizer que V. Exª poderá contar conosco no Senado Federal todas as vezes que necessitar da nossa participação na defesa de questões atinentes ao seu Município. V. Exª, posso aqui afirmar, vai deixar esta Casa de cabeça erguida, porque foi um Senador zeloso, trabalhador e inquieto. Estou certo de que, mais uma vez, terá muito sucesso à frente do Poder Executivo do Município de Ariquenes. Senador Ernandes Amorim, muitas felicidades!
O SR. ERNANDES AMORIM (PPB - RO) - Senador Iris Rezende, só posso agradecer V. Exª por tão benevolentes palavras. Tenho em V. Exª um líder, uma pessoa que procuro imitar. V. Exª fez uma administração primorosa quando Governador do Estado de Goiás, o que serviu de escola para todo o Brasil.
Tenho certeza de que honrarei, mais uma vez, o povo do Estado de Rondônia com o meu retorno àquela Prefeitura. Farei um Governo sério e progressista, e que venha realmente suprir a expectativa.
Quero dizer a V. Exª que, neste momento, não estou aqui para me despedir, mas para dar um “até logo”, porque, em breve, se Deus quiser, retornarei a esta Casa com mais experiência e com mais vigor. Agradeço muito o seu aparte e solicito à Mesa que incorpore o pronunciamento de V. Exª ao meu.
Sr. Presidente, devemos ainda nos manifestar sobre a questão dos fundos constitucionais da Região Norte e Nordeste. Os fundos constitucionais são oriundos de recursos do povo e deveriam ser aplicados com maior seriedade e objetividade, buscando o desenvolvimento. Lamentavelmente, esses recursos não têm sido aplicados, e muitos bancos usam esse dinheiro para ganhar juros em benefício próprio.
Deixei proposta nesta Casa no sentido de que esses fundos não fossem alocados a determinados bancos e que esses recursos, que devem ser distribuídos, fossem destinados às cooperativas de créditos e ao próprio Banco da Terra a fim de que esses valores fiquem mais próximos do pequeno produtor. No caso da Amazônia, por exemplo, enviavam-se recursos para o Banco do Estado, que aplicava o dinheiro a juros, pagava uma pequena multa no fim do ano e ficava com um lucro alto. A população trabalhadora, principalmente, que deveria ser beneficiada, não tem recebido esses recursos. Então, no que tange a esta Casa e ao Governo Federal, espero que essa questão ainda seja corrigida, porque apenas prejudica o povo que deseja trabalhar e desenvolver.
Falei tanto nesta Casa, Sr. Presidente, das más administrações em meu Estado. Lamentavelmente, a Lei da Responsabilidade Fiscal não chegou mais cedo. Se assim tivesse ocorrido, o meu Estado não estaria hoje quase falido, o Governo anterior teria sido preso ou expulso sem esbanjar todo o dinheiro. O referido Governo, além disso, deixou um rastro que foi uma intervenção prejudicial no Beron - Banco do Estado de Rondônia. O Banco Central nomeou um interventor e ajudou, com os maus administradores, a dilapidar o patrimônio do Estado, deixando uma dívida impagável no Estado de Rondônia. Nesta Casa, briguei muito por esta questão, e agora o Governador José Bianco está entrando na Justiça, por meio do jurista Célio Silva, para retirar do Estado de Rondônia essa dívida que o Banco Central contraiu, jogando-a em cima da União, que é a única responsável por ela.
Espero que o Governador do meu Estado, ex-Senador José Bianco, com o apoio do Senador Moreira Mendes, do Senador Amir Lando, do Senador Fernando Matusalém - que me substituirá nesta Casa -, dêem continuidade a esta luta que tive no passado, nesta Casa, para tirar o peso da falência do Estado de Rondônia. Esta foi uma das mazelas do Banco Central sobre um virgem Estado, que era o Estado de Rondônia antes daquela intervenção.
O Sr. Moreira Mendes (PFL - RO) - Concede-me V. Ex.ª um aparte?
O SR. ERNANDES AMORIM (PPB - RO) - Pois não, nobre Senador Moreira Mendes.
