Discurso durante a 62ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

DEFESA DAS AÇÕES DO CONSELHO DE ETICA E DECORO PARLAMENTAR NO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO DA VIOLAÇÃO DO PAINEL ELETRONICO.

Autor
Heloísa Helena (PT - Partido dos Trabalhadores/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • DEFESA DAS AÇÕES DO CONSELHO DE ETICA E DECORO PARLAMENTAR NO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO DA VIOLAÇÃO DO PAINEL ELETRONICO.
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/2001 - Página 10770
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • REGISTRO, ANAIS DO SENADO, ATUAÇÃO, CONSELHO, ETICA, SENADO, ESPECIFICAÇÃO, ROBERTO SATURNINO, SENADOR, RELATOR, INVESTIGAÇÃO, VIOLAÇÃO, VOTAÇÃO SECRETA, SAUDAÇÃO, JUSTIÇA, JULGAMENTO, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, EX SENADOR.
  • LEITURA, OBRA LITERARIA, CARLOS MARIGHELLA, EX-DEPUTADO, POETA, LIDER, ESTADO DA BAHIA (BA), HOMENAGEM, LUTA, LIBERDADE, POVO, BRASIL.

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu não posso falar em nome de todos os membros do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar desta Casa. Mas sinto-me na obrigação de dizer, como membro do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, acompanhando os seus outros membros e vendo o esforço gigantesco, a grandeza, a honestidade do Senador Roberto Saturnino, Relator do processo, para que fique registrado nos Anais desta Casa, que neste momento temos que agir de uma única forma: com a serenidade de um juiz após expulsar de campo um jogador desqualificado! Por mais que ele grite de forma feroz junto com sua torcida, seguimos em frente, cumprindo as nossas obrigações constitucionais, porque o Conselho de Ética apenas cumpriu para com as suas obrigações constitucionais.

E certamente o povo brasileiro, quando julgou o Senador que acaba de renunciar - enquanto que o Conselho de Ética o julgou pelas infrações graves cometidas ao Código de Ética e à Constituição - o julgou pela sua história de trevas, sombras, arrogância, corrupção, cinismo e dissimulação. Mas não foi esse o julgamento que foi feito pelos membros do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.

Quero deixar registrado também, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que eu, Heloísa Helena, vou continuar ensinando aos meus filhos, como todas as mães brasileiras continuarão a fazê-lo, que o crime não compensa. E que a mais bela e suprema satisfação moral que um ser pensante tem que ter é ser extremamente escrupuloso no campo das idéias e das ações.

Eu quero que fique registrado também que continuarei, assim como milhares de mulheres lutadoras do povo que, mesmo mortas de cansaço de tantas lutas infelizes e inglórias, mesmo com a alma exausta, continuam firmes com o coração pulsando de coragem, de solidariedade e de esperança, ostentando, orgulhosas, a ternura, as lágrimas, a fúria, como cicatrizes que ganhamos quando não nos acovardamos e permanecemos no combate e na luta.

Portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu não poderia deixar de registrar nos Anais desta Casa essas considerações e uma poesia muito linda; uma poesia de um baiano livre; de alma libertária; que deu a sua vida e a sua dignidade para fazer uma Pátria livre, soberana, igualitária e fraterna. Quero deixar registrado essa poesia para homenagear a Bahia livre, a Bahia que não é navio negreiro de ninguém. Eu quero deixar registrado, nos Anais desta casa, a belíssima poesia de Carlos Marighella, que dizia:

É preciso não ter medo,

É preciso ter a coragem de dizer.

Há os que têm vocação para escravo,

mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.

Não ficar de joelhos,

que não é racional renunciar a ser livre.

Mesmo os escravos por vocação

devem ser obrigados a ser livres,

quando as algemas forem quebradas.

É preciso não ter medo,

é preciso ter coragem de dizer.

O homem deve ser livre...

O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,

e pode mesmo existir até quando não se é livre.

E no entanto ele é em si mesmo

a expressão mais elevada do que houver de mais livre

em todas as gamas do humano sentimento.

É preciso não ter medo,

é preciso ter a coragem de dizer.

(Carlos Marighella)

            Portanto, homenageando o povo baiano, homenageando o povo brasileiro, que não se ajoelha covardemente diante da truculência, da intolerância, da covardia, da mentira, do cinismo e da dissimulação, a poesia de Carlos Marighella: "É preciso não ter medo, é preciso ter a coragem de dizer."


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/2001 - Página 10770