Discurso durante a 59ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

REGISTRO DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO-AERODROMO "SÃO PAULO" COMO CAPITANIA DA ESQUADRA BRASILEIRA, EM CERIMONIA REALIZADA NO DIA 28 DE ABRIL ULTIMO, NO PORTO DE SANTOS.

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
FORÇAS ARMADAS.:
  • REGISTRO DA INCORPORAÇÃO DO NAVIO-AERODROMO "SÃO PAULO" COMO CAPITANIA DA ESQUADRA BRASILEIRA, EM CERIMONIA REALIZADA NO DIA 28 DE ABRIL ULTIMO, NO PORTO DE SANTOS.
Publicação
Publicação no DSF de 25/05/2001 - Página 10378
Assunto
Outros > FORÇAS ARMADAS.
Indexação
  • PARTICIPAÇÃO, ORADOR, COMEMORAÇÃO, PORTO DE SANTOS, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), INCORPORAÇÃO, FORÇAS ARMADAS, NAVIO AERODROMO, MARINHA DE GUERRA, LEITURA, PRONUNCIAMENTO, SOLENIDADE, AUTORIA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GERALDO QUINTÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO, DEFESA.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, poesia e guerra, que relação podem ter? Se poesia é “o que há de elevado ou comovente nas pessoas ou nas coisas, aquilo que desperta o sentimento do belo”, e guerra significa conflito, hostilidade, como conciliar ambos os termos sem incorrer num paradoxo? Parece impossível tal conciliação. Entretanto, a história da literatura registra inúmeros exemplos de coexistência harmoniosa entre inspiração poética e disposição bélica, de modo especial quando esta disposição fica circunscrita às atitudes estritamente defensivas, como as que caracterizam o Estado democrático de direito brasileiro até no texto da Constituição.

            Dia 28 do mês passado, no Porto de Santos, participei de memorável episódio, ilustrativo do que acabo de dizer. Durante a incorporação operacional de nosso novo navio-aeródromo adquirido da França, coube ao Exmº Ministro de Estado da Defesa, Geraldo Quintão, lembrar proféticas palavras do Príncipe dos Poetas brasileiros, o saudoso Guilherme de Almeida, quando prognosticou que a próxima belonave brasileira, herdeira do nome e das tradições do encouraçado “São Paulo”, seria um porta-aviões. Mas, ao poeta maior, talvez fosse inimaginável estar falando de um navio com 32.500 toneladas de deslocamento bruto, 266 metros de comprimento, 51,2 metros de largura, 30 nós de velocidade máxima, 2 catapultas e tripulação de 1030 homens, além de outros 670 que lhe permitirão operar 37 aeronaves de asa fixa e 2 helicópteros. Um portentoso herói de guerra, como foi o encouraçado “São Paulo”, e que, rebatizado, inicia agora atividades em águas brasileiras para dar prosseguimento ao excelente trabalho desenvolvido pelo navio-aeródromo ligeiro “Minas Gerais” nas últimas cinco décadas.

Estavam presentes à cerimônia de transferência de subordinação do porta-aviões ao Setor Operativo da Marinha, Sua Excelência o Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e o Exmo. Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, bem como inúmeras autoridades e personalidades, entre as quais os Srs. Pedro Parente, Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República; General Alberto Cardoso, Ministro Chefe do Gabinete da Segurança Institucional; Almirante-de-Esquadra Sérgio Chagastelles, Comandante da Marinha; e o ilustre Prefeito de Santos, Beto Mansur. Na viagem do Rio de Janeiro a Santos, tendo a bordo o Excelentíssimo Presidente da República, o NAe “São Paulo” foi escoltado pelas fragatas “Niterói” e “Rademaker”. Depois, sua importância para incrementar a vigilância em nosso mar e, ao mesmo tempo, servir de meio para treinar e aprimorar tripulações ficou patente na voz de todos os oradores. O Presidente Fernando Henrique Cardoso foi além. Afirmou que o nome dado ao porta-aviões expressa o sentimento de integração nacional e que desejara entregar o navio ao saudoso Governador Mário Covas, acentuando: “Hoje, entrego a quem o sucede de modo admirável. Sinto-me orgulhoso por São Paulo e pelo Brasil.” Acrescentou que um país com o nosso Litoral “requer um poderio naval a sua altura. Somos uma Nação que luta pela paz, o que não significa que podemos prescindir de uma capacidade militar moderna.”

