Pronunciamento de Ney Suassuna em 19/06/2001
Discurso durante a 74ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
PREOCUPAÇÃO COM O ATRASO NO ENVIO DE CARROS-PIPA AS CIDADES PARAIBANAS ATINGIDAS PELA SECA. CONSIDERAÇÕES SOBRE A ONDA DE "DENUNCISMO".
- Autor
- Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
- Nome completo: Ney Robinson Suassuna
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- PREOCUPAÇÃO COM O ATRASO NO ENVIO DE CARROS-PIPA AS CIDADES PARAIBANAS ATINGIDAS PELA SECA. CONSIDERAÇÕES SOBRE A ONDA DE "DENUNCISMO".
- Publicação
- Publicação no DSF de 20/06/2001 - Página 13464
- Assunto
- Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
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- ANALISE, CRITICA, FOME, SECA, REGIÃO NORDESTE, REPUDIO, BUROCRACIA, OBSTACULO, REMESSA, CAMINHÃO, AGUA, MUNICIPIOS, ESTADO DA PARAIBA (PB).
- REPUDIO, FREQUENCIA, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, CRITICA, SITUAÇÃO, PAIS.
O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma palavra tem me perseguido permanentemente nos últimos dias: o constrangimento. Constranger vem do latim constringere, que significa o mesmo que constringir, impedir os movimentos, tolher a liberdade, cercear, forçar, coagir, violentar, compelir pela força. O substantivo constrangimento significa aperto, compressão, violência, coação, insatisfação, desagrado, descontentamento, acanhamento, timidez, embaraço. Acho que esse sentimento também deve ser o de muitos no País.
Fico constrangido quando vejo alguns países indo ao espaço e o Brasil com o problema da seca, da fome, da burocracia. Hoje faz 30 dias que disseram que mandariam, imediatamente, carro-d’água para a Paraíba, e ainda não chegou. Não foi por falta de ação, pois o Ministro solicitou, mas, até agora, a burocracia não conseguiu avançar.
Mais que constrangido, fico com vergonha de ver que, enquanto países e sociedades vão para o espaço, entramos no apagão porque não tivemos condição de planejar; constrangido, quando vejo que o Brasil exporta 30% do que exporta a Califórnia, e também menos que a Coréia e Taiwan. Fico constrangido com isso.
Constrangido fico quando vejo, por exemplo, essa onda de “denuncismo” que estamos vivendo. A cada dia é uma denúncia diferente, a cada dia alguém é jogado às feras, e não adianta falar. Há poucos minutos um jornalista se aproximou de mim e disse que eu havia feito um ato hoje para favorecer fulano- de-tal. Respondi que não fiz, mas acontece que existe um federalismo. A Comissão de Fiscalização e Controle não pode entrar na esfera estadual. Fiscaliza a esfera estadual o Tribunal de Contas do Estado. E ele disse “não” ... Quer dizer, é aquela coação, as pessoas querem forçar a passar por cima da lei, da norma, do correto.
É muito constrangedor vivermos uma época como esta. A cada dia, abre-se o jornal e vê-se algum dos nossos companheiros sendo jogado às feras, com ou sem razão. É constrangedor. Tenho andado constrangido até de ser político, porque, a cada dia vejo que a categoria, como um todo, é comparada... Outro dia na Folha de S. Paulo um artigo nos comparava às mulheres de vida fácil - e duvido que essa vida seja tão fácil - como se estivéssemos fazendo papel semelhante. É muito duro, é muito constrangedor. Hoje, por exemplo, cheguei às 10h e saí às 16h de uma reunião de Comissão onde se tentava a transparência de alguns fatos que ocorreram na vida da República. Vim direto para cá - e são exatamente 19h - sem almoço.
O constrangimento é geral, porque estamos aqui sempre empurrados contra a parede.
É constrangimento o que sinto quando vou falar com alguém da agricultura e diz-se que não há política da agricultura; ou quando vou falar com alguém da indústria e diz-se que não há política da indústria. Fico constrangido quando vejo que a segurança não é a que o brasileiro quer, ou quando a educação não é a que queremos. Fico constrangido, enfim, porque, para qualquer lado que viramos, não vemos o que esperamos e queremos.
É constrangedor ver o imobilismo, que já deveria ter sido quebrado; é constrangedor ver que a esperança, a cada dia, torna-se menor e que a fé está diminuindo; é constrangedor ver os valores diminuindo. Trata-se de um constrangimento geral.
É por isso que venho à tribuna, para falar desse sentimento que me tem machucado e deixado muitas vezes, como diz o americano, down (triste). Tenho certeza de que precisava falar sobre isso. Pretendia fazer uma explanação bem maior, porque estava inscrito como primeiro orador logo após a Ordem do Dia. Estou satisfeito, porém, com os cinco minutos. Há o seguinte dito popular: “quem não é capaz de se expressar em 30 segundos, não é capaz de fazê-lo”. Deram-me os cinco minutos e vou gastá-los. Vou dizer que tenho andado constrangido, Sr. Presidente. Não é fácil ver os valores esmaecendo; não é fácil ver que o general de antigamente não é como o de hoje, que o Bispo de antigamente não é como o de hoje. Parece que as autoridades estão esmaecendo. Falamos do Presidente da República como se fosse um qualquer. Isso nos constrange.
Tenho certeza de que o sentimento de que os valores estão deteriorando-se está no peito de cada brasileiro. E eu me sentiria mais constrangido se ficasse calado. Por isso, vim à tribuna. Não tenho o tempo necessário para exemplificar a respeito de cada assunto sobre o qual ficamos constrangidos. Mas vou dar alguns exemplos lá de fora. Constrange-me o sucesso de um povo que não tem um terço do que temos, um povo que não tem o país que temos ou as riquezas que possuímos, que não tem o nosso ímpeto, a nossa alegria. Percebemos, então, que tudo que nos falta é uma boa coordenação, uma sincronização, uma harmonização desses valores, para darmos uma arrancada para o futuro, para fazer o que o americano chama de take-off, ou seja, decolar em busca de um futuro melhor.
Tenho andado constrangido e sei que é esse o sentimento de cada brasileiro que me ouve. Precisamos virar essa maré, mesmo com a ajuda da imprensa, que só busca escândalo e vive dele, como se não tivéssemos um País para cuidar; como se não tivéssemos valores a mostrar, no turismo, além da podridão, da tristeza e do crime .
Enfim, botamos nossas vísceras, a cada dia, para fora e as mostramos ao mundo, que se acredita uma “beleza”. Os nossos concorrentes ficam felizes, pois nós mesmos nos depreciamos.
Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, esse assunto eu pretendia abordar com mais profundidade, mas, dado o tempo menor, sintetizo, dizendo que estou rezando para esse sentimento de constrangimento me abandonar e abandonar também cada coração brasileiro por este País afora.
Muito obrigado.