Discurso durante a 19ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

MANIFESTAÇÃO DE APOIO A QUALQUER PEDIDO DE ABERTURA DE INQUERITO PARLAMENTAR QUE CONCORRA PARA DESFAZER O CLIMA DE APREENSÃO DA OPINIÃO PUBLICA.

Autor
José Alencar (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MG)
Nome completo: José Alencar Gomes da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • MANIFESTAÇÃO DE APOIO A QUALQUER PEDIDO DE ABERTURA DE INQUERITO PARLAMENTAR QUE CONCORRA PARA DESFAZER O CLIMA DE APREENSÃO DA OPINIÃO PUBLICA.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2001 - Página 3830
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • NECESSIDADE, RESPEITO, OPINIÃO PUBLICA, EXIGENCIA, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, CONGRESSISTA, BENEFICIO, DEMOCRACIA.
  • APOIO, ORADOR, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, CONGRESSISTA.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PMDB - MG) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, a sabedoria popular - este “saber de experiências feito” na lírica definição camoniana - representa um suporte permanente e precioso na ação parlamentar.

            Conhecer o que a gente do povo pensa, o que a gente do povo sente e diz é importante.

            É imprescindível, para o político verdadeiramente compenetrado de sua missão.

            Em meus contatos habituais com a minha gente, com os meus coestaduanos de Minas Gerais, recolho sempre inspirações proveitosas para o trabalho que me cabe desenvolver no Senado da República.

            Procuro manter-me atualizado com relação aos sentimentos e aspirações populares autênticos e genuínos.

            Sei não estar trazendo novidade nenhuma à consideração de meus pares, quando faço este registro acerca da atenção que o homem comum dispensa costumeiramente aos acontecimentos da vida pública nacional. Acontecimentos, muitas vezes, em seu entendimento, de complexa interpretação, mas que acabam por influenciar e afetar, de um jeito ou de outro, a sua rotina de vida.

            Essas percepções de como funciona o sentimento das ruas, não passam, de modo algum, despercebidas, tenho certeza, aos ilustres senadores.

            Se dou ênfase ao óbvio é para proclamar que a intuição popular é poderosa e não falha. E que não podemos nunca, na atividade pública, nos esquecer disso.

            Ignorar a intuição popular é erro. Erro punido pela história, como tantas vezes já se viu.

            Estou retornando de uma série ampla de contatos com amigos, com eleitores, com gente do povo de todos os segmentos sociais. Trago desses contatos uma certeira convicção.

            A perplexidade é geral.

            De espanto em espanto, provocada pelo noticiário desconcertante do dia-a-dia, a opinião pública brasileira está possuída hoje de muita perplexidade.

            São ocorrências perturbadoras, pode-se afirmar, diárias. As manchetes se ocupam, o tempo todo, de denúncias, de escândalos, de malversações do dinheiro público, de acusações graves.

            Isso chega até o cidadão do povo, a dona de casa, o lavrador, o operário, com um impacto estrondoso.

            Desencadeia, no espírito de cada um, estranheza, indignação, dúvida, frustração.

            Não é difícil imaginar uma cena em que fique retratado esse estado de espírito agoniado.

            O chefe de família laborioso que tanto se esforça por desempenhar a contento seu papel na vida comunitária, se pergunta, várias vezes, o que anda acontecendo. Por que razão os seus problemas do cotidiano, afetos à administração pública, encontram tantos embaraços e dificuldades de solução?

            O chefe de família começa, então, a fazer associações das questões insolúveis que o atormentam com os nomes de personagens ilustres da vida pública, pessoas que freqüentam o seu apreço e admiração, pessoas em quem votou com entusiasmo e que estão sendo apontadas, talvez injustamente, em denúncias e acusações sérias.

            O dilema se instala. É verdade o que está sendo divulgado? É mentira?

            No mais das vezes, na troca áspera de palavras, no fogo cruzado das críticas e das respostas às críticas, que ele acompanha na mídia, essas indagações permanecem sem respostas.

            O chefe de família não entende que denúncias tão graves sejam lançadas sem os conseqüentes desdobramentos. Sem uma elucidação cabal e completa dos fatos.

            Ele não aventura juízos prévios de valor. Não entra, na maior parte dos casos, no mérito da questão publicamente e calorosamente discutida.

            O que mais desconforto lhe traz é perceber que as denúncias ficam soltas no ar.

            O nosso chefe de família é um homem de bem. Cultiva o senso de justiça. Vive, por esse motivo, sensação de mal-estar ao supor possa ser falsa ou improcedente a acusação envolvendo político que aplaude e admira, político em quem sempre votou.

            E, aí, ele indaga: por que não levar as apurações do fato, de todos os fatos denunciados, até as conseqüências derradeiras, até o esclarecimento definitivo e cabal de tudo?

            A simplicidade do raciocínio traz a assinatura da genuína sabedoria popular.

            A perplexidade das pessoas comuns, nascidas dessa avalancha de denúncias que invade a nossa mídia e as nossas tribunas, só tende a crescer e transformar-se numa reação mais contundente, caso sejam interceptadas as iniciativas de apuração e elucidação dos fatos.

            Chegamos a um momento na vida brasileira em que vacilações e hesitações, quanto aos rumos a serem assumidos por nós, não vão ser toleradas, nem absorvidas pela opinião pública.

            Não se trata de tomar partido nos acesos questionamentos. Não se trata de estabelecer prejulgamento a respeito de ninguém, a respeito de qualquer homem público.

            Não se trata de aceitar previamente, açodadamente, intempestivamente, como nocivo ao interesse nacional, esse ou aquele ato praticado pela administração, apontado em denúncia pública de qualquer origem. Nada disso.

            Não se trata de ficar ao lado de “A” ou de “B”, dessa ou daquela facção ou corrente, surpreendidas em aberta desavença na condução de temas polêmicos. Nada disso.

            O que se pede e se recomenda, com serenidade e bom senso, é que não se deixe tudo permanecer como está, para ver como é que fica.

            Não! Não mesmo, depois de tantas trovoadas e abalos estremecedores.

            Se a explicação é incompleta e insatisfatória; se a conclusão pelos processos normais de apuração não vem - todos os dilemas, dúvidas, desconfianças possíveis continuarão povoando e enodoando a vida pública.

            Lideranças importantes continuarão a enfrentar o descrédito popular. Poderão ser condenadas, antecipada e intempestivamente, sem que definida, na instância própria, sua inocência ou culpabilidade.

            A Casa será julgada incapaz, por não saber agir em sintonia com o sentimento e a intuição populares.

            A clareza e claridade das coisas administrativas e políticas fazem parte da essência democrática.

            Como democrata, que acredita na vocação de grandeza de meu país;

            Como brasileiro que vê no comportamento ético, na probidade e justiça social um roteiro de atuação política indesviável na busca da prosperidade nacional;

            Como cidadão interessado na transparência das atividades na vida pública e desprovido de qualquer intenção de estabelecer prévio juízo de valores;

            Como ser humano despojado de sectarismo e espírito de facção, ou qualquer outro sentimento menor;

            Desejo aqui anunciar firme e inabalável disposição de dar voto favorável, como Senador da República pelo Estado de Minas Gerais, a todo e qualquer pedido de abertura de inquérito parlamentar, que concorra para desfazer o clima de apreensão e desencanto que tomou conta, em nossos dias, da população brasileira.

            Ajo assim, consciente de ser este o melhor e único caminho para se solucionar, mais rápido, as questões tormentosas que aí estão e para se dar uma resposta convincente e satisfatória aos anseios e esperanças de nossa brava gente brasileira.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2001 - Página 3830