Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ESCRITOR JORGE AMADO, OCORRIDO ONTEM, EM SALVADOR/BA.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ESCRITOR JORGE AMADO, OCORRIDO ONTEM, EM SALVADOR/BA.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2001 - Página 15884
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORGE AMADO, ESCRITOR, ESTADO DA BAHIA (BA).

            O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu não tinha idéia de que fosse falar após o Líder Hugo Napoleão, até porque S. Exª o fez em nome de todos os integrantes do Partido ao exercitar o múnus da liderança.

            Eu pensava que falaria depois de Antonio Carlos Júnior, uma vez que eu queria ouvir a voz dos baianos. Foi o que fez Paulo Souto, logo a seguir, mostrando que a Bahia perde um grande vulto. E eu queria falar depois de S. Exª para dizer que não só a Bahia perde um grande vulto, uma vez que Jorge Amado foi um cidadão do mundo.

            Todas as loas que em vida lhe prestaram, em nenhum instante ele deixou de reconhecer que elas estavam abaixo das injustiças sociais pelas quais ele bradava, reclamava e das quais ele sempre conseguia lembrar que tinha sido vítima.

Por que então, Sr. Presidente, ocupo eu esta tribuna após esta explicação?

O convívio não foi muito grande. Não tive a felicidade de vê-lo nas vezes em que fui à Bahia, e uma delas na qualidade de Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados, mas havia uma ligação de afeto recíproco.

Em 1937, Jorge Amado deu à lume o seu Capitães de Areia, que não foi o primeiro livro. Ainda universitário, eu falava sobre isso, sobre a figura do Pedro Bala. Anos depois, ele me fez uma bela surpresa, que darei aos meus netos. Ele me enviou, em janeiro de 88, uma dedicatória carinhosa na sua edição belíssima de Capitães de Areia, com este poema em prosa:

“Para Bernardo Cabral, do seu velho admirador, com abraço cordial.

Jorge Amado.

Brasília, janeiro de 88”.

Sr. Presidente, essa é a razão. Quero agradecer a quem prestou tantos serviços ao Brasil.

Ele era homem ligado ao mar, era uma espécie de marinheiro, e o interessante é que, já ao final, se recolheu à Bahia, assim como um marinheiro ancorado no cais de tantas recordações, e ficou lá, como um forasteiro que perdeu o hábito de partir. Era a sua Bahia.

Sr. Presidente, como brasileiro, quero deixar registrado que Jorge Amado, depois de muitos sofrimentos - porque foi até para a prisão e teve perda de mandato -, conseguiu deixar, com a marca do seu talento, as cicatrizes do dever cumprido em favor da sua Bahia.

Por tudo isso, Sr. Presidente, ele não é apenas um baiano que se foi. Ele é o brasileiro que perdemos.

Muito obrigado, Sr. Presidente


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2001 - Página 15884