Discurso durante a 19ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CRITICAS A ATITUDE DO GOVERNO FEDERAL, DE RECORRER DA DECISÃO JUDICIAL PARA REINTEGRAÇÃO DE FUNCIONARIOS DA FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAUDE - FUNASA, COMPROMETENDO A SAUDE DA POPULAÇÃO DO RIO DE JANEIRO COM O AVANÇO DE DOENÇAS COMO A DENGUE.

Autor
Geraldo Cândido (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Geraldo Cândido da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ADMINISTRAÇÃO PUBLICA. SAUDE.:
  • CRITICAS A ATITUDE DO GOVERNO FEDERAL, DE RECORRER DA DECISÃO JUDICIAL PARA REINTEGRAÇÃO DE FUNCIONARIOS DA FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAUDE - FUNASA, COMPROMETENDO A SAUDE DA POPULAÇÃO DO RIO DE JANEIRO COM O AVANÇO DE DOENÇAS COMO A DENGUE.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2001 - Página 3790
Assunto
Outros > ADMINISTRAÇÃO PUBLICA. SAUDE.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, RECURSO JUDICIAL, SUSPENSÃO, REINTEGRAÇÃO, SERVIDOR, FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAUDE, AMEAÇA, ESTADO DE DIREITO, PREJUIZO, TRABALHADOR, COMBATE, EPIDEMIA, DOENÇA TRANSMISSIVEL, AEDES AEGYPTI, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRISE, SAUDE PUBLICA.
  • CRITICA, JOSE SERRA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), DECLARAÇÃO, OMISSÃO, PREFEITO, COMBATE, EPIDEMIA, EFEITO, INEFICACIA, IMPLEMENTAÇÃO, POLITICA, DESCENTRALIZAÇÃO, SAUDE PUBLICA.

O SR. GERALDO CÂNDIDO (Bloco/PT - RJ. Para uma comunicação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mais uma vez venho a esta tribuna para denunciar um fato sobre o qual já falei várias vezes. Como nada foi resolvido, continuo denunciando e cobrando, porque são de responsabilidade do Governo Federal, do Ministério da Saúde.

O Senhor Presidente da República e o seu atual pré-candidato à Presidência, José Serra, pregam a socialdemocracia fraterna por intermédio da mídia, enquanto, na calada da noite, lançam mão de instrumentos utilizados por alguns generais e presidentes ditatoriais, ou seja, o desrespeito ao Estado de direito.

Os trabalhadores da Fundação Nacional de Saúde, prestadores de serviços à União, e há pelo menos dez anos no combate às endemias, foram sumariamente demitidos pelo Ministro da Saúde, no dia 30 de junho de 1999, sob alegação de que o SUS - Sistema Único de Saúde, no que tange à municipalização, deveria ser cumprido e que, conseqüentemente, a verba destinada ao controle de epidemias deveria ser repassada exclusivamente às prefeituras, ficando para os Estados e a União a prerrogativa gerencial.

Entretanto, Srªs e Srs. Senadores, o sindicato representante desses trabalhadores impetrou mandado de segurança, por ocasião da demissão dos mesmos e, no último dia 12 de fevereiro de 2001, foi prolatada a sentença de reintegração desses 5.792 servidores. O Governo Federal recorreu à Lei nº 4.348/1964 - vejam bem a data: 1964 -, instrumento esdrúxulo criado durante a ditadura militar, malfadada página da História brasileira, para, em nome da suposta lesão à ordem pública, suspender a execução provisória dessa decisão judicial, que busca apenas garantir o exame demissional desses trabalhadores expostos às substâncias químicas, quando em defesa da saúde da população do Estado do Rio de Janeiro. Esse fato foi confirmado no dia de ontem, quando o Presidente do Superior Tribunal de Justiça, Ministro Costa Leite, proferiu decisão acatando o recurso da União.

Diante da negativa do Governo em respeitar as decisões judiciais, o que se traduz em verdadeira ameaça ao Estado de direito, preocupo-me em demasia com os reflexos dessa atitude, haja vista que os prejudicados serão os trabalhadores. Cumpre-me lembrar que, no ano passado, ocupei esta mesma tribuna para denunciar o descumprimento de outra decisão judicial, que buscava, além da reintegração desses servidores, a prevenção da epidemia da dengue, que agora assola a população fluminense.

Perplexo, observei a manobra jurídica que o Governo Federal utilizou para forçar o Poder Judiciário, editando medida provisória, esse velho recurso, o que permitiu ao então Presidente do Superior Tribunal de Justiça, Antônio de Pádua Ribeiro, suspender a reintegração desses servidores aos quadros da Fundação Nacional de Saúde, fato que culminou com a grave crise que atravessa a saúde preventiva daquele Estado.

No último dia 20, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao ler o jornal Folha de S.Paulo, fui surpreendido com a declaração do Ministro da Saúde, José Serra, que afirmava terem os Prefeitos feito “corpo mole” ao implementar o combate aos surtos endêmicos. No entanto, lembro-me de que, em diversas ocasiões, desta tribuna, alertei sobre os efeitos da descentralização verticalizada e abrupta, com seus reflexos para a saúde da população brasileira.

Diante disso, julgo que esta Casa não pode assistir inerte à discussão, haja vista que o Rio de Janeiro não é um caso isolado, quando se fala em epidemias de dengue e febre amarela. O risco do recrudescimento dessa epidemia é iminente, mas pode ser contido ou revertido se houver um combate intensivo ao mosquito transmissor. Portanto, é essa uma das razões que me levam a interceder pela imediata reintegração daqueles servidores.

Sr. Presidente, para concluir, registro que os servidores demitidos e desempregados têm feito várias manifestações no intuito de demonstrar as necessidades por que passam suas famílias. Na semana passada, houve uma manifestação, no Rio de Janeiro, que fechou o acesso à ponte Rio-Niterói por uma hora. Isso ocorreu no desespero de manter as famílias e de revelar as necessidades de sobrevivência.

Agora, a Justiça está ameaçando-os de punição. Considero isso um absurdo, porque, na verdade, aqueles que lutam pela sobrevivência são ameaçados de punição, quando aqueles que cometem as injustiças e descumprem a lei não são punidos. A punição deveria incidir sobre o Ministro José Serra, responsável direto pela epidemia de dengue no Estado do Rio de Janeiro.

Sr. Presidente, era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2001 - Página 3790