Discurso durante a 69ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

DEFESA DA INSTALAÇÃO DA CPI DA CORRUPÇÃO.

Autor
Ademir Andrade (PSB - Partido Socialista Brasileiro/PA)
Nome completo: Ademir Galvão Andrade
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CORRUPÇÃO. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • DEFESA DA INSTALAÇÃO DA CPI DA CORRUPÇÃO.
Aparteantes
Bello Parga.
Publicação
Publicação no DSF de 09/06/2001 - Página 12715
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CORRUPÇÃO. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CONTESTAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, JOÃO BATISTA ERICEIRA, ADVOGADO, PRONUNCIAMENTO, BELLO PARGA, SENADOR, CRITICA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CORRUPÇÃO.
  • DEFESA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CORRUPÇÃO, VIABILIDADE, APURAÇÃO, DENUNCIA, IRREGULARIDADE, GOVERNO FEDERAL.
  • QUESTIONAMENTO, INCOERENCIA, ATUAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRIAÇÃO, PROGRAMA DE ESTIMULO A REESTRUTURAÇÃO E AO FORTALECIMENTO AO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (PROER), AUXILIO, BANQUEIRO, SIMULTANEIDADE, OMISSÃO, ASSISTENCIA, MUTUARIO, EMPRESA DE COMERCIO IMOBILIARIO, PERDA, INVESTIMENTO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, AGRICULTOR, PAIS, DIFICULDADE, DIVIDA, MOTIVO, EXCESSO, COBRANÇA, JUROS, PRIORIDADE, PAGAMENTO, DIVIDA EXTERNA.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.)- Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ouvi a leitura que o Senador Bello Parga fez do artigo de um jornalista da sua terra a respeito do histórico das CPIs. Quero manifestar, aqui, a minha mais absoluta discordância com relação ao pensamento desse senhor. Afinal de contas, se formos pensar apenas pelo lado de que a CPI possa promover pessoas haveríamos de não ter nenhuma. Sabe o Senador Bello Parga que os argumentos levantados pelo ilustre advogado da sua terra não procedem, porque os poderes instituídos no Brasil não chegam a resultados positivos.

Lembro-me de que quando surgiu a quebra dos primeiros bancos no Brasil, o próprio Presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a fazer declarações de que os donos dos bancos Econômico e Nacional iriam ser presos. O Governo Fernando Henrique tirou dos cofres quase R$30 bilhões para socorrer banqueiros falidos, por meio do Proer. E de lá para cá, meu caro Presidente Edison Lobão, não há um único banqueiro preso no Brasil, nem do Banco Econômico, do Nacional ou do Bamerindus, que foi vendido a um grupo internacional - vendido não, doado pelo Governo brasileiro.

Nenhum banqueiro foi para a cadeia. Ao contrário, eles esconderam o dinheiro roubado durante longos anos e, agora, no sul do meu Estado, um grupo liderado pelo Sr. Ângelo Calmon de Sá, ex-dono do Banco Econômico, que recebeu R$5 bilhões para não levar o Banco à bancarrota, é agora o maior comprador de terras do sul do Pará. Está comprando inúmeras fazendas e muito gado. Comprando e pagando um preço muito acima do mercado: está pagando na minha terra R$10 mil o alqueire, e se torna hoje, no sul do Pará, um dos maiores latifundiários do nosso Estado.

Por isso, sabe-se muito bem que essas pessoas que roubam muito nunca vão para a cadeia. Nem o Judiciário, a Promotoria, o Ministério Público, a Polícia Federal, nenhum órgão instituído por este Governo, nem mesmo esse novo órgão denominado Corregedoria-Geral da União, cuja Ministra foi designada para investigar os erros e as corrupções do Governo, chegam a resultado algum. Talvez, nem mesmo as CPIs cheguem, mas as CPIs, pelo menos, passam para a sociedade a realidade da nossa elite política; o que já é uma grande vantagem, o que já é um processo que ajuda a conscientização do povo brasileiro.

