Pronunciamento de Eduardo Suplicy em 26/04/2001
Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
CONSIDERAÇÕES SOBRE A SUA PLATAFORMA A PRE-CANDIDATURA A PRESIDENTE DA REPUBLICA.
- Autor
- Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
- Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA PARTIDARIA.
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- CONSIDERAÇÕES SOBRE A SUA PLATAFORMA A PRE-CANDIDATURA A PRESIDENTE DA REPUBLICA.
- Aparteantes
- Lauro Campos, Maguito Vilela.
- Publicação
- Publicação no DSF de 27/04/2001 - Página 7345
- Assunto
- Outros > POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
-
- DEFESA, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, BRASIL, PROPOSTA, CRESCIMENTO ECONOMICO, JUSTIÇA SOCIAL, AMBITO, PROGRAMA POLITICO, CANDIDATURA, ORADOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
- REGISTRO, CONSULTA, MEMBROS, ASSOCIADO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DECISÃO, ORADOR, CONCORRENCIA, INDICAÇÃO, CANDIDATURA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
- COMENTARIO, DIVULGAÇÃO, IMPRENSA, RELATORIO, AGENCIA BRASILEIRA DE INTELIGENCIA (ABIN), IDENTIFICAÇÃO, AUTORIA, BANCO DO BRASIL, GRAVAÇÃO, ESCUTA TELEFONICA, LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DAS COMUNICAÇÕES (MC), ANDRE LARA REZENDE, EX PRESIDENTE, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), IRREGULARIDADE, PRIVATIZAÇÃO, SISTEMA, TELECOMUNICAÇÕES BRASILEIRAS S/A (TELEBRAS).
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, assim como foi possível ao Presidente Juscelino Kubitschek transferir a Capital para o Centro-Oeste e construir Brasília em apenas um mandato presidencial, será possível ao Brasil, num mandato de quatro anos, implementar políticas que o transformem numa Nação civilizada e justa, deixando o posto, nada honroso, de ser um dos campeões mundiais de desigualdade socioeconômica.
Para isso, deveremos considerar valores que não sejam simplesmente a busca do interesse próprio, como o de se levar vantagem em tudo, mesmo que pisoteando em nossos próximos. É claro que todos desejamos o progresso, nosso e de nossos filhos, mas teremos sobretudo que levar em conta os valores que são próprios da história da humanidade e do Brasil, da busca incansável por justiça, verdade, liberdade, igualdade, solidariedade, fraternidade e democracia.
Dentre os instrumentos compatíveis com esses valores e objetivos, destaco: a realização mais rápida da reforma agrária, num ritmo maior do que o da expulsão das famílias do campo; a instituição de uma renda básica garantida como um direito universal a todos os residentes no Brasil, com vistas a assegurar que todos tenham o direito inalienável de participar da riqueza da Nação, ampliando o grau de liberdade de cada pessoa; a implementação do orçamento participativo, para que todos possam efetivamente influenciar as decisões de alocação dos recursos públicos; o estímulo às formas solidárias e cooperativas de produção; a democratização das relações entre empresários e trabalhadores; a expansão decisiva do microcrédito a taxas baixas de juros; o incremento das formas múltiplas de habitação popular; a universalização e melhoria da educação e do serviço de saúde pública; e assim por diante.
Essas proposições são inteiramente compatíveis com que Lula e o PT defendem. Considero, entretanto, importante defendê-las com maior ênfase e clareza do que até agora tem sido feito.
Decidi, Sr. Presidente, ser candidato à Presidência, após intensa reflexão e consulta às bases de meu Partido.
Nos últimos dias de março, ouvi de muitos companheiros da direção nacional e da bancada federal do PT um forte apelo no sentido de que eu abrisse mão de minha pré-candidatura à Presidente da República, para que assim pudéssemos todos, consensualmente, homologar Luiz Inácio Lula da Silva como nosso candidato.
Transmiti-lhes que iria pensar sobre o pedido. Algumas pessoas, entretanto, afirmaram que havia um grande número de militantes do PT que desejavam que eu fosse o candidato e que seria mais saudável para o Partido a realização de debates e da prévia, conforme previsto em nosso estatuto desde 1991.
