Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRISE POLITICA E O PAPEL DO PMDB NO GOVERNO FEDERAL. SUGESTÃO DE PROTOCOLO A SER FIRMADO PELOS PRESIDENTES DOS PARTIDOS DA BASE ALIADA DO GOVERNO.

Autor
José Fogaça (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: José Alberto Fogaça de Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRISE POLITICA E O PAPEL DO PMDB NO GOVERNO FEDERAL. SUGESTÃO DE PROTOCOLO A SER FIRMADO PELOS PRESIDENTES DOS PARTIDOS DA BASE ALIADA DO GOVERNO.
Aparteantes
Maguito Vilela, Pedro Ubirajara.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2001 - Página 13930
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO, CRISE, POLITICA, PAIS, PARTICIPAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PROVOCAÇÃO, AUSENCIA, ESTABILIDADE, GOVERNO.
  • REGISTRO, NECESSIDADE, SEPARAÇÃO, DENUNCIA, IMPRENSA, JADER BARBALHO, SENADOR, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
  • COMENTARIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), CRISE, ETICA, POLITICA, AUSENCIA, VINCULAÇÃO, SITUAÇÃO, JADER BARBALHO, SENADOR.
  • ANALISE, COLIGAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), GOVERNO, CRITICA, CONTRADIÇÃO, MOTIVO, APRESENTAÇÃO, DISCURSO, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, MAGUITO VILELA, SENADOR, REGISTRO, NECESSIDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), CONSOLIDAÇÃO, PROTOCOLO, OBJETIVO, INSTITUCIONALIZAÇÃO, CODIGO, CONDUTA, COMPORTAMENTO.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é deveras importante esse debate interno que o PMDB está fazendo e que, obviamente, pela transparência necessária, está também se expressando por intermédio da tribuna desta Casa.

Como ouvi, ontem, o pronunciamento do Senador Maguito Vilela e o pronunciamento do Líder do PMDB, Renan Calheiros, e hoje, novamente, volta à tribuna o Presidente do Partido, o Senador Maguito Vilela, creio ser importante fazer algumas observações a esse respeito e dizer que entendemos que, nesta hora, o PMDB está no epicentro da crise brasileira. Há uma crise política no País que está afetando, com alguns níveis de instabilidade, o Governo Fernando Henrique Cardoso e, repetindo, o PMDB está no epicentro dessa crise.

Faço uma distinção muito clara entre a posição do Presidente do Senado, o ilustre Senador Jader Barbalho, e o PMDB, na sua relação funcional com o Governo. São duas coisas completamente distintas. Não creio que algo tenha vinculação com a outra questão.

O Presidente do Senado, Jader Barbalho, está sendo objeto de denúncias intensas nos jornais, mas creio que as mesmas não se referem ao Presidente licenciado do PMDB, mas ao Presidente do Senado. O superdimensionamento dessas denúncias assim ocorrem em função de S. Exª estar na Presidência do Senado, porque S. Exª foi Presidente do PMDB por vários anos, e o volume de denúncias que agora ocorre não se registrou. Portanto, são situações distintas. Mas, na medida em que S. Exª assumiu essa posição elevada nos estamentos de poder da República, avolumaram-se com enorme proporção essa onda de denúncias. Quanto a isso, creio que há necessidade de separar nitidamente uma coisa da outra.

A crise que vive o PMDB não está sendo causada pelo Presidente do Senado; a crise que vive o PMDB é uma crise de outra natureza, tem a ver com outras questões, tem a ver com outros problemas. A crise do PMDB, na verdade, é uma crise ética, institucional e política. O Partido vive uma disjuntiva ético-política que não consegue solver, a qual não consegue dar uma solução razoável. O PMDB anteontem empossou um Ministro de Estado, um grande Senador, o Senador Ramez Tebet, um homem competente, qualificado para a função, uma grande liderança do Centro-Oeste, assumiu um Ministério da República, nomeado pelo Presidente, mas mediante uma relação que o Partido tem com o Governo, uma relação de compromisso político como integrante da base de apoio que o PMDB tem com o Governo.

Ao mesmo tempo, esse Partido, de outro lado, é capaz de estimular, de dar até conteúdo institucional e formal a candidaturas que têm um nítido e contundente discurso de oposição. Ninguém está impedido de fazer oposição ao Governo Fernando Henrique e de ter suas idéias próprias, mas, enquanto conjunto partidário, o PMDB começa a ganhar uma feição esquizofrênica, contraditória, ele vive uma dicotomia insolúvel que pode ser confortável, de um lado, para os defensores de um oposicionismo quotidiano, diário, constante, porque eles, nas suas individualidades, não se sentem em contradição consigo mesmos e, por outro lado, pode ser confortável também para aqueles que são aderentes ao Governo, que exercem as funções tão elevadas, tão importantes, como são as de Ministro de Estado.

