Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ESCRITOR JORGE AMADO, OCORRIDO ONTEM, EM SALVADOR/BA.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ESCRITOR JORGE AMADO, OCORRIDO ONTEM, EM SALVADOR/BA.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2001 - Página 15892
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORGE AMADO, ESCRITOR, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, ATUAÇÃO, LITERATURA BRASILEIRA.

O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB - AL. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs Senadores, quisera eu, neste instante, dispor de capacidade ou poder incorporar mesmo o imenso talento de Jorge Amado para lhe prestar uma homenagem merecida, digna de sua capacidade literária. Ao lado de Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Raquel de Queiroz, ainda que estejam claras as diferenças estilísticas, Jorge Amado é o romancista nordestino que representa o emblema da inventividade. É um ficcionista contemporâneo e em constante evolução.

            Todas as suas sagas estão ambientadas na Bahia. Aprendeu como ninguém o cotidiano de sensualidade, de romantismo e o cenário mítico de sua terra, nela projetando seus personagens, que já estão eternizados na memória brasileira. Nacib, Gabriela, Dona Flor e Tieta, graças à força imagética de seus romances, conquistaram o mundo pelo cinema e pela televisão.

Suas primeiras ficções como País do Carnaval, Jubiabá, Mar Morto e Capitães da Areia estão permeadas de intencionalidade política e social. São obras que denunciam a decomposição social, evidenciam a luta de classes dentro de um País, à época, subpolitizado. Jubiabá, sem dúvida, é a melhor representação desse período.

São páginas escritas no período em que Jorge Amado teve uma intensa atividade política no Partido Comunista, pelo qual foi Deputado. Mesmo com a reserva de alguns críticos, Jorge Amado soube ousar e avançar. Sintetizou em suas obras a alma do povo brasileiro. O sincretismo religioso, a convivência, a tolerância e o pacifismo estão sobejamente espelhados nos romances: Gabriela, Cravo e Canela, Tenda dos Milagres, Tieta do Agreste, Teresa Batista Cansada de Guerra, Tocaia Grande e no autobiográfico Navegação de Cabotagem.

Ao lado de Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Machado de Assis, Jorge Amado é, inquestionavelmente, um dos maiores ficcionistas da história literária brasileira e, sem dúvida, o autor nacional mais conhecido no mundo. As traduções de suas sagas já alcançaram mais de sessenta países e sua importância literária é indiscutível.

Sr. Presidente, Sras e Srs Senadores, a Bahia hoje está desidratada. Perde a intensidade de suas cores, a pujança de seus aromas, o vigor de sua mística. A Bahia, particularmente, e o Brasil estão órfãos de quem melhor viu, interpretou e fabulou aquele Estado e o Brasil, conseqüentemente.

Que Jorge Amado descanse em paz na sua amada Bahia.

Sr. Presidente, como Líder do PMDB, suponho estar expressando o sentimento de todos os membros da nossa Bancada, apoiando a aprovação desse requerimento.

Antes de encerrar, solidarizo-me com a família, na pessoa da também escritora Zelia Gattai, e sugiro, em boa hora, que o Governo brasileiro encampe a indicação de Jorge Amado para o Nobel de Literatura.

Muito obrigado a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2001 - Página 15892