Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

TESTEMUNHO DA COMOÇÃO DA POPULAÇÃO PAULISTANA NOS FUNERAIS DO GOVERNADOR MARIO COVAS. RECORDAÇÕES DOS MOMENTOS DA VIDA POLITICA DO GOVERNADOR MARIO COVAS.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • TESTEMUNHO DA COMOÇÃO DA POPULAÇÃO PAULISTANA NOS FUNERAIS DO GOVERNADOR MARIO COVAS. RECORDAÇÕES DOS MOMENTOS DA VIDA POLITICA DO GOVERNADOR MARIO COVAS.
Aparteantes
Ademir Andrade, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 08/03/2001 - Página 2599
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • PRESENÇA, ORADOR, FUNERAL, MARIO COVAS, GOVERNADOR, REGISTRO, HOMENAGEM POSTUMA, AUTORIA, POPULAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, MUNICIPIO, SANTOS (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • ELOGIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ETICA, VIDA PUBLICA, MARIO COVAS, EX SENADOR, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESPECIFICAÇÃO, RELACIONAMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Jader Barbalho, acabo de chegar do funeral do Governador Mário Covas, que acompanhei juntamente com os Senadores Pedro Piva, Romeu Tuma e a representação de Senadores por São Paulo oficialmente designada por V. Exª, além de V. Ex.ª mesmo, o ex-Presidente desta Casa, Senador Antonio Carlos Magalhães, os Senadores Pedro Simon, José Roberto Arruda, Senadores de diversos Partidos, todos puderam presenciar a comoção do povo paulista pela perda de seu Governador.

Gostaria de testemunhar e dizer-lhes quão forte foi a emoção do povo de São Paulo e, ao final da manhã, no início da tarde, do povo de Santos, terra natal do Governador Mário Covas, que expressou de uma forma muito bonita o seu apreço, a sua homenagem por aquela figura política em nosso País, que, com tanta coerência, mostrou o seu zelo pelo interesse público, o seu amor à Pátria, e o quanto avaliava importante defender a democracia, a liberdade e as suas concepções.

O Governador Mário Covas foi uma pessoa que fazia questão de entrar em controvérsias, de argumentar em todas as ocasiões que considerava relevante assinalar o seu ponto de vista. Aqui nós o vimos tantas vezes debater problemas, expor aquilo que acreditava. Nas Comissões de Assuntos Econômicos, de Constituição, Justiça e Cidadania, tantas vezes ele se distinguiu pela capacidade de argumentar. Sobretudo nas CPIs sobre o caso PC Farias e do Orçamento, o Senador Mário Covas mostrou-se um exímio argüidor, temido por aqueles que porventura tivessem desviado recursos ou realizado procedimentos que não condiziam com o decoro parlamentar ou a defesa do interesse público.

Ele tanto se fez respeitar que chegou ao Senado com a maior votação até então ocorrida para qualquer Senador na história do Estado de São Paulo e do Brasil.

Foi eleito Governador duas vezes, em eleições livres e diretas. Ele que, de certa maneira constrangido, foi uma vez designado Prefeito. Quando Franco Montoro foi eleito Governador em eleições diretas e ainda não havia eleição direta para prefeito de capitais, Mário Covas foi Prefeito designado e votado na Assembléia Legislativa de São Paulo, de uma maneira que não era a que defendia.

Houve também outro momento de dificuldades para ele, porque Mário Covas foi um Senador, um Governador, um Constituinte, que não defendia a reeleição para os executivos municipal, estadual e federal. Mas, na medida em que o seu Partido acabou aceitando e pedindo a ele que fosse novamente candidato ao Governo do Estado, acabou sem alternativa, aí vivendo uma contradição importante, que certamente o machucou, mas isso nunca tirou dele a seriedade, o zelo e a forma de conduzir as coisas.

Nós, do Partido dos Trabalhadores, aprendemos a dialogar, a divergir e a respeitar o Governador Mário Covas. Em 1989, Mário Covas foi a figura mais importante do PSDB que não teve dúvidas, no segundo turno, em apoiar Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República, depois de ele próprio ter sido candidato à Presidência pelo PSDB.

