Pronunciamento de Maria do Carmo Alves em 28/06/2001
Discurso durante a 81ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
ELOGIOS AO MOVIMENTO DOS FOCOLARES E A REALIZAÇÃO DO PROJETO ECONOMIA DE COMUNHÃO.
- Autor
- Maria do Carmo Alves (PFL - Partido da Frente Liberal/SE)
- Nome completo: Maria do Carmo do Nascimento Alves
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA SOCIAL.:
- ELOGIOS AO MOVIMENTO DOS FOCOLARES E A REALIZAÇÃO DO PROJETO ECONOMIA DE COMUNHÃO.
- Aparteantes
- Nova da Costa.
- Publicação
- Publicação no DSF de 29/06/2001 - Página 14436
- Assunto
- Outros > POLITICA SOCIAL.
- Indexação
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- ELOGIO, PROGRAMA, SOLIDARIEDADE, AUXILIO, COMBATE, FOME, POBREZA, INCENTIVO, PROJETO, DISPONIBILIDADE, BENS, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRIAÇÃO, EMPRESA, BENEFICIO, POPULAÇÃO.
A SRª MARIA DO CARMO ALVES (PFL - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a pobreza, a fome e a miséria têm sido um dos temas mais debatidos no Congresso Nacional.
A propósito da pobreza, houve uma atividade intensa, com a criação da Comissão Mista e a aprovação da emenda constitucional que criou o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, uma proposta do Senador Antonio Carlos Magalhães. E esta semana, foi aprovada, finalmente, a sua regulamentação.
Como Parlamentar, tive a honra de participar da Comissão Mista destinada a estudar as causas estruturais e conjunturais da pobreza no País e, certamente, buscar soluções para um problema tão grave.
Por ocasião daquele trabalho, a Comissão visitou várias regiões, como o Nordeste, e esteve em São Paulo, onde visitou o Movimento dos Focolares.
Sobre esse assunto, eu gostaria de tecer algumas considerações. Não é novidade afirmar que cada concepção do agir econômico é fruto de uma cultura específica e de uma determinada visão de mundo.
Nas últimas décadas, está se difundindo em muitas nações, quase em silêncio, um estilo de vida que é expressão de uma nova cultura. Uma cultura praticada sobretudo no Movimento dos Focolares. Esse estilo de vida de matriz cristã é animado por uma nova espiritualidade ao mesmo tempo pessoal e coletiva: a espiritualidade da unidade. Difundida em 182 países entre pessoas de todas as idades, de todas as raças, línguas, culturas crenças religiosas, a ela aderem em sua maioria católicos, mas também cristãos de 300 igrejas, fiéis das principais religiões e homens e mulheres sem um específico referencial religioso, mas que partilham muitos dos seus valores.
A visão de mundo do Movimento é a da fraternidade universal que leva os homens a se comportarem como irmãos, esperando contribuir, assim, para a construção de um mundo mais unido.
Por isso, todos são convidados a colocar em prática o elemento que se chama amor. E é amor cristão ou, para quem professa outra fé, pode-se chamar benevolência, que significa querer o bem dos outros. É uma atitude ensinada por todos os livros sagrados e praticada também por homens que se declaram agnósticos, que possuem, como todos, na própria natureza o instinto de relacionamento com os outros.
De fato, é inerente à pessoa, apesar de suas fraquezas, ser mais levada a dar do que a ter, porque é naturalmente inclinada a amar os seus semelhantes. E no movimento dos Focolares, é típica a “cultura da partilha” que desde o início se concretizou numa comunhão de bens entre todos os seus membros e em obras sociais, inclusive de um certo porte.
O amor (ou benevolência), vivido por várias pessoas, torna-se recíproco e gera, assim, a solidariedade. Solidariedade que pode ser mantida sempre viva só aplacando totalmente o nosso egoísmo, enfrentando e sabendo superar as dificuldades.
Vejam Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é essa solidariedade, base de qualquer ação humana, inclusive da atividade econômica, que concretizou o estilo de vida que 4,5 milhões de pessoas do Movimento dos Focolares assumem diariamente. Esse estilo de vida renova, por exemplo, a atuação política e já produz os primeiros frutos em pequenas e grandes cidades.
Quanto ao aspecto econômico, esse estilo de vida de vida se concretizou, após quase 50 anos, no Projeto Economia de Comunhão. E foi exatamente essa experiência da Economia de Comunhão que a Comissão de Combate e Erradicação da Pobreza esteve visitando em São Paulo.
Essa autêntica expressão da espiritualidade e da unidade na vida econômica só pode ser compreendida completamente e na sua complexidade se estiver inserida no contexto da visão que a espiritualidade da unidade tem do homem e dos relacionamentos sociais.
