Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ESCRITOR JORGE AMADO, OCORRIDO ONTEM, EM SALVADOR/BA.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ESCRITOR JORGE AMADO, OCORRIDO ONTEM, EM SALVADOR/BA.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2001 - Página 15886
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORGE AMADO, ESCRITOR, ESTADO DA BAHIA (BA).

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Senador Edison Lobão, Srªs e Srs. Senadores, o escritor Jorge Amado merece a homenagem de toda a Nação brasileira, não apenas por haver criado alguns dos personagens mais vibrantes e inesquecíveis da nossa literatura, habitantes de realidades cruéis mas profundamente humanas e que carregam em si o registro dos costumes de toda uma região e uma época, mas também por ter sido sempre possuído de um senso de responsabilidade quanto à importância social do escritor no processo de construção de uma cultura nacional.

Sua vocação política e literária, seu senso de dever, sua profunda compreensão dos homens e das mulheres que observou, suas palavras sedutoras, sua intimidade com o povo, suas cenas recolhidas nos becos da cidade ou nos campos de cacau, nas areias das dunas ou nas alcovas dos sobrados, deram-nos um rosto mais nítido, mais completo, mais brasileiro. Jorge Amado registrou em sua obra muitas das características da nossa sociedade, imortalizando uma realidade que é apenas nossa, e por isso tão reconhecida e universalmente aceita.

Sua participação na construção de nossa alma nos deixa uma herança que se tornará cada vez mais imprescindível neste mundo em que tantas identidades têm sido esmagadas em nome de uma hegemonia cultural entrelaçada a interesses econômicos cegos e devastadores. Sua clara intenção ideológica, de homem comprometido com o povo, com os pobres, com os problemas sociais, com a liberdade, dão a sua obra uma dimensão transcendente, encontrada, por exemplo, em Dickens, sua grande paixão literária, ou em Tolstoi.

Jorge Amado soube interpretar sua vivência nas ruas de Salvador, nas fazendas de cacau em Ilhéus, nos candomblés, nas rodas de capoeira, nas feiras e mercados, nas prisões em que tantas vezes foi jogado, nas praças públicas em que seus livros foram queimados, transformando-a em questões significativas para a compreensão da existência humana. É de homens assim que se constrói uma nação viva, justa, poderosa e feliz.

À Zélia Gattai, aos seus filhos, a todo o povo baiano, que tanto o amava e ama, o nosso sentimento de pesar e solidariedade neste momento.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2001 - Página 15886