Discurso durante a 78ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM PELO TRANSCURSO DO CENTENARIO DE NASCIMENTO DE BERNARDO SAYÃO.

Autor
Iris Rezende (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Iris Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM PELO TRANSCURSO DO CENTENARIO DE NASCIMENTO DE BERNARDO SAYÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 26/06/2001 - Página 14056
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, BERNARDO SAYÃO (TO), EMPRESARIO, ELOGIO, ATUAÇÃO, CONSTRUÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), DESENVOLVIMENTO, REGIÃO CENTRO OESTE.

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o centenário de nascimento do desbravador Bernardo Sayão é oportunidade ímpar para que o país preste uma justa homenagem a um homem que abriu os caminhos para a interiorização do desenvolvimento brasileiro, ao mesmo tempo em que deixou um testemunho vivo de amor à pátria, retidão de caráter, honestidade e determinação.

A trajetória de Bernardo Sayão Carvalho de Araújo, o carioca-goiano plantador de estradas e cidades, nos remete ao espírito de arrojo e realizações tão essencial para construir a grandeza de uma Nação.

Ele foi, sem dúvida, o último bandeirante, um personagem essencial na história brasileira. Através de suas mãos, um novo Brasil foi descoberto, permitindo a descentralização do progresso e oferecendo alternativas para o sonhado crescimento equilibrado de que tanto necessitamos.

Goiás sente especial orgulho de ter abrigado esse carioca que acabou se revelando um ardente apaixonado pela terra e seus infinitos mistérios. Nascido no dia 18 de junho de 1901 no Rio de Janeiro, Bernardo Sayão foi o grande comandante da construção da rodovia Belém-Brasília na década de 50, acalentando a crença no poder transformador das estradas como o instrumento que faz brotar a prosperidade.

As incríveis façanhas desse engenheiro agrônomo apaixonado pelo mato foram fundamentais para implantar a “Marcha para o Oeste” preconizada pelo presidente Getúlio Vargas em 1941. Bernardo Sayão abandonou o apartamento e a vida na cidade grande para penetrar pelo sertão afora. Foi ele quem implantou e dirigiu a Colônia Agrícola Nacional de Goiás (Cang), hoje o próspero município de Ceres, que significa a deusa da agricultura.

Bernardo Sayão, com seu jeito simples e humilde de ser, não foi apenas o administrador zeloso por suas atribuições e o trabalhador obstinado que saía pessoalmente a campo para abrir as estradas. Foi também um político natural que sabia como ninguém expressar os sentimentos do povo através de atitudes sinceras e desprovidas de qualquer demagogia.

Em 1954, foi eleito Vice-Governador de Goiás com votação surpreendente, superior à do próprio candidato, José Ludovico de Almeida. Ele tinha a imensa simpatia da sociedade que se apaixonou pelo seu estilo forte e sua personalidade inatacável.

A fama das urnas logo chamaria a atenção, em 1957, do presidente Juscelino Kubitschek, que lhe delegou missões desafiadoras. Bernardo Sayão foi o primeiro a mudar-se com a família para o cerrado do Planalto Central onde Brasília seria construída. Como chefe da obra, estava à frente de todas as atividades, ergueu a primeira escola e dois cinemas.

A missão de construir a Belém-Brasília, com 2 mil 169 quilômetros de extensão, foi seu objetivo mais ousado e grandioso. A rodovia era considerada por JK mais importante que a própria consolidação da nova Capital. Ele enfrentou as mais adversas situações, mas soube resistir e seguir em frente na empreitada. Mas aos 58 anos, a fatalidade lhe tiraria a vida. Uma árvore o atingiu em Açailândia, quando faltavam apenas 50 quilômetros para concluir o seu maior feito.

Sua vida foi marcada pela labuta incessante. Bernardo Sayão trabalhava incansavelmente, colocando em prática aquilo que muitas vezes falta hoje ao Brasil: coragem, abnegação, idealismo, desprendimento, pioneirismo.

Ele era um homem público profundamente identificado com o sentimento nacional, respeitado e amado pelo seu povo. De energia física infatigável, ele impôs, ao longo de sua vida pública, uma liderança presente, sem ser autoritária. Aqueles que não conseguiam acompanhar o seu ritmo de trabalho tinham liberdade para se manifestar e não existem registros de que tenha sido, pelo menos esporadicamente, áspero com seus subalternos.

Bernardo Sayão não foi um político na acepção profissional do termo. Preferia fazer e construir a usar a retórica cansada dos que prometem e nada cumprem. Goiânia se consolidou através das estradas que ele abriu e do progresso que surgiu a partir de Ceres. Brasília foi beneficiada em sua consolidação pelo que ele fizera 20 anos antes em Goiás. O Brasil interiorizou-se a partir da visão correta do que representava a Belém-Brasília para a região Centro-Oeste e para impedir a internacionalização da Amazônia.

O seu testemunho de vida é extremamente atual. Mais e mais o Brasil precisa cultivar valores que vão sendo esquecidos em face da predominância da alta tecnologia e da supremacia de comportamentos que deixam de lado a solidariedade e a ajuda mútua para privilegiar o egoísmo e os interesses próprios.

A simplicidade e a humildade de Bernardo Sayão são outros atributos fundamentais que precisam levar os homens públicos à reflexão, para que não se percam nos descaminhos da vaidade e da busca do sucesso a qualquer preço.

Esse desbravador nos mostra com sua história que é possível edificar cidades e estabelecer o progresso através de procedimentos simples e naturais, sem se importar com as repercussões, buscando apenas o bem-comum e os benefícios que são acrescentados na vida do povo.

Bernardo Sayão foi, desta forma, igualmente pioneiro ao revolucionar o estilo de fazer política, preferindo viver a integridade de seu caráter e não permitindo jamais que sua personalidade fosse contagiada pelos encantamentos fáceis do poder.

Ele não visualizava na vida pública os holofotes, mas o instrumento para tornar realidade o progresso. Não vestia o figurino do poder tradicional que estabelece a distância em relação ao duro cotidiano do povo. Pelo contrário: o envolvimento com o dia-a-dia de sua gente era sincero e cristalino, o que lhe conferia a confiança de todos e o respeito mútuo.

Bernardo Sayão era, antes de tudo, um sonhador. Um homem obstinado e com objetivos bem definidos. Um idealista que sabia viver e implantar os seus projetos sem abrir mão da felicidade.

Goiás foi particularmente honrado com a presença em seu solo desse homem de têmpera, que abriu com o seu próprio braço as vias que hoje permitem a integração nacional.

Por isso mesmo, Bernardo Sayão tem reservado um lugar especial em nossa história e continuará sendo eternamente reverenciado como o plantador das cidades e das estradas que fizeram germinar a vida e a prosperidade.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/06/2001 - Página 14056