O Governador Geraldo Alckmin ressaltou o fato de o navio-aeródromo levar o nome de São Paulo como “uma honra a todos os paulistas”, dizendo: “O Estado de São Paulo é um pólo de alta tecnologia comparável à que é utilizada no A-12. Ao pisar neste convés, senti que sou mais brasileiro ainda por estar num território brasileiro ainda desconhecido para mim.” Em nome do Governo paulista, houve entrega de uma bandeira brasileira oferecida pela Sociedade Amigos da Marinha e especialmente confeccionada para permanecer a bordo, em local de honra, num arcaz metálico que ostenta o mapa do Estado de São Paulo, gravado em placa de metal dourado. Uma réplica do Pavilhão foi hasteada solenemente na popa do porta-aviões, como parte da cerimônia.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos nós podemos perceber por intuição o significado da transferência do NAe “São Paulo” do âmbito da Diretoria-Geral do Material da Marinha para o Comando de Operações Navais. Contudo, nas ordens do dia emitidas pelos ilustres Almirantes-de-Esquadra Ronaldo Longo, Diretor-Geral do Material, e Luiz Fernando Portella Peixoto, Comandante de Operações Navais, fica clara a amplitude desse significado. Da mesma forma, figura por inteiro, em meio à descrição dos procedimentos havidos para a aquisição da belonave, nos discursos proferidos pelos Exmºs Presidente da República e Ministro de Estado da Defesa. Em conseqüência, creio ser de interesse do Senado da República a transcrição desses documentos - ordens do dia dos comandantes e pronunciamentos de S. Exas. -, em seus Anais, para que possam ser úteis no futuro como fontes oficiais de referência sobre a nova fase operacional agora iniciada pela Marinha do Brasil. Permitam-me, portanto, reproduzi-los.

Eis o que disse o Excelentíssimo Presidente da República:

“Hoje é um dia muito especial para a Marinha do Brasil.

“A transferência do Navio-Aeródromo ‘São Paulo’ para o Setor Operativo da Marinha agrega ao nosso Poder Naval importante ampliação de sua capacidade de defesa dos interesses brasileiros no mar.

“Um país como o nosso, possuidor de extenso litoral, com mais de 7 mil quilômetros de costa, requer um Poder Naval compatível com sua estatura no cenário internacional.

“Hoje, como ontem, o Estado brasileiro preocupa-se em implementar medidas concretas que ofereçam à nação a garantia de respeito à sua soberania.

“Somos e sempre seremos uma nação que luta pela paz, o que não significa poder prescindir de Forças Armadas modernas, capacitadas e dotadas de adequado potencial dissuasório.

“Poucos países, ainda hoje, têm capacidade de operar com eficiência em alto-mar.

“É importante que o Brasil continue a ser um deles.

“A aquisição deste navio-aeródromo foi uma oportunidade para substituir o ‘Minas Gerais’, que tantos e tão bons serviços prestou ao país.

“Seus mais de 40 anos de operação, sua demonstrada resistência no mar e as destacadas missões que cumpriu não serão esquecidas ou descontinuadas.

“O Brasil preocupou-se em dar continuidade à aviação embarcada e o valor que o "Foch" representava para a Marinha francesa representou credenciais seguras para sua escolha como herdeiro das tradições do valoroso ‘Minas Gerais’.

“As condicionantes técnicas das atuais aeronaves de combate impunham a aquisição de uma plataforma flutuante compatível.

“A modernidade se impôs.

“O início da vida operativa do ‘São Paulo’, associado à aquisição dos aviões de combate AF-1, representa marco de nova fase da Força Naval brasileira.

“Sua transferência para a Esquadra consolida a capacidade operacional da aviação de asa fixa embarcada. Empresta, assim, à nossa Marinha a projeção e a estatura que a Nação dela espera.

