Pronunciamento de Leomar Quintanilha em 23/04/2001
Discurso durante a 39ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
NECESSIDADE DE AMPLIAÇÃO NA ABORDAGEM DAS CAMPANHAS DE PREVENÇÃO A AIDS PARA AS PESSOAS IDOSAS.
- Autor
- Leomar Quintanilha (PPB - Partido Progressista Brasileiro/TO)
- Nome completo: Leomar de Melo Quintanilha
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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SAUDE.:
- NECESSIDADE DE AMPLIAÇÃO NA ABORDAGEM DAS CAMPANHAS DE PREVENÇÃO A AIDS PARA AS PESSOAS IDOSAS.
- Aparteantes
- Carlos Patrocínio.
- Publicação
- Publicação no DSF de 24/04/2001 - Página 6940
- Assunto
- Outros > SAUDE.
- Indexação
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- ANALISE, CRESCIMENTO, SINDROME DE IMUNODEFICIENCIA ADQUIRIDA (AIDS), POPULAÇÃO, IDOSO, BRASIL, SOLICITAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ATENÇÃO, GRAVIDADE, PROBLEMA.
- DEFESA, MINISTERIO DA SAUDE (MS), ESCLARECIMENTOS, IDOSO, PERIGO, CONTAMINAÇÃO, DOENÇA TRANSMISSIVEL.
- DEFESA, URGENCIA, INCLUSÃO, IDOSO, CAMPANHA, PREVENÇÃO, SINDROME DE IMUNODEFICIENCIA ADQUIRIDA (AIDS).
O SR. LEOMAR QUINTANILHA (Bloco/PPB - TO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho à tribuna nesta tarde para, mais do que uma denúncia, fazer um apelo às autoridades brasileiras, notadamente às autoridades da área da saúde, o Ministro José Serra, buscando a atenção para um problema da maior gravidade, que cresce em ritmo por demais acelerado em nosso País.
O Brasil conta hoje com cerca de 14 mil pessoas, com 50 anos ou mais, infectadas pelo vírus HIV, e muitos delas já doentes de AIDS. Desse total, 3.604 pessoas têm idade acima de 60 anos! A maior incidência atinge as pessoas com idade entre 50 e 59 anos, que somam mais de 10 mil.
As campanhas oficiais são criadas e veiculadas para alertar a população jovem. Faz-se necessário que o Ministério da Saúde, que realiza um trabalho extraordinário nesse campo, amplie mais a abordagem, incluindo nas propagandas pessoas idosas, pois também estão sendo atingidas pelo vírus HIV, muitas delas acreditando que só os jovens estão sujeitos à contaminação.
Segundo informações que recebemos, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pessoas idosas, homens e mulheres, viúvas ou divorciadas ativas sexualmente, estão buscando relacionamentos com pessoas mais jovens, sem tomarem qualquer precaução contra doenças sexualmente transmissíveis.
Em meu nome, como Presidente da Subcomissão Permanente do Idoso do Senado Federal e dos demais ilustres membros, entendemos que o Ministério da Saúde deve tomar providências urgentes para levar mensagens esclarecedoras a toda a população idosa brasileira quanto aos perigos de contaminação a que estão sujeitos.
Grupos de amparo aos doentes de AIDS, como o Arco-Íris, aqui de Brasília, possuem dados alarmantes quanto ao que a maioria das pessoas idosas contaminadas dizem: “Na minha idade, não há mais perigo. A AIDS não penetra no meu organismo!”
O Sr. Lisboa, Diretor do Grupo, conta o caso de uma senhora com mais de 60 anos que compareceu perante ele para pedir ajuda. Estava acompanhada de uma jovem que informou ser sua neta. O técnico chamou a menina para a sala de atendimento e começou a indagar como ela se contaminou. A moça, espantada, informou que não era ela a contaminada, e sim a sua avó!
Essa vovó contou que, após cinco anos de viuvez, manteve um caso, durante um ano, com um homem de 55 anos, quando ele adoeceu gravemente, vindo a falecer, e a causa da morte foi a AIDS. Após realizar vários exames, ela constatou ser soropositiva HIV, ainda sem os sintomas da AIDS.
Outro caso grave registrado foi o de um cidadão que, após se aposentar, reuniu a família e comunicou que a partir daquele momento ficaria livre para viver a sua vida. Passara todos os bens em nome da esposa e dividira o seu salário de aposentado pela metade para garantir a subsistência dela. Não atendeu aos apelos dos quatro filhos, todos com curso superior. Esse aposentado de 55 anos foi viver com uma jovem com quem já mantinha um caso. Um ano depois, a jovem morreu. A causa da morte foi diagnosticada como AIDS. Ele fez exame e constatou que estava com o vírus e há dois anos está doente com AIDS. A família já não o aceitou mais e ele está vivendo seus últimos dias de vida amparado pelo Grupo Arco-Íris.
