Discurso durante a 54ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CONGRATULAÇÕES AO JORNALISTA MARCIO MOREIRA ALVES PELA PUBLICAÇÃO DO LIVRO "SABADOS AZUIS". (COMO LIDER)

Autor
Francelino Pereira (PFL - Partido da Frente Liberal/MG)
Nome completo: Francelino Pereira dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • CONGRATULAÇÕES AO JORNALISTA MARCIO MOREIRA ALVES PELA PUBLICAÇÃO DO LIVRO "SABADOS AZUIS". (COMO LIDER)
Publicação
Publicação no DSF de 18/05/2001 - Página 9755
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, ORADOR, DESTINATARIO, MARCIO MOREIRA ALVES, JORNALISTA, EX-DEPUTADO, ELOGIO, PUBLICAÇÃO, LIVRO.

O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL - MG. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou ler, para que faça parte deste pronunciamento, a carta que enviei ontem ao jornalista Márcio Moreira Alves, o Deputado Federal que, em 1968, - estávamos a seu lado - em meio à turbulência política brasileira, teve o mandato cassado.

            Duramente atingido pelo regime de exceção, nem por isso perdeu a fé no País e pôde seguir em frente como repórter. Hoje, ele é um dos mais conceituados articulistas da nossa imprensa. De seus artigos, 75 formam uma coletânea editada em livro com histórias que apontam, como diz Luiz Fernando Veríssimo, a evidência de um Brasil possível.

Esse é o livro chamado Sábados Azuis’”.

Ele próprio, Márcio Moreira Alves, revela que, em seus “ziguezagueios por esta terra, busca (e encontra) gente que faz coisas decentes, inovadoras e inteligentes para melhorar a vida de seus compatriotas...” Por isso, acrescenta não entender “como é que somos traídos por toda violência que nos é mostrada pela corrupção, pela impunidade...”

Eis a carta que enviei ontem a Márcio Moreira Alves:

Meu caro Marcito,

Há quase noventa anos, o poeta russo (soviético, melhor dizendo) Wladimir Maiakovsky, então embalado pela paixão revolucionária que varreu a tirania czarista das estepes eslavas, escreveu versos que ainda hoje conservam atualidade:

‘Brilhar com brilho intenso,

brilhar como um farol.

Gente é para brilhar,

não para morrer de fome’.

Como a maioria de seus conterrâneos, o poeta acreditava que o movimento liderado por Trotsky e Lênin estava destinado a inaugurar um novo tempo na história da Humanidade. Um tempo que, esperava, seria de justiça social, de valorização do trabalho sobre o capital, de redenção do sofrimento humano. Deu no que deu...

No Brasil, que nunca foi socialista, nem viveu a experiência de uma revolução popular, também é antigo - de muitas décadas - o discurso sobre a igualdade de direitos, sobre a dignidade do trabalho, sobre o valor da ética nas relações sociais e institucionais.

Apesar da insistência, a repetição desse discurso não resultou em mudanças concretas na chamada cultura nacional do ganho fácil, da esperteza que se sobrepõe à solidariedade e da complacência diante do exercício imoderado do poder político e econômico.

Tivemos um Presidente apeado do mandato por corrupção. Tivemos parlamentares, juízes e grandes empresários processados por formação de quadrilha e por malversação de recursos públicos. Não obstante, ainda perdura a norma brasileira do ‘salve-se quem puder!’.

Esse é um quadro triste, que nos envergonha a todos nós. Mas há uma outra realidade, essa sim encorajadoura, possível, verdadeira. Um quadro felizmente fértil, por isso que, nele, você, Marcito, pôde recolher histórias forjadas pela vontade de gente que crê. De gente que segue trabalhando.

Eu li em “Sábados Azuis”, em que você faz desfilar ‘75 histórias de um Brasil que dá certo’.

Esses seus relatos de experiências comunitárias e inovadoras mostram, em texto atraente, a importância e a eficácia da solidariedade na solução dos problemas coletivos.

Trata-se de um sentimento mais do que nunca importante. Fundamental, mesmo, para que o Brasil não tenha apenas sábados azuis, mas, como eles, todos os dias, o tempo todo.

Suas crônicas, que servem de exemplo, reacendem as esperanças e afastam uma eventual apatia, ao mostrar que há uma gente, por este Brasil adentro, trabalhando com dedicação, criatividade e espírito coletivo pela construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.

No momento em que vemos prosperar o cinismo, em que o senso ético é filtrado pelo relativismo dos interesses pessoais e políticos, é bom, é estimulante, tomar conhecimento da existência dessa gente que dá exemplos.

Lendo suas histórias, nossa confiança se renova e vislumbramos, com clareza, que há saída para o Brasil e que o caminho para essa saída tem que ser pavimentado por nós.

Digo-lhe que minha vontade é aconselhar que todos leiam “Sábados Azuis”. É uma leitura importante para este momento. É uma leitura que nos enche de fé, e faz com que já não prevaleça a falta de perspectivas.

Os versos que mencionei, brotados há quase um século do sentimento do poeta russo, continuam vivos, como se fossem da atualidade. Não há como não concordar que ‘gente é para brilhar, não para morrer de fome. Um abraço.”

Srªs e Srs. Senadores, escrevi essa carta ao ler Sábados Azuis, o livro em que Márcio Moreira Alves reúne muitas das histórias contadas em O Globo, no período de 1994 a 1999, portanto, uma fase bem atual desta Nação. São fatos reais levados ao conhecimento público pelo relato de um repórter que, tendo sido personagem de uma fase atribulada da cena brasileira, confirma a existência, também, de “um Brasil que dá certo”.

No prefácio de Sábados Azuis, Márcio Moreira Alves, dono de um dos melhores textos da imprensa brasileira, refere-se a suas viagens pelo interior do País para sustentar que a intuição visual, adquirida ao longo de anos de contato com pessoas de todos os rincões do País, vale mais do que todas as teorias que ele teve que ler para seu doutorado na Sorbonne.

Com essa visão, ele escreveu, em 1994, em uma de suas histórias: “Pode ser que exista um povo tão generoso e pronto para a esperança como o brasileiro. Mais, não existe“.

Em 1995, reafirmou essa convicção, numa outra “história do Brasil que dá certo”, ao contar o que viu em um hospital de oftalmologia, da pequena cidade de Iguatama, no Alto São Francisco, na minha Minas Gerais. Márcio Moreira Alves abre espaço para os canteiros multicoloridos de rosas que o povo dessa cidade mineira de oito mil habitantes plantou diante do hospital. E explica:

           Não é que o povo de Iguatama tenha especial pendor para a floricultura. O que gostam mesmo é de gente. Plantar as flores para ver a alegria dos pacientes, quando retiram o tapa-olhos, depois de uma operação de catarata, e se deslumbram com a nitidez das formas e o calor das cores de que já se haviam esquecido.

            Srª Presidente, peço a V. Exª e à Mesa que transmitam expressamente ao nosso grande jornalista Márcio Moreira Alves, o nosso Marcito, os nossos votos de congratulações pela publicação e pelo fazimento de seu livro Sábados Azuis, que exibo aqui desta tribuna.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/05/2001 - Página 9755