“Quase todo nosso comércio exterior depende de rotas marítimas, mais de três quartos do petróleo brasileiro são extraídos da plataforma continental; sem falarmos do significativo potencial das águas costeiras para a pesca. Esses fatos, por si sós, demonstram a necessidade de uma Marinha moderna, adestrada e eficiente.

“Somos um grande país, com 4 milhões e 200 mil quilômetros quadrados de área marítima, comparável à extensão da Amazônia Legal. Temos que preservá-la para as gerações futuras.

“Quero, em especial, dirigir-me aos oficiais e marinheiros que terão sob sua responsabilidade conduzir o "São Paulo" ao cumprimento de suas missões.

“Sei do profissionalismo, da dedicação e, por que não dizer, dos sacrifícios que a vida no mar impõe a todos que enfrentam os seus desafios.

“A motivação dos senhores exigiu do Presidente da República os esforços para dotar a Marinha de meios materiais compatíveis com a riqueza humana de seus quadros e a abrangência de sua destinação constitucional.

“Não é tarefa fácil direcionar recursos para defesa, diante de tantas e tão prementes demandas sociais, mas era meu dever corresponder à incansável dedicação de todos os senhores.

“Foi assim que, com satisfação, autorizei a aquisição do "São Paulo" e acompanhei o processo de seu recebimento, que se procedeu em tempo recorde (dois meses) e em ambiente de cordialidade e profissionalismo entre as Marinhas francesa e brasileira.

“Este magnífico navio, a entrada em operação de seus aviões de alto desempenho, o cumprimento de suas tarefas, a ampliação, enfim, da capacidade da nossa Armada de defender os interesses da Pátria revestem-nos, a todos, de justificado orgulho.

“Suas 32 mil toneladas, seu histórico de combate, sua alma e tradições, que tanto significaram para os marinheiros franceses, passam hoje a somar-se aos valores da Marinha do Brasil.

“Ontem ‘Foch’, hoje, orgulhosamente, ‘São Paulo’. São Paulo, Governador, nossa terra.

“E ao homenagear este navio com a bandeira e o arcaz, isso simboliza, como bem disse Vossa Excelência, o sentimento de todos nós, de integração nacional. Esse navio portou o nome glorioso de ‘Minas Gerais’, o seu antecessor. Hoje porta o de ‘São Paulo’, portaria de qualquer um outro Estado da Nação, com o mesmo sentimento de brasilidade. Mas a nós, de São Paulo, é muito grato ter a bandeira brasileira aqui na proa de nosso navio ‘São Paulo’.

            “E ao homenagear São Paulo, que é como a Marinha nos faz, e através do seu governador, eu não queria deixar de dar uma última palavra dizendo que, inicialmente, tinha pensado trazer esse navio para entregá-lo ao governador Mário Covas. Hoje, entrego a quem o sucede de modo admirável. Sinto-me orgulhoso por São Paulo e pelo Brasil. Muito obrigado.”

            Por sua vez, assim se manifestou o Exmo. Ministro de Estado da Defesa:

            “Serão breves minhas palavras. Na condição de ministro da Defesa, cabe-me pela segunda vez desde a chegada do navio-aeródromo ‘São Paulo’ ao Brasil, fazer uso da palavra em sua homenagem. Na primeira, em mais extensa abordagem, elenquei as razões históricas, técnicas e políticas, que justificam a compra do então porta-aviões “Foch”, pelo Brasil. E, agora, faço-o, ainda com satisfação, certo de que essa aquisição será de extrema valia para a Marinha Brasileira, sobretudo por preservar e ampliar sua capacidade operativa na aviação embarcada, adquirida e apurada nos longos 50 anos do NAeL ‘Minas Gerais’, por manter uma estrutura de defesa compatível com a de nossos vizinhos, por possibilitar proteção de nossas rotas de navegação e de nosso vasto litoral, e assim garantir nosso patrimônio e interesses marítimos, visando ao atendimento das tarefas de competência da Marinha, além de constituir um pólo de integração das marinhas dos países vizinhos.