Imagino que o Ministro Ramez Tebet, recém-empossado, o fez na sã consciência individual, na confortável condição pessoal de entender que isso em nada lhe afeta a condição ética, em nada fere o seu comportamento individual, a sua postura como integrante de um partido político. Por outro lado, o Governador de Minas Gerais, Itamar Franco, também, quando realiza atos e ações nítida e francamente oposicionistas, no quotidiano, na ação diária, na sua expressão política permanente, também não se sente em contradição consigo mesmo.

Ocorre que quando alguém integra uma estrutura partidária, quando alguém milita em um partido político, quando alguém é filiado a um partido político, a questão da individualidade é uma questão relativa. A individualidade existe na medida em que não interfere na necessária uniformidade ética e política, doutrinária que o partido precisa apresentar e expor diante da opinião pública.

E será que esses dois lados estão se perguntando - aqueles que hoje defendem uma atitude frontalmente oposicionista e aqueles que defendem uma posição de nítida vinculação ao Governo - estão se auto avaliando nessa direção?

Se eu vou sentar em uma cadeira de ministro, tenho que me perguntar: como está se comportando o meu partido? Como estão se comportando os meus companheiros? Ao mesmo tempo, se quero expressar a condição de candidato à Presidência da República, com um discurso que é frontal e inexcedivelmente oposicionista, também tenho que me perguntar, antes de fazer esse discurso: onde estão os meus companheiros? O que estão fazendo? Que nível de comportamento e que padrões de comportamento estão tendo?

Ficar no conforto de sua individualidade e supor que isso vai passar batido, que isso vai passar despercebido, que isso vai passar como algo que ninguém esteja vendo, é a típica atitude do esquizofrênico, que supõe que ninguém vai perceber as suas contradições, a sua incoerência com a realidade. Por isso, o PMDB tem a postura nitidamente esquizofrênica.

Tenho um respeito enorme - e quero aqui registrar - e uma grande admiração pelo Senador Maguito Vilela, grande Governador de Goiás, um dos talentos políticos jovens mais proeminentes do PMDB. Foi um grande Governador, é um grande Senador, e, seguramente, seu futuro não pode sequer ser aqui previsto, tão grandes são as expectativas em torno da sua projeção política. Mas seria a hora de o nosso Presidente Nacional sentar em torno de uma mesa com os demais Presidentes de Partido, porque o Senador Maguito Vilela não é Presidente só do PMDB; ele é Presidente do PMDB, o Partido que oficialmente apóia a base do Governo e se integra à base do Governo. Fosse ele só Presidente do PMDB, penso que não teria esse dever, mas, na minha opinião, sendo Presidente do PMDB, Partido que integra a base do Governo, ele tem o dever de sentar em torno de uma mesa com os demais Presidentes de Partido que integram a base do Governo e ali estabelecer algo que cada vez mais se torna indispensável, que é um protocolo de conduta, um protocolo de comportamento político, um protocolo de ação, um código de comportamento.

Deve ser estabelecido um código de comportamento que preveja e admita que cada Partido político tenha a possibilidade e o direito de sustentar projetos futuros, específicos e próprios para o País - ninguém os tira do PMDB. Ninguém pode impedir o PMDB de ter o seu projeto nacional, a sua doutrina e a sua concepção específica e peculiar em torno das questões fundamentais da realidade brasileira. O que não pode ocorrer, sim, é não se ter, sequer, construído esse projeto, não se ter ainda formulado esse projeto nacional, e já haver candidatos de frontal oposicionismo. É isso que não pode acontecer. Se o PMDB quiser ter o direito de assumir essa postura oposicionista, terá que sair do Governo, abandonar os cargos e as posições que usufrui no momento.

