Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ESCRITOR JORGE AMADO, OCORRIDO ONTEM, EM SALVADOR/BA.

Autor
Roberto Saturnino (PSB - Partido Socialista Brasileiro/RJ)
Nome completo: Roberto Saturnino Braga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ESCRITOR JORGE AMADO, OCORRIDO ONTEM, EM SALVADOR/BA.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2001 - Página 15889
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORGE AMADO, ESCRITOR, ESTADO DA BAHIA (BA), RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, HISTORIA, LITERATURA BRASILEIRA.

O SR. ROBERTO SATURNINO (PSB - RJ. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, também quero deixar registrada, nesta sessão memorável, uma expressão do Rio de Janeiro. Afinal de contas, Jorge Amado é um escritor brasileiro, talvez o escritor brasileiro mais conhecido no mundo inteiro. Desempenhou um papel essencial na história da literatura como pioneiro de uma literatura moderna, que estimulou e inspirou a juventude dos anos 40 e 50. Tive o interesse pela literatura despertado pelas obras de Jorge Amado, especialmente Jubiabá, Mar Morto, Capitães da Areia. É precisamente desse período de juventude que me vem nesta hora a recordação mais amável e gratificante do contato que tive com essa grande figura brasileira, exatamente nesse período, quando Jorge Amado era comunista. Esta é que é a verdade. Eu era estudante, pertencia à juventude comunista. Eu estudava engenharia, mas cantava; eu era cantor e cantava peças tanto folclóricas quanto de música erudita.

Jorge Amado gostava das coisas que eu cantava, muito especialmente de uma balada, cuja poesia foi escrita por Ethel Rosemberg, esposa de Julius Rosemberg, casal condenado à morte nos anos 50, por uma suposta ação de espionagem nos Estados Unidos, o que provocou uma reação mundial muito grande. Ethel Rosemberg deixou esta balada escrita e Edino Grieger, nosso grande compositor, expoente da nossa música hoje, musicou essa balada e eu a cantava. Jorge Amado gostava especialmente dessa peça e me convidava a eventos no País e fora dele exatamente para me apresentar cantando essa balada. Lembro-me de que vim a Goiânia, nos anos 50, e fomos acolhidos pelo então Governador Pedro Ludovico, sediando um Congresso Brasileiro de Intelectuais, por volta de 1954 por aí, não me recordo exatamente. Compareci, e Jorge Amado foi o grande líder desse Congresso, por ser a figura do Partido Comunista mais acatada e mais respeitada, de maior destaque nos meios intelectuais, e ele praticamente promoveu esse congresso e me convidou a participar dele. Eu lá estive.

Convidou-me a participar do Congresso Mundial da Paz, em Helsinque, do Festival da Juventude, em Varsóvia, e, em seguida, a integrar uma delegação de artistas brasileiros na União Soviética. Fomos juntos, sempre.

Tivemos essa convivência muito próxima naquele tempo, que depois perdeu-se na medida em que deixei essa atividade, que me tornei um engenheiro e um economista, e ele continuou; mas depois, também separou-se do Partido Comunista e eu deixei a Juventude, ingressei no Partido Socialista.

Enfim, separamo-nos; mas ficou essa lembrança amável que para mim é comovente neste dia de hoje, quando apreciamos o voto de pesar pelo falecimento deste que foi um expoente da literatura brasileira, com o seu caráter de pioneirismo na forma dos seus romances e especialmente no levantamento da questão social, que era, para ele, fundamental, essencial na missão do escritor, do romancista.

Sr. Presidente, fica aqui o registro de uma voz do Rio de Janeiro, pesarosa por essa perda inestimável; a voz de quem foi chamado à literatura pelas obras dele e uma voz de quem compartilhou, na juventude, um ideal muito forte, animador, motivador, que nos movia a todos, em busca da utopia internacional da fraternidade entre todos os seres humanos. Registro o meu pesar pelo falecimento dessa figura imorredoura, o escritor brasileiro Jorge Amado, a quem eu e o meu Estado, o Rio de Janeiro, prestamos homenagem.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2001 - Página 15889