Quando a imprensa e a mídia estão presentes a atos como esses, termina alguém indo para a cadeia, como é o caso do Juiz Lalau, que, creio, é o único. O Sr. Salvatore Cacciola está na Itália, que se nega a conceder sua extradição. Todos os grandes ladrões, todos os ladrões do colarinho branco estão soltos. Se há um instrumento que pode, pelo menos, desmascarar essas pessoas e trazer à tona a realidade, esse instrumento é a Comissão Parlamentar de Inquérito.

Senador Bello Parga, é graças aos holofotes da mídia que as Comissões Parlamentares de Inquérito chegam a algum resultado. Não me refiro aos donos da mídia, mas há jornalistas com caráter investigativo muito sério. Na verdade, as próprias CPIs são mais pautadas pelo que a imprensa dita do que pelos próprios Parlamentares. Podemos citar como exemplo o caso do ex-Presidente Fernando Collor de Melo, que teve seu mandato cassado, bem como o dos anões do Orçamento, que resultou na cassação dos mandatos de alguns e na renúncia de outros, embora nenhum dos envolvidos tenha devolvido o dinheiro ao Governo nem esteja na cadeia.

Recentemente, um Senador teve seu mandato cassado em decorrência de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Também o caso dos Bancos Marka e FonteCindam desmascarados em conseqüência de uma CPI.

Então, não há a menor lógica na argumentação do ilustre advogado do Estado de V. Exª e, aliás, do Estado do bravo Senador Edison Lobão.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - V. Exª me permite um aparte, Senador Ademir Andrade?

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Ouço V. Exª, Senador Bello Parga.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Senador Ademir Andrade, V. Exª não ouviu completamente...

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Eu estava vindo para cá e ouvi, pelo rádio, o discurso de V. Exª.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Pois então V. Exª não interpretou o que disse o Dr. João Batista Ericeira. Pelo contrário, ele falou que considera positiva a existência da CPI, mas verberou, e eu verbero também, contra o exagero das CPIs. Ele é contra a tese de que a CPI vai passar o País a limpo, que o Congresso Nacional só pode existir em função das CPIs. Ele não aceita e combate isso, o que eu também faço. V. Exª pode se agradar disso, pode gostar da luz dos holofotes, pode se prender à tese de que o Governo está todo errado, está atolado na corrupção, e que só a Oposição tem razão. Mas falou uma coisa que não é verdade: disse que o Presidente da República prometeu colocar os banqueiros na cadeia. O Presidente da República, o Executivo não pode colocar ninguém na cadeia; isso compete ao Judiciário, com o julgamento dos culpados. No caso do Proer, nenhum tostão foi para os banqueiros. A ajuda do Proer serviu para salvaguardar os valores depositados pelos poupadores, pelos pequenos depositantes, pelos grandes fundos de pensão, para estes é que foi a ajuda do Proer. Todos os ex-donos de bancos foram afastados e estão sofrendo a ação persecutória do Ministério Público, estão sub judice, e todos os seus bens foram colocados em indisponibilidade - inclusive os bens do Sr. Ângelo Calmon de Sá, citado por V. Exª -, não podendo vendê-los. O Proer não foi criado para auxiliar banqueiros, mas para salvar instituições financeiras.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Senador Bello Parga, em primeiro lugar, se a CPI que está sendo proposta tem 19 temas, é porque existe uma denúncia de corrupção muito grande, feita pela base do Governo...

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - De 19 foi reduzido a 3.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Não sei se de 19 foi reduzido a 3. Mas a CPI que foi impedida de ser realizada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso tinha 19 temas. 

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Aliás, mais de 19, eram 20 e poucos itens. Mas a do Senado só tem 3 itens; todos os outros desapareceram. Acabou a corrupção só pelo fato de se anunciarem.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Senador Bello Parga, repito, se a CPI tinha 19 itens é porque as denúncias eram muito sérias. Além disso, esses 19 itens iriam atender, em parte, ao PMDB e ao PFL, que são base do Governo.