Mas, Sr. Presidente, tenho uma pequena experiência, que, de certa forma, já é antiga. Eu, honrosamente, fui Vice-Presidente Nacional do PMDB quando o Dr. Ulysses Guimarães exercia a Presidência do Partido. Lembro-me, perfeitamente, que a mesma disjuntiva, a mesma contradição, o mesmo dilema ético-político viveu o PMDB naquela época, e, de certa forma, o comportamento foi o mesmo. Quem estava no Governo nele continuou, quem estava fazendo discurso de oposição continuou fazendo discurso de oposição. Então, eram Senadores, Governadores e Ministros do PMDB vinculados ao Governo Sarney que faziam oposição frontal ao seu Governo. O resultado foi que o Partido perdeu, junto à opinião pública, a credibilidade, porque a opinião pública não vai, de forma virtual e meramente formal, abstrata, fazer uma divisão, traçar uma linha divisória e dizer: “Bem, quando eu votar no PMDB, votarei nessas pessoas do lado de cá. Quando eu der o meu voto para engordar as hostes do PMDB, não quero que meu voto valha para aquelas do lado de lá”. Esse voto não existe, esse voto é nulo, esse voto não é dado. Portanto, isso explica por que o Dr. Ulysses Guimarães obteve apenas 2% de votos na eleição; o eleitor não dá o voto para uma parcela supondo que esse voto é só para essa e não para a outra. Não pode haver duas visões, duas concepções, dois caminhos.

Então, Sr. Presidente, com todo o respeito a essa grande e extraordinária figura do Senador Maguito Vilela e ao nosso Líder, Senador Renan Calheiros, com a autoridade da liderança que tem, creio que é chegada a hora de ambos, juntamente com as demais forças representativas do Partido, em vez de reforçarem o seu próprio discurso, sentarem-se em torno de uma mesa e estabelecerem um código de comportamento. Esse código de comportamento tem de ser levado aos demais Partidos integrantes da base, porque não pode ser um código unilateral do PMDB. Esse protocolo de intenções e de conduta tem de ser de todos que integram a base, incluindo-se o Senhor Presidente da República.

Senador Maguito Vilela, a base desse protocolo é a de que o Presidente da República tem de se comprometer a não privilegiar e a não favorecer ninguém, nenhum candidato de qualquer partido da base de apoio, nem o candidato do próprio Partido dele, nem o candidato do PFL, nem o candidato do PMDB. Esse é o compromisso que o Presidente da República tem de assumir. Os Partidos políticos, inclusive o PMDB, devem dizer que querem ter o direito a defender, desenvolver, encaminhar, debater com a sociedade um projeto específico para o País, uma proposta de Governo que venha a encarar as questões que se apresentam para o futuro. Quais são essas questões? Quais são os problemas que devem ser resolvidos no futuro? Esse é o projeto que o PMDB tem o direito de apresentar e até precisa fazê-lo, perante a sociedade.

Eventualmente, amanhã ou depois, quando vier a convenção nacional para a escolha do candidato, esse projeto, com as suas características, sejam elas quais forem, vai incorporar-se à campanha desse candidato. O nome do candidato vai se acoplar a esse projeto. Não será um projeto subordinado ao personalismo exclusivo do candidato.

Isso não impede também que, nas próximas eleições, esses três Partidos, cada um com seu projeto próprio para o País, independentemente das diferenças que esses projetos tenham entre si, possam convergir para um só candidato que venha a expressar a síntese desses projetos nacionais.

Assim, nós, do PMDB, teremos o direito moral, ético, inatacável e inquestionável de fazer a defesa da candidatura própria, porque candidatura própria personalizada e oposicionista é, evidentemente, um erro político, mas candidatura própria com base num projeto nacional é algo absolutamente razoável, aceitável, ético e moralmente admissível.

Esse protocolo de conduta e comportamento resolveria as tensões que hoje desestabilizam o Governo e possibilitaria que qualquer integrante do PMDB, qualquer um que vestisse a camisa do PMDB, não se sentisse desconfortável ou desmoralizado pela disjuntiva ética de que o PMDB, hoje, apóia o Governo, aprova as reformas que o Governo faz, dá os votos congressuais que o Governo precisa para empreender todas as suas ações. O PMDB, portanto, concorda com tudo isso, a não ser que se diga que o Partido só faz isso para ter a vantagem do poder, o que seria fisiologismo puro e condenável. Não! O PMDB está no Governo porque se compromete com as linhas básicas de ação que esse Governo tem empreendido. Do contrário, se o PMDB estivesse no Governo sem concordar com suas linhas de ação, seria, então, um Partido fisiológico, aproveitador, oportunista. E isso não é verdade; o PMDB está no Governo, porque está comprometido com essas linhas.

Mas todo peemedebista deve saber e deve acreditar nisso. E, daqui a pouco, dentro de poucos dias, terá que votar e fazer campanha subordinando-se a alguém que tem uma candidatura totalmente oposta, contundentemente em linha diferente dessa que aí está sendo levada avante pelo atual Governo.

