Discurso durante a 37ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM A BRASILIA, PELO TRANSCURSO DOS 41 ANOS DE SUA FUNDAÇÃO. APLAUSO AO EXERCITO BRASILEIRO, CUJO DIA COMEMORA-SE HOJE.

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM A BRASILIA, PELO TRANSCURSO DOS 41 ANOS DE SUA FUNDAÇÃO. APLAUSO AO EXERCITO BRASILEIRO, CUJO DIA COMEMORA-SE HOJE.
Aparteantes
Carlos Patrocínio, José Alencar, Valmir Amaral.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2001 - Página 6637
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF).
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, EXERCITO, BRASIL.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a primeira hora do Expediente foi destinada às comemorações do 41º aniversário de Brasília, e o ilustre Senador Valmir Amaral, em nome de toda a Casa, fez um pronunciamento à altura desta Instituição, homenageando Brasília, esta cidade jovem, patrimônio da humanidade, planejada e construída sob a égide do maior estadista que o Brasil conheceu em todas as épocas, Juscelino Kubitschek de Oliveira. Portanto, Brasília é o orgulho de todos nós, brasileiros.

Associo-me também ao Senador Valmir Amaral, apresentando as minhas congratulações a todos os brasilienses por essa data extremamente significativa e importante.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Brasília nasceu na minha cidade de Jataí, no dia 4 de abril de 1955, quando um cunhado meu, casado com a minha irmã mais velha, indagou Juscelino, lá do meio da multidão, se ele, eleito Presidente, cumpriria o dispositivo constitucional transferindo a Capital para o Planalto Central. E Juscelino, exatamente nesse dia, 4 de abril de 1955, na minha cidade natal, em Jataí, assumiu esse compromisso, que doravante passou a ser bandeira de campanha daquele que eu e o Brasil consideramos o maior estadista de todos os tempos.

Dessa forma, tenho muitos motivos para me orgulhar de Brasília; aliás, todos nós, brasileiros, temos muitos motivos para nos orgulharmos de Brasília.

Portanto, associo-me ao brilhante pronunciamento do Senador Valmir Amaral, que representou esta Casa nas comemorações do 41º aniversário de Brasília.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, 19 de abril é uma data que não pode também passar desapercebida. Trata-se de um dia de grande significado histórico, social e patriótico. É dia de render homenagens ao Exército Brasileiro, uma instituição que sempre cumpriu, com brilho, dignidade e altivez, suas funções institucionais de defesa da Pátria.

Dezenove de abril relembra a memorável Batalha dos Guararapes, em 1648, quando os combatentes brasileiros gloriosamente conseguiram vencer os três mil homens do exército invasor da Companhia das Índias Ocidentais, numa verdadeira epopéia patriótica.

Hoje, em todos os recantos do Brasil, inúmeras atividades marcarão a passagem deste aniversário, lembrando à sociedade a importância do Exército. Do alto desta tribuna, faço questão de prestar a minha homenagem e o meu reconhecimento a essa grande instituição.

Fico muito à vontade quando falo do Exército Brasileiro, porque pude conhecê-lo por dentro, pude conhecer essa instituição como um dos seus integrantes. Nos anos de 1969 e 1970, tive a honra de servir ao País como soldado do Batalhão da Guarda Presidencial, o BGP, aqui mesmo, em Brasília. Foi um período rico em aprendizado, onde recebi os ensinamentos fundamentais na formação de meu caráter e de meu comportamento. A formação definitiva da personalidade de uma pessoa se dá na fase final da adolescência, quando os jovens tornam-se aptos ao serviço militar. Os ensinamentos obtidos no Exército foram determinantes para minha existência e para que eu obtivesse êxito em minha carreira pública.

Foi um período em que pude receber orientações filosóficas, disciplinares, humanas e religiosas, que me auxiliaram a redimensionar a vida humana e a relação com Deus. Em todos os momentos de minha vida pessoal e pública, em circunstâncias favoráveis ou não, utilizo-me dos ensinamentos de nossos comandantes e instrutores: serenidade, humildade, honestidade, amor à verdade e ao trabalho, firmeza de atitudes, tenacidade, disciplina, lealdade e, acima de tudo, amor consciente ao Brasil e ao povo brasileiro.