V. Exª é Senador assíduo nesta Casa e percebeu que, durante mais de um ano e meio, foram feitas denúncias gravíssimas por integrantes do PFL a Ministros corruptos do PMDB, como também denúncias de integrantes do PMDB a Ministros corruptos do PFL. Ambos são da base do Governo. Ou seja, há muito mais denúncias feitas pela própria base do Governo do que pela Oposição.

Se a proposta que está sendo apresentada agora só tem 3 itens é porque se tentou juntar os fatos mais sérios e mais graves entre todas as denúncias de irregularidades apresentadas. E V. Exª, que acompanha o noticiário, sabe da realidade, sabe que existe erro no Governo.

Digo mais, essa tese dos holofotes, das câmaras de televisão e da promoção pessoal - e aí eu repito as palavras do Ministro Pedro Malan -, essa tese de que uma mentira dita tantas vezes tende a se transformar em verdade - S. Exª falou isso na Comissão inúmeras vezes...

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - É a pura verdade.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - É a pura verdade. Então, V. Exª está querendo dizer que o Presidente Fernando Henrique, ao afirmar que a CPI seria um palco eleitoral das Oposições, está tentando pregar uma mentira à população, para que essa mentira se transforme em verdade. E sabe por que, Senador? Porque uma CPI, aqui no Senado ou uma CPI Mista, Câmara e Senado, teria 80% de fiéis integrantes do Governo. Quem indica os membros da CPI são os líderes dos partidos políticos, que são absolutamente alinhados com o Presidente Fernando Henrique. Só havia uma liderança que não era aliada, que incomodava o Presidente Fernando Henrique e que hoje não está mais nesta Casa, que é o Senador Antonio Carlos Magalhães. As outras lideranças são absolutamente alinhadas com o interesse do Planalto. Portanto, indicariam para a Comissão homens da absoluta confiança do Planalto.

Em segundo lugar, o Presidente da Comissão e o Relator seriam homens da absoluta confiança do Planalto. Nós, da Oposição, teríamos apenas 5 ou 6 entre 20. Portanto, teríamos 20% de participação nessa Comissão. Assim, não haveria como ela se transformar em um palco eleitoral para as Oposições. A Comissão poderia ser pautada pela imprensa nacional, mas jamais pelos Parlamentares da Oposição, que seriam praticamente minoria inexpressiva.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Permite-me V. Exª um outro aparte?

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Ouço mais uma vez V. Exª.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - V. Exª sabe muito bem que quer seja em uma CPI quer seja nas comissões permanentes, a Mesa dessas comissões não pode cassar a palavra de nenhum Senador. Embora não haja provas, embora a denúncia seja vazia, a palavra é livre. O Parlamentar não pode ser impedido de veicular as denúncias as mais fantasiosas, as mais absurdas possíveis, desde que isso lhe assegure espaço na mídia, na imprensa.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Ora, se temos 21 Senadores e apenas 4 são da Oposição, que dificuldade teria o Governo de enfrentar uma CPI como essa?

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - A dificuldade não é enfrentar, Senador Ademir Andrade. O problema é que essas denúncias jamais seriam provadas, mas seriam difundidas, seriam divulgadas. Esta foi a lição do Prof. Joseph Goelbels, o grande auxiliar de Hitler: era preciso martelar na mentira para que ela se transformasse em verdade.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Não importa, Senador Bello Parga. O fato é que as coisas seriam esclarecidas. O povo há de julgar. A imprensa não pode ser irresponsável a ponto de divulgar denúncias vazias.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Mas é o que ela faz todos os dias.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - O fato é que o Presidente Fernando Henrique não quis a CPI, ou melhor, não quis, não quer e vai fazer tudo para impedi-la. E não é porque ela seria palco de Oposição, mas porque ele teme o jornalismo investigativo, teme que as feridas do seu Governo sejam expostas, mais expostas à sociedade.

