Discurso durante a 56ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

SOLIDARIEDADE AO CABOCLO DA AMAZONIA, RESPONSAVEL PELO EXTRATIVISMO DA CASTANHA NA REGIÃO.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • SOLIDARIEDADE AO CABOCLO DA AMAZONIA, RESPONSAVEL PELO EXTRATIVISMO DA CASTANHA NA REGIÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 22/05/2001 - Página 9973
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, TRABALHADOR, EXTRATIVISMO, CASTANHA DO BRASIL, MUNICIPIO, COARI (AM), TEFE (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), AUSENCIA, CREDITOS, FINANCIAMENTO, PERIODO, SAFRA, EFEITO, DEPENDENCIA, EXPORTADOR, INFERIORIDADE, PREÇO, PRODUTOR.
  • DENUNCIA, OBSTACULO, EXPORTAÇÃO, CASTANHA DO BRASIL, CONTROLE SANITARIO, UNIÃO EUROPEIA.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a ordem do dia registrada nos jornais e revistas mostra escândalos, incêndios, redução da Floresta Amazônica, temas que trazem à reflexão e que têm grande repercussão. Talvez o ideal fosse aproveitar meu horário para também buscar um registro aqui e acolá do que está explodindo na imprensa. Mas, Sr. Presidente, quero fazer outro tipo de comentário. Bem que os bancos - principalmente os oficiais -, que tanto dinheiro estão jogando fora, poderiam ouvir este meu registro.

No interior do meu Estado, sobretudo em dois Municípios, Coari e Tefé, o caboclo não só carrega consigo as dificuldades, os desafios do interior, as cicatrizes orgulhosas de dever cumprido, mas também defende o solo amazonense. E eles estão agora sentindo na pele, Sr. Presidente, que, a cada dia que passa, o seu sustento vai desaparecendo. Quero referir-me ao último sinal do extrativista legítimo, que é o homem da castanha. Conversei com vários, com os interessados na sobrevivência dessa atividade.

Por isso, Sr. Presidente, quero que esta minha manifestação de hoje, em vez de buscar escândalos, registre uma infinita solidariedade ao caboclo da minha terra. Faço isso porque tenho anotações que me foram entregues exatamente por eles.

Cerca de cinco meses por ano, essa atividade econômica, o extrativismo puro, por mais paradoxal que possa parecer, preserva a natureza, preserva a floresta, impede que outros - esses, sim, os grandes gananciosos - dela retirem lucros e depois partam.

Observem esta anotação: “A castanha está na pauta de exportação com recursos da ordem de 5 mil toneladas”. Isso representa, Sr. Presidente, entre US$7 milhões e US$8 milhões. Para o produtor começa inviabilizar-se essa possibilidade porque, enquanto a exportação bruta, in natura, custa cerca de US$1,50 o quilograma, são pagos ao produtor - e chamo a atenção do Plenário para isto - US$0,35 centavos.

Ora, enquanto se vê o escândalo das revistas de hoje de que bilhões de dólares foram jogados fora, o nosso produtor, o pobre homem da castanha, aquele caboclo que se sustenta à custa de muita dificuldade, não tem financiamento. E não tendo o financiamento para a safra, temos a regressão para cerca de 50 anos. O caboclo fica na dependência, subjugado pelo exportador, que dita o preço. Como ele não encontra em nenhuma paragem alguém que se volte para a sua sobrevivência, ele é obrigado a se entregar como se estivesse manietado, agrilhoado, sofrendo na pele essa inclemente circunstância do tempo.

Outra anotação, Sr. Presidente, é que, na União Européia - e nesse caso chamo a atenção de V. Exª., Senador Edison Lobão, que preside esta solenidade, porque é um estudioso da matéria -, a exportação tem encontrado dificuldades; e elas são muitas, porque a União Européia coloca barreiras sanitárias descabíveis à nossa castanha.

Aliás, o nosso caboclo, Sr. Presidente, se tivesse recebido de determinadas autoridades o apoio fantástico que se dá a certas organizações, não precisaria do trigo para comer o pão. Ele tem a tapioca, da qual pode fazer a sua alimentação por meio de várias circunstâncias que lhe dão aproveitamento - o chamado beiju, por exemplo, que o caboclo sabe fazer muito bem - e a castanha, que é um alimento muito forte. E, se o Governo se dedicasse, a castanha estaria incluída no aproveitamento para a merenda escolar. Cada castanha ou duas somam calorias exatamente iguais - e talvez até superiores - as de um bife, ao qual o caboclo não tem acesso. A castanha é exportada e depois nos volta em termos de royalties, com preço fabuloso, enquanto se dá ao produtor apenas US$0,35.

Ora, Sr. Presidente, quero, desta tribuna, como dizia no começo, revestir este meu pronunciamento da mais infinita solidariedade, porque enquanto escândalos espocam exatamente por causa do dinheiro, nega-se ao caboclo, àquele produtor, àquele que mantém a floresta intacta, um centavo de possibilidade. Se fosse possível essa contribuição, em termos de financiamento ou de fomento à produção, certamente o exportador iria pensar duas vezes para explorar e ditar o preço da castanha.

Portanto, meu pronunciamento, Sr. Presidente, é de nítido protesto contra o que se faz com aquela região em derredor do caboclo da minha terra.

Quero, Sr. Presidente, deixar contristado que, a cada dia que passa, mais se sente desconforto em exercer a política com p maiúsculo, a política com seriedade, a política sem concessões. Parece que a dignidade do político agora está sendo monopólio de determinado segmento.

Sr. Presidente -- vou mais uma vez desta tribuna registrar isto --, eu não tenho um cargo federal neste Governo que tenha sido indicação minha, não devo nenhuma circunstância de favor pessoal; ao contrário, tenho brigado por causa da Zona Franca de Manaus. Por isso não me venham, sobretudo os segmentos do Governo, tentar dizer que o Estado do Amazonas é beneficiado por certas e determinadas correntes. Em não sendo, aqui fica o protesto, que ao mesmo tempo significa a solidariedade do caboclo do interior do Amazonas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/05/2001 - Página 9973