Pronunciamento de Ney Suassuna em 08/08/2001
Discurso durante a 88ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
COMENTARIOS SOBRE AS DECLARAÇÕES DO SENADOR RONALDO CUNHA LIMA A RESPEITO DE SUA SAIDA DO PMDB.
- Autor
- Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
- Nome completo: Ney Robinson Suassuna
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA PARTIDARIA.:
- COMENTARIOS SOBRE AS DECLARAÇÕES DO SENADOR RONALDO CUNHA LIMA A RESPEITO DE SUA SAIDA DO PMDB.
- Aparteantes
- Maguito Vilela.
- Publicação
- Publicação no DSF de 09/08/2001 - Página 15985
- Assunto
- Outros > POLITICA PARTIDARIA.
- Indexação
-
- COMENTARIO, SAIDA, RONALDO CUNHA LIMA, SENADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), DEFESA, ATUAÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, ESTADO DA PARAIBA (PB), INJUSTIÇA, ACUSAÇÃO, PERSEGUIÇÃO, AUTORITARISMO, INTERVENÇÃO, DIRETORIO MUNICIPAL.
- DEFESA, ATUAÇÃO, JOSE MARANHÃO, GOVERNADOR, REGISTRO, OBRA PUBLICA, DESENVOLVIMENTO, MUNICIPIO, CAMPINA GRANDE (PB), ESTADO DA PARAIBA (PB), ESCLARECIMENTOS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com grande tristeza que assomo hoje à tribuna, para fazer este pronunciamento. Contudo, em nome da honra e da verdade, não posso e não me vou recusar a fazê-lo. É sempre muito triste vivenciar a diáspora entre pessoas queridas, amigas, a diáspora entre companheiros de sonho em algum momento.
Nesse aspecto, a política é, talvez, o mais cruel dos sortilégios. Caminhos que se trilham no companheirismo, irmanados no mesmo ideal de construção social e de se conseguir fazer um lugar melhor para se viver, podem e são, muitas vezes, bifurcados numa curva qualquer da estrada. Muitas vezes, companheiros saem da estrada principal e pegam atalhos que não dão em lugar algum, mas a história precisa ter seus registros. Exatamente porque a história passa a competir com a responsabilidade e para que se tenha o registro dos fatos, ocupo a tribuna, mas com tristeza.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Paraíba tem 223 Municípios, e o PMDB tem mais de 100 Prefeituras; o segundo Partido tem pouco mais de 40. Hoje o PMDB da Paraíba foi citado como fraco por um Senador paraibano - o PMDB que tinha 60 Municípios e que hoje tem mais de 100. Não é verdade. Foi citado como um Partido prepotente, que expulsou pessoas. Não é verdade. Foi citado como um Partido que interveio em diretórios municipais. Tragam a intervenção num deles e, de público, penitenciar-me-ei. Não é verdade também essa afirmação. Falou-se, inclusive, em intervenção em João Pessoa, em Campina Grande e em outros municípios. Balela, mentira, Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores.
Lamento muito dizer isso, mas, quando o Senador Ronaldo Cunha Lima vem aqui e diz que está saindo, também não é verdade. S. Exª já saiu há muito tempo, quando ele retirou do PMDB o Prefeito Cícero Lucena Filho, quando retirou do PMDB o Deputado Armando Abílio Vieira e outros, alguns para o PSDB, outros para o PTB. O filho foi retirado e está sem partido até hoje. Ora, como alguém pode pertencer a um partido se retira os seus aliados dele? Por inúmeras vezes, ele anunciou que ia largar, que ia deixar o Partido e assumir o partido A, B ou C.
Intervenção em João Pessoa nunca houve. O que tivemos lá foi o abandono, pelo Prefeito Cícero Lucena Filho, do Partido, que ficou como um barco à deriva no rio, sem capitão, sem comandante e sem tripulação. Nós assumimos. Sun Tzu, em A Arte da Guerra, diz que o poder não admite espaço vazio; nós ocupamos o espaço que o prefeito deixou vazio.
Em Campina Grande, o Prefeito Cássio Cunha Lima se aliou ao PT; agora está sem partido. Como alguém pode estar com o pai e os companheiros no PSDB e estar aliado ao PT, e continuar sem partido?
Na verdade, a estratégia deles, Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, é ocupar siglas. Eles querem ocupar siglas, não interessa se há coerência, não interessa conhecer o conteúdo programático. Chegam nesta Casa sempre como vítimas, mas não o são.
