Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM AOS 150 ANOS DE NASCIMENTO DO INTELECTUAL SERGIPANO SILVIO ROMERO.

Autor
Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Valadares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AOS 150 ANOS DE NASCIMENTO DO INTELECTUAL SERGIPANO SILVIO ROMERO.
Publicação
Publicação no DSF de 27/04/2001 - Página 7352
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, JOSE LUIZ DO REGO, CECILIA MEIRELES, ESCRITOR.
  • HOMENAGEM, SESQUICENTENARIO, SILVIO ROMERO, ESCRITOR, INTELECTUAL, POLITICO, ESTADO DE SERGIPE (SE).

O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (PSB - SE. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil celebra, neste ano, algumas efemérides culturais que representam o alto valor da criação artística e intelectual, crítica e histórica. Refiro-me ao centenário de José Lins do Rego, romancista da Paraíba, autor de vasta obra que encanta os leitores, como retrato de uma região, como registro de um viver. Nascido em Pilar, José Lins do Rego foi um dos maiores romancistas do regionalismo nordestino e brasileiro.

Outro fato importante é o centenário de Cecília Meireles, festejada poetisa, com uma obra bem apreciada pela crítica.

Este ano é também o ano de Sílvio Romero, sergipano de Lagarto, nascido no dia 21 de abril de 1851. Festeja-se, portanto, o sesquicentenário do seu nascimento, ocasião em que sua vida e sua obra despertam o mais vivo interesse entre os brasileiros. Não se trata de um escritor local, mas de um intelectual que viveu em Sergipe, viveu em Pernambuco, preparando-se para os embates da vida e da cultura. Ainda bem moço, Sílvio Romero estudou no Rio de Janeiro, no Atheneu Fluminense, indo depois para o Recife, para estudar na célebre Faculdade de Direito, onde já estudava o seu conterrâneo Tobias Barreto.

Formado em Direito, Sílvio Romero voltou a Sergipe para ser promotor da Comarca de Estância. Ao mesmo tempo, elegeu-se Deputado Provincial para o biênio 1874/1875. Em 1876, foi nomeado Juiz de Direito de Parati, na Província do Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1879. E em 1880, depois de deixar a magistratura e já com alguns livros publicados, ingressou no magistério por meio de concurso para a cadeira de Filosofia do Colégio Pedro II. Foram 30 anos de dedicação à causa da educação dos brasileiros, até a aposentadoria, em 1910.

Ao lado das tarefas de professor, Sílvio Romero desenvolveu duas outras habilidades: a de político e a de escritor. Como político, além de deputado em Sergipe, cumpriu mandato na Câmara Federal, ao lado de expoentes da política sergipana, como Joviniano Carvalho, natural de Simão Dias, Fausto Cardoso, poeta e filósofo, de Divina Pastora, e Rodrigues Dória, médico nascido em Propriá.

Era uma bancada de alto nível, de formação patriótica, que tanto elevava o Estado representado como dignificava o Parlamento. Os discursos, projetos, debates daquele tempo, entre tantos e tão ilustres parlamentares de Sergipe e de outros Estados brasileiros, dão a dimensão da atividade política nos primeiros anos da República.

O próprio Sílvio Romero atribuía à República a virtude de ter dado ao Brasil uma feição própria, uma vida autônoma, política e intelectual diferente da presença portuguesa da Regência e do Império. Afeito aos grandes debates, Sílvio Romero trouxe ao Parlamento do País a sua capacidade intelectual, as suas idéias atualizadas, e trouxe o gosto pelas polêmicas, tantas vezes manifestado em disputas intelectuais que ficaram célebres, sempre defendendo, intransigente, suas convicções.