            “A sociedade brasileira bem tem compreendido e aprovado a destinação de recursos orçamentários para o reequipamento e modernização de nossas Forças Armadas, decisão estratégica de Vossa Excelência, Senhor Presidente, com a finalidade de nossas Forças recuperarem sua capacidade de defesa, imprescindível a um país continental, rico e próspero, como o Brasil.

            “Sem dúvida, é a aplicação da estratégia dissuasória de caráter defensivo, em consonância com a tradição pacífica da política externa brasileira, como preconizada na Política de Defesa Nacional (PDN).

            “Agora, porém, permitam-me que ressalte a beleza e o significado da cerimônia há pouco realizada, na linha das melhores tradições navais, expressa pela simbologia da entrega pelo Estado de São Paulo ao Navio-Aeródromo ‘São Paulo’ da Bandeira Nacional e do arcaz para sua guarda. Nosso pavilhão, oferecido pelos paulistas, através da SOAMAR - Sociedade dos Amigos da Marinha, e o arcaz, pelo Governo do Estado, representado pelo seu ilustre Governador Geraldo Alckmin, atos esses que consolidam cara tradição na Marinha do Brasil, como se a sociedade e Governo paulistas ratificassem a nacionalidade brasileira do navio-aeródromo ‘São Paulo’, em tocante homenagem.

            “Esse é o terceiro navio da Marinha Brasileira a receber o nome de ‘São Paulo’, conforme os arquivos da Força Naval. Sucede ao encouraçado ‘São Paulo’ que deixou um rastro de glórias em sua história.

            “De um de seus tripulantes à época, o contra-almirante Yapery Tupiassu de Brito Guerra, colho a descrição: “Serviu ao Brasil e à Esquadra brasileira por mais de 40 anos. Era veterano de duas guerras e participou de todos os acontecimentos que envolveram o País no período de sua atividade. Era uma verdadeira fortaleza flutuante, com bateria principal composta de 12 canhões de 305 milímetros.” “Usava como brasão de armas o mesmo logotipo da cidade de São Paulo, inclusive o dístico heráldico ‘Non Ducor, Duco.”

            “O almirante Luiz Brígido Bittencourt relata haver o velho encouraçado realizado missões de relevo como, em julho de 1920, o transporte da família real da Bélgica para o Brasil; em janeiro de 1921, o traslado dos restos mortais do ex-imperadores do Brasil, de Lisboa para o Rio de Janeiro. Mas, em 1945, finda a Segunda Guerra, regressando ao Rio de Janeiro, um forte temporal fez-lhe água e o adernou, e assim, alquebrado, chegando à Baía de Guanabara, o que o levou a ser desativado, dar baixa da Esquadra e desarmado, ter seu casco vendido como sucata ao país que o construíra - a Inglaterra.

            “Seu triste destino na volta à Inglaterra, com seu afundamento sob violenta tempestade, foi visto pelo paulista ilustre, o poeta Guilherme de Almeida, na sua sensibilidade e inspiração poéticas, com essa imagem: ‘Flagelado e coroado de espinhos pelas brocas do desarmamento, como um rei da ignomínia (deixou o Arsenal de Marinha) e foi seguido, atado e atirado por cabos de aço, o caminho salgado como lágrima de seu calvário marítimo. Quatro mil milhas passivamente seguiu na esteira arrastante e humilhante de dois rebocadores estrangeiros”. Ao final, “...o Encouraçado São Paulo, mártir vendido por 30 dinheiros, revoltou-se, libertou-se e sumiu.É que sua alma altaneira não suportou o opróbrio de ser conduzido, o que afrontava seu dístico heráldico - ‘Não sou conduzido. Conduzo’. E o Príncipe dos Poetas brasileiros, em manifesta premonição, concluiu: “O ‘São Paulo’ libertou-se, por isso ele tem que voltar atualizado, com suas oito letras não mais honrando a guirlanda de popa de um encouraçado, mas de um porta-aviões que será o primeiro da Marinha de Guerra do Brasil.”