A Economia de Comunhão nasceu em 1991, no Brasil, durante uma visita de Chiara Lubich, fundadora e presidente do movimento dos focolares, que compreende hoje 250 mil pessoas. O movimento, presente no Brasil desde 1958, difundiu-se amplamente, atraindo pessoas de todas as categorias sociais. Porém, há alguns anos, apesar da comunhão de bens, devido ao seu crescimento, o movimento não conseguia cobrir as necessidades mais urgentes de muitos de seus membros. Pareceu, então, que Deus o convidasse a realizar algo a mais e novo.
Embora não sendo competente em problemas econômicos, Chiara Lubich, uma italiana, pensou que seria preciso criar empresas a fim de utilizar as capacidades e os recursos de todos para produzirem, juntos, riquezas destinadas a quem se encontrava em dificuldades. Essas empresas deveriam ser dirigidas por pessoas honestas, competentes, capazes de fazê-las funcionar com eficácia e obter lucros, que, livremente, deveriam ser colocados em comum.
Esses lucros seriam em parte para ajudar os pobres e dar-lhes sustento enquanto não conseguiam trabalho. Outra parte seria para construir estruturas para a formação de “homens novos”, como os define o apóstolo Paulo, pessoas formadas e impulsionadas pelo amor, capazes de viver a “cultura do dar, da partilha”. E uma terceira parte, para incrementar a empresa.
Desse modo, nas cidadezinhas de testemunho do movimento, as assim chamadas Mariápolis, cerca de vinte no mundo, além das escolas de formação, das casas para as famílias, do artesanato e das outras obras que nasceram para manter os seus habitantes, existiriam também empresas. Ao lado de tudo isso, surgiria um verdadeiro pólo produtivo, um dos quais foi objeto de nossa visita. A idéia foi acolhida com entusiasmo não só no Brasil e na América Latina, mas também na Europa e em várias partes do mundo.
Muitas empresas nasceram e muitas outras aderiram ao projeto da Economia de Comunhão, modificando o próprio estilo de gestão empresarial.
Nas proximidades de São Paulo, encontramos a Mariápolis Araceli, que hoje se chama Mariápolis Ginetta Calliari, centro nacional do Movimento. A 4km dessa cidadezinha, mas parte integrante dela, foi implantada uma área produtiva denominada Pólo Empresarial Spartaco, no qual funcionam atualmente cinco empresas: La Túnica, indústria de confecções; Rotogine, de manufaturados plásticos; Eco-ar, de produtos de limpeza; Prodiet, distribuidora de produtos farmacêuticos; e Uniben, empresa de fomento mercantil.
A experiência da Economia de Comunhão, com as particularidades que derivam da espiritualidade da qual provém, coloca-se ao lado das inúmeras iniciativas individuais e coletivas que procuraram e procuram humanizar a economia. Coloca-se ao lado de muitos empresários e trabalhadores, quase sempre pouco conhecidos, que concebem e vivem a sua atividade econômica como algo mais amplo e diferente da pura busca de uma vantagem material e pessoal.
De fato, como em muitas outras práticas econômicas permeadas por motivações ideais, aqueles que aderem ao projeto - empresários, dirigentes, trabalhadores ou outras figuras empresariais - comprometem-se, em primeiro lugar, em centralizar a atenção em todos os aspectos da própria atividade, nas exigências e aspirações da pessoa humana e nas instâncias do bem comum.
Concretamente procuram instaurar relacionamento leal e respeitoso, animado por sincero espírito de serviço e de colaboração, em relação aos clientes, aos fornecedores, à administração pública e até aos concorrentes. Procuram valorizar os funcionários; manter uma linha de conduta da empresa inspirada na cultura da legalidade; reservar grande atenção ao ambiente de trabalho e ao respeito pela natureza; e cooperar com outras iniciativas empresariais e sociais presentes no território, abertos à comunidade internacional com a qual se sentem solidários.
Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, o projeto da Economia de Comunhão apresenta, em resumo, algumas características muito significativas.
Em primeiro lugar, os agentes das empresas de Economia de Comunhão procuram ter o mesmo estilo de comportamento que assumem em todos os âmbitos da vida privada. De fato, estão convencidos de que é preciso imbuir dos valores em que crêem cada instante da vida social, que é também econômica, e assim a atividade produtiva se torna mais um lugar de crescimento humano e espiritual.
Em segundo lugar, a Economia de Comunhão propõe comportamentos inspirados na solidariedade e na atenção com os excluídos. Por conseguinte, a Economia de Comunhão não se apresenta tanto como uma nova forma de empresa, alternativa às que já existem, mas pretende, sobretudo, transformar intimamente as estruturas habituais de empresa, baseando todas as relações intra e extra empresariais segundo um estilo de vida de comunhão, tudo isso em pleno respeito aos “valores” autênticos da empresa e do mercado.
