Discurso durante a 88ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CRITICAS A INTERVENÇÃO DA DIRETORIA REGIONAL DO PMDB NO MUNICIPIO DE CAMPINA GRANDE, QUE CULMINOU COM A SAIDA DE S.EXA. DO PARTIDO. COMUNICAÇÃO DE FILIAÇÃO DE S.EXA. AO PSDB.

Autor
Ronaldo Cunha Lima (S/PARTIDO - Sem Partido/PB)
Nome completo: Ronaldo José da Cunha Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • CRITICAS A INTERVENÇÃO DA DIRETORIA REGIONAL DO PMDB NO MUNICIPIO DE CAMPINA GRANDE, QUE CULMINOU COM A SAIDA DE S.EXA. DO PARTIDO. COMUNICAÇÃO DE FILIAÇÃO DE S.EXA. AO PSDB.
Aparteantes
Geraldo Melo, Marluce Pinto, Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2001 - Página 15943
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • REPUDIO, AUTORITARISMO, ARBITRARIEDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), MOTIVO, INTERVENÇÃO, DIRETORIO REGIONAL, ESTADO DA PARAIBA (PB), DIRETORIO MUNICIPAL.
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PERSEGUIÇÃO, CASSAÇÃO, EXPULSÃO, ORADOR.
  • ANALISE, ATUAÇÃO, ORADOR, FIDELIDADE PARTIDARIA, REGISTRO, AUXILIO, FUNDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PERIODO, DITADURA.
  • ANUNCIO, ORADOR, FILIAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, RELATORIO, AUTORIA, CESAR SHIRMER, DEPUTADO FEDERAL, ANALISE, SITUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).

            O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, trago hoje a este plenário, que tem sido palco, ultimamente, de situações dramáticas e soluções traumáticas, questões relevantes não pelo avanço, mas pelo retrocesso político, não pela conquista da cidadania, mas pela involução partidária.

O diretório regional do PMDB da Paraíba consumou, há poucos dias, a intervenção nos diretórios municipais de Campina Grande e outras cidades. Longe, muito longe de um gesto esparso de perseguição pontual, a intervenção foi mais um ato da hostilidade mais violenta e da violência mais arbitrária contra correligionários históricos e absolutamente fiéis ao programa partidário em João Pessoa, Guarabira, Campinha Grande, Boqueirão e outros tantos Municípios paraibanos.

O ato de intervenção, da maneira arbitrária como se processou, é mais uma demonstração inconteste do autoritarismo de quem, não podendo conviver com o contraditório, força a exclusão e a expulsão, para subjugar pela prepotência a quem não pode liderar pela competência. Assim, não estou saindo, estou sendo expulso.

Esse ato menor de intolerância e mesquinhez caracteriza gesto da servidão mais humilhante do Partido aos caprichos do Governo do Estado. Quem comunicou à imprensa mais essa violência partidária foi o próprio Secretário de Comunicação do Governo. Emblematicamente, ele atropelou os órgãos partidários em manifesto desrespeito ao próprio Partido.

Rasgaram-me, na intolerância dessa intervenção, a ficha 001, que assinei ainda no Brasil da ditadura militar e ostentava com muito orgulho, quando entrar no glorioso MDB de então implicava em desprendimento político e risco pessoal.

Nem os generais me perpetraram tal violência: por motivação ideológica, cassaram-se um mandato e os direitos políticos, mas preservaram amigos e aliados. Agora, pela perseguição mais odienta e pelo ódio mais exacerbado, cassam-me os direitos partidários e estendem a violência de seu ódio contra os fundadores do MDB e do PMDB, punidos pela lealdade ao Partido que abraçaram e pela solidariedade ao amigo que escolheram. Afinal, no PMDB da Paraíba o que vale hoje como senha de prestígio partidário para militantes e dirigentes já não é o que podem fazer a favor do Partido, mas o que pensam tramar contra mim e meus amigos. Já não é o que podem construir de projetos do PMDB, mas o que podem destruir de meus sonhos.