V. Exª disse que o Presidente Fernando Henrique não afirmou que colocaria os culpados na cadeia. Sou capaz de trazer todas as afirmações...

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Permite-me V. Exª um outro aparte?

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Por favor, agora V. Exª vai me ouvir um pouco. Assim não dá. Falarei e permitirei a V. Exª a sua argumentação.

O Presidente Fernando Henrique não tem poderes para colocar ninguém na cadeia, mas fez essas afirmações na televisão e em toda a imprensa pela sua aparente indignação. Ele se mostrou, à época, tão indignado com os fatos que chegou a dizer e garantir que essas pessoas iriam para a cadeia.

Mas os donos do Banco Nacional guardaram dinheiro durante 3 ou 4 anos. V. Exª disse também que a ajuda do Proer não foi para os banqueiros. Não, claro, os bancos foram tomados daqueles banqueiros que roubaram e guardaram o dinheiro dos bancos. Mas foi o Governo que teve que socorrer esses bancos para que não falissem e os correntistas e aplicadores não fossem prejudicados. E o que aconteceu com quem roubou o dinheiro?

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Permite-me V. Exª um outro aparte? 

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Um minuto, Senador Bello Parga. Será que o Governo teve a mesma agilidade, por exemplo, de socorrer os 40 mil mutuários da Encol, que praticamente perderam todos os seus investimentos? Será que o Governo teve a mesma agilidade em buscar atender a necessidade de uma quantidade enorme de agricultores deste País que tiveram dificuldades de pagamento pelo valor astronômico de juros que eram cobrados na época? Não. O Governo teve agilidade e boa vontade, Senador Bello Parga, em socorrer os bancos, não por causa do poupador brasileiro, nem do fundo de pensão e, muito menos, por causa do correntista. Ele teve esse cuidado porque existe muito capital internacional, muito dinheiro que vem de fora; jogam-se dólares no Banco Central, e colocam-se reais na mão dessa gente, que aplica no nosso sistema financeiro em muitos desses bancos que faliram.

A preocupação do Presidente Fernando Henrique Cardoso é manter a sua bela imagem, é sacrificar o povo brasileiro - como ele vem fazendo - com superávites primários absurdos e inaceitáveis, como está ocorrendo hoje, mas, jamais, questionar um centavo do pagamento dos juros da dívida externa brasileira. Para pagar isso é que ele fez essa dívida monstruosa; para pagar isso é que, hoje, estamos com superávit primário de R$4 bilhões, e, no mês de abril, Senador Bello Parga, o superávit foi de R$6 bilhões. O Governo arrecadou mais do que gastou R$6 bilhões no mês de abril. Nos últimos doze meses, foram R$44 bilhões arrecadados a mais do que foram gastos. E, nesses mesmos últimos doze meses, foram R$100 bilhões de juros. Portanto, faltaram R$56 bilhões, que se acumularão a essa dívida monstruosa que o Presidente, pela sua vaidade, quer pagar, de qualquer jeito, aos países desenvolvidos do Primeiro Mundo.

Portanto, a ajuda foi com essa preocupação, senão, eles teriam socorrido a Encol e seus 40 mil mutuários. E não houve socorro algum; os mutuários faliram, “se danaram”. Cada um perdeu tudo o que investiu durante longos anos. A preocupação do Governo com o Proer deu um prejuízo, até pelo menos um ano atrás, de R$12 bilhões, como foi dito aqui pelo próprio Ministro Malan - porque, desses R$30 bilhões que foram aplicados, não voltarão mais do que R$18 bilhões. E esse prejuízo somos nós todos que tomamos, e é um prejuízo que o Presidente fez pela vaidade pessoal dele.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Permito, sim, Senador Bello Parga.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Quero dizer, Senador Ademir Andrade, que é bonita e até engenhosa essa tese elucubrada por V. Exª de que a proteção aos correntistas e poupadores se deu para salvaguardar os credores externos. Ora, Senador, até o momento, V. Exª não contestou dois aspectos: primeiro, que todos os responsáveis pelos bancos que foram submetidos a intervenções do Banco Central estão sub judice; a Justiça está tratando de todos eles; seus bens estão indisponíveis. V. Exª diz que eles roubaram, desviaram, ou se locupletaram, não sei o que fizeram, mas os seus bens estão indisponíveis e respondem pelos seus débitos. Eles não poderiam fazer o mesmo com a Encol.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Qual foi o outro aspecto que não contestei, Senador?