Em terceiro lugar, aqueles que se encontram em dificuldades econômicas, que são os destinatários de uma parte dos lucros, não são vistos simplesmente como “assistidos” ou “beneficiados” pela empresa. Eles são membros essenciais do projeto, no âmbito do qual oferecem aos outros as suas necessidades. Eles também vivem a “cultura do dar, da partilha”. De fato, muitos deles renunciam ao auxílio que recebiam logo que recuperam um mínimo de independência financeira e muitas vezes partilham com outros o pouco que possuem. Tudo isso é expressão do fato de que a Economia de Comunhão, que também frisa a “cultura de partilha”, não se focaliza na filantropia por parte de alguns, mas, sim, na partilha.
O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti) - Senadora Maria do Carmo, peço desculpas por interromper V. Exª para prorrogar a sessão, a fim de que V. Exª possa concluir seu pronunciamento, como também ouvirmos o último orador inscrito, Senador Nova da Costa.
A SRª MARIA DO CARMO ALVES (PFL - SE) - Obrigada, Sr. Presidente.
Em quarto e último lugar, as empresas da Economia de Comunhão, além de se basearem num profundo entrosamento entre os diretores de cada uma delas, sentem-se parte integrante de uma realidade mais ampla. Os lucros são colocados em comum, porque já se vive uma experiência de comunhão.
Muitos se perguntam como empresas desse tipo, tão atentas às exigências de todos aqueles com que tratam e ao bem de toda a sociedade, conseguem sobreviver no mercado. Com certeza, o espírito que as sustenta ajuda-as a vencer muitos conflitos internos que bloqueiam e que, em certos casos, paralisam todas as organizações humanas. Além disso, o comportamento que assumem atrai a confiança e a estima dos clientes, dos fornecedores e dos financiadores.
Todavia, não podemos esquecer outro elemento essencial: a providência divina, que acompanhou e acompanha constantemente o progresso da Economia de Comunhão nesses anos. Experimenta-se que, após cada escolha “contra a corrente” que a praxe comercial desaconselharia, Deus não deixa faltar o “cêntuplo” que Jesus prometeu: uma receita inesperada, uma oportunidade imprevista, a oferta de uma nova colaboração ou mesmo a idéia de um produto novo acabam por socorrer o projeto.
Essa é, Sr. Presidente, em síntese, a Economia de Comunhão. Quando Chiara a propôs, não pensava logicamente numa teoria. Todavia, já atraiu a atenção de economistas, sociólogos, filósofos e estudiosos de outras disciplinas, que encontram nessa nova experiência e nas idéias e categorias que a inspiram motivos de interesse que vão além do Movimento em que historicamente se desenvolveu.
Em particular, nas relações interpessoais e sociais, que estão na base da Economia de Comunhão, há quem vislumbre uma nova chave de leitura que poderia enriquecer também a compreensão das interações econômicas e contribuir, portanto, para superar a colocação individualista que prevalece hoje na ciência econômica.
O Sr. Nova da Costa (PMDB - AP) - Senadora Maria do Carmo, permite-me V. Exª um aparte?
A SRª MARIA DO CARMO ALVES (PFL - SE) - Concedo o aparte ao Senador Nova da Costa.
O Sr. Nova da Costa (PMDB - AP) - Como cristão, eu não podia deixar de manifestar a minha alegria, porque hoje o Senado ficou enriquecido, tendo em vista um pronunciamento que aborda valores humanos. Tenho acompanhado o programa do Movimento Focolares. Já li muito sobre ele e até achava que, teoricamente, iria encontrar certas resistências. O pronunciamento de V. Exa. será divulgado pela TV Senado que, hoje, tem uma ampla audiência no nosso Brasil. O tempo é curto, e eu tinha muitas questões a comentar sobre a igreja, que, iluminada pelo Espírito Santo, traz uma forma de sermos mais cristãos, de corrigirmos a situação daqueles mais desprovidos de renda, a fim de terem uma condição digna. É uma oportunidade de se agruparem, trabalharem, despertarem os seus valores, mostrarem sua capacidade para viverem com mais dignidade. Não vou me estender mais. Elogio o seu pronunciamento sobre o Focolares, destacando a Economia de Comunhão. Peço a Deus que muitos que sintonizam a TV Senado ou a Rádio Senado possam ter como incentivo o seu pronunciamento, o seu relatório, para que essa atividade se multiplique. Meus parabéns!
A SRª MARIA DO CARMO ALVES (PFL - SE) - Agradeço ao nobre Senador a sua participação.
Na verdade, fiz questão de hoje trazer esse relatório porque, como regulamentamos a PEC do Fundo de Combate à Erradicação da Pobreza, seria importante que o Senado tomasse conhecimento dessa experiência que a Comissão visitou, tendo se interessado vivamente por todo o desenrolar dessa Economia de Comunhão, uma grande experiência que está funcionando muito bem no Brasil e no mundo.
Muito obrigada, Sr. Presidente.