Ao violentar essa ficha, tentaram rasgar-me mais que uma militância partidária - tentaram, agora, rasgar a história de uma vida.

Ingressei no PMDB quando o Partido era o estuário natural não apenas de combate à ditadura, mas de preocupações sociais e de princípios éticos. Mais ainda, era referência de democracia interna e de tolerância dos contrários.

Pelo MDB e PMDB a tudo enfrentei e resisti; pelo MDB e PMDB a tudo renunciei. Pelo MDB conquistei a primeira vez, ainda em 1968, a prefeitura de Campina Grande, então a maior cidade da Paraíba onde havia eleição direta para as Prefeituras. Foi a mais franciscana de quantas campanhas terá havido; feita toda ela em cima de tamboretes e bancos de praça, animada então com os únicos recursos que a vida me facultou: a palavra e o sonho, a coragem e o ideal.

A eleição de Campina representava mais que a conquista da segunda maior cidade da Paraíba. Era também o sinal de que era preciso resistir e de que era possível se opor. Pela ousadia da oposição, fui cassado no mandato, fui cassado nos direitos políticos, impedido de trabalhar em minha terra, proibido de viver em minha cidade, e, na prática, exilado com os filhos em meu próprio País.

Pelo PMDB disputei o Governo do Estado, em 1990, quando ninguém se dispunha ao sacrifício e à temeridade de enfrentar uma eleição com meros 6% de intenções de voto, contra 66% dos adversários.

Pelo PMDB abri mão de projetos pessoais, como em 86, quando todos queriam a legenda, embalados pelo sucesso do Plano Cruzado. Em 1994, quando minha condição de Governador e de condutor do processo sucessório me permitiria a indicação de quaisquer candidatos, aceitei, pelo PMDB, sem qualquer questionamento o nome que me apresentaram para Vice-Governador, mesmo conhecendo a fragilidade de saúde do candidato Antônio Mariz. E sob o signo da unidade, sob o slogan de que "no dia três, vote nos três", obtivemos a maior vitória política e eleitoral da história da Paraíba. Pela primeira vez, em décadas, um governador fazia seu próprio sucessor em eleições diretas. Pela primeira vez na história, um ex-governador se elegia para o Senado, na eleição imediatamente seguinte ao fim de seu mandato. Era o reconhecimento do trabalho de uma administração felizmente fecunda, embora tenha sido a mais curta de nossa história recente: 3 anos e 15 dias.

            Tenho a consciência de haver resistido, no PMDB, à inominável violência ética de convenções viciadas, que a Paraíba prefere esquecer e a história preferiria sepultar, mas que, inevitavelmente, até em nome da decência, um dia passará a limpo.

            Apesar da derrota, em circunstâncias tais, e do resultado, para alguns surpreendentes, retirei-me em silêncio do processo eleitoral, sem apoiar qualquer opositor, votando, ao contrário, meus amigos e eu, nos candidatos indicados pelo meu Partido.

No PMDB, tenho consciência de haver sofrido, como raros, a mais escancarada infidelidade partidária. Nas últimas eleições em Campina Grande, eram os dirigentes do meu Partido que apoiavam, financiavam e sustentavam a oposição contra o candidato do PMDB. Essas atitudes ainda hoje ressoam, repetidas e renovadas, na imprensa local.

Tenho a consciência de estar enfrentando, com altivez, a mais injustificável perseguição administrativa movida não apenas contra um Administrador Público, mas contra toda a minha cidade de Campina Grande. Por perseguição a Campina tudo se nega. Cortaram o ICMS de Campina, de João Pessoa, de Guarabira e de outras cidades administradas por peemedebistas históricos, que se solidarizaram conosco. Por retaliação, até fatos administrativos corriqueiros, como a municipalização do SUS ou a transferência de recursos vinculados da Saúde, só se fazem, para Campina Grande ou para cidades de amigos meus, por determinação judicial.

Tenho orgulho de haver construído o maior patrimônio partidário que o PMDB já teve na Paraíba e em todo o Nordeste.

