O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sr^as e Srs. Senadores, as carências que afligem os trabalhos de pesquisa em nosso País são bastante conhecidas e lamentadas. Os nossos cientistas, quando não são atraídos por outros países e multinacionais que lhes oferecem melhores condições de trabalho, não raro defrontam com dificuldades, às vezes elementares, que os levam ao desânimo. As dificuldades começam pelos parcos salários que os organismos brasileiros lhes oferecem e têm continuidade na falta de aparelhamentos e de outros instrumentos necessários aos estudos que são desenvolvidos.

Nada obstante, ainda contamos com abnegados cientistas e técnicos, da mais alta qualificação, que oferecem sua devoção às pesquisas que interessam sobremodo à economia brasileira. A Empresa Brasileira de Pesquisa agropecuária - Embrapa - é um desses organismos dedicados aos estudos vinculados ao interesse nacional, abrangendo vários setores da economia.

Ainda recentemente, uma bem elaborada reportagem na televisão brasileira demonstrou que algumas dezenas de descobertas científicas da Embrapa já haviam sido concluídas no ramo da alimentação. Entre outras, processos inéditos - após anos de pesquisas - de aproveitamento econômico de enriquecimento e conservação de alimentos com produtos genuinamente brasileiros, o que baratearia sobremodo as mesas dos consumidores e a merenda escolar, por exemplo. No entanto, poucas dessas descobertas despertaram o interesse das nossas indústrias, levando desânimo aos próprios cientistas que em torno delas trabalharam indormidamente. Um deles resumiu o problema da seguinte maneira: se o Governo Federal demonstrasse real atenção para essas descobertas, que interessam sobremodo à nossa economia e ao bem-estar da população, todas elas seriam amplamente aproveitadas.

No momento em que o mundo inteiro fala na extraordinária descoberta científica da clonagem - e discute suas implicações éticas -, a nossa Embrapa acaba de processar, com grande êxito, o nascimento do primeiro animal clonado brasileiro: uma bezerra da raça Simental, que nasceu na Fazenda Sucupira, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura.

Resultado da tecnologia de transferência nuclear, essa clonagem foi o primeiro passo para o Brasil dominar essa tecnologia avançada, que constitui a base da aplicação prática da transferência nuclear nos programas de conservação e melhoramento animal.

As pesquisas em reprodução animal na Embrapa iniciaram-se em 1984 - portanto, há 17 anos -, com o objetivo de viabilizar o Banco de Germoplasma. A clonagem de embriões consiste em produzir, a partir de células embrionárias fetais ou do indivíduo adulto, um número elevado de indivíduos idênticos. Estudos de simulação demonstram que a combinação da clonagem com as demais técnicas de multiplicação animal permitirá obter, em um ano, o ganho genético equivalente a 12 anos de seleção e multiplicação pelos métodos tradicionais.

O sucesso da Embrapa é o resultado de núcleos transferidos de um embrião de cinco dias coletado de uma vaca Simental pela técnica clássica de transferência de embriões. Tanto a gestação quanto o parto ocorreram normalmente, dando origem a um novo animal sadio, a inaugurar um novo ciclo da melhoria de nosso rebanho bovino.

Para o Diretor-Presidente da Embrapa, Alberto Duque Portugal, o domínio da tecnologia de clonagem animal pelo Brasil possibilitará a reprodução acelerada de animais geneticamente superiores, a evolução de pesquisas de transgenia animal e, também, a reprodução de raças de animais ameaçadas de extinção no território nacional.

Sr. Presidente, Sr^as e Srs. Senadores, no Maranhão, a atuação da Embrapa também se faz efetiva para solucionar problemas seculares, como o do aproveitamento econômico do babaçu, farto no meu Estado. Segundo noticiou o jornal O Estado do Maranhão, edição de 12 de março deste ano, a Embrapa encontra-se em processo de articulação com o Governo do meu Estado, com o objetivo de transferir tecnologias apropriadas para a agricultura familiar. Estudos preliminares, segundo a reportagem, já foram realizados para a identificação de demandas, e vários trabalhos serão realizados nas mais diversas regiões do Maranhão.

Umas das prioridades da empresa será o apoio técnico ao Projeto Quebra Coco, desenvolvido no Município Itepecuru-Mirim, em assentamento do Incra. O projeto apresenta, portanto, amplo alcance social, econômico além da sustentabilidade ambiental.

Nos estudos preliminares implementados pela Embrapa no Maranhão, foram identificados, em relação ao babaçu, aspectos que precisam da atenção especial do órgão. Fazem-se importantes medidas como a adequação da máquina quebradeira de coco, para a melhoria da relação custo-benefício do babaçu; a análise do mesocarpo, óleo e de outros componentes do fruto babaçu, visando o consumo humano e o aproveitamento residual para alimentação de pequenos e médios animais, como aves, suínos, caprinos e ovinos; o estabelecimento de sistemas agroflorestais, como o uso de fruteiras e grãos em meio aos babaçuais, além da prática de agricultura orgânica, apicultura, agroindústria e organização social.

A máquina quebradeira adequada será uma benção para aqueles que têm as mãos calejadas por um trabalho manual que não mais se justifica nesse estágio da tecnologia. Como sabem os meus nobres colegas, a quebra do coco de babaçu é um trabalho insano, manual, a que se dedicam principalmente as mulheres e as crianças maranhenses.

Ainda no Maranhão, a Embrapa Monitoramento por Satélite, de Campinas - SP, está ampliando e atualizando o zoneamento econômico-ecológico estadual, que ficará pronto no segundo semestre de 2001. O Estado passará a ter, como esse zoneamento, um instrumento totalmente digital, dinâmico e passível de atualizações permanentes.

Tais sucessos alcançados pelos nossos cientistas e técnicos - e hoje destaco os da Embrapa - precisam ser amplamente divulgados e conhecidos. Só assim despertarão o interesse que se traduza no maior estímulo ao extraordinário e quase anônimo trabalho que ali se realiza.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.