As lembranças que tenho do meu período no Exército me emocionam. No BGP, um batalhão que sempre teve o conceito de unidade de elite do Exército brasileiro, vivi o momento mais marcante de minha juventude, que se perpetuará, sem dúvida nenhuma, em minha memória até o último dia de minha vida. Foi quando recebi, das mãos do Comandante General Manuel de Jesus e Silva, hoje na reserva, o Diploma e a Barreta de Praça Mais Distinto do Exército brasileiro. É uma honraria concedida àqueles soldados que se destacam pelo desvelo na instrução, pela disciplina e pelo mérito intelectual demonstrado no exercício do serviço militar. É um reconhecimento que guardo no fundo de minha alma e que levarei comigo para a eternidade.

Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, segundo os historiadores, as origens do Exército brasileiro remontam às primeiras décadas que se seguiram ao descobrimento do nosso País. Naqueles primeiros instantes de nossa formação, a tarefa mais importante desse embrião do Exército era a de uniformizar a administração, conter insurreições, perseguir contrabandistas e combater os conquistadores que ameaçavam nossas costas, as costas brasileiras.

Nos meses seguintes à Independência, em 1822, a atuação do Exército foi decisiva para derrotar as tentativas de fragmentação territorial do País. A manutenção da unidade nacional é decorrente em grande parte de suas ações e, em particular, da ação do grande brasileiro Duque de Caxias. Também no período da proclamação e consolidação da República, o Exército atuou como moderador que garantiu a sobrevivência das instituições.

Ao longo de nossa história, o Exército esteve vigilante em defesa da nacionalidade, de nossa estruturação política e moral, de nossa unificação geográfica, enfim, das nossas bases e da nossa soberania.

Relembrando acontecimentos históricos mais recentes, percebemos que o Exército brasileiro sempre interferiu em defesa dos interesses superiores do Brasil com responsabilidade, com altivez e com total independência. Em 1917, na efervescência da Primeira Guerra Mundial, o Exército foi chamado a intervir no conflito. O Brasil, que até aquele momento estava neutro, reagiu com coragem diante da inaceitável agressão por parte da Alemanha, quando torpedeou o nosso navio mercante Paraná, de seis mil toneladas.

Daí em diante, até o final do confronto, pela primeira vez em sua história, missões militares brasileiras partiram com destino ao cenário de guerra. Enquanto isso, nos quartéis brasileiros, oficiais e soldados despertavam as suas energias patrióticas e repetiam em coro os brados que irrompiam dos lábios do grande poeta Olavo Bilac:

A caserna é uma escola. Sendo soldados, sereis cidadãos. Não podemos, nesta terrível fase da vida da humanidade, admitir que um cidadão deixe de ser soldado. Quando se trata de defender a família e a pátria, a fraqueza é um crime, e o descuido é uma desonra.

            Com seus navios de guerra, aviadores, oficiais e uma Missão Médica Especial, o Brasil cooperou com a vitória final das tropas aliadas, consagrada definitivamente em 1918. Dezenas de oficiais e soldados do nosso Exército destacaram-se nas linhas de frente e receberam condecorações que honraram a Pátria pela bravura diante do inimigo.

Vinte e cinco anos mais tarde, em 1942, o País anunciou o rompimento de suas relações diplomáticas com a Alemanha, Itália e Japão, que formavam as forças do chamado Eixo. Novamente agindo em defesa da soberania, ferida pelas agressões alemãs, o Exército brasileiro partiu para enfrentar um novo conflito mundial de grandes proporções. Entre continuar fornecendo matérias-primas para os países democráticos em guerra contra o nazi-fascismo, o Brasil optou por participar diretamente das operações militares na Itália.