Cheguei ao Governo com uma magra bancada de seis Deputados em 36 e de menos de 20 Prefeitos em 171. Afora Campina Grande, praticamente o Partido nada tinha nas demais grandes cidades, inclusive na Capital. O Partido tinha apenas um Senador. Entreguei o PMDB com a maior bancada da Assembléia, com o Governador, o Vice-Governador, com três Senadores eleitos, com dois terços dos Deputados Estaduais e da bancada no Congresso - o maior triunfo eleitoral que a história política paraibana registrou; um dos maiores feitos do Partido em todo o País. Mais ainda, a eleição de 1994, na Paraíba, foi toda ela fundada sobre o tema da estabilidade e da continuidade administrativas: “a Paraíba segue em frente” era o refrão usado e repetido na campanha. Mas os que hoje nos combatem e violentam, que se elegeram com os fatos e os feitos de nossa administração, com nossas ações e serviços, dizem hoje que nada fizemos, que jamais construímos, nunca trabalhamos, embora tentem apoderar-se de nossas ações. Contraditória e infelizmente, muitos aos quais me uni para que ficassem no poder são os que hoje se reúnem para me expulsar.

Rasgam-me, na prática, a ficha 001. Esse ato menor de intolerância e mesquinhez, além de caracterizar gesto de servilismo, representa a mais revoltante ingratidão contra a base municipal que, de fato, tem decidido em favor do PMDB os pleitos majoritários na Paraíba nos últimos 15 anos. Poderia lembrar muitos outros fatos marcantes, mas prefiro esquecê-los, para não sofrer de novo.

Em 1994, o saudoso e leal Humberto Lucena disputava a reeleição já com o peso da cassação de seu registro de candidato pelo Tribunal Superior Eleitoral. Foram muitos, no próprio Partido, que sugeriram a renúncia e a imediata substituição do candidato Humberto, com uma eleição irreversivelmente perdida. Pedi aos campinenses e aos paraibanos, em mais de um comício, que, se tivessem um único voto, o dessem a Humberto e que, só se tivessem um segundo voto, o dessem a mim. E Campina e a Paraíba responderam com o peso de sua força e com a força de sua emoção e trouxe de volta ao Senado um líder político que se notabilizou pela correção de seu caráter, por sua lealdade, ao ponto de nunca esconder, em rasgo de generosidade, que a mim devia a sua eleição.

Muitos que hoje nos combatem, a mim e a Campina, devem a Campina a sua tribuna e o mandato que utilizam para retaliar a cidade, para difamá-la e diminuí-la. Já nem sei se é ingratidão ou equívoco. Que equívoco maior, afinal, pode existir do que imaginar o poder eterno e o mandato infinito? Como disse o notável Mangabeira, em carta ao ditador Getúlio Vargas, “ninguém pode tudo, sobretudo, ninguém pode tudo todo tempo”.

Dói ver a destruição lenta do Partido que levamos décadas para construir e consolidar, com resistência e altivez. Dói ver companheiros que garantiram sua filiação no PMDB, na época da ditadura, com o risco de liberdade ou de sua própria integridade física, serem agora descartados por figuras que não guardam a mesma história nem ostentam os mesmos perfis.

Dói testemunhar um Partido que se formou na resistência e cresceu na altivez se amesquinhar com a marca da submissão e do mais desprezível servilismo. Dói ver de cócoras o Partido que tinha a marca da irresignação.

Dói ver o Partido outrora pujante e participativo celebrar, agora, convenções como se fossem funerais, em que sobram ônibus e faltam pessoas, sobram banquetes e faltam comensais. Dói ao peemedebista histórico ler o relatório do Deputado Cézar Schirmer, preparado a pedido da Direção Nacional, sobre a verdadeira situação do Partido na Paraíba. Ele detalha o esfacelamento do Partido. Acrescenta, “como fato verificado”, a intervenção sem causa em diretórios municipais e deplora “a tentativa de trazer para o PMDB lideranças e personalidades cujas presenças, pelo perfil ideológico conservador, descaracterizariam nossa legenda, maculando a credibilidade e o conceito arduamente construídos pelo aguerrido PMDB paraibano”. O Relator Cézar Schirmer até propõe que a Direção Nacional do PMDB acolha o pedido de intervenção solicitada pelo Deputado Federal Damião Feliciano, por reconhecer “a impossibilidade do Diretório Estadual da Paraíba de conduzir o PMDB estadual, impedindo o seu fortalecimento, sua unidade e seu crescimento”.

