Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO GOVERNADOR DE SÃO PAULO, SR. MARIO COVAS.

Autor
Sebastião Bala Rocha (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AP)
Nome completo: Sebastião Ferreira da Rocha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO GOVERNADOR DE SÃO PAULO, SR. MARIO COVAS.
Publicação
Publicação no DSF de 07/03/2001 - Página 2405
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MARIO COVAS, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ELOGIO, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA.

O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Edison Lobão, Srªs e Srs. Senadores, participo nesta tarde da homenagem de pesar a uma pessoa que foi parte preponderante da história brasileira nos últimos quarenta anos. Em meu nome pessoal, em nome do Partido Democrático Trabalhista, dos Parlamentares do PDT no Senado, em nome do meu Estado, quero externar meu pesar pela perda do grande líder político e do grande cidadão Mário Covas.

Tive a oportunidade de votar em Mário Covas duas vezes. Como médico, estudei em São Paulo nos anos de 1986 e 1987, onde freqüentei cursos de especialização. Quando da realização das eleições para o Senado, em 1986, tive oportunidade de votar em Mário Covas para Senador, uma vez que havia transferido meu título para São Paulo, exatamente para votar naquelas eleições, e em seguida retornei o meu título para o Amapá. Em 1989, nas eleições presidenciais, sendo eu filiado do PSDB - e fui um dos seus fundadores no meu Estado -, inspirado principalmente em Mário Covas, e claro havia outros grandes nomes da política brasileira como Franco Montoro, o próprio Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, mas inspirado sobretudo na imagem inatacável de homem público de Mário Covas filiei-me, como primeiro partido, ao PSDB no Amapá, e naquela oportunidade também votei, para presidente da República, no primeiro turno, em Mário Covas.

Faço esse registro para dizer que quem está na tribuna não é apenas um parlamentar que teve oportunidade de algumas vezes conversar ou encontrar o Mário Covas nos eventos, mas, sobretudo, um político que aprendeu a respeitá-lo pelo que representou na vida pública brasileira.

Disse há algum tempo que nas oportunidades em que se vislumbrou seu sucesso em plenitude o destino lhe cortou as possibilidades. Primeiro, houve a cassação quando do AI-5, no episódio do Márcio Moreira Alves. Naquela ocasião, Mário Covas teve sua voz calada quando já era uma das grandes revelações da política brasileira, com perspectiva de, em breve, tornar-se um homem público da maior relevância no Congresso Nacional. Assim o foi como Líder do PMDB e, depois, no PSDB como parlamentar constituinte. Agora, quando Mário Covas poderia ser candidato a presidência da República pelo PSDB, novamente o destino impediu que esse grande político se manifestasse a respeito do seu desejo de ser Presidente do Brasil.

Faço esse registro como homem que, depois que saiu do PSDB, tem sido leal ao seu atual Partido, o PDT. Na vida pública, temos que aprender a respeitar as opiniões adversas e respeitar as figuras eminentes que, às vezes, estão do outro, em outra agremiação partidária, defendendo outras idéias. Substancialmente, Mário Covas nunca se afastou da essência da política e sempre buscou executar com perfeição a honradez, a probidade administrativa, a austeridade e a resposta social.

Provavelmente, Mário Covas nunca tenha sido admirador de Che Guevara. Talvez admirasse sua história, mas nunca fora um seguidor de seus princípios. Entretanto, concluo meu discurso com uma frase de sua autoria: “ Hay que endurecer pero sín perder la ternura”. Mário Covas sempre lutou com muito vigor na política e na sua própria vida, mas deu demonstração, até o último momento, de que não perdeu a ternura.

O projeto que Mário Covas mais lamentou não poder executar foi exatamente o de resgatar as crianças de rua, o projeto social que mais lhe afeiçoava era resolver o problema do menor abandonado, da criança de rua, da Febem, e esse ele não pôde executar. Então, até o último momento, havia a sua dedicação especial aos menos favorecidos.

Não perdeu a ternura também quando chorou, naquele momento da segunda cirurgia, em que expressou, embora sendo um gigante na luta, tanto pela política quanto pela vida, também sentir dores, sentir a possibilidade da morte e o temor de afastar-se de nós, deixar estas paragens e ir para um outro espaço para o qual um dia também iremos. Essa ternura pudemos sentir de perto no valente Mário Covas.

Então, à Dona Lila Covas, à Renata Covas, ao Mário Covas Neto e aos paulistas, aos amigos, aos peessedebistas os meus sinceros votos de pesar e de solidariedade neste momento de profunda dor.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/03/2001 - Página 2405