Então, eu, peemedebista, cidadão do PMDB, tenho que estar preparado para um dia ter que trair os meus princípios, tenho que estar preparado para moralmente apunhalar-me. Qual será o dia em que me vou apunhalar?! Eu, que hoje sou Governo, aceito o Governo, apóio o Governo, um dia terei que apunhalar essas idéias e dizer: “Agora o meu candidato é contra tudo, é contra as idéias, os princípios, as ações e as pessoas com as quais convivemos durante sete anos no Governo”. Esse dia será o dia do auto-apunhalamento, da auto-emasculação, em que o sujeito elimina tudo aquilo que absorveu, compreendeu, assimilou e apoiou durante sete anos.

Mas, num determinado dia, tudo isso estava errado, e ele passa a apoiar um candidato que é frontalmente contrário a tudo isso que foi feito, a não ser também que esse candidato só esteja fazendo oposicionismo de forma diletante, por mera aparência, por mero jogo de cena, para ganhar manchete e para ganhar destaque, porque realmente fazer oposição dá mais destaque do que apoiar. Mas não acredito nisso. Acredito que o candidato pensa de forma totalmente contrária ao Governo, tem uma linha marcadamente de oposição, e eu tenho de me preparar para o “dia do punhal”, um punhal que eu mesmo cravarei nas minhas costas. Nesse dia, terei de dizer para mim mesmo: “Seu idiota, você, durante sete anos, pensou de uma maneira, e, agora, o seu interesse, o seu fisiologismo, o seu gosto pelo poder e o seu desejo de ter cargos e posições privilegiadas vão lhe fazer apoiar um outro candidato que é totalmente contra isso. Pise em cima das suas idéias, esmague o seu pensamento, negue tudo que fez e vá de braços com alguém que é contra tudo isso. E sabe por que vai de braços com alguém que é contra tudo isso? Porque você quer o poder”.

            É isto que estão impondo ao eleitor e ao filiado do PMDB: o “dia do punhal”. E quando será esse dia?

Sr. Presidente, não penso que isso não tenha solução. Creio que isso tem solução, que, como eu disse, está na necessidade inequívoca, imediata e urgente de o Presidente Nacional do PMDB, o Partido que mais vive essas contradições, procurar os demais Partidos da Base do Governo e estabelecer um protocolo de conduta e de intenções que assegure ao PMDB o direito de ter sua própria personalidade e continuar sendo Governo, como o é.

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Permite-me V. Exª um aparte, já que fui citado nominalmente?

O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PRESIDENTE (Jader Barbalho) - Senador José Fogaça, V. Exª poderá conceder os apartes, mas rogo que conclua o seu pronunciamento, pois seu tempo já se esgotou.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB - RS) - Muito obrigado, Sr Presidente.

Eu não poderia deixar de conceder o aparte ao Senador Maguito Vilela, que o vinha solicitando há bastante tempo.

Logo depois, também, concederei o aparte ao Senador Amir Lando.

Com muita honra, concedo o aparte ao Senador Maguito Vilela, Presidente do meu Partido.

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Tenho uma admiração muito grande pela história política de V. Exª, pelo seu comportamento, pela sua cultura, pelo seu preparo, e concordo em parte, mas não no todo com seu pronunciamento. Entendo que nós, Líderes, antes de nos reunirmos, antes de procurarmos qualquer tipo de caminho, temos, obrigatoriamente, que ouvir as bases do Partido, o clamor das bases, o povo e o seu clamor. Nunca preguei rompimento com o Governo extemporaneamente e não estou pregando isso, até porque não sou o dono da verdade.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB - RS) - Mas V. Exª prega isso na Convenção.