Requeiro, Sr. Presidente, que esse relatório, pela sua significação histórica, seja parte integrante deste pronunciamento, pelo que me dispenso de lê-lo na íntegra.

Dói ver o Partido que entregamos como um das bases regionais mais sólidas e consistentes definhar, a cada dia, por debilidade política e rejeição eleitoral, já sem representação consistente na Capital, reduzido a um único Deputado Federal, que a empáfia diz “não existir” - e, no entanto, ele foi o mais votado do Estado, embora eleito por outro partido. Ao Deputado Damião Feliciano, único remanescente do outrora sólido PMDB paraibano, minha solidariedade e o conforto de que, afinal, esses ataques absurdos são apenas frutos de uma visão caolha.

Por tanta dor, muitas vezes a razão me impeliu a sair; outras tantas o coração me pediu para ficar. No PMDB, afinal, estavam minha vida e minha história, a marca do meu trabalho e o timbre dos meus sonhos. Hoje, ao contrário, a razão até me tenta a ouvir apelos da nova direção partidária e seus compromissos de posicionamento ao menos imparcial e de enfrentamento minimamente isento da questão partidária da Paraíba. Mas hoje o coração e a razão me obrigam a sair.

Enquanto nos perseguiram - a mim; a Campina Grande; ao seu Prefeito, meu filho, Cássio Cunha Lima; e aos meus companheiros -, enquanto me difamaram e tentaram destruir, a tudo enfrentei, a tudo resisti, ao preço mesmo da integridade física que paguei como tributo de dor à maior, mais insidiosa e persistente campanha de destruição a que poucos homens públicos até hoje foram submetidos. A tudo resisti e sobrevivi, em silêncio e resignação, embora com sofrimento e decepção.

Minha história me impede de calar e, menos ainda, de me omitir quando perseguem e tentam destruir todos os que me seguem. Na Paraíba de hoje, estão demitindo até serventes e jardineiros com passagens por cinco e seis Governos, pelo único crime inafiançável de haverem, um dia, trabalhado comigo. Por tanta perseguição, o coração hoje me obriga a sair.

Com pesar e com uma dor que jamais experimentei, nem quando a mão de Deus me levou à fronteira da vida, cumpro, hoje, meu último ato de militância no PMDB: o de uma refletida desfiliação do Partido que ajudei a fundar e onde militei por mais de 35 anos.

            Deixo o Partido para deixar a Paraíba livre de disputas e querelas partidárias, a fim de que nem esse argumento justifique a inação ou a omissão; deixo o Partido para que não se repitam as convenções viciadas a que me referi.

            Deixo o Partido para que a Paraíba me julgue em prática e postura, em princípios e valores, sem temer e, muito ao contrário, até buscando a comparação da obra administrativa que eu e Cícero Lucena construímos, do modelo de Estado que desenhamos, dos modelos de gestão e de desenvolvimento para nossa terra, de segurança e de serviços essenciais para nossa população e de futuro para nossa gente. A Paraíba terá, afinal, a possibilidade de cotejar alternativas e de julgar o contraditório, de fazer comparações e alicerçar conclusões, o que é salutar para o processo democrático, indispensável para o avanço político e imprescindível para o aperfeiçoamento administrativo.

Se, ontem, a muitos convidei para me seguir na construção de um sonho político, a ninguém peço hoje para me acompanhar, na solidariedade pela decepção partidária.

