Discurso durante a 23ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

POSICIONAMENTO FAVORAVEL A POLITICA DE INCENTIVO DO GOVERNO FEDERAL PARA O SETOR AGROPECUARIO.

Autor
Iris Rezende (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Iris Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • POSICIONAMENTO FAVORAVEL A POLITICA DE INCENTIVO DO GOVERNO FEDERAL PARA O SETOR AGROPECUARIO.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2001 - Página 4366
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • REGISTRO, MELHORIA, REPUTAÇÃO, PECUARIA, BRASIL, POSTERIORIDADE, ESCLARECIMENTOS, CRISE, COMERCIO EXTERIOR, PAIS ESTRANGEIRO, CANADA, SAUDE, REBANHO, BOVINO.
  • DEFESA, INVESTIMENTO, GOVERNO, EXPANSÃO, AGROPECUARIA, PAIS, PLANEJAMENTO, CRESCIMENTO, PRODUÇÃO, EXPORTAÇÃO.

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, os últimos acontecimentos no plano internacional acabaram se revelando férteis em relação às perspectivas do Brasil que inicia a caminhada do século XXI.

É bem verdade que a polêmica a respeito do embargo do Canadá à carne brasileira nos tomou a todos de imensa surpresa. Mas, passada a tempestade, sempre vem a bonança e é preciso extrair lições daquele episódio para que o País possa superar as suas angustiantes diferenças sociais e se firmar na linha do crescimento.

O embargo do Canadá e a posterior suspensão das medidas num período relativamente curto acabaram por revelar ao mundo que o Brasil possui uma preciosidade, uma verdadeira jóia verde: o gado genuinamente herbívoro, o único imune a este terrível mal chamado encefalopatia espongiforme bovina, a BSE, a doença da vaca louca.

Não é só isso. Fica cada vez mais claro para as nações que o Brasil também vem superando com sucesso outra preocupante moléstia. A febre aftosa gradativamente vai sendo derrotada. Os casos registrados são isolados e estão sendo submetidos a rigoroso controle. Isso permitirá ao País em breve declarar todo o território nacional livre de quaisquer entraves sanitários.

Portanto, Sr. Presidente, o momento é oportuno para avançar, para abrir novos caminhos, para alcançar importantes conquistas capazes de alterar para melhor a rota da economia nacional.

Por que, na outra ponta, onde estão os chamados países do primeiro mundo, vai ficando evidente os reais perigos do progresso a qualquer preço.

A Europa e a América do Norte se lançaram com muita ênfase à sanha industrial. Praticamente destruíram toda a sua vegetação para construir gigantescas estruturas modernas que lhes garantiriam o topo no ranking do desenvolvimento. As primeiras conseqüências deste estilo empreendedor começam a surgir agora.

Sem áreas para disponibilizar pastagens, esses países recorreram aos métodos intensivos de criação de gado. A essência da natureza foi fortemente agredida com a alimentação à base de proteína animal para os ruminantes. O boi se tornou canibal e essa loucura acabou se transformando em epidemia, com resultados desastrosos para uma pecuária considerada avançada e de alta produtividade.

Ao lado da doença da vaca louca, a febre aftosa vai invadindo a Europa, deixando apreensivas as autoridades e levando as suas populações a mudanças nos hábitos alimentares, sacrificando o produto local.

É nesse cenário que surge o Brasil com uma mercadoria, digamos, primitiva: o boi verde, original, puro, saudável. Uma carne sobre a qual, hoje, não recaem suspeitas depois do atestado de sanidade a que o Canadá foi obrigado a oferecer ao mundo.

São situações como essa que devem nos levar a uma perfeita compreensão do momento, extraindo dividendos positivos para o Brasil dentro da lógica do mercado, mas sem jamais perder o referencial da qualidade e do imprescindível equilíbrio que deve marcar a relação do homem com o seu meio ambiente.

Se as autoridades tiverem ousadia, em conformidade com a nova conjuntura que se abre, o Brasil finalmente estará diante da grande chance de realmente expandir a sua economia com reflexos positivos no plano social.