Na planície que borda o Mar Tirreno se deu o batismo de fogo das tropas brasileiras. Mas foi, sobretudo, em Monte Castelo, em Montese e em Fornovo, em meio à lama, à chuva persistente, às nevascas inclementes e ao frio insuportável, que nossos combatentes mostraram a sua fibra naqueles combates. A tomada de Montese ficou marcada: foi lá que se travou o combate mais sangrento e mais importante da campanha de nossas tropas na batalha dos Apeninos. Os nossos feitos e vitórias, inegavelmente, são a síntese do valor da nossa gente e o símbolo de nossa vocação democrática.

O Sr. Carlos Patrocínio (PFL - TO) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Ouço, com muito prazer, o Senador Carlos Patrocínio, representante do querido Estado vizinho e irmão, o Tocantins.

O Sr. Carlos Patrocínio (PFL - TO) - Senador Maguito Vilela, gostaria de associar-me às manifestações de aplauso ao glorioso Exército brasileiro por ocasião de sua data comemorativa. Como V. Exª, sinto-me também muito orgulhoso por ter pertencido às fileiras do Exército brasileiro. Nos idos de 1964, concluí o curso de CPOR na Cavalaria, em Belo Horizonte. Guardo até hoje lembranças indeléveis de como se forma e modula um caráter naquela casa de ensinamento, talvez das melhores que o nosso País tenha. Lá, aprende-se a respeitar a hierarquia, vendo-se que os seus comandantes são homens que têm verdadeiramente o espírito voltado para o sentimento nativista, de amor à Pátria. V. Exª já enumerou diversos feitos gloriosos, embora sangrentos, de que o Exército brasileiro participou, e eu, com o orgulho que tenho, até fiz ver aos meus dois filhos que gostaria muito que eles servissem ao Exército. No entanto, as coisas mudaram muito de lá para cá, eminente Senador Maguito Vilela. Naquela época, éramos requisitados a servir ao Exército brasileiro ou a outro membro das Forças Armadas, a Aeronáutica ou a Marinha. Hoje, muitos querem servir, mas os recursos que o Exército recebe são parcos, não sendo possível que todos sirvam, pelo menos durante um ano, para terem noção do que representa efetivamente o Exército brasileiro na formação da personalidade e do caráter de um homem. Para terminar, Senador Maguito Vilela, assim que o ex-Senador Elcio Alvares, nosso grande amigo e colega, assumiu o Ministério da Defesa, havíamos formulado um requerimento para discutirmos o papel das Forças Armadas na segurança interna do País. Sabemos que, constitucionalmente, o Brasil cuida da segurança das suas fronteiras protegendo-as de ameaças externas. Porém, gostaríamos - aproveito o discurso de V. Exª para chamar a atenção para esse assunto - de suscitar uma discussão importante, qual seja, o papel das Forças Armadas na garantia do cidadão brasileiro, porque as polícias militares e civis já não estão dando conta de dar ao brasileiro a proteção que ele merece. Gostaria apenas de suscitar en passant essa questão que gostaria de ver debatida no seio desta Casa. Cumprimento V. Exª pelo magnífico discurso que faz nesta manhã.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço a V. Exª e incorporo o seu aparte com muita honra ao meu pronunciamento. Fico feliz de saber que V. Exª integrou também as fileiras do Exército brasileiro na cavalaria - eu fui granadeiro -, fico especialmente honrado por ouvir esta notícia de V. Exª.

O Sr. Valmir Amaral (PMDB - DF) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Concedo também um aparte, com muita honra, ao nobre Senador Valmir Amaral.

