Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

RELATO DA VISITA FEITA AO PRESIDIO DO CARANDIRU, E DAS NEGOCIAÇÕES FEITAS PARA O FIM DA REBELIÃO.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • RELATO DA VISITA FEITA AO PRESIDIO DO CARANDIRU, E DAS NEGOCIAÇÕES FEITAS PARA O FIM DA REBELIÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 22/02/2001 - Página 1738
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • REGISTRO, VISITA, ORADOR, PENITENCIARIA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), QUALIDADE, REPRESENTANTE, SENADO, REVOLTA, PRESO, SISTEMA PENITENCIARIO.
  • REGISTRO, ATUAÇÃO, ORADOR, ENCAMINHAMENTO, NEGOCIAÇÃO, CONCLUSÃO, REVOLTA, PRESO, LIBERAÇÃO, REFEM, PARENTE, AGENTE PENITENCIARIO.
  • NECESSIDADE, COMBATE, ORIGEM, CRIME.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Antonio Carlos Valadares, na tarde de ontem, o Presidente Jader Barbalho designou-me representante do Senado para acompanhar, na Casa de Detenção do Estado de São Paulo, graves acontecimentos ocorridos em função da rebelião dos presos do sistema penitenciário paulista que causou transtornos em 27 unidades do referido sistema. Na Casa de Detenção, havia a possibilidade de que ocorresse uma nova tragédia que faria lembrar os 111 mortos no massacre do Carandiru, em 1992.

            Às 4h40min da manhã de segunda-feira, fui chamado por pessoas que estavam nas celas do complexo da Casa de Detenção. Pediram-me que me deslocasse o quanto antes para lá, dado o receio de que algo pior acontecesse.

            Dirigi-me, às 5 horas da manhã, para o Comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo, onde dialoguei com o Comandante Rui César Melo, com o Secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, e também com o Secretário de Segurança Marco Vinício Petreluzzi. Na conversa, soube que, se não ocorresse a liberação dos familiares dos detentos e dos agentes penitenciários, haveria a entrada da tropa de choque por vota das 6h30min. Disse-lhes que faria um esforço, indo à Casa de Detenção para dialogar com os rebelados e negociar a liberação progressiva dos reféns o quanto antes.

            Assim, das 6h30min até, aproximadamente, as 13 horas, quando foi concluída a liberação de todos os familiares e agentes penitenciários detidos, acompanhei o esforço dos responsáveis pela Casa de Detenção, sobretudo do seu Diretor, Sr. Jesus Rossi Martins, para que tudo voltasse à normalidade.

            Naquela tarde, seria iniciado o processo de vistoria, para saber se havia armas, aparelhos celulares e outros apetrechos dentro das celas e das demais dependências da Casa de Detenção. Pois bem, o Governador Geraldo Alckmin, por recomendação do Secretário Marco Vinício Petrelluzzi e do próprio Secretário da Administração Penitenciária recomendou que os Parlamentares - eu e os demais que ali estavam - não acompanhassem toda a vistoria em virtude do risco que poderíamos correr. Entretanto, concordou que visitássemos a Casa de Detenção, as celas e os detentos, logo que aquela operação fosse concluída. Essa vistoria, entretanto, só ocorreu na terça-feira. Então, resolvi permanecer na noite de segunda-feira para terça-feira na Casa de Detenção, pois havia me comprometido com diversos familiares dos detentos a ficar ali até que a situação fosse normalizada. Algumas pessoas chegaram a se perguntar como e por que um Senador da República estava ali, realizando esse tipo de trabalho e se, porventura, estaria eu apenas preocupado com a vida dos detentos.

            Quero aqui esclarecer que eu estava preocupado não apenas com os detentos, mas também com os agentes penitenciários, um dos quais inclusive recebeu minha visita no Pronto Socorro de Santana, o Sr. Dante Gonçalves Jardim, que havia sofrido ameaça de infarto logo após ter sido mantido como refém com estiletes em seu pescoço. Portanto, pude fazer também esse trabalho.

            Os Deputados Fernando Gabeira, Renato Simões, Wagner Lino Alves e Luiz Eduardo Greeenhalgh e eu visitamos mais de cinqüenta celas e centenas de detentos e constatamos que a situação estava normalizada às 19h30min de ontem. Tenho a convicção de que não fosse a nossa presença no local teriam ocorrido fatos graves. Houve alguns sinais de problemas sérios ocorridos com um número pequeno de presidiários.

            Sr. Presidente, concluo, relembrando o que escreveu Hélio Pelegrino, em 1984: “A criminalidade é uma forma enlouquecida de protesto. É preciso que a indignação e a inconformidade do povo possam formular-se em termos políticos de modo a torná-la desnecessária e, portanto, verdadeiramente ultrapassável".

            É preciso modificar todas as causas e chegar à raiz do problema que leva à criminalidade crescente porque, de outra forma, não conseguiremos resolver a crise do Sistema Penitenciário Brasileiro.


            Modelo13/29/248:02



Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/02/2001 - Página 1738