            “Nosso maior poeta paulista não viveu o bastante para ver seu sonho materializar-se, mas de algum lugar seu espírito estará feliz, assistindo à homenagem de seu Estado de São Paulo - Governo e sociedade - ao porta-aviões por ele esperado e prenunciado que um dia, como nova nau-capitânia da Marinha do Brasil, portaria orgulhoso o nome de São Paulo, tremulando a Bandeira do Brasil pelos mares sem fim.

            “Ao desejar bons ventos e bons mares aos tripulantes do novo ‘São Paulo’, aproveito para augurar-lhe também um destino de glória e de engrandecimento de nossa Pátria, cumprindo a mensagem contida no dístico heráldico paulistano, que bem simboliza o indômito espírito paulista: ‘Non ducor, duco’. Muito obrigado.”

            Foram lidos os seguintes os documentos emitidos pela Marinha:

            “MARINHA DO BRASIL

            “DIRETORIA-GERAL DO MATERIAL DA MARINHA

            “SANTOS, SP

            “Em 28 de abril de 2001

             “ORDEM DO DIA N.° 1/2001

            “Assunto: Transferência de Subordinação do Navio-Aeródromo ‘São Paulo’

            “Em cumprimento à Portaria do Comandante da Marinha n.° 94 de 19 de abril de 2001, realiza-se, nesta data, a transferência de subordinação do Navio-Aeródromo "São Paulo" do Diretor-Geral do Material da Marinha para o Comandante de Operações Navais.

            “No segundo semestre de 1999, em seqüência a entendimentos realizados entre o Ministro da Defesa, o Comandante da Marinha e o Embaixador da França no Brasil e atendendo a convite daquele país, uma comissão de oficiais brasileiros foi enviada à Toulon para avaliar as condições em que se encontrava o NAe ``Foch".

            Em março de 2000, o Governo da França encaminhou ao Governo Brasileiro uma minuta de acordo para a cessão desse Navio-Aeródromo, oferecendo ainda a participação de uma delegação da Marinha do Brasil na travessia que o navio faria entre Cape-Town e o Rio de Janeiro.

            Com a realização de novas avaliações técnicas e operativas, o Comando de Operações Navais elaborou parecer conclusivo sobre a aquisição do NAe "Foch,'. Ao mesmo tempo, a Diretoria-Geral do Material da Marinha preparou Estudo de Obtenção e minuta alternativa à proposta de acordo apresentada pelos franceses.

            Após apreciação pelo Almirantado, o Comandante da Marinha delimitou os contornos da futura negociação, transmitiu orientação segura, sensata e realista e atribuiu ao Diretor-Geral do Material da Marinha a tarefa de constituir um grupo para negociar a aquisição do navio.

            “As conversações havidas entre os representantes das duas nações desenvolveram-se em ambiente de amizade, cooperação, boa vontade e profissionalismo e o acordo negociado incluiu a permanência de equipamentos que inicialmente seriam retirados, o adestramento da tripulação brasileira durante oito semanas no porto e dez dias no mar, a colocação do NAe "Clemenceau" à nossa disposição até 2002 para a retirada de peças que nos pareçam úteis, a cessão de todos os sobressalentes existentes na Marinha Francesa específicos dos NAe "Foch" e "Clemenceau", e o fornecimento de manuais e planos de construção necessários à manutenção e reparos do navio. Os entendimentos previamente mantidos pelos Presidentes do Brasil e da França foram decisivos para a condução das negociações.

            “No mês de agosto de 2000, o Ministro da Defesa concluiu a negociação e participou ao Governo Francês o interesse do Governo Brasileiro em adquirir o Navio-Aeródromo "Foch'' nas condições acordadas entre as partes francesa e brasileira. Ressaltou que estavam em curso as providências que permitiriam a assinatura do contrato e que era intenção que o cronograma de transferência fosse plenamente cumprido.

            “Em setembro o processo de aquisição foi ao Conselho de Defesa e no dia 26 do mesmo mês o Ministro da Defesa, o Comandante da Marinha e o Diretor-Geral do Material da Marinha assinaram o contrato de aquisição do NAe "Foch" pela parte brasileira, o qual foi firmado, em 12 de outubro, pelo Ministro da Defesa e demais autoridades da parte francesa.