O Sr. Moreira Mendes (PFL - RO) - Eminente Senador Ernandes Amorim, o seu discurso é irretocável, mas há um ponto a que quero somar algo. Trata-se dessa questão do Banco do Estado de Rondônia. V. Ex.ª, sempre aqui, desta tribuna, soube defender os interesses de Rondônia, e cita em seu discurso um dos culpados, que é o Governo Federal, pela sua omissão através do Banco Central, mas há que acrescentar uma pessoa neste rol de culpados, que é o ex-Governador Valdir Raupp de Matos. Não fosse a irresponsabilidade desse cidadão, talvez não tivesse acontecido o que aconteceu. Mas quero aproveitar a oportunidade que V. Ex.ª me concede para somar algumas palavras às do eminente Senador Iris Rezende e desejar a V. Ex.ª que faça uma profícua administração à frente da Prefeitura de Ariquemes para a qual foi eleito com maioria absoluta de votos, o que demonstra inequivocamente a sua liderança naquela região e no Estado de Rondônia. Devo lembrar, para registro desta Casa, que V. Exª foi Deputado Estadual dos mais atuantes, foi Prefeito da sua cidade, para a qual volta novamente, e foi um dos Senadores mais votados. Portanto, V. Ex.ª tem ajudado a escrever uma página da História de Rondônia com letras garrafais com a sua determinação e diria, até, com o seu destemperamento, mas há que se dizer de uma virtude sua que é a lealdade e que se sobrepõe a qualquer outro defeito e quero, de público, testemunhar que V. Ex.ª é uma pessoa absolutamente leal. No ensejo deste aparte, quero desejar a V. Ex.ª todo o sucesso em sua nova missão, e tenho certeza de que vai conseguir desempenhá-la como sempre desempenhou os seus mandatos, as suas atribuições públicas com tenacidade, com transparência, com hombridade, determinação e, sobretudo, sempre colocando na frente o interesse público. Leve esse reconhecimento e tenho certeza que, sem nenhuma dúvida, posso falar em nome desta Casa e de todos principalmente dos que compõe a Bancada do Estado de Rondônia.
O SR. ERNANDES AMORIM (PPB - RO) - Agradeço o aparte de V. Ex.ª, Senador Moreira Mendes.
Sei do trabalho que V. Ex.ª desenvolve nesta Casa, em Brasília, sei da sua importância futura a nos ajudar na nossa nova missão.
Deixo aqui um apelo ao Plenário, principalmente a V. Exª e à Bancada da Amazônia. Nós, da região amazônica, temos um problema muito sério: ainda somos muito desunidos. A Bancada da Amazônia, os Senadores, principalmente os Senadores, temos que nos unir. Nós, que somos nove Estados, vinte e sete Senadores, se estivéssemos unidos, teríamos conseguido uma participação maior nos recursos, nas obras. Vejo os outros Estados com obras e mais obras federais: metrôs, pontes, projetos grandes. E a região amazônica é esquecida.
Vi, esta semana, Sr. Presidente, nobre Senador Moreira Mendes, o Senador Romero Jucá votar contra a Amazônia, em favor de um projeto de São Paulo. Fiquei olhando... Não podemos censurar o colega, mas vejo que temos que buscar um consenso, uma união, para defender a região amazônica, uma região nova, que tem tudo para se desenvolver e para crescer, e só essa união é que vai levar ao desenvolvimento daquela terra. Por isso, vale a pena seu trabalho aqui junto à Bancada. V Exª, que é um líder, é um representante do PFL, tem como arregimentar uma bancada maior para a Amazônia, para defender os nossos interesses, os interesses daquela terra.
Nesta Casa, Sr. Presidente e Srs. Senadores, houve uma outra coisa que me chamou a atenção na Mesa passada, da qual participaram o Senador Renan Calheiros e o Presidente José Sarney. Iniciou-se uma reforma interna, que depois parou. Seria importante que se desse continuidade àquele trabalho, até porque vejo ainda muita coisa a ser corrigida pelos futuros senadores.
Estive nesta Casa, num partido pequeno, e, por ser de um partido pequeno, não participava de determinadas comissões. Não poderia ser relator, porque era de um partido pequeno. Fico imaginando: o Estado de Rondônia, se tem três representantes aqui, de três partidos pequenos, não vai participar de nada nesta Casa! Via como uma injustiça cometida aqui nesta Casa essa questão da distribuição dos senadores nas comissões. Não há um senador maior do que outro aqui, não há um mais bonito, nem um mais feio, e a representatividade de três senadores por Estado é para dizer da eqüidade, da representação nesta Casa. Não justifica eu vir aqui, como Senador de meu Estado, e ficar alheio às comissões, porque o meu partido só tem dois senadores, ou porque o PTB, por exemplo, só tem um senador. O que vimos fazer aqui? Foi ser Senador, ter direito de igualdade, ou ser excluído da participação das decisões desta Casa? Por isso, eu, que estou saindo hoje, deixo essa reclamação para que seja observada por esta Mesa ou por aquela que vier sucedê-la, pelos próprios senadores.