Resolvi então fazer um levantamento.
Aceitei convites para debater o assunto no Piauí, no Rio de Janeiro, no Ceará, em São Paulo, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, dentre outros Estados. Em todas essas reuniões, participaram petistas e simpatizantes e estabeleceu-se um debate sobre continuar ou não sendo pré-candidato. É claro que não é todo o Brasil, mas a amostra é bastante significativa. Mais de 85%, por vezes mais de 90%, disseram, após consulta e debate com a defesa de ambos os pontos de vista, que eu deveria mantê-la.
Solicitei também que escrevessem para o meu correio eletrônico, esuplicy@senado.gov.br. Entre 4 e 25 de abril, chegaram ao meu correio eletrônico mais de 1100 mensagens, das quais 94,5% favoráveis à manutenção de minha candidatura.
Conversei com os Deputados José Genoíno, Geraldo Magela e João Paulo, que haviam dito, na Folha de S.Paulo de ontem, que fui injusto com o PT. Sou testemunha de que S. Exªs, assim como os demais Parlamentares do Partido, estão sempre se reunindo com nossos filiados, e tenho certeza de que, se perguntarem, nessas ocasiões, acerca de minha pré-candidatura, ouvirão, com a mesma ênfase que eu, argumentos em prol de minha permanência na disputa.
Reitero que estarei participando das prévias do PT da maneira mais respeitosa e construtiva em relação ao Lula. Se ele ganhar, eu me empenharei com todas as forças para que ele seja o Presidente. Entretanto, tenho hoje a clara consciência de contar com o apoio popular, dentro e fora do Partido, para chegar à vitória tanto da prévia quanto da eleição presidencial.
O Sr. Lauro Campos (Sem Partido - DF) - Senador Eduardo Suplicy, V. Exª me permite um aparte?
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Com muita honra, Senador Lauro Campos.
O Sr. Lauro Campos (Sem Partido - DF) - Nobre Senador Eduardo Suplicy, no livro que estou escrevendo, Teoria Geral da Corrupção, não há nenhuma linha sobre V. Exª. V. Exª não pertence ao mundo da corrupção. Mais uma vez, como V. Exª sabe, o meu ponto de vista se identifica completamente com o seu. O Sr. Geraldo Magela me disse, na última reunião e debate que tivemos, já em plena escolha dos pré-candidatos majoritários do Partido dos Trabalhadores aqui em Brasília, que havia lutado sempre para que houvesse as prévias, e me assustei, porque nunca vi o Sr. Geraldo Magela, ao meu lado, lutando a minha luta, participando dela. Eu, sim, em certo momento, talvez por causa da minha idade - naquele tempo o Partido dos Trabalhadores era um Partido de jovens, por isso talvez eles não tivessem ali outros companheiros com 35 anos para disputar o Governo e o Senado Federal -, vi-me na contingência de ser candidato a Governador e a Senador. Quando fui candidato a Governador, renunciei à candidatura, procurando, inclusive, que outros companheiros me substituíssem. E foi numa dessas que entrou o Sr. Cristovam Buarque, cristão-novo, prometendo revolucionar e mudar o Partido - mudar para pior, revolucionar para o neoliberalismo, transformar as bandeiras vermelhas e ousadas em bolsa-escola, bolsa-refeição, vale-não-sei-o-quê, essas medidas reacionárias. Então, V. Ex.ª tem todo o direito, do meu ponto de vista, de disputar, faz muito bem. Na última reunião que tivemos, a que estive presente antes de me desligar do Partido dos Trabalhadores, fui o único a apoiar seu direito de concorrer à pré-candidatura, entre os Senadores presentes. E obviamente creio que esse direito é essencial para arejar o Partido. A democracia tem que começar do princípio e, como cito já há décadas, Rosa de Luxemburgo, que V. Ex.ª disse que Rose Marie Muraro também citou...
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Exatamente, e muito me influenciou nesta decisão, assim como a sua recomendação.