            “Nascia assim o NAe "São Paulo", incorporado à Armada do Brasil no dia 15 de novembro de 2000, na cidade de Brest, em cerimônia presidida pelo Chefe do Estado-Maior da Armada, seguindo as tradições previstas no Cerimonial da Marinha do Brasil e ficando subordinado à Diretoria-Geral do Material da Marinha, para acompanhamento de seu recebimento até a entrega como navio pronto para emprego pelo Setor Operativo.

            “No dia seguinte ao da incorporação do NAe "São Paulo" foram iniciados os serviços de manutenção e o recebimento de planos, manuais e sobressalentes previstos no contrato de aquisição, tendo embarcado mais de mil toneladas de sobressalentes nos dois meses e meio em que o navio permaneceu na França sob bandeira brasileira. Nesse período, selecionou-se mais de seiscentos equipamentos para serem retirados do NAe ‘Clemenceau’ e remetidos ao Brasil ainda no corrente ano, juntamente com os demais planos de construção.

            “O excelente e diuturno trabalho realizado pelo Grupo de Recebimento do NAe ‘São Paulo’, metade de sua tripulação, e pelo Grupo de Recebimento na França permitiu que fossem cumpridas as datas planejadas de partida do navio de Brest, 1.° de fevereiro, e de chegada ao Brasil, 17 de fevereiro.

            “O Navio-Aeródromo "São Paulo’', doravante Capitânia de nossa Esquadra, é o terceiro navio da Marinha do Brasil a ostentar o nome deste importante Estado de nossa Federação, com a imponência, a pujança e a posição de vanguarda do Estado de São Paulo, e simbolicamente fará tremular em seu mastro, a partir de hoje, a bandeira nacional ofertada pela Sociedade Paulista, representada pela Sociedade de Amigos da Marinha.

            “Seguindo a heráldica da Marinha, desde a sua incorporação, passou a usar o mesmo brasão projetado para o segundo navio a utilizar o nome ‘São Paulo’', um Encouraçado, dos mais poderosos de sua época, construído em estaleiros da Inglaterra, com a quilha batida em 30 de abril de 1907. Até a sua Mostra de Desarmamento, ocorrida em 02 de agosto de 1947, prestou relevantes serviços ao Brasil, participando, inclusive, das duas Guerras Mundiais.

            ‘O primeiro navio ‘São Paulo’ era de casco de madeira e propulsão a vapor, fretado pelo Governo Imperial para servir de transporte durante a Guerra do Paraguai, em junho de 1865.

            “A aquisição de um Navio-Aeródromo para substituir o NAeL ‘Minas Gerais’ faz parte de estudos decorrentes do Plano Estratégico da Marinha. documento periodicamente revisto, que leva em consideração a legislação nacional, acordos e tratados internacionais, políticas e diretrizes governamentais e a análise da conjuntura nacional e internacional, em seus aspectos políticos, econômicos e militares de interesse do Brasil. com reflexos sobre a Marinha. Está incluída no Programa de Reaparelhamento da Marinha, tendo a obtenção do NAe "São Paulo'' seguido a Sistemática de Planejamento do Plano Diretor da Marinha. Além do expressivo valor estratégico, essa aquisição de oportunidade possibilitará a utilização do navio em operações de proteção aérea de Força Naval com mais segurança, devido às suas dimensões e à sua velocidade, ensejando seu emprego onde for necessário para assegurar os interesses do Brasil. Assim, a visão do Senhor Presidente da República, do Governo do Brasil e do Conselho de Defesa permitiu ao País dar um passo importante para firmar-se no cenário mundial, fato intensamente reconhecido no exterior. reafirmado pelos cumprimentos recebidos em nossas representações e que contou com a aprovação da maioria do povo brasileiro. Deste modo, o trabalho realizado pelo Ministério da Defesa, Comando da Marinha e por diversos órgãos do Governo Brasileiro foi coroado de pleno êxito.