Foi assim, por exemplo, que ajudou a proclamar a República, fundando jornais em Laranjeiras, Sergipe, para fazer a propaganda do novo regime, prevendo a derrocada da velha monarquia. Foi assim, também, que mobilizou o povo sergipano, em 1894, e depôs o Presidente do Estado de Sergipe, o General José Calasans. O exemplo político de Sílvio Romero, sua coragem, sua obstinação, sua consciência e seu patriotismo foram seguidos por Fausto Cardoso, que, em 1906, organizou o Partido Progressista e fez uma revolução, depondo o Presidente Desembargador Guilherme Campos, irmão do Senador Olímpio Campos. A revolução de Fausto Cardoso custou a sua própria vida, fuzilado na praça que leva seu nome, em Aracaju. Em represália, os filhos daquele inditoso Deputado mataram Olímpio Campos, no Rio de Janeiro.

Sr. Presidente, em 1989, estava no Governo de Sergipe, quando o Brasil celebrou o centenário de morte do grande Tobias Barreto, poeta e filósofo também sergipano. Recordo que, no período das comemorações, em junho daquele ano, o então Presidente da República, o nobre Senador José Sarney, visitava Sergipe e inaugurava o porto daquele Estado, que era uma velha aspiração, de mais de um século. Aproveitei a presença do ilustre Presidente, lembrando que era ele o ocupante da cadeira de Tobias Barreto na Academia Brasileira de Letras, para lhe sugerir que mandasse editar, em seu Governo, as obras completas daquele pensador sergipano, o que ele mandou fazer de imediato.

Sr. Presidente, ao fazer este registro, felicito o reitor da Universidade Federal de Sergipe, os prefeitos de Aracaju e de Lagarto, o Ministro Francisco Wefort, da Cultura, e os organizadores dos eventos que celebram, em Sergipe e no Brasil, o sesquicentenário de nascimento de Sílvio Romero, que, numa época de grandes transformações no Brasil, prestou um grande serviço à democracia e à intelectualidade brasileiras.

Sr. Presidente, peço a V. Exª que registre, na íntegra, o meu discurso em homenagem a Sílvio Romero, pois, devido à pequenez do tempo, não foi possível fazer a sua leitura completa.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, O DISCURSO DO SR. SENADOR ANTONIO CARLOS VALADARES:

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O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (PSB - SE) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o Brasil celebra neste ano algumas efemérides culturais, que representam o alto valor da criação artística e intelectual, crítica e histórica. Refiro-me ao centenário de José Lins do Rego, romancista da Paraíba, autor de vasta obra que encanta os leitores, como retrato de uma região, como registro de um viver. Nascido em Pilar, José Lins do Rego foi um dos maiores romancistas do regionalismo nordestino e brasileiro. Outro fato importante é o centenário de Cecília Meireles, festejada poetisa, com uma obra bem apreciada pela crítica.

Este ano é também o ano de Sílvio Romero, sergipano de Lagarto, nascido no dia 21 de abril de 1851. Festeja-se, portanto, o sesquicentenário do seu nascimento, ocasião em que sua vida e sua obra despertam o mais vivo interesse entre os brasileiros. Não se trata de um escritor local, mas de um intelectual que viveu em Sergipe, viveu em Pernambuco, preparando-se para os embates da vida e da cultura. Ainda bem moço, Sílvio Romero estudou no Rio de Janeiro, no Atheneu Fluminense, indo depois para o Recife, para estudar na célebre faculdade de Direito, onde já estudava o seu conterrâneo Tobias Barreto.

Formado em direito, Sílvio Romero voltou a Sergipe para ser promotor da comarca de Estância. Ao mesmo tempo, elegeu-se deputado provincial, para o biênio 1874/1875. Em 1876 foi nomeado juiz de direito de Parati, na província do Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1879. Em 1880, depois de deixar a magistratura e já com alguns livros publicados, ingressou no magistério, através de concurso para a cadeira de Filosofia do Colégio Pedro II. Foram 30 anos de dedicação à causa da educação dos brasileiros, até a aposentadoria, em 1910.