O Sr. Lauro Campos (Sem Partido - DF) - Justamente. Como disse Rosa de Luxemburgo, não se começa a democracia na chegada, no final do processo, depois de conquistado o poder. Começa-se a democracia no princípio, ela tem que estar presente na vida partidária, no espírito dos companheiros que estão querendo transformar realmente a sociedade para melhor. Sendo assim, existe a liberdade de imprensa, a liberdade de opiniões, a liberdade de escolha dos representantes, a liberdade de alimentar-se, a liberdade de divertir-se, a liberdade do lazer, etc. De modo que então V. Ex.ª está de parabéns. Eu não poderei mais, porque não pertenço ao seu Partido, votar em seu nome, mas pode estar certo de que, se lá estivesse, seria um dos que defenderia esse seu direito. Em quem votar - se em V. Exª ou no Lula -, essa é uma decisão individual e futura; mas o direito da pré-candidatura, esse é necessário. Muito obrigado.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Agradeço as suas palavras, Senador Lauro Campos. Quisera que V. Exª continuasse! Gostaria mesmo e estarei me empenhando, nos próximos meses, para que V. Exª possa retornar à nossa Casa e participar novamente das decisões do Partido dos Trabalhadores.
Aproveito, então, a oportunidade para informar que, em diálogo com o Deputado Geraldo Magela - que está, hoje, disputando a prévia como um dos cinco possíveis candidatos ao cargo de Governador do Distrito Federal, e que, portanto, é a favor da prévia no âmbito do Distrito Federal -, S. Exa me recomendou que eu não disputasse a prévia, favorecendo assim o consenso em torno da candidatura do Lula. Tendo me dito que conseguiu um apoio considerável de membros do Diretório, algo como 55% para a sua candidatura, transmiti-lhe que me disponho a ir a qualquer dos debates que se estão realizando agora, para, então, fazer a consulta e ouvir a resposta dos filiados e simpatizantes do PT que assistem a esses debates. Gostaria, como em outros encontros, de saber a avaliação desses filiados sobre se será melhor estar participando com o Lula em debates perante as bases do Partido e pelos meios de comunicação, ou se avaliam que simplesmente será melhor que eu desista da pré-candidatura.
Estive em Campo Maior e José de Freitas, lá no Piauí; em São José do Rio Preto, em Santos, na periferia da cidade de São Paulo, ali na Escola João Hiroshe, na estrada do Alvarenga, em Pedreira, perto de Diadema, um dos lugares mais carentes da cidade de São Paulo; estive na cidade de Tiradentes e também no diretório do Rio de Janeiro, numa reunião organizada pelos diretórios estadual e municipal da cidade do Rio de Janeiro. Em todos esses lugares - bem como em Fortaleza, na última segunda-feira, presentes mais de 150 pessoas, 70% das quais filiadas -, perguntei às pessoas que ali se encontravam o que achavam da minha pré-candidatura, da possibilidade de Lula e eu discutirmos e debatermos para que então, depois disso, elas votassem e, dessa forma, aprendêssemos todos uns com os outros; ou se preferiam que eu desistisse. Em Fortaleza, oito pessoas levantaram a mão para que eu desistisse, após o direito de fala de dois deles para que eu desistisse, e mais de 150 levantaram a mão, manifestando-se pelo meu prosseguimento. Tenho a certeza de que, aqui, no Distrito Federal, se for fazer a consulta em qualquer dessas reuniões, o resultado não será muito diverso. Daí por que resolvi tomar essa decisão.
Mas agradeço muito, mais uma vez, ao Senador Lauro Campos as suas reflexões, inclusive as lições de Rosa de Luxemburgo.
O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Senador Eduardo Suplicy, V. Exª me concede um aparte?
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Concedo um aparte ao Senador Maguito Vilela.