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Isso que estou dizendo.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Foi só isso, então?

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Não. V. Exª elucubrou uma tese muito bonita, mas sem nenhuma base na realidade. Quero dizer apenas que esses bens estão indisponíveis. E se, efetivamente, V. Exª entende que não se deve pagar os juros da dívida interna, V. Exª deve dizer isso claramente, colocar como bandeira partidária: não vamos pagar os juros da dívida interna. Os poupadores, os aplicadores, os fundos de pensão vão ter prejuízos, vão quebrar. O futuro da aposentadoria dos trabalhadores será comprometido porque os títulos perderão todos os valores, devido aos juros da dívida interna.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - O Presidente é rigoroso no tempo. Hoje é uma sexta-feira e peço a compreensão de V. Exª para...

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Terá minha compreensão, Senador Ademir Andrade. Comprometo-me a não aparteá-lo mais, porque, efetivamente, estaria roubando seu tempo. Mas fica aqui registrada a nossa discordância.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - É um prazer, Senador Bello Parga, dialogar com V. Exª. Acredito que esse posicionamento diferente é que engrandece o debate.

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Senador Ademir Andrade, peço a V. Exª que compreenda a posição da Mesa. V. Exª já foi Vice-Presidente, como também sou e sabe que temos que tomar uma de duas posições: ou aplicamos a lei para todos e por igual ou, de outro modo, não teremos como administrar os debates nesta Casa. Ainda há pouco, tive a dolorosa missão de chamar a atenção do Senador que acaba de assumir no lugar do Senador José Sarney, Nova da Costa, pelo fato de que já tinha se excedido em seu tempo. Não posso fazer diferença em relação a V. Exª.

Peço, portanto, desculpas e compreensão. Que V. Exª nos ajude a cumprir a lei que nos rege, sem o que teremos um Plenário desgovernado.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Senador Edison Lobão, há uma pequena diferença. Como sou o último orador da sessão, peço a V. Exª que tolere mais um pouquinho a minha fala nesta sessão.

Encerro dizendo, Senador Bello Parga, que pode ser até que os bens desses banqueiros estejam indisponíveis, não sei se todos estão. O que sei é que um deles, um dos grandes, é hoje o maior comprador de terras do sul do Pará. Se os bens estão indisponíveis, que a Justiça ou que o Ministro Pedro Malan verifique o que está acontecendo e de onde o Sr. Ângelo Calmon de Sá está tirando dinheiro, de onde ele está trazendo esses dólares que ele escondeu durante quatro ou cinco anos para ser o maior comprador de terras do sul do Pará e o maior comprador de gado também, porque está comprando bezerro a preço de ouro, está pagando bezerro a R$300,00 e terra a R$10.000,00 o alqueire.

Esse é um dos que deu um prejuízo aos cofres públicos de R$5 bilhões e não está preso. Aliás, nenhum deles, passados mais de quatro anos desses fatos, está na cadeia. Nenhum. Eles guardaram dinheiro durante dois ou três anos, até que tudo se acalmasse, e agora estão investindo em terra, comprando gado, se tornando cada vez mais ricos, rindo do povo brasileiro, rindo do próprio Presidente Fernando Henrique que prometeu colocá-los na cadeia. Eu ouvi, ninguém me disse, a afirmação do Presidente Fernando Henrique dizendo que colocaria esse ...

