Discurso durante a 44ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EX-DEPUTADO FEDERAL PELO ESTADO DO AMAPA, SR. ANTONIO CORDEIRO PONTES.

Autor
Sebastião Bala Rocha (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AP)
Nome completo: Sebastião Ferreira da Rocha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EX-DEPUTADO FEDERAL PELO ESTADO DO AMAPA, SR. ANTONIO CORDEIRO PONTES.
Publicação
Publicação no DSF de 03/05/2001 - Página 7885
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO CORDEIRO PONTES, EX-DEPUTADO, ESTADO DO AMAPA (AP).

O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o povo amapaense está de luto.

Embora no requerimento conste dia 27, foi no dia 26 de abril próximo passado o falecimento do ex-Deputado Federal Antônio Pontes. Certamente, ele foi colega de vários Senadores aqui presentes. O Senador Roberto Freire e o eminente Presidente desta sessão, Senador Edison Lobão, acenam que sim.

Antônio Pontes tinha 64 anos, nasceu em 21 de março de 1937 e faleceu aqui em Brasília. Seu pai era Francisco Pontes - o saudoso Chico Noé -, sua mãe, Joana Cordeiro Pontes e sua esposa, a Srª Benedita Raimunda Mira Pontes.

Antônio Pontes era formado em Administração Pública pela Escola Brasileira de Administração da Fundação Getúlio Vargas, além de ser formado em Ciências Contábeis, ter sido funcionário publico e professor. Foi Diretor da Escola Augusta Antunes no Município em que resido, Santana, no Amapá, foi Deputado Federal em quatro Legislaturas pelo Estado do Amapá, tendo sido eleito nos anos de 1970, 1974, 1978 e 1982.

Era comum, nos últimos anos, vermos Antônio Pontes freqüentando o plenário do Senado com a sua Bíblia na mão, haja vista ter-se convertido ao catolicismo, assumido o catolicismo e mais precisamente o Movimento Carismático.

Faço esse registro de certa forma emocionado, Sr. Presidente, pela aproximação que sempre tive com o Sr. Antônio Cordeiro Pontes e sua família. Conheci Antônio Pontes quando eu tinha por volta dos 10 anos de idade, exatamente na escola em que ele era Diretor - a Escola Augusto Antunes no meu Município de Santana. E, para todos nós, foi uma surpresa, naquele ano de 1970, quando o MDB, em plena ditadura militar, indicava o nome daquele jovem professor, cuja voz era conhecida na Escola como "voz do trovão", pelo timbre forte e pela tonalidade elevada, conhecida também daqueles que puderam conviver com ele, aqui, neste Plenário, no "Cafezinho" e no plenário da Câmara dos Deputados.

Naquele momento, eu, um garoto de 12 anos, sem nenhuma formação política, jamais poderia imaginar que aquele jovem de 33 anos, Diretor de uma Escola de Primeiro Grau - não havia nem mesmo o Segundo Grau naquele educandário - em uma cidade interiorana, pudesse ir para uma disputa frontal contra o decano da política amapaense da época, o inesquecível Janary Gentil Nunes. Este, certamente, foi conhecido de muitos brasileiros, tendo sido o primeiro Governador do Amapá, Deputado Federal e Presidente da Petrobras.

A pequena classe média que se formava no Estado do Amapá, juntando-se ao funcionalismo público, resolveu que, de fato, deveria mudar as suas posições políticas em nível de Congresso Nacional. E Antônio Cordeiro Pontes foi aclamado vencedor em uma eleição que certamente representou um marco importante na história do Amapá, porque significou a vitória da resistência: um jovem de classe pobre, filho de um pequeno pecuarista, chamado de vaqueiro muitas vezes durante a campanha eleitoral, disputava contra um ícone da política e que pertencia ao Partido governista, a Arena.

Naquele momento, começava a se formar em mim essa personalidade, essa visão de Brasil e comecei a apreender que era preciso questionar a ditadura militar. Foi exatamente com Antônio Pontes, inspirado em Antônio Pontes que me tornei um contestador da ditadura no Brasil. E Antônio Pontes veio para o Congresso Nacional e, com honradez e dignidade, representou o povo do Amapá, destacando-se sobretudo nas Legislaturas de 1971 e 1975. Depois vieram erros e desacertos, mas a figura humana de Antônio Cordeiro Pontes manteve-se muito próxima da sociedade amapaense; a afinidade teve prosseguimento e não tenho dúvidas ao dizer que o Amapá todo, o povo do Amapá está de luto com a perda de Antônio Pontes, jovem ainda, aos 64 anos, ainda na plenitude de sua forma física e de suas capacidades intelectual e mental. 

É importante destacar que Antônio Pontes assomou à tribuna, como aqui estou, em várias oportunidades, defendendo os interesses do povo do Amapá e bradando contra a ditadura instalada naquela época. E uma grande contribuição de Antônio Cordeiro Pontes para o Estado do Amapá foi a conquista da hidrelétrica Coaraci Nunes, a nossa única hidrelétrica, ainda existente no Estado do Amapá.

Embora tenha obtido todo esse destaque no cenário político nacional, Antônio Cordeiro Pontes morreu praticamente no anonimato. Mas morreu também na solidariedade humana, porque passou os últimos momentos de sua vida dedicando-se ao Movimento Carismático, levando uma mensagem de paz, de fraternidade e de contemplação àquelas pessoas que sofrem, àquelas pessoas que estão em desvantagens sociais.

Portanto, fica este registro. Os votos de pesar são de todo o Senado da República; fica uma profunda saudade daquele amigo que nos visitava, até há algum tempo, daquele amigo que há cinco meses eu não via, porque aqui não comparecia mais. Infelizmente, fui surpreendido pela sua súbita morte na quinta-feira que passou.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/05/2001 - Página 7885