Ao lado das tarefas de professor, Sílvio Romero desenvolveu duas outras habilidades: a de político e a de escritor. Como político, além de deputado em Sergipe, cumpriu mandato na Câmara Federal, ao lado de expoentes da política sergipana, como Joviniano Carvalho, natural de Simão Dias, Fausto Cardoso, poeta e filósofo, de Divina Pastora, e Rodrigues Dória, médico nascido em Propriá. Era uma bancada de alto nível, de formação patriótica, que tanto elevava o Estado representado, como dignificava o parlamento. Os discursos, projetos, debates daquele tempo, entre tantos e tão ilustres parlamentares, de Sergipe e de outros Estados brasileiros, dão a dimensão da atividade política nos primeiros anos da República.

O próprio Silvio Romero atribuía à República a virtude de ter dado ao Brasil uma feição própria, uma vida autônoma, política e intelectual, diferente da presença portuguesa, da Regência e do Império. Afeito aos grandes debates, Sílvio Romero trouxe ao Parlamento do País a sua capacidade intelectual, as suas idéias atualizadas, e trouxe o gosto pelas polêmicas, tantas vezes manifestado em disputas intelectuais que ficaram célebres, sempre defendendo, intransigente, suas convicções.

Foi assim, por exemplo, que ajudou a proclamar a República, fundando jornais em Laranjeiras, Sergipe, para fazer a propaganda do novo regime, prevendo a derrocada da velha monarquia. Foi assim, também, que mobilizou o povo sergipano, em 1894, e depôs o presidente do Estado de Sergipe, o General José Calasans. O exemplo político de Sílvio Romero, sua coragem, sua obstinação, sua consciência e seu patriotismo foram seguidos por Fausto Cardoso, quem em 1906 organizou o partido progressista e fez uma revolução, depondo o Presidente Desembargador Guilherme Campos, irmão do Senador Olímpio Campos. A revolução de Fausto Cardoso custou a sua própria vida, fuzilado na praça que leva seu nome, em Aracaju. Em represália, os filhos daquele inditoso deputado mataram Olímpio Campos, no Rio de Janeiro.

Sílvio Romero exerceu o mandato de deputado federal e soube encaminhar à discussão problemas importantes, que despertaram grande debate. Apresentou dois projetos de repercussão imediata. Um defendia o controle da entrada dos colonos europeus, para evitar que eles predominassem sobre a população brasileira. Outro, fixava em três mil homens em armas o Exército ou a Força Pública em cada Estado da Federação, para impedir que uns se transformassem em mais fortes e subjugassem os mais ricos.

A contribuição intelectual de Sílvio Romero, no entanto, é o ponto mais alto de sua biografia de 63 anos. A obra de crítico e de historiador literário, pode ser referenciada com a publicação da História da literatura brasileira e do Compêndio de história da literatura brasileira, respectivamente editadas em 1888 e 1906. As obras filosóficas, nas quais historia e expõe as novas teorias que dominaram a segunda metade do século XIX, são principalmente os livros A filosofia no Brasil, de 1878, Ensaios de filosofia do direito, de 1885 e doutrina contra doutrina - o evolucionismo e o positivismo no Brasil -, de 1895. Além de tais livros, Sílvio Romero publicou Cantos populares do Brasil, Contos populares do brasil e Estudos sobre a poesia popular do Brasil, respectivamente em 1883, 1885 e 1888, todos recolhendo, estudando e pondo ao alcance do leitor brasileiro o rico manancial da cultura popular, a verdadeira alma do povo. Sílvio Romero escreveu ainda muitas outras obras, de sociologia, de ciência política, sendo por isto mesmo um dos mais completos escritores nacionais, um dos grandes críticos, desbravador de caminhos, deixando um exemplo a ser seguido pelas novas gerações de intelectuais.