A Bíblia fala da sementeira, que quem planta colhe. Passei vinte anos, Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, nesse grupo e o larguei porque eu queria seguir a estrada principal.
Num determinado momento, fizemos o acordo da granja - a casa onde reside o Governador da Paraíba. O Senador Ronaldo já estava no Senado, o cunhado era o Ministro da Integração Nacional, o filho era Prefeito de Campina Grande, o irmão era Deputado Federal e seria o Vice-Governador, que gerenciaria a eleição seguinte, cujo candidato seria Cássio Cunha Lima, e o primo era Deputado Estadual. Creio que nenhuma família teve tanto poder no meu Estado. Talvez, por ter tanto poder, houve uma distorção, pensaram que poderiam fazer tudo.
E o que aconteceu? Depois do acordo em que José Maranhão seria o Governador, eu seria o Senador e o irmão dele seria o Vice-Governador, eles resolveram não cumprir. A agressão foi tão violenta que o povo da Paraíba deu ao Governador José Maranhão 82% dos votos, a maior votação que um governador teve neste País. Democracia é isto: voto. Mas não parou aí.
Sr. Presidente, li o discurso do Senador Ronaldo Cunha Lima. Gostaria de ter estado presente, se estivesse teria intervindo na ocasião. Mas, como houve a troca, eu era o segundo, perdi a ocasião. Nele, S. Exª diz que nós do Governo José Maranhão temos perseguido não só ele como o grupo dele e a cidade de Campina Grande.
Sou de Campina Grande e tenho muito orgulho de ser campinense. Nós, campinenses, somos um povo diferenciado, somos teimosos, lutamos pelas coisas. Investi uma parte do meu capital em Campina Grande em um Shopping Center que emprega mais de duas mil pessoas.
Mas foi o Governador José Maranhão, na sua administração, que perseguiu a cidade: duplicou a BR-230, uma obra de mais de 100 milhões para um Estado pobre, a maior obra rodoviária que a Paraíba já teve - é uma estrada de primeiro mundo, dá gosto vê-la. Fez mais: construiu o Pronto-Socorro, que Cunha Lima, campinense, estando no Governo, não construiu. José Maranhão construiu um hemocentro, também de primeiro mundo; dezenas de escolas; levou água a bairros. Mas sua maior obra foi Acauã, que permitirá que a cidade não tenha problemas com água por muitos e muitos anos.
Mas veio a perseguição, resultado a da chamada “dor de cotovelo”. Eles poderiam ter feito e não o fizeram. Eu entendo, psicologia humana é assim mesmo.
Fico com pena, triste por ter de vir aqui relatar tudo isso, porque sei diferenciar, Srªs e Srs. Senadores, inimigo de adversário.
Trato com a maior urbanidade todos os adversários. Quando encontro o Senador Ronaldo, lembro os tempos anteriores, eu o cumprimento, mas somos adversários.
A verdade tem de ser mantida. Quando da Executiva do PMDB, disseram que o Partido estava fraco. Um Partido que tem a metade dos prefeitos do Estado! O Senador Maguito Vilela, Presidente do PMDB, está aqui. S. Exª foi à inauguração da nossa sede, a melhor de todo o País, e peço o seu testemunho.
No dia da inauguração da sede, sessenta vereadores, vinte prefeitos, inúmeros deputados, centenas de lideranças passaram para o PMDB, vindos de outros partidos. E o Senador Maguito Vilela foi vilipendiado porque fez um discurso saudando esse feito. Disseram que ele foi até lá para dizer que iria entregar ao nosso grupo. Não! O Senador Maguito disse, na Executiva - e eu peço o testemunho de toda a Executiva -, o seguinte: “Vocês aceitam que eles voltem - porque não estão no Partido - e disputem aqui dentro do Partido?” E nós, na mesma hora, dissemos: “aceitamos”. “Então, voltem ao Partido e nós vamos julgar o pedido de intervenção que vocês fizeram ao PMDB”. Não foi isso, Senador Maguito Vilela?
V. Exª poderia, por gentileza, ocupar o microfone e dizer se eu estou falando a verdade? Foi exatamente isso que aconteceu?
O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Exatamente. V. Exª está retratando aquilo que aconteceu em João Pessoa. Logo a seguir, eu vou aparteá-lo.
O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Sr. Presidente, o que aconteceu? Hoje, o Senador Ronaldo Cunha Lima disse que foi expulso do PMDB. Não! Não foi expulso. Nós o aceitamos de braços abertos. Venha! Mas aceite a democracia de batermos chapas.