Entendo as razões dos que saem, compreendo as motivações dos que ficam, sem cobranças que jamais admiti, sem ressentimentos que jamais alimentei. A ninguém distingo por essa solitária opção política, a todos respeito por essa pessoal e intransferível opção partidária.

            Orgulha-me, no entanto, partilhar esse momento grave com companheiros como os Deputados Federais Armando Abílio, Carlos Dunga e Domiciano Cabral, com os Deputados Estaduais Zenóbio Toscano, Antônio Ivo, Rui Carneiro, Artur Cunha Lima, Trócoli Júnior, Rômulo Gouveia, Nominando Diniz e João Fernandes. Orgulha-me partilhar essa decisão com companheiros como o Prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, meu irmão de projetos comuns, meu irmão de ideais e preocupações, de sonhos e esperanças e, sobretudo, meu irmão pelas mais comoventes demonstrações de lealdade política e correção pessoal, numa fraternidade que seu caráter blindou a divisões e intrigas.

Orgulho-me de centenas de vereadores e prefeitos que nos acompanham.

Orgulho-me até dos que, pretendendo sair, confessam que não o podem, temendo represálias e retaliações a si próprios e até às suas cidades.

            Minha nova opção partidária é o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), adotada mediante consenso e principalmente onde já estão cruzados de outras lutas, como o próprio Prefeito Cícero Lucena e os Deputados Federais Inaldo Leitão, Ricardo Rique e Domiciano Cabral e Armando Abílio, entre outros valorosos guerreiros dos mesmos sonhos.

            Mesmo em tribunas diferentes, em trincheiras diversas, continuaremos unidos por sonhos comuns e por uma comum e mesma visão do mundo e da vida, da ética e da política, que, em suma, são cimento mais forte que qualquer legenda partidária e liga mais consistente que meros projetos eleitorais. Quem se une por princípios e por uma história de vida não se afasta por conveniências de qualquer natureza.

            Com uns e com outros certamente estaremos juntos e unidos em lutas futuras em defesa da Paraíba e dos paraibanos, até porque em todos existem a mesma marca da insubmissão, o mesmo timbre da irresignação e a mesma e inesgotável capacidade de indignação.

            A desfiliação de hoje não significa abjurar o programa partidário que transformei em balizamento político por mais de 30 anos, mas representa a defesa de um princípio ético e de uma visão de partido plural e democrático, participativo e, sobretudo, programático, como sonhado por um patriota como Mário Covas, sem o que a luta política se amesquinhará, reduzida a meros embates pessoais entre o arbítrio e a subserviência, entre a prepotência e a submissão. Partido, afinal, existe para promover programas e não pessoas, para avançar conquistas políticas e não exacerbar vaidades pessoais.

            Continuarei como Senador de toda a Paraíba e de todos os paraibanos, sem qualquer distinção, até porque é na Paraíba que deito minhas raízes, é a Paraíba que me oferece a seiva que me retempera energias e sonhos, forças e esperanças. Experimentei o exílio político, mas jamais mudei: minha terra é e será, exclusivamente, a Paraíba.

            A vida me ensinou a esperança de que não há noites que sempre durem. Mais ainda, é da escuridão mais fechada, das noites mais sombrias, que se formam as madrugadas e surgem as auroras, com o alvorecer de novos sonhos.

Saio! De tanto tempo de lutas e de tão longa história guardo lembranças e recolho sentimentos, desde as emoções de alguns instantes às decepções de outros momentos.

            Deixo um Partido que foi a história da minha vida, mas, em sua generosidade, Deus me permitirá que eu continue inabalável na fé, inteiro na esperança e nos sonhos e invencível no entusiasmo contra a opressão e a intolerância, quaisquer que sejam suas armas, não importando suas dimensões. Em sua misericórdia, Deus me alimentará a crença em que a Paraíba venha a ter, afinal, desenvolvimento com cidadania, cidadania com justiça e justiça com respeito. Amanhã será outro dia.

Repito o Salmista: "Meu futuro entrego a Deus, confio Nele e o mais Ele fará".

Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

            A Srª Marluce Pinto (PMDB - RR) - Senador Ronaldo Cunha Lima, embora V. Exª já tenha concluído o seu discurso, gostaria que me concedesse um aparte.

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB - PB) - Com muita honra, concedo o aparte a V. Exª.

A Srª Marluce Pinto (PMDB - RR) - Quero dizer a V. Exª, em meu nome, já que sou uma das integrantes do PMDB, que lamento essa ocorrência. Não quero entrar no mérito, porque, sinceramente, é muito difícil para todos nós do PMDB solucionar determinadas situações que surgem em níveis regionais. Mas quero dizer que a história de Cunha Lima na Paraíba, no MDB e no PMDB não se apagará. Ninguém poderá tirar o seu futuro político e esquecer a brilhante história política de Cunha Lima. Sei que qualquer partido que V. Exª tenha escolhido ou vá escolher para dele fazer parte vai sentir muito orgulho de tê-lo como um companheiro brilhante que é. Todos nós do PMDB nos sentimos honrados em tê-lo ao nosso lado por todo esse tempo. A amizade que V. Exª conquistou dentro do PMDB não se extinguirá com a sua saída. Guarde as minhas palavras e tenha a certeza de que não só eu, mas muitos - não posso falar em nome de todos, mas, talvez, até os peemebistas da Paraíba, de onde as divergências surgiram, sintam desta forma; repito que não quero e nem posso entrar nesse mérito - estão lamentando o momento atual. Que Deus o ilumine cada vez mais e que um dia o nosso querido PMDB possa tê-lo de volta, com toda a sua equipe!

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB - PB) - Ouço V. Exª com muito prazer.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Senador Ronaldo Cunha Lima, quero apenas externar o testemunho de elevada admiração pela atuação parlamentar de V. Exª nesta Casa e dizer da saudade que todos nós temos dos tempos em que tinha atuação diária dentro do Parlamento. Entendemos a sua situação, em que se recupera da enfermidade que o tirou da luta diária e do embate político permanente. Estamos acompanhando toda essa movimentação reflexiva de V. Exª em relação à política da Paraíba. Seguramente, o vínculo que tem hoje um familiar seu com o meu Partido, o Partido dos Trabalhadores, em Campina Grande, impõe que devamos sempre aumentar o nosso respeito ao posicionamento político de V. Exª, pois sempre que ele tiver como direção, como olhar, o desenvolvimento da Paraíba, as políticas públicas e o bem-estar do povo da Paraíba, que é a sua razão de estar no Senado e o que o norteia, V. Exª contará sempre com o nosso respeito por qualquer decisão que venha a tomar. Muito êxito em seu ajuste partidário! Muito obrigado.

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB - PB) - Comovido, agradeço as manifestações da Senadora Marluce Pinto e do Senador Tião Viana, que muito me confortam neste instante.

Senadora Marluce Pinto, na verdade, deixo o Partido, mas mantenho as amizades que aqui construí ao longo da minha militância partidária de fidelidade, lealdade e correção. As circunstâncias me levaram a este instante doloroso, mas os meus sonhos continuam íntegros, a minha esperança e a minha disposição de lutar permanecem firmes.

Se estou sendo expulso do Partido, se o Partido criou circunstâncias para que eu dele saísse, não irei agredir ninguém e nem fazer ataques pessoais. Quero manter acesa a chama da minha esperança, agradecendo a todos que foram solidários comigo.

Hoje foi um dia de muita emoção para mim. Desde cedo, recebi ligações da Paraíba, de pessoas de várias gerações. Inclusive, recebi uma ligação muito confortadora e muito animadora de uma senhora de 76 anos de idade, de um longínquo Município do sertão.

Agradeço a todos e despeço-me dos meus colegas Senadores do PMDB, os quais sempre admirei, com os quais procurei colaborar. De cada um guardarei a melhor lembrança e o melhor perfil, porque o bom é termos a certeza de que novos caminhos vão surgir. Tenho certeza de que a mão de Deus vai me segurar, para que eu possa cumprir com fidelidade o destino que Ele próprio me reservou.