Tenho, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, muitas razões para exultar com o sesquicenenário de nascimento do grande brasileiro Sílvio Romero. Primeiro, porque sou de Simão Dias, município que faz fronteira com Lagarto e onde a família do escritor mantinha propriedade, na qual ele próprio viveu; segundo, porque Lagarto é para mim uma terra amiga, onde desfruto da confiança do seu povo, onde convivo com sua classe política, onde mantenho as melhores relações, por onde passo, todas as vezes que viajo para minha Simão Dias; terceiro porque há um fato, que já está devidamente incorporado à História, que lembro com muito gosto.

Em 1989 estava no governo de Sergipe, quando o Brasil celebrou o centenário de morte do grande Tobias Barreto, poeta e filósofo também sergipano. recordo que no período das comemorações, em junho daquele ano, o então Presidente da República, o nobre Senador José Sarney, visitava Sergipe e inaugurava o porto daquele Estado, que era uma velha aspiração, de mais de um século. Aproveitei a presença do ilustre Presidente, lembrando que era ele o ocupante da cadeira de Tobias Barreto na Academia Brasileira de Letras, para sugerir-lhe que mandasse editar, em seu governo, as obras completas daquele pensador sergipano. O Presidente Sarney, num gesto elegante e sincero fez a promessa e, em poucos meses, mandou cumpri-la através do Ministro da Cultura, o intelectual José Aparecido de Oliveira.

Sergipe ficou orgulhoso de Tobias Barreto e ficou agradecido, para sempre, ao Presidente José Sarney. Como Governador as minhas ações não ficaram apenas no plano reivindicatório, mas também aloquei recursos complementares, que permitiram a edição de todos os dez volumes das obras completas de Tobias Barreto. 12 anos depois, ao estar em Sergipe, sou surpreendido com um convite do Prefeito Jerônimo Reis, de Lagarto, para participar do lançamento do primeiro volume das obras completas de Sílvio Romero, que a Universidade Federal de Sergipe, em parceria com o Ministério da Cultura, organiza em louvor ao aniversário do ilustre crítico sergipano.

A festa de Lagarto, em homenagem a alguns sergipanos e a alguns ilustres visitantes, estudiosos da obra de Sílvio Romero, muito me desvaneceu. e se fiquei lisonjeado com a comenda que recebi, com toda honra, mais fiquei com o lançamento do livro de Sílvio Romero, o Compêndio de história da literatura brasileira, o primeiro de uma de 21 volumes, que estão sendo organizados pelo intelectual sergipano Luiz Antonio Barreto, que foi, também, o organizador das obras completas de Silvio Romero.

            A edição das obras de Silvio Romero serve, ainda, para dar ao Brasil uma demonstração da pujança intelectual de Sergipe, berço e pátria de homens ilustres da vida cultural do País, cada um com sua contribuição, sua obra, sua fortuna crítica. Sergipe é mesmo uma terra pródiga, um útero venturoso, pois ofereceu um tesouro inesgotável, um patrimônio que pertence a todos, a inteligência dos seus filhos notáveis, cujas biografias servem de estímulo às novas gerações.

Ao fazer este registro, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, felicito o Reitor da Universidade Federal de Sergipe, os Prefeitos de Aracaju e de Lagarto, o Ministro Francisco Wefort, da Cultura, os organizadores dos eventos que celebram, em Sergipe e no Brasil, o sesquicentenário de nascimento de Sílvio Romero, como a Academia Brasileira de Letras, que tem entre os seus patronos a figura mestra do sergipano, mostrado pela iconografia e pelos livros expostos na sede daquele sodalício, no Rio de Janeiro, como mostruário a ser visitado, na homenagem que fixa o reconhecimento e exalta a admiração do Brasil pelo autor da História da literatura brasileira.

            O Brasil não pode perder, de nenhum modo, as melhores referências. Ao contrário, deve procurar na sua história, de vida e de cultura, as boas ações, os melhores exemplos, afirmando uma vocação que nenhuma circunstância pode modificar, que é a vocação de construir um futuro digno, próspero, justo, como quis Sílvio Romero.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/04/2001 - Página 7352