Ganhamos a primeira e a segunda convenção. Íamos ganhar novamente se viessem. Eles entraram na Justiça. Perderam em todas as instâncias, e dizem que foi uma eleição, uma convenção com corrupção. Então, a Justiça é louca! Lá e cá.
Eu fico triste, porque desejo a união. Quero o meu PMDB cada vez mais forte, como temos na Paraíba e em Goiás. Quero um PMDB forte no País; um Partido que tem passado, presente e, com toda certeza, terá futuro, porque mesmo em uma crise como a que estamos passando, desejamos a transparência, a verdade em todas as ocasiões, custe o que custar.
Concedo o aparte ao nobre Senador Maguito Vilela, Presidente do PMDB.
O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Senador Ney Suassuna, faço coro com as palavras de V. Exª e lamento a saída do honrado e digno Senador Ronaldo Cunha Lima do PMDB. Evidentemente, perder integrantes é ruim para o Partido, e o PMDB se sente frustrado com a perda de um companheiro do nível, da estirpe política do Senador Ronaldo Cunha Lima. É lamentável que isso tenha ocorrido, porque envidamos todos os esforços em prol de uma composição. Cheguei, inclusive, a indagar do Governador José Maranhão e de V. Exª, Senador Ney Suassuna, se havia como conviver com o grupo Cunha Lima, e V. Exªs responderam prontamente que sim, que os receberiam de braços abertos e que aceitariam o diálogo. Infelizmente, a recíproca não foi verdadeira. Não aceitavam mais conviver com o Governador, com V. Exª, e o Partido teve de optar. Quer dizer, o problema é grave para ser superado pelo Diretório Nacional. Naturalmente queríamos decidir depois de todas as conversações, oportunidades e tentativas de conciliação. Entretanto, infelizmente, o Senador tomou essa posição, que lamentamos. Digo a V. Exª e ao Brasil todo que tive a honra de participar, em João Pessoa, da inauguração da sede própria do PMDB, indubitavelmente a melhor, a mais bonita, a mais funcional de todo o Brasil e, a de João Pessoa, muito funcional, muito bonita, muito organizada. Fiquei realmente encantado com o PMDB da Paraíba. E mais do que isto: fiquei encantado com a popularidade do Governador José Maranhão. Eu fiquei impressionado! Quer dizer, na inauguração de uma sede, numa tarde chuvosa em João Pessoa, havia lá dez mil pessoas, quinze mil pessoas. O Senador Pedro Simon e eu, que esperávamos encontrar quinhentas pessoas na inauguração, fomos lá recebidos por dez a quinze mil pessoas em uma festa maravilhosa. Vi um PMDB extremamente pujante, forte; um governador com credibilidade, e o povo aplaudindo-o sem parar. Percebi que V. Exª, Senador Ney Suassuna, goza hoje também de uma popularidade muito grande na Paraíba e que ao sair com V. Exª às ruas, aos restaurantes, o povo gritava o seu nome, acenando, querendo cumprimentá-lo. Saí de lá radiante com o PMDB, um Partido forte, um governador muito querido, com muita credibilidade - um Partido com mais de 20 deputados estaduais, com mais de 90 ou 100 prefeitos. Só naquele dia 20, prefeitos se filiaram ao Partido, sem contar com centena de vereadores. Isso nos empolga. O PMDB da Paraíba - eu disse isso lá - é um exemplo para o Brasil em todos os sentidos. Por isso, parabenizo V. Exa pela grande movimentação do Partido lá. O Senador Pedro Simon também ficou impressionado com a atuação do PMDB. Perdemos um companheiro, mas não a batalha nem a guerra. Pelo contrário, tenho certeza absoluta de que o PMDB da Paraíba continuará sendo vitorioso, vigoroso e, realmente, de tradições naquela terra. Meus cumprimentos a V. Exa.
O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Muito obrigado, nobre Senador Maguito Vilela. Alegro-me ao ouvir essas palavras de V. Exª.
A eleição reporá, com toda a certeza, aqueles que perdemos. Nós ganharemos a eleição.
Ao encerrar, digo mais uma vez que lamento ter de fazer este discurso. Eu preferiria não ter de fazê-lo. A bem da verdade e para a história, eu não poderia deixar de fazê-lo.
Nunca tive outro Partido. Sou do PMDB desde o dia em que ingressei na política e, no dia que eu sair do PMDB, sairei da política, porque comungo com o programa do meu Partido. Não entendo como alguns podem pertencer a vários partidos, como é o caso citado pelo grupo a que acabei de contrapor a minha opinião.
Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.
Muito obrigado.