            “Este momento nos enche de orgulho como marinheiros e, acima de tudo, como brasileiros e o Setor do Material da Marinha sente-se especialmente orgulhoso por sua participação neste empreendimento, realizado com a orientação e o apoio do Comandante da Marinha em conjunto com os demais Setores da Marinha, e satisfeito de poder entregar ao Comandante de Operações Navais, em cerimônia que conta com as presenças do Presidente da República, Governador do Estado de São Paulo, Ministro da Defesa e Comandante da Marinha, dentre outras . autoridades, um navio perfeitamente operativo, após ter cumprido fielmente o cronograma de trabalho estabelecido para seu recebimento.

            “O Navio-Aeródromo ‘São Paulo’ passa a ser mais um meio da Marinha do Brasil a se integrar na proteção das águas jurisdicionais brasileiras, mantendo o lema que por tradição era do Estado que lhe empresta o nome, e que hoje é adotado pela cidade de São Paulo: ‘NON DUCOR DUCO’ (não sou conduzido, conduzo).

            “Que tenha bons ventos e mares tranqüilos.

            “AIRTON RONALDO LONGO

            “Almirante-de-Esquadra

            “Diretor-Geral”

            "MARINHA DO BRASIL

            "COMANDO DE OPERAÇÕES NAVAIS

            "Rio de Janeiro, RJ

            “Em 28 de abril de 2001

            "ORDEM DO DIA N° 4/2001

"Assunto: Transferência de subordinação do NAe São Paulo para o Setor Operativo.

            "Nesta bela cerimônia em que o Setor Operativo da Marinha recebe o Navio Aeródromo "São Paulo", vale recordar o grande Barão do Rio Branco em uma saudação á Marinha., quando disse: "desde Riachuelo, compreendia-se, como agora de novo se compreende entre nós, que navios c marinheiros não se improvisam e que uma Nação como a Brasileira, com tão vasta extensão de costa e tão grandes rios, precisa estar seriamente aparelhada para a pronta defesa de suas comunicações marítimas e fluviais, do seu comércio e dos seus Portos"

            "De fato, vivemos a concretização de um sonho de gerações de marinheiros que souberam compreender a importância de ter o País uma Marinha capacitada a controlar áreas marítimas de interesse e, quando necessário, dentro do que preceitua a Política de Defesa Nacional, atuar em operações de paz e no resgate de nacionais em território conflagrado.

            "Essencial para executar essas tarefas e para garantir a defesa aérea de uma Força Naval. o "São Paulo" e os seus aviões darão uma nova dimensão à Esquadra Brasileira dotando-a com o braço longo que lhe faltava, já que as suas características operativas permitirão a execução de operações em áreas oceânicas afastadas e sob quaisquer condições de vento.

            "Ao mesmo tempo, vem esse grande porta-aviões consolidar o processo de implantação da asa fixa na Marinha, substituindo o seu irmão mais velho ‘Minas Gerais’’ que após quarenta anos de operações, passa ao seu sucessor a honra de ser o Capitânia da Esquadra.

            "Que bons mares e ventos recebam o ‘São Paulo’, tenha uma existência pacífica e que após lançar as suas aeronaves. indiferente aos ventos, ou às calmarias, as receba sempre de volta em seu convés de vôo, com a satisfação da missão cumprida.

            “LUIZ FERNANDO PORTELLA PEIXOTO

            “Almirante-de-Esquadra

            Comandante”

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o nome do Estado que represento nesta Casa está intimamente relacionado a muitos dos mais importantes aspectos da vida do povo brasileiro. Isto justifica a homenagem prestada pela Marinha ao escolhê-lo para denominar sua belonave mais importante e, com isso, realizar o vaticínio do maior poeta paulista. Imbuído do mais legítimo orgulho e pleno de agradecimento como filho de São Paulo, desejo que a Capitânia da Esquadra brasileira, o navio-aeródromo “São Paulo”, seja um agente de nosso espírito pacífico. Mas, quero igualmente que a garbosa presença desse imponente porta-aviões signifique também a afirmação da Pátria de que sua soberania e riquezas, mesmo as contidas nas porções mais remotas do mar jurisdicional do Brasil, sempre estarão preservadas.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/05/2001 - Página 10378