Sei que meu tempo está esgotado, mas quero registrar a valiosa contribuição que esta Casa deu para criar a Lei da Responsabilidade Fiscal. Votei a favor desta lei e eu já sabia que seria prefeito da minha cidade. Fiquei satisfeito porque até o meu antecessor já está sendo molestado por essa lei. Ele deixou de fazer desperdícios porque respeita a Lei de Responsabilidade Fiscal. E nós, prefeitos que vamos assumir agora, vamos ter uma responsabilidade maior. Sempre tenho dito isso aos prefeitos eleitos, muitos deles não conhecem a burocracia, a contabilidade. Quem já foi prefeito sabe da responsabilidade que tem o Executivo, por isso tem que se assessorar bem, para não ser amanhã considerado criminoso ou preso por falta de cumprimento da responsabilidade fiscal. Com o cumprimento desta lei, vai sobrar dinheiro para serviços sociais, para obras, para a saúde, para a educação, porque muitos desses recursos eram desviados por falta de punições. E agora, com o freio dado por esta Casa, para o qual tive a honra de contribuir votando a favor, tenho certeza que todos os administradores terão responsabilidade com o que vão fazer.
Para encerrar, Sr. Presidente, deixo neste momento o registro de um filho de agricultor. Eu nasci na área rural, puxei enxada para os pés, comecei a estudar já muito tarde, trabalhei como empregado doméstico na cidade de Salvador, lutei e fui para Rondônia, onde estou há 27 anos. Cheguei lá e tive a coragem de trabalhar, de lutar contra os grandes, de enfrentar as multinacionais, de enfrentar os grandes políticos. Aqui, nesta Casa, ainda encontrei resquícios das grandes multinacionais que queriam usurpar o subsolo de Rondônia e orquestraram um ritmo de denúncias contra a minha pessoa. Naquele momento, todo o PSDB se juntou contra a minha pessoa para me cassar, por causa de uma denúncia numa fotocópia de um jornal.
Corri os quatro cantos desta Casa para me defender; fui buscar um advogado para me defender, que pediu R$280 mil. Eu disse: “Olha, cidadão, se eu ganho R$5 mil e pouco, como é que vou lhe pagar R$280 mil? Se sou um cidadão que gastou R$200 mil e pouco para me eleger Senador, como é que vou pagar um custo desse para me defender?” Subi a esta tribuna mostrando a verdade, e, graças a Deus, o Senado se manifestou naquela época e eu tive 68 votos a favor e 6 votos contra, e eu fui absolvido daquelas injúrias contra a minha pessoa.
Imagine, Sr. Presidente, sair da roça, ser empregado doméstico, conseguir sobreviver, fazer uma faculdade, entrar na vida pública, ser Deputado Estadual duas vezes, ser prefeito de uma cidade, eleger-se Senador, chegar aqui, e alguém me cassar por causa de uma fotocópia de um jornal!
Há poucos dias, disse aqui uma palavra que magoou alguns Senadores. Quero pedir desculpas, se alguém ficou magoado, quando eu disse que nesta Casa alguém, por pouco ou por muito, teria sido denunciado. E alguns Senadores acharam ruim. Digo isso porque na vida política não há aquele que não tenha sido magoado, que não tenha sido criticado, que não tenha sofrido denúncias vazias ou verdadeiras. Eu passei por esses momentos. Mas passei, Sr. Presidente, e venci. Em seis anos de mandato, como Senador, demonstrei seriedade, responsabilidade, com o meu trabalho aqui nesta Casa. Por isso, vim aqui não para me despedir, mas para deixar um até logo, um até breve. Porque, se Deus quiser e vida me der, ainda hei de retornar a esta Casa. Porque aqui é a Casa dos ex-Governadores, dos ex-Ministros, dos ex-Presidentes da República. Como não fui ainda nem Presidente da República, nem Ministro nem Governador, está na hora de voltar, para fazer um trabalho e recomeçar minha vida na política.
Muita gente me pergunta: Senador, por que deixar o Senado para ser prefeito de uma cidade? Eu respondo: não, o Senado me honrou muito, aprendi muito. Mas acho que, voltando ao meu Estado, vou recomeçar minha carreira política. Assim como comecei como empregado doméstico e cheguei a Senador da República, volto a ser prefeito para retornar um dia, quiçá, como Governador de Estado ou mesmo como Presidente da República.
Por isso, agradeço a compreensão de todos os colegas nesta Casa. Peço desculpas se em algum momento magoei algum colega. Estarei no meu Estado, na minha cidade, à disposição de todos os amigos. Também virei a esta Casa para pedir apoio, quando necessário, aos companheiros Senadores. E tenho certeza de que serei atendido.
Muito obrigado e até breve!
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