O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Sr. Senador Eduardo Suplicy, não tenho naturalmente o direito de me intrometer nos assuntos internos do PT. Por essa razão, emitirei conceitos mais genéricos. Mas gostaria de cumprimentar V. Exª. Penso que todo partido político tem de iniciar a democracia dentro de sua própria casa. Todo partido político deve estar preparado inclusive para as prévias, porque é muito mais democrático e muito mais seguro para o partido sair com o candidato que detém a hegemonia e a maioria do apoio dos filiados. V. Exª tem que continuar lutando. É o que estamos propondo também dentro do nosso Partido, que já conta com dois pré-candidatos: Pedro Simon e Itamar Franco. Dois extraordinários candidatos que naturalmente deverão disputar uma prévia, uma convenção dentro do Partido. V. Exª possui todas as condições, todos os requisitos para pleitear a Presidência da República. V. Exª é um homem com sensibilidade humana e política, com equilíbrio, competência, discernimento. É também extremamente honrado e honesto. Tive a oportunidade de conviver com V. Exª por ocasião da Comissão que debateu o combate à pobreza, a qual tive a honra de presidir. Saímos pelo Brasil afora, visitando os lugares mais pobres e miseráveis, como São José da Tapera, em Alagoas, a Zona da Mata, em Pernambuco, a periferia de Fortaleza, o Entorno de Brasília, e muitos outros locais. Pude constatar o quanto V. Exª tem sensibilidade, o quanto luta por uma melhor distribuição de renda, por mais dignidade, principalmente para os pobres, os humildes, para os deserdados, para os excluídos, para os desempregados. De forma que, a meu ver, V. Exª tem todas as condições exigidas para um candidato à Presidência da República. Quero desejar-lhe êxito não só nas prévias, como também futuramente, na sua possível campanha eleitoral. Penso que o Brasil precisa ter um leque muito grande de candidatos, até para facilitar a futura escolha do candidato. O PT terá candidato à Presidência da República, e eu vou torcer para que V. Exª obtenha sucesso nas prévias e seja o candidato do seu Partido, pelas qualidades que eu já percebi em V. Exª. Muito obrigado.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Maguito Vilela. O aparte de V. Exª muito me honra. Quero também saudá-lo, como Vice-Presidente do PMDB, pela indicação do Senador Pedro Simon e do Governador Itamar Franco. São duas figuras excepcionais, e o debate entre ambos, visando à escolha de candidato à sucessão presidencial pelo PMDB, será algo de extraordinário interesse para o povo brasileiro. Eu, como pré-candidato à Presidência pelo Partido dos Trabalhadores, estarei assistindo com enorme interesse ao debate entre Pedro Simon e Itamar Franco. Isso também significa o dinamismo da democracia brasileira, que todos nós desejamos aperfeiçoar.
Sr. Presidente, neste momento, registro algo de extraordinária relevância que está estampado na imprensa hoje: o fato de o serviço secreto do Banco do Brasil ter ordenado a gravação entre o Ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros e o então Presidente do BNDES André Lara Resende. Tudo isso, pelo que constou do depoimento ontem perante a Justiça, por iniciativa do então vice-Presidente do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, que se utilizou de gravações secretas. Não sabíamos, Sr. Presidente, que havia um serviço reservado do Banco do Brasil grampeando conversas telefônicas! Conversas de Ministros, do Presidente do BNDES, e até do Presidente da República!
Outro fato importante, do qual tomamos conhecimento ontem e está hoje nos jornais, é que, diferentemente do que aqui havíamos conhecido, quando do depoimento do Ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros ele já sabia dessa gravação, já havia conversado com Ricardo Sérgio de Oliveira e com André Lara Resende, já havia estado com o Presidente da República e sabido da origem da gravação, da forma como foi feita. É uma revelação extraordinária! É interessante como a verdade acaba vindo à tona! Precisamos nos aprofundar no conhecimento desses fatos, que, inclusive, poderão ser objetos de apuração pela comissão parlamentar de inquérito que, sabemos agora, será realizada. Há mais um fato importantíssimo: o Presidente Fernando Henrique Cardoso, então, sabia bem das coisas. Estamos, há um longo tempo, esperando o relatório da Abin para saber quem tinha gravado. Agora sabemos que foi o serviço reservado do Banco do Brasil. E demorou tanto tempo!
Senador Pedro Simon, V. Exª argüiu de maneira meteórica o Ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, e até atribuem a V. Exª sua renúncia. Agora, estamos sabendo desse fato estarrecedor. Certamente, Sr. Presidente, teremos que aprofundar a análise.
Muito obrigado.