Um outro episódio muito importante ocorreu em 1994, quando ele foi candidato ao Governo do Estado de São Paulo e, naquela ocasião, algumas pessoas do PT resolvemos apoiá-lo. Mas foi sobretudo em 1998, quando a candidata a Governadora, Marta Suplicy, quase empatou com o Governador Mário Covas, na reta final, no segundo turno, diante de um adversário comum, tanto a hoje Prefeita, Marta Suplicy, quanto eu próprio e outras pessoas do PT, resolvemos dizer o quanto Mário Covas significava com sua seriedade e retidão na forma de conduzir as suas idéias e a sua administração. Por isso, em que pese às divergências, nós o apoiamos abertamente.

No ano 2000, foi a vez de o Governador Mário Covas, tendo o seu candidato, o hoje Governador Geraldo Alckimin, quase chegado ao segundo turno, retribuir aquele ato, expressando o seu apoio a Marta Suplicy, então candidata a Prefeita. Mais do que isso, ele estava prestes a ser internado para uma nova cirurgia no sábado que antecedia o domingo da eleição, mas resolveu adiar a sua internação para informar a todos os paulistas que votaria na candidata Marta Suplicy, que sagrou-se vencedora.

Pudemos observar que haveria um entrosamento muito grande entre o seu Governo, agora de Geraldo Alckimin, e o da Prefeita Marta Suplicy. Ainda hoje, no trajeto para Santos, acompanhando a emoção do povo de São Paulo, conversamos, ambos, com o Governador Geraldo Alckimin e sua senhora, Maria Lúcia, e pudemos relembrar diversos aspectos, fatos da vida de Mário Covas. Também falamos desse entrosamento que, acredito, será muito positivo.

O Sr. Ademir Andrade (PSB - PA) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador?

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Com muita honra, concedo o aparte ao Senador Ademir Andrade e, em seguida, ao Senador Romeu Tuma; vou atender também ao Senador Maguito Vilela, que pede que eu termine antes do tempo regimental, para que ele possa ainda ter o direito de falar hoje.

O Sr. Ademir Andrade (PSB - PA) - É verdade, Senador Eduardo Suplicy, o Brasil inteiro está muito consternado com a morte do Senador Mário Covas. Eu, particularmente, fui seu amigo pessoal muito antes de entrar para a política. Cassado à época pela ditadura, Mário Covas era diretor-financeiro da Transpav/Cobrás S/A, e eu era um engenheiro que trabalhava sob seu comando, e, ao chegar a Tucuruí, no Estado do Pará, fui, evidentemente pelo trabalho que fiz, convidado a ser candidato a vice-prefeito da cidade pelo então MDB. Consultei o então diretor da empresa Mário Covas para saber o que pensava. Ele me deu todo o incentivo, inclusive me garantiu praticamente os três meses de campanha continuando na empresa para disputar aquela vice-prefeitura pelo MDB contra a ditadura militar. Na verdade, entrei na política incentivado, estimulado pelo meu chefe, à época um Deputado cassado e depois Senador e Governador de São Paulo, Mário Covas. Ele foi uma pessoa que primou pela ética, e o respeito que tem de todo o povo brasileiro, de todas as forças políticas do nosso País provam isso de maneira incontestável; todos os partidos, todas as lideranças nacionais tinham respeito por ele. São poucos os homens políticos que receberam tanto carinho, admiração e que tenham coerência como o Senador Mário Covas. A lição que ele deixa deve ser motivo de reflexão por todos nós políticos de uma maneira geral. A morte, Senador Eduardo Suplicy, é invencível, ninguém consegue vencê-la. Todos nós temos a nossa hora e o nosso momento. Ele lutou, obstinadamente, contra a morte, chamou-nos a atenção para a questão da morte, o que deveria alertar toda a sociedade brasileira, todos nós, que na vida o tempo é curto, é efêmero e, portanto, em nossa existência, devemos caminhar para fazer o bem, como fez Mário Covas. Essa é a lição que ele deixa e é isso que as pessoas deveriam perceber na sua luta pela sobrevivência, na sua luta por fazer o bem e perceber que todos temos um fim próximo e que temos que honrar a nossa vida, a nossa existência, como Mário Covas honrou a sua vida e a sua existência. É o melhor exemplo que podemos ter de Mário Covas. Muito obrigado.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Ademir Andrade, de fato, o Governador Mário Covas, conforme ressalta hoje Carlos Heitor Cony, na sua doença, demonstrou sua grandeza como ser humano.