Cito esses dois casos, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para destacar a gravidade do problema atual dos idosos em relação ao vírus HIV e a necessidade urgente da inclusão do segmento idoso nas campanhas contra a AIDS.
Como informa o IBGE no último Censo, nosso País conta hoje com mais de 14 milhões de pessoas com idade acima de 60 anos, e a idéia de que as pessoas idosas não se interessam pelo sexo não é verdadeira. A sexualidade do ser humano não depende da idade, mas da saúde. A ciência está tão avançada neste campo que permite às pessoas se manterem sexualmente ativas, tenham a idade que tiverem.
O Sr. Carlos Patrocínio (PFL - TO) - Permite-me V. Exª um aparte, eminente Senador Leomar Quintanilha?
O SR. LEOMAR QUINTANILHA (Bloco/PPB - TO) - Ouço, com muito prazer, V. Exª.
O Sr. Carlos Patrocínio (PFL - TO) - Eminente Senador Leomar Quintanilha, eu gostaria de louvar sua iniciativa de trazer um assunto tão importante ao plenário desta Casa, nesta tarde de hoje. Na realidade, tem-se preocupado com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, Aids, sobretudo no segmento jovem da população, esquecendo-se de que os velhos também podem contrair o vírus HIV. Jamais ouvimos, em qualquer programa televisivo, de jornal ou de propaganda oficial do Governo, alerta específico para os membros da terceira idade. Como V. Exª alerta, nos próximos vinte ou trinta anos, teremos a supremacia das pessoas da terceira idade compondo a população brasileira. Então, é necessário que se alerte também à categoria da terceira idade ou às pessoas com mais de cinqüenta anos para os perigos que podem advir de uma pouca informação. Além do mais, eminente Senador, sabemos hoje que estão sendo produzidos medicamentos que restabelecem a virilidade masculina e que também esses produtos são utilizados com muito eficácia no segmento feminino. Esse é um fator de que a sexualidade do ser humano será prolongada cada vez mais. Como V. Exª assegura, devemos tratar de maneira igual as diversas categorias. Evidentemente, temos de nos voltar principalmente para a classe jovem, já que falta um pouco de experiência, talvez de juízo, no segmento mais jovem da população. No entanto, há também esse descuido por parte das pessoas mais velhas, ao pensarem que nunca vão contrair essa enfermidade ou que, se a contraírem, a doença só se manifestará dez, quinze ou vinte anos depois, quando estiverem perto de morrer. Na realidade, a ciência e a tecnologia moderna indicam que, ainda neste século que está começando agora, será comum o homem ter 120 ou 130 anos de idade devido à decodificação do genoma humano, do código genético do homem. Trataremos das doenças que o ser humano teria quando chegasse à idade adulta. Portanto, é muito importante o seu alerta. V. Exª citou exemplos claros que devem estar ocorrendo em muito maior número. Cumprimento V. Exª e engrosso o coro às autoridades do nosso País, sobretudo ao Ministro José Serra, para que também tratem, com toda cautela, dessa questão da Aids junto ao segmento da terceira idade em nosso País.
O SR. LEOMAR QUINTANILHA (Bloco/PPB - TO) - Nobre Senador Carlos Patrocínio, foi observando essa falha na propaganda oficial que decidi fazer esse alerta. Efetivamente, o Ministério da Saúde, que vem desempenhando um papel muito importante, principalmente na medicina preventiva em nosso País, e colhendo bons resultados.
Mas, nesse aspecto, há uma falha quando direciona esse tipo de propaganda à população jovem do País. Na verdade, com a melhoria da qualidade de vida que as pessoas estão experimentando e com a sua ampliação de expectativa de vida com qualidade, a sexualidade está muito ativa nas pessoas mais maduras e vem multiplicando-se. A projeção que a Subcomissão do Idoso no Senado já faz é de que, nos próximos 20 anos, essa população de idosos, ou seja, pessoas com mais de 60 ou 65 anos, já serão em torno de 18% da população. Estaremos falando de aproximadamente 35 milhões de pessoas, uma parcela extremamente considerável da população brasileira - para a qual precisamos estar atentos não só para melhoria da sua qualidade de vida, mas para a reinserção do idoso no mercado de trabalho. Nesse aspecto, já que a medicina ainda não conseguiu debelar esse mal que vem mutilando muitas vidas que é a Aids, é importante que esse alerta seja direcionado também para o idoso.
Além desse pronunciamento nesta Casa, estou endereçando um expediente ao Ministro da Saúde e visitá-lo-ei pessoalmente para conclamar o seu Ministério a imediatamente ampliar a divulgação, alertando o idoso para os perigos que estão ocorrendo.
Era o que tinha a registrar nesta tarde, Sr. Presidente.
Muito obrigado.