Pronunciamento de Ney Suassuna em 14/03/2001
Discurso durante a 13ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
INTERPELAÇÃO AO SR. MINISTRO DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO, SR. MARCUS VINICIUS PRATINI DE MORAES.
- Autor
- Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
- Nome completo: Ney Robinson Suassuna
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA EXTERNA.:
- INTERPELAÇÃO AO SR. MINISTRO DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO, SR. MARCUS VINICIUS PRATINI DE MORAES.
- Publicação
- Publicação no DSF de 15/03/2001 - Página 3022
- Assunto
- Outros > POLITICA EXTERNA.
- Indexação
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- COBRANÇA, GOVERNO BRASILEIRO, ESCLARECIMENTOS, AMBITO INTERNACIONAL, AGRESSÃO, VITIMA, BRASIL, TENTATIVA, NEGAÇÃO, ACESSO, PRODUTO NACIONAL, MERCADO EXTERNO.
- INTERPELAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA AGRICULTURA (MAGR), ESTIMATIVA, PREJUIZO, BRASIL, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, GOVERNO BRASILEIRO, EXIGENCIA, COMPENSAÇÃO FINANCEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, CANADA.
O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Sr. Ministro, com muita satisfação, vejo o sucesso de V. Exª. Já tive o prazer de encontrá-lo no Governo Garrastazu Médici, trabalhando no mesmo Ministério. Lembro-me do orgulho que eu tinha quando falavam de um Ministro que falava seis línguas. Naquele tempo, éramos mais jovens.
Mas, meu Ministro, apesar das providências tempestivas adotadas pelo Brasil no episódio da vaca louca, temo que não tenhamos reagido com a adequada energia diante de um artifício inventado malevolamente pelo Governo canadense para prejudicar a expansão brasileira no comércio internacional.
Já estamos habituados à guerra comercial travada pelos países ricos contra o Brasil. Já sabemos como é difícil romper a muralha do protecionismo desses países, mas essa constante peleja que enfrentamos, apesar de agressiva e causadora de enormes prejuízos à nossa economia, ela trava-se num certo nível de comportamento civilizado, como se fossem golpes desfechados numa luta sujeita a regras.
O que sofremos no episódio da vaca louca elevou a agressividade em matéria de guerra comercial a um patamar sem precedentes no saco de maldades das represálias comerciais. O Governo do Canadá recorreu, nesse episódio, ao golpe baixo, à calúnia, à ação traiçoeira, pérfida, solerte, velhaca.
O Canadá é um país honrado, mas o seu Governo houve-se com desonra ao nos acusar de sopetão e sem fundamento de estarmos infectados com o mal da vaca louca.
O Canadá é um país honrado, mas o seu Governo houve-se com desonra ao difamar o nosso produto, com repercussão internacional, causando enormes prejuízos ao nosso País.
O Canadá é um país honrado, mas o seu Governo houve-se com desonra ao tratar de nos impingir uma suposta epidemia no setor da pecuária, quando, na verdade, procurava desfechar uma represália contra a nossa Embraer, mais competente que a Bombardier canadense.
O Canadá, Sr. Ministro, é um país honrado, mas o seu Governo houve-se com desonra ao atuar em favor da Bombardier, empresa que é a maior financiadora das campanhas eleitorais do partido que lá está no poder.
O Canadá é um país honrado, mas o seu Governo houve-se com desonra ao lançar-se na aventura dessa agressão, por força de laços de parentescos existentes entre o chefe desse Governo e o Presidente da Bombardier, um certo Robert Brown que, além disso, já fez parte desse Governo.
Sr. Ministro, o que espero do Governo brasileiro no rastro desse episódio é que saiba fazer o Governo do Canadá entender que nos deve desculpas formais e explicação ao mundo, além da indenização financeira.
O que eu espero do Governo brasileiro é que comunique e esclareça, em fórum internacional de elevada importância, a agressão que sofreu, alertando principalmente os outros países emergentes e excluídos que, a partir de hoje, estarão também eles diante deste novo perigo: a doença imaginária, inventada e divulgada como venenosa arma de guerra comercial, de negação do acesso dos seus produtos ao mercado internacional.
O Brasil, Sr. Ministro, tem feito esforços assombrosos na modernização da sua agricultura, e V. Exª tem sido um elemento ativo nesse processo, não só da agricultura como da pecuária, dentro de técnicas naturais de produção, o que constitui extraordinária vantagem comparativa nesses tempos de transgênicos e clonagens. Não podemos permitir que a contaminação da nossa imagem de país de tecnologias limpas, com o fito exclusivo de prejudicar a marca Brasil, reduza, deslealmente, a nossa competitividade.
Por isso, pergunto, Sr. Ministro: qual a estimativa do seu Ministério dos prejuízos causados ao Brasil no curto e longo prazo em relação a este evento? O Ministério de V. Exª adotou alguma providência no sentido de orientar o Governo brasileiro para exigir compensações financeiras do Canadá? A OMC já foi acionada? Do ponto de vista privilegiado - e V. Exª tem uma inteligência realmente privilegiada -, por que o Brasil é tão complacente com os nossos parceiros comerciais hegemônicos e tão tímido na defesa dos interesses nacionais no âmbito da OMC? - organismo legitimado para a solução dos conflitos e para as arbitragens das punições e do qual somos sócios fundadores.
Para finalizar, por que insistimos tanto em vender para os países que têm cotas e deixamos os árabes e outros países que não têm cotas e que dependem só e unicamente do nosso engenho e arte? Por que não agredimos um pouco mais esses países, do ponto de vista comercial?
Por último, peço ao Ministro um apoio: venho brigando para que o nosso Porta-Aviões Minas Gerais, que será desativado, se transforme num shopping ambulante do Brasil, indo de porto em porto, vendendo as nossas matérias-primas, os nossos insumos e os nossos produtos acabados. Para a nossa alegria, o projeto está andando. Solicito ao Ministro que, com a sua inteligência privilegiada e como homem de exportação, também pensasse, depois, em como pode apoiar uma idéia que tem duas condições: ou trata-se de uma idéia tola, o que não acredito, ou de uma grande solução para o nosso País. Muito obrigado.