O Sr. Valmir Amaral (PMDB - DF) - Senador Maguito Vilela, é motivo de muita honra para mim estar aqui ouvindo as suas palavras. Com muita emoção, vejo V. Exª contar que iniciou a sua vida como soldado do Exército. Quero, aqui da minha cadeira, dar o meu testemunho e dizer que Goiás foi premiado duas vezes - não só Goiás, também o Brasil -, pois V. Exª foi o melhor governador que Goiás já teve e, naquela época, um dos melhores governadores do Brasil. V. Exª está hoje nesta Casa representando o seu Estado como Senador da República, como um senador atuante, que levanta a bandeira do seu Estado, que trabalha com muita honradez, honestidade e com muita sinceridade. V. Exª traz do Estado de Goiás um exemplo para o Brasil, um exemplo para esta Casa, um exemplo para todos os políticos - e o que mais precisamos é de exemplos de honestidade, de seriedade. Desde que entrei nesta Casa, nunca ouvi falar nada contra V. Exª. Desejo-lhe, portanto, o maior sucesso. Fico feliz em saber que iniciou a sua vida muito humildemente como um soldado do Exército. Parabenizo V. Exª e parabenizo o Estado de Goiás por ter V. Exª como representante.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço a V. Exª pelo aparte e pelas palavras generosas, frutos, naturalmente, da nossa amizade. Realmente sinto-me orgulhoso de ter chegado aqui em Brasília, vindo da roça, deixando de ser engraxate para pegar uma farda e um fuzil. Como soldado, estive no Palácio do Planalto vigiando o Presidente da República; fiz guarda também no Palácio da Alvorada, na Granja do Torto e na porta desta instituição. Como soldado do Exército, parti com muita coragem, muita determinação e com muito idealismo para a vida pública, candidatando-me a vereador, depois a deputado estadual, deputado federal, vice-governador, governador e senador da República.

Estou aqui, nesta tribuna, vindo dali, daquela guarita que policia a segurança dos presidentes da República - eu dava segurança ao Presidente Costa e Silva quando S. Exª sofreu ima isquemia cerebral; passei 24 horas sem dormir em frente ao Palácio do Planalto.

O Sr. José Alencar (PMDB - MG) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Com muito prazer, concedo aparte ao ilustríssimo Senador mineiro José Alencar .

O Sr. José Alencar (PMDB - MG) - É realmente excepcional ouvir o pronunciamento de V. Exª, especialmente no que diz respeito a essa sua forma de se lembrar do seu passado: ela mostra a força do seu caráter, porque V. Exª tem orgulho do seu passado. Todas as vezes em que V. Exª se refere ao seu passado, traz este exemplo de quem se orgulha de cada minuto que viveu, mesmo que esses minutos tenham se passado em circunstâncias menos favoráveis em relação a luta pela vida. V. Exª os viveu com dignidade, como tudo o que V. Exª tem feito na vida. Por isso, quero trazer uma palavra de congratulação: não a V. Exª mas, ao povo de Goiás, por possuir aqui no Senado uma representação tão rica, de caráter tão forte e puro, como é o caso de V. Exª. Meus parabéns, povo de Goiás, por ter elegido para representar o Estado de Goiás no Senado da República este grande cidadão brasileiro, que é o nosso companheiro, o Senador Maguito Vilela.

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço muito a V. Exª pelas palavras, generosas, principalmente porque partem de um Senador que também lutou bravamente e venceu, um dos homens mais bem sucedidos deste País, homem de visão longa, homem que sonha alto, continua sonhando alto com a Pátria brasileira. Agradeço muito a V. Ex.ª

Sr. Presidente, ainda tinha algumas palavras para proferir, mas, diante da premência do tempo, gostaria que V. Ex.ª desse como lido o restante do meu pronunciamento.

Ao finalizar, deixo aqui os meus mais sinceros cumprimentos e homenagens ao Exército brasileiro no dia consagrado a esta instituição, aos comandantes, aos oficiais, aos soldados. Meus cumprimentos especiais ao Comandante do Exército, General Gleuber Vieira, que se destaca pelo trabalho extraordinário que vem realizando. Minhas saudações aos membros do glorioso BGP, onde, como já disse, tive a oportunidade de servir como granadeiro - particularmente ao atual comandante, Coronel Haroldo Assad Carneiro, que sempre me recebeu naquele batalhão com uma distinção que me faz sentir como se ainda fosse membro daquela corporação.

O Exército é realmente uma escola de ideais. Muito bem o definia o Capitão José Batista de Queiroz, que comandava a Terceira Companhia do BGP em 1969: “No Exército se aprimoram as virtudes. Os brasileiros se encontram e se igualam, as raças se unem e os preconceitos se extinguem. Os esforços se conjugam e as histórias se escrevem. O Exército é uma escola onde formam-se homens”.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2001 - Página 6637