O Governo pode, neste momento, implementar uma correta e oportuna política de incentivos para transformar o Brasil naquilo para o qual foi predestinado: ser um celeiro de alimentos, suprindo a sua gente e os demais países do planeta com os frutos de sua terra abençoada.

Basta uma visão de futuro, um planejamento calculado, oferecendo aos produtores os meios para que possam expandir enormemente os seus negócios. E, num curto espaço de tempo, será possível ver a Nação experimentando níveis de crescimento jamais alcançados, sem cometer os dramáticos erros que levam hoje a Europa e a América do Norte a um estágio de pura apreensão.

Os primeiros números divulgados pelo ministério da Agricultura desde a crise com o Canadá surpreendem e são um claro sinal de que as portas de fato estão abertas para a pecuária brasileira.

A ocorrência da febre aftosa e do mal da vaca louca nos países europeus fez aumentar em 90 por cento as exportações da carne suína brasileira no primeiro bimestre do ano em relação ao mesmo período do ano anterior. Foram exportados 17 milhões de dólares nos meses de janeiro e fevereiro de 2000. Esses números já chegam a 33 milhões de dólares em 2001.

Também a exportação da carne de frango apresenta crescimento no primeiro bimestre em relação ao ano passado. O incremento é na ordem de 37 por cento. Nos primeiros dois meses de 2000, o País exportou 125 milhões de dólares em carne de frango. Neste ano, o total chega a 172 milhões de dólares.

Mas a grande perspectiva que se apresenta é em relação à carne bovina. O Brasil é hoje o terceiro maior exportador, atrás somente da Austrália e dos Estados Unidos. Até o ano de 2005, o País deverá estar na liderança, abrindo enormes mercados para expandir os nossos produtos, devolvendo a esperança ao sempre sacrificado setor primário.

Hoje, 90 por cento da carne produzida no Brasil é consumida pelo próprio mercado interno. O que se propõe, no caso, é o aumento da produtividade para expandir as exportações e propiciar um novo alento ao produtor. Nesse processo, torna-se imprescindível persistir na linha da sanidade animal aliada ao aperfeiçoamento tecnológico e à rigorosa preservação do meio ambiente.

Sr. Presidente, o cenário é de desafios e, pela primeira em muitos anos, o mundo oferece uma oportunidade real para que o Brasil possa exibir a sua eficiência e a sua qualidade.

Os estudiosos projetaram o século XXI como o cenário em que fatalmente eclodirá a crise das águas, tamanha a agressão perpetrada contra a natureza nos diversos continentes. Não se estranhará que, antes, possa eclodir estágios de escassez de alimentos em face das aberrações cometidas, originando doenças que dizimam a criação de animais, gerando apreensão e insegurança.

O Brasil foi agraciado pela ampla extensão territorial, pelo clima favorável, pela ausência de catástrofes naturais. Tem todas as condições de ser um marco diferencial, suprindo as necessidades das outras nações através dos frutos da sua terra.

Para isso, é preciso, sem dúvida, decisão política para fortificar a nossa verdadeira vocação, proporcionando uma inédita e necessária volta ao campo, valorizando as nossas raízes enquanto o meio mais rápido e racional de atingir a abundância e a prosperidade.

Investir pesado no setor primário é a autêntica visão do estadista, que tem a oportunidade de ouro de iniciar um novo ciclo na economia nacional, apoiando o trabalho e acreditando na perseverança própria do povo brasileiro.

É a partir daí que poderemos realmente pensar em dar um basta à fome que persiste em nosso meio, estimulando a agropecuária como a grande senha para atacar as gritantes desigualdades sociais que deixam mais de 30 milhões de brasileiros sufocados abaixo da linha da miséria.

Dar uma trégua no excessivo monetarismo e abrir uma linha de créditos histórica para alavancar uma revolução no setor primário: o governante que fizer essa aposta estará, finalmente, desvendando a grande via por onde vai jorrar o progresso.

É tempo de semear. E quem semeia, colhe.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2001 - Página 4366