Pronunciamento de Ney Suassuna em 26/06/2001
Discurso durante a 79ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
TRANSCURSO DO TRIGESIMO SEXTO DIA SEM AGUA E SEM CESTAS BASICAS NA REGIÃO ASSOLADA PELA SECA NO ESTADO DA PARAIBA.
- Autor
- Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
- Nome completo: Ney Robinson Suassuna
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
CALAMIDADE PUBLICA.
FORÇAS ARMADAS.:
- TRANSCURSO DO TRIGESIMO SEXTO DIA SEM AGUA E SEM CESTAS BASICAS NA REGIÃO ASSOLADA PELA SECA NO ESTADO DA PARAIBA.
- Publicação
- Publicação no DSF de 27/06/2001 - Página 14130
- Assunto
- Outros > CALAMIDADE PUBLICA. FORÇAS ARMADAS.
- Indexação
-
- DEMORA, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO, VITIMA, SECA, REGIÃO NORDESTE.
- PROTESTO, AUSENCIA, LIBERAÇÃO, SOLDO, SOLDADO, EXERCITO, BRASIL, MISSÃO MILITAR, PAIS ESTRANGEIRO, TIMOR LESTE.
O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há um dito popular que diz que “querer é poder”. Lamentavelmente, parece que a Nação brasileira não tem querido ser o que poderia ser - pelo menos com a ênfase que gostaríamos.
Vejam V. Exªs: está escrito nos passaportes americanos:
O Secretário de Estado dos Estados Unidos da América requer, pelo presente, a todas as autoridades competentes, que deixem passar o cidadão dos Estados Unidos, titular do presente passaporte, sem demora nem dificuldade, e, em caso de necessidade, dêem a ele toda a ajuda legal e proteção.
Sr. Presidente, a característica dessa linguagem é afirmativa, é impositiva. O Estado, presente, solidariza-se com o cidadão, tratando o estrangeiro de igual para igual.
Já no passaporte brasileiro está escrito:
Roga-se às autoridades estrangeiras que prestem ao titular deste passaporte auxílio e assistência em caso de necessidade.
Roga-se. Sujeito indeterminado. Quem roga? Que tipo de auxílio e de assistência? Sr. Presidente, é nas pequenas coisas que vemos a diferença de tratamento, a diferença do querer.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, digo isso porque, no plano interno, centenas, milhares, milhões de brasileiros têm dificuldades, como as têm os meus conterrâneos nordestinos.
Faz 36 dias, hoje, que foi dada ordem para que água e cesta básica chegassem nas mãos dos atingidos pela seca. Já chamaram os prefeitos para conversar, mas não chegou nem água nem cesta básica.
Tenho falado disso quase que diariamente, Sr. Presidente.
Mas hoje não quero falar somente da seca. Quero falar também dos 80 brasileiros que estão em Timor Leste. Já mandamos o terceiro pelotão para aquele país.
Peço a atenção dos Srs. Senadores para o que está ocorrendo com a nossa representação ali. São 80 brasileiros que estão cuidando da segurança de Xanana Gusmão. Para falarem ao telefone com suas famílias, eles têm de pedir aos canadenses; é o Governo canadense que paga os telefonemas dos brasileiros para os seus familiares que estão aqui. Para alimentarem-se, dependem do Governo português. Milhares de soldados portugueses lá estão. Estamos dependendo, lá fora, de canadenses, de portugueses.
Vemos soldados de outras nacionalidades que lá estão, os australianos, por exemplo, que são milhares, e estão satisfeitos, sendo bem tratados por seu país. E os nossos? O dinheiro da primeira leva de 80 soldados não foi liberado até hoje. Não foi liberado dinheiro para os nossos soldados que estão lá representando o Brasil em uma missão importante para nós, porque estão ajudando os nossos irmãos do Timor Leste, que falam também o português e estão construindo um país. O chefe, o responsável da ONU, é um brasileiro. Entretanto, não houve ainda a liberação de recursos para o primeiro grupo e já está lá o terceiro.
Sr. Presidente, outro dia, ouvi o Presidente da República parabenizar os soldados que iriam viajar. Os parabéns são dados aos soldados, mas não se paga o mínimo, ficando a nossa nacionalidade na dependência de terceiros, seja no plano interno seja no externo.
E até num simples documento, o passaporte, vemos que este País não quer dar a si mesmo importância, tampouco aos seus cidadãos.
Essa é a razão do meu protesto.
Muito obrigado, Sr. Presidente.