Agradeço a todos, desculpo-me por alguma omissão e deixo um abraço fraternal a cada um como se me despedisse para um até breve, porque continuo nesta Casa com a mesma lealdade, com a mesma firmeza e a mesma disposição de ajudar o Brasil e a Paraíba. O Brasil precisa de ajuda. Quero, pois, enfileirar-me aos que querem ajudar o Brasil a se encaminhar pela vereda de um futuro promissor e mais acalentador para todos nós.

Agradeço de forma renovada e com emoção as manifestações da Senadora Marluce Pinto e do Senador Tião Viana. E repito o Salmista: “Deus, em quem confio, é quem vai ditar os meus caminhos”.

Muito obrigado, Srªs e Srs. Senadores.

O Sr. Geraldo Melo (Bloco/PSDB - RN) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB - PB) - Ouço V. Exª com muito prazer.

O Sr. Geraldo Melo (Bloco/PSDB - RN) - Peço a complacência da Mesa para que eu possa fazer uma breve intervenção. Senador Ronaldo Cunha Lima, sou Vice-Presidente do PSDB e vi chegar aqui, agora, naturalmente para homenagear V. Exª, o meu Presidente, Deputado José Aníbal, que, não sendo Senador, naturalmente não se pode manifestar nesta sessão. Mas tenho certeza de que tenho o seu apoio na manifestação que venho fazer. Não me sinto no direito de opinar sobre a política interna do Estado da Paraíba, onde em todos os Partidos só tenho amigos e razões de respeito pelas postulações e posições de cada um e de cada grupo. Tenho, entretanto, o direito de expressar publicamente a alegria que V. Exª acaba de me dar e o sentimento que passo a desfrutar. Sinto-me mais forte agora, passando a pertencer a uma bancada que conta com a sua presença. Quero, em nome do meu Partido, em nome da Executiva Nacional do meu Partido, se me permite o meu Presidente José Aníbal, e em nome da Bancada do PSDB no Senado, dar as boas-vindas a V. Exª. O PSDB ficará muito feliz não apenas com a sua presença, mas com a certeza de que a sua atuação, dentro do Partido, há de representar uma contribuição tão grande quanto representou até agora a sua luta dentro do PMDB, pelo PMDB e pelo Brasil. É dessa forma que vemos a sua chegada e é com esse carinho que o abraçamos neste momento.

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB - PB) - Muito obrigado, Senador Geraldo Melo. Fico confortado com as suas palavras. Registro, com emoção, a presença do Deputado José Aníbal, Presidente do PSDB, agora meu Presidente e meu chefe. Agradeço também as presenças confortadoras de amigos e irmãos, do Prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, e de outros Prefeitos da Paraíba, que vieram assistir a essa minha despedida do meu Partido, ao qual dediquei a minha vida, durante 35 anos.

Espero, Senador Geraldo Melo, honrado com a sua companhia, poder ajudar V. Exª, o PSDB e o Brasil neste momento difícil que atravessa. Com a mesma força, com a mesma fidelidade com que me conduzi no PMDB, eu o farei, agora, no PSDB, ao lado de V. Exª e dos demais companheiros aos quais me juntarei. Cito o companheiro Cícero Lucena, aqui presente, meu amigo e irmão, e o Prefeito de Campina Grande, Cássio Cunha Lima.

Agradeço a você, meu filho, que sofre perseguições e retaliações por minha causa. Agradeço, dizendo que você é meu canto de esperança e meu caminho de futuro. Deus também o abençoará, e a Paraíba sabe reconhecer seu mérito e seu valor.

Obrigado, Senador Geraldo Melo e Presidente José Aníbal.

 

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SEGUE DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SENADOR RONALDO CUNHA LIMA EM SEU PRONUNCIAMENTO, INSERIDO NOS TERMOS DO ART. 210 DO REGIMENTO INTERNO.

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2001 - Página 15943