O SR. PRESIDENTE (Antero Paes de Barros) - Senador Eduardo Suplicy, quero informar-lhe que seu tempo regimental está esgotado. Prorrogamos a sessão por cinco minutos, solicitando brevidade, para que possamos ouvir os apartes dos Senadores Romeu Tuma e Maguito Vilela.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Então, concedo o aparte ao Senador Romeu Tuma, que esteve comigo e com o Senador Pedro Piva no enterro.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Serei bem rápido, porque creio que V. Exª pode falar em nosso nome, como está fazendo. Agradeço a citação que fez do meu nome e do nome do Senador Pedro Piva. Ontem e hoje foram dias muito amargos para nós, Senador. Eu só queria deixar registrada a força interior, a amabilidade e o carinho com que o Governador Mário Covas tratava as pessoas, independentemente de serem aliados do seu Partido. Sempre fui tratado com muito carinho por ele. Eu teria obrigação de fazer um pronunciamento mais extenso, e era esse o meu desejo. Entretanto, fiquei com medo de me emocionar demais e decidi deixar para uma outra hora. A imprensa questionou, uma vez, em uma pequena nota, o meu interesse em visitar freqüentemente o Governador Mário Covas e ir a todas as solenidades que ele passou a realizar às segundas e às sextas-feiras, quando nos encontrávamos em nossa cidade. Não havia interesse pessoal nenhum. Nunca pedi nada ao Governador. Era a admiração que tinha por ele e pelos seus atos realizados no Palácio do Governo, em São Paulo, no interesse da população. Como V. Exª, eu ia também. V. Exª está em outro Partido, mas tinha respeito, como todos tínhamos, pela conduta ética, moral e de força interior do Governador Mário Covas. Sou grato eternamente a ele por uma posição que normalmente os políticos não tomam, Senador Eduardo Suplicy, quando plantaram aquela lista numa revista, tentando me desmoralizar, numa vingança por atos que pratiquei por obrigação neste plenário. No dia seguinte à notícia, numa feira no Anhembi, ele me viu e disse: “Jamais poderão levantar qualquer dúvida sobre a sua conduta. Você é um homem de bem!” E digo com sinceridade, aquilo calou fundo no meu coração. E ele foi à televisão e repetiu essas palavras. Tenho esse agradecimento e reconhecimento pela hombridade de agir assim por conhecer minha conduta. E demonstrou hombridade em várias outras situações de dificuldade, quando foi cassado pela revolução, por exemplo, e não se afastou da luta. Permaneceu firme na sua trincheira, objetivando conquistar seu ideal. Por isso, tenho muito respeito por Mário Covas. Seu corpo foi embora, mas a sua memória, o seu exemplo estarão sempre vivos naqueles que aprenderam a respeitá-lo. Muito obrigado, Senador.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sou testemunha, Senador Romeu Tuma, do episódio porque eu estava junto naquele dia no Anhembi, quando o Governador Mário Covas fez, diretamente a V. Exª, para que tantos pudéssemos ouvi-lo, aquela afirmação a seu respeito.

Uma faixa, hoje em Santos, chamou a minha atenção, a da Prefeita Marta, a do Governador Geraldo Alckimin e de todos - e certamente de V. Exª também -, pois sabíamos todos da preferência de Mário Covas pelo Santos Futebol Clube, ele era de Santos, e que sempre acompanhou seu time favorito. E a faixa muito significativa, colocada em diversos postos pela torcida do Santos, dizia: “Coutinho, Covas, Pelé e Pepe. Que grande ataque!” Que exemplo nos deixa Mário Covas! Constitui-se ele em estímulo a todos os jovens...

O SR. PRESIDENTE (Tasso Rosado. Fazendo soar a campainha) - Eu pediria a compreensão do nobre Senador, pois ainda ouviremos o Senador Maguito Vilela, que está inscrito.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) ... constitui-se um exemplo para todos os jovens de caminho a seguir, de seriedade e amor ao Brasil.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/03/2001 - Página 2599