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Prego na Convenção, porque foi uma Convenção que autorizou o Partido a apoiar o Governo, e só outra Convenção poderá desautorizá-lo. Quando falo isso, prego a consulta às bases do Partido. Não adianta perguntarmos de forma dantesca: quando vamos enfrentar o punhal? E quando formos apunhalar as nossas bases? Quando elas quiserem uma coisa e nós quisermos outra, vamos apunhalar as nossas bases? Vamos dizer que elas estão erradas, quando são elas que fazem a grandeza deste Partido e são elas que vão para as ruas eleger ou não os nossos candidatos?! Dessa forma entendo que a cúpula dos Partidos - os Presidentes do PMDB, do PSDB e do PFL -, antes de se reunir, antes de querer tomar qualquer decisão, deve primeiramente ouvir as nossas bases, aquelas que fazem a grandeza, historicamente, deste Partido. V. Exª citou o exemplo de Ulysses Guimarães e Orestes Quércia. Vou dizer a V. Exª: o PMDB perdeu as duas eleições porque não ouviu as bases, que não queriam essas candidaturas. Sabíamos disso, mas ninguém quis falar para o Dr. Ulysses Guimarães, bem como para o ex-Governador Orestes Quércia, que aquele não era o momento da sua candidatura. O PMDB aceitou passivamente isso, não ouviu as suas bases e, por isso, foi abandonado por elas. E passamos por duas eleições de humilhações. É preciso saber se as bases querem ou não candidatura própria. Se elas a querem, temos que saber qual será o candidato. Já estão em destaque dois nomes inatacáveis, que preenchem as exigências do povo brasileiro: o Senador Pedro Simon e o Governador Itamar Franco. Novos nomes podem surgir como pré-candidatos, e até estimulo que isso aconteça, porque a nossa obrigação com o Governo está acabando. O PMDB deu e está dando sustentação política ao Governo, contribuiu com o Governo, contribuiu com a governabilidade, embora eu entenda que o Governo não tenha colaborado com o PMDB. Deixou Ministro sem dinheiro, e as estradas se deteriorando. Não seguiu aquilo que o PMDB sempre pregou: investimentos sociais. Entendo até que o PMDB emprestou um grande apoio à Nação e ao Governo e não foi correspondido; por isso, hoje, as suas bases estão revoltadas. Mas temos que ouvi-las para, depois, tomar qualquer tipo de decisão. Mas quero dizer que estou satisfeito com o seu pronunciamento. V. Exª é uma autoridade neste Partido, é um dos seus ex-Presidentes, é uma das figuras que mais honra e dignifica o PMDB. Discordo apenas da condução do procedimento. Creio que, primeiro, deveríamos ouvir as bases e, depois, decidir.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB - RS) - Senador Maguito Vilela, V. Exª me perdoe, mas o que estou pedindo, recomendando e para o que estou apelando não elimina isso que V. Exª está propondo, que é ouvir as bases na convenção de setembro. Isso é completamente diferente do que estou dizendo. O que estou dizendo é que agora o País está respirando, vivendo, produzindo situações políticas de instabilidade, e nós, do PMDB, seremos os responsáveis por essa instabilidade. Seremos condenados pela opinião pública por essa disjuntiva ética que nos caracteriza?

O que estou propondo é que tenhamos um comportamento digno até o dia que resolvermos tomar uma posição, porque, já que não tomamos posição agora, agora temos que ter um comportamento protocolarmente digno, protocolarmente aceitável, eticamente razoável. Isso não elimina.

V. Exª, por exemplo, prega a saída do PMDB do Governo, mas V. Exª ainda não ouviu as bases, que manifestar-se-ão apenas na convenção. Não estou pregando nem sair do Governo, nem ficar no Governo. O que estou dizendo é que, agora, até o dia em que V. Exª, como Presidente do Partido, convocar a convenção nacional, em setembro, para ouvir as bases e para tomar uma decisão peremptória, definitiva e definidora, o PMDB tem que ter um comportamento digno, e não essa conduta esquizofrênica que estamos tendo aqui.

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Tudo bem, mas quem está tendo um comportamento aético é o Governo, que usufruiu do Partido e agora o censura, dizendo que é a banda podre do Governo.

O SR. PRESIDENTE (Jader Barbalho) - Senador Fogaça, a Presidência renova o apelo a V. Exª.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB - RS) - Senador Maguito Vilela, essas frases que são ditas esporadicamente aqui ou ali por alguém não representam a voz oficial do Governo. V. Exª sabe que o Presidente da República tem feito apelos formais, expressivos para continuar com o apoio do PMDB, o que é óbvio. Seria estúpido, por parte do Presidente da República repelir o apoio de um grande Partido, com mais de 100 Deputados e 27 Senadores. Portanto, formalmente, por parte do Governo, não há esse tipo de atitude. O que nós, do PMDB, precisamos é fazer com que essa contradição, que hoje nos assalta, que se aflora de maneira visível, seja resolvida perante a opinião pública para que tenhamos legitimidade.

Digo a V. Exª que o fato de haver um protocolo de conduta não elimina o direito de se construir, no nosso caminho, no nosso nicho partidário, uma visão, um projeto, uma proposta de desenvolvimento para o País, inclusive com base nos erros de hoje, que deverão ser resolvidos no próximo Governo.