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Ele não pode fazer isso.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Ele não pode, mas fez.

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Senador Bello Parga, o orador não deseja mais conceder aparte. Concederei depois a palavra a V. Exª, como Líder, se assim o desejar.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Peço desculpas a V. Exª, não farei mais isso.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Mas hoje, diante de todo esse quadro, vou citar mais um fato interessante aqui. Ontem, o ex-Senador Antonio Carlos Magalhães fez algumas declarações contra o Presidente Fernando Henrique. E o Governo inteiro - olha como é interessante, como a coisa funciona com dois pesos e duas medidas - se mobilizou para dizer que vai processar o ex-Senador Antonio Carlos, que agora vai ter que responder na justiça comum, porque não tem mais a imunidade parlamentar.

Mas há poucos dias, Senador Bello Parga, a revista Veja trouxe, em manchete de primeira página, uma reportagem absolutamente embasada, absolutamente assentada em fatos concretos e reais, dizendo claramente que o Presidente Fernando Henrique e que o Ministro Pedro Malan souberam e acobertaram a chantagem do Sr. Cacciola, que obrigou o Banco Central a fazer o socorro ao Marka e ao FonteCindam, dando um prejuízo ao Brasil de US$1,6 bilhão. V. Exª deve ter lido, V. Exª é um Senador da República e deve receber a Veja. E, aí, o Sr. Malan se prontificou a vir ao Congresso Nacional prestar os esclarecimentos. Perguntei ao Ministro Malan, em primeiro lugar, se S. Exª estivesse no lugar do Chico Lopes naquele momento, se faria a operação. E S. Exª disse que não poderia responder porque o tempo passou, as condições não seriam iguais e não sabe se, naquele momento, teria feito ou não. No mínimo, S. Exª manifestou uma dúvida sobre a operação.

Depois, eu lhe perguntei se fez alguma coisa contra a Veja, se o Governo tomou alguma providência com relação à denúncia da Revista, que cita o depósito de US$1,6 milhão na conta bancária do Sr. Chico Lopes e questiona a origem desse dinheiro. E veja a versão, Senador Bello Parga, para V. Exª entender como funciona a Justiça. Em primeiro lugar, quando se descobriu aquele US$1,6 milhão depositado na conta do ex-Presidente do Banco Central, foi o Ministro do Presidente Fernando Henrique Cardoso, Clóvis Carvalho, quem foi para a imprensa socorrer o Sr. Chico Lopes: “Esse é um dinheiro de herança”. Veja bem: o Ministro do Gabinete Civil do Presidente Fernando Henrique Cardoso foi à imprensa, no primeiro momento que se descobriu aquele dinheiro de corrupção na conta do então Presidente do Banco Central, para dizer que aquele dinheiro vinha de herança. Posteriormente, o Sr. Chico Lopes informou: “Não, como eu estou me separando da minha mulher, coloquei esse dinheiro separado, mas é um dinheiro meu”. E, recentemente, em depoimento à Polícia Federal, no inquérito que está sendo promovido em São Paulo, ele negou tudo. Não há mais dinheiro. Esse US$1,6 milhão, que foi depositado na conta dele, não existe mais. Quer dizer, na Justiça, depois de o Ministro Clóvis Carvalho, do Presidente Fernando Henrique Cardoso, ter dito que o dinheiro era herança, ele fala que o motivo era a separação de sua mulher e, no depoimento à Polícia Federal, disse que o dinheiro não existia mais.

Perguntei ao Ministro Pedro Malan se S. Exª, como Ministro da Fazenda, comandante da Delegacia da Receita Federal e do Banco Central, não teria interesse em saber se esse dinheiro da corrupção existia ou não? E o Ministro respondeu que não era ele que tinha que ver isso. Entendo que quem deveria ter o maior interesse em desvendar essa questão seria o Governo.

