Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO GOVERNADOR DE SÃO PAULO, SR. MARIO COVAS.

Autor
Francelino Pereira (PFL - Partido da Frente Liberal/MG)
Nome completo: Francelino Pereira dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO GOVERNADOR DE SÃO PAULO, SR. MARIO COVAS.
Publicação
Publicação no DSF de 07/03/2001 - Página 2395
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MARIO COVAS, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EX SENADOR, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, VALORIZAÇÃO, ETICA, EXERCICIO, POLITICA.

O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL - MG. Para encaminhar a votação.) - Sr. Presidente, Senador Edison Lobão, Srªs e Srs. Senadores, o quê dizer de Mário Covas nesta hora? O quê dizer de um cidadão que percorreu caminhos tão difíceis como os que venho percorrendo em toda a minha vida pública, desde a União Nacional dos Estudantes, no Rio de Janeiro, até este momento, aqui no Senado da República brasileira?

Nascido em Santos e vivendo em São Paulo, o seu destino era todo ligado à mais nobre das atividades humanas, que é a política. Conversávamos e debatíamos muito. Em algumas vezes, assumimos posições diferentes, mas a ele eu dizia - repetindo Milton Campos - que estávamos, nas duas margens do rio, cada um tentando construir um caminho melhor para esta Nação, que hoje, com 170 milhões de brasileiros, começa a despertar para o mundo inteiro.

Covas era filho de corretor de café, na sua São Paulo, terra da cafeicultura. Nasci em terra distante, no longínquo e amável Piauí e fiz de Minas, a outra terra do café, a minha pátria, o meu chão, o meu destino, o espetáculo da minha vida.

Ouvia-o atentamente. Sua voz era agradável e sonante. Melhor, porém, que a voz, e mais requintada que a sua disciplina mental, era a lhaneza que caracterizava seu comportamento, sempre aberto ao abraço cordial, sem jamais aparentar orgulho. Demonstrava simplesmente representar um Estado que significa, depois de Minas Gerais, a primeira unidade da Federação.

Éramos irmãos - e quero dizer isso com sinceridade e com orgulho. Irmãos na honradez, no trabalho, na convicção, na certeza de que o nosso destino apresentava certa semelhança, até porque ambos trabalhávamos para abrir caminhos mais adequados à construção de dias melhores para o Brasil, um país ainda de uma pobreza absoluta.

Em 1968, fomos derrotados. Ninguém aqui fala em revolução, ninguém fala em regime militar; ninguém fala em regime de exceção, mas quero dizer que não participei da revolução ou, como hoje se chama, do regime militar. Dela fiquei sabendo na Superquadra Sul 206 de Brasília, ao acordar, no dia do acontecimento.

Daí por diante, nossas posições assumiram forma mais diferente, mas em nenhum momento nos faltaram o convívio, o respeito e a amizade, num comportamento de vida pública marcado pela seriedade e pela simplicidade.

Em 1968, fomos derrotados. Ele derrotado como líder da Oposição, como Deputado Federal, na luta contra o regime de exceção que caminhava para o AI-5.

Na Comissão de Justiça, ambos defendíamos o Márcio Moreira Alves. A imprensa no Brasil inteiro registrava as nossas declarações. O Estado de S. Paulo publicava: “Francelino pede ao povo para dizer não ao Governo”.

O Presidente Costa e Silva era atacado com veemência pelo Líder Mário Covas. Eu não o atacava. Mas no silêncio de quem se rebela - e o silêncio, às vezes, é mais expressivo, fui chamado ao Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, pelo Presidente Costa e Silva. Diante dessa convocação, disse ao meu Líder que ali não compareceria, porque sabia o que o Presidente queria. Contudo, o líder gaúcho Daniel Krieger fez uma ponderação, afirmando: “Quem o está convocando é o Presidente da República. Seja qual for o regime, vá, compareça.”

Em rápida conversa com Mário Covas, disse-lhe, que estaria indo ao Rio de Janeiro. E ele pediu a Deus, no abraço e no convívio, que eu fosse feliz na conversa com o Presidente.

Essa felicidade eu a tive. Foi a felicidade de dizer não ao Presidente Costa e Silva. De lhe ter dito que jamais mudaria o meu voto, porque as montanhas de Minas não permitem que os homens públicos do meu Estado assumam posições anti-históricas.

Covas foi cassado em 1969, diferentemente de muitos outros líderes de seu Partido, que se acomodaram no silêncio e até se deram bem com a revolução e com a ditadura militar.

Dez anos depois, no entanto, Mário Covas voltou, mais forte, mais determinado, mais elegante, sem nenhum ressentimento. Ao contrário, parecia demonstrar que a cassação emoldurara com mais força a sua vida pública, por mais incrível que pareça.

Voltou à política. E, no Governo de São Paulo, soube conduzi-lo com lisura e coragem. E foi no exercício dessas funções que Mário Covas foi vencido pela insidiosa e silenciosa doença. Contudo, ao desaparecer, ele aparece aos nossos olhos como uma das figuras mais importantes da vida pública brasileira.

Quero dizer, nesta hora, em nome de 18 milhões de mineiros, em nome de 900 cidades, em nome de 100 metrópoles, em nome da terra cujas montanhas ninguém nivela, que essa homenagem de Minas é feita a um homem semelhante aos melhores mineiros, como Milton Campos.

São essas as minhas palavras de despedida, já que não posso ir a São Paulo em razão de compromissos em Brasília e em Belo Horizonte ainda amanhã.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/03/2001 - Página 2395