Não! O que é errado é não haver esse acordo de convivência e se estabelecer essa relação absolutamente ilegítima entre ser e não ser, essa dúvida terrível, atroz, hamletiana, que tem o PMDB; “to be or not to be”.

O Sr Amir Lando (PMDB - RO) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB - RS) - Sr. Presidente, peço licença a V. Exª apenas para conceder um aparte ao Senador Amir Lando. Sei que V. Exª ainda tem que iniciar Ordem do Dia, e há dezenas de projetos para serem votados, mas creio que o assunto merece essa concessão. Além disso, S. Exª solicitou esse aparte há algum tempo.

Eu gostaria de conceder apenas alguns minutos ou pelo menos um minuto ao Senador Amir Lando.

O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - Nobre Senador José Fogaça, V. Exª aborda um tema no mínimo instigante e que mereceria um longo debate, mas o Regimento o impede. Serei muito breve. Entendo que se tem de analisar esse fato por um ângulo inicial, pois necessariamente temos que defender a identidade do Partido, mas nada impede a proposta de V. Exª no sentido de que isso se faça. Sobretudo, mais do que estabelecer esse protocolo de convívio partidário, preocupa-me um protocolo de sustentação da Nação.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB - RS) - Muito bem, Senador Amir Lando! É exatamente essa a intenção final do que estou dizendo: sustentar a Nação.

O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - Sustentar a Nação. Não tenho dúvida, sou favorável à candidatura própria. Que me perdoe São Cristovão, mas o PMDB não pode ser São Cristovão; o PMDB não pode ser apenas aquele que ajuda e carrega nos braços para atravessar o rio. Temos direito a ter um projeto próprio, um projeto nacional, que se identifique com o nosso programa, com os nossos sonhos, com aquilo que constitui a base de fé e crença política que defendemos durante toda a nossa vida. Para ser muito breve, o mais importante é verificar, neste momento, como participaremos do processo para sustentar o País, porque o cerne da questão não é a candidatura própria. O que interessa é a eleição, mas, se promovermos a instabilidade política, esse evento poderá não acontecer, e ele é a festa suprema da democracia. Portanto, concordo, em parte, com V. Exª. O fato de o PMDB dizer que tem candidatura própria - e não sei quem será, pois essa resolução virá da vontade democrática do Partido, e a democracia é a vontade da maioria; a maioria vai decidir quem será - também não implica da parte do Governo nenhum ressentimento. Ter candidatura própria não significa falta de apoio, sobretudo nos projetos de interesse do País. Mantive sempre uma postura crítica, mas nunca faltei ao que entendo ser essencial aos interesses nacionais do povo brasileiro. Creio que o discurso de V. Exª mereceria até um aprofundamento maior, não por parte de V. Exª, que o fez com profundidade, mas em termos de discussão partidária. Mas é importante dizer ao Governo que a idéia de candidatura própria não ilide à idéia de sustentação. Até do desligamento futuro, se houver, isso me parece que seria uma atitude, até em razão de uma candidatura própria. Conforme o perfil do candidato, seria até antiético permanecermos no Governo para obter vantagens, quando elas seriam incompatíveis. Portanto, a seu tempo e a sua hora, tudo haverá de chegar de maneira pacífica. O que V. Exª propõe é interessante, mas vou mais além: muito mais que meramente esse entendimento de conduta eleitoral partidária, é mais importante ainda - penso que isso está embutido no pensamento de V. Exª - a idéia de se dar uma sustentação ao País para que possamos promover essa travessia de grande preocupação, de uma crise profunda, talvez até mais grave do que se imagine. Temos que ter sobretudo o bom-senso de promovermos essa travessia, mesmo que seja como São Cristóvão, carregando o fardo desse processo.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB - RS.) - Muito obrigado, Senador Amir Lando.

Isso é o que queremos, Sr. Presidente. O PMDB é um projeto para o País.

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO.) - Sr. Presidente, um aparte por trinta segundos.

O SR. PRESIDENTE (Jader Barbalho.) - Senador José Fogaça, faço uma apelo a V. Exª para que encerre e peço a compreensão do Senador Maguito Vilela, mas a Presidência tem necessidade de dar início à Ordem do Dia.

O SR. JOSÉ FOGAÇA (PMDB - RS.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Infelizmente, não posso conceder o aparte, mas digo que tenho muito orgulho, como peemedebista, de ter como Presidente do meu Partido o Senador Maguito Vilela.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2001 - Página 13930