Perguntei ainda se S. Exª não tinha feito nada contra a Veja e S. Exª disse que não, que não podia fazer nada contra a imprensa, que é errado fazer alguma coisa contra a imprensa e que apenas mandou uma carta à Revista. Entregou-me a carta, que tinha três laudas. E perguntado se a Revista pelo menos publicou-a, S. Exª respondeu que não.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - E o culpado é ele?

            O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Mas se eu sou caluniado....

            O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Ele responde à Veja e a Revista não publica a carta e é ele o culpado? Interessante a sua tese!

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Ele é culpado, sim. Ele é culpado, o Presidente Fernando Henrique Cardoso é culpado, sabe por quê? Porque, se estivessem inocentes, processariam a Veja. Mas não são inocentes e não têm coragem de processar a Revista. Quem sabe fizeram acertos por detrás dos panos com a Veja para a reportagem não sair mais. Essa é que é a realidade. Como é que o Presidente, agora, está processando o ex-Senador Antonio Carlos? Por que S. Exª não processou a Veja?

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Isso é pura ilação sua.

            O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Pura ilação? Não. A Revista disse claramente que o Presidente Fernando Henrique e o Ministro Pedro Malan acobertaram um crime, um crime de socorro indevido a dois bancos, por chantagem que estava sendo feita em cima do Sr. Chico Lopes. E não houve nenhum processo contra a Veja. Dizer que S. Exª se acertou com a Veja é ilação minha, é verdade. Mas por que S. Exª não processou a Veja? Se eu sou caluniado e não tenho culpa, vou processar quem me caluniou. E o Governo não fez nada. Mandou uma carta, que sequer foi publicada pela Revista. Isso é uma falta de respeito com o Ministro. Como é que o Ministro é caluniado, manda uma carta e não sai uma linha sobre a carta na Revista e o Ministro não faz nada para colocar a Veja no seu devido lugar?

            A imprensa brasileira é muito interessante. Como é que a Veja, o tempo inteiro, fez acusações ao Presidente Jader Barbalho e a IstoÉ ao Senador Antonio Carlos Magalhães...

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Senador Ademir Andrade, nós temos outros oradores inscritos. V. Exª excedeu em mais de 50% do seu tempo. A Mesa foi extremamente tolerante com V. Exª até agora.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Pois é, veja como o assunto é polêmico, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Até que, se nós não tivéssemos outros oradores inscritos... mas temos.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Ah! Agora, temos. Eu compreendo.

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão) - Já tínhamos antes.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Não, na hora em que eu estava falando, não havia. Mas, tudo bem, Senador Edison Lobão, o assunto é extremamente polêmico.

Na verdade, eu tinha vindo à tribuna para congratular-me com os trabalhadores rurais de todo o Brasil, que realizaram, durante toda a semana, o encontro da Contag. Tive a honra de participar dos debates com esses trabalhadores e vim falar das suas reivindicações e da posição do Governo a respeito delas, mas, infelizmente, fui provocado pela manifestação do advogado lá da terra de V. Exª e do Senador Bello Parga, que trouxe argumentos absolutamente inaceitáveis.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Perfeitos do ponto de vista doutrinário.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Vim, portanto, atender a essa provocação. E que o povo, Senador Bello Parga, nos julgue. O povo é o juiz das nossas ações.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Pela primeira vez, V. Exª diz alguma coisa de aproveitável.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Aí V. Exª já está sendo grosseiro. Eu tenho sido educado com V. Exª.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Retiro, Sr. Senador.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Exatamente, Senador, porque, senão, seria grosseria.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Seria grosseria minha, eu a retiro.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Eu tenho feito um debate à altura e respeitoso com V. Exª.

O Sr. Bello Parga (PFL - MA) - Eu já disse a V. Exª que retiro.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Tudo bem. Eu aceito a retirada de V. Exª e agradeço a tolerância do Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/06/2001 - Página 12715