A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, primeiramente agradeço a V. Exª a sua complacência, porque o tempo já está esgotado. Mas considero relevante fazer o registro da passagem do 4º aniversário de morte do sociólogo Herbert de Souza, nosso querido Betinho.

Eu gostaria de deixar registrada nos Anais da Casa a carta que Betinho escreveu para sua esposa, Maria. Trata-se de uma carta muito bonita e emocionante, que entendo deva ser lida pelas pessoas que lidam com o drama humano. Confesso que fiquei bastante tocada pelas palavras e por ver alguém que, com tanta vida espiritual, estava morrendo pelo corpo físico, degradado pela Aids, uma doença para a qual, lamentavelmente, ainda não há cura.

O Betinho fez um trabalho belíssimo no Movimento em Defesa da Vida, de combate à fome daqueles que vivem em situação de penúria. Esse trabalho é reconhecido em todo o País e replicado das mais diferentes formas, tendo como inspiração inicial a luta do Betinho. Foi a partir da sua luta que tivemos uma maior visibilidade para ações de combate à fome. É claro que já havia o trabalho humanitário por parte de pessoas voltadas para a problemática da exclusão social, mas, foi a partir do movimento promovido por Betinho que tivemos, realmente, uma maior visibilidade em torno do problema. Os frutos dessa luta não pararam com a morte do Betinho, ainda hoje surgem várias iniciativas, principalmente quando vivemos uma das situação mais dramática da exclusão no nosso País. Em que pesem as divergências entre os dados divulgados pelas instituições de pesquisa, como o Ipea e a Fundação Getúlio Vargas, os últimos dados dão conta de 50 milhões de pessoas vivendo na linha de pobreza. São pessoas que precisam de algum “porta-voz” para lutar pela reversão desse processo perverso.

Tenho no Betinho uma pessoa que nos inspira a continuar essa luta, das mais diferentes formas, com os mais diferentes matizes ideológicos, com um esforço que não deva ser fechado, nem particularizado em uma corrente política, em um pensamento, mas que todos aqueles que têm como utopia debelar a pobreza e a exclusão social devam estar imbuídos dessa luta.

De sorte que, nesse breve espaço de tempo, faço aqui uma homenagem à memória de Betinho, pois, assim, estaremos, de certa forma, assumindo o compromisso de manter viva essa memória. E a melhor forma de fazer isso é dando continuidade a seu trabalho, a suas realizações de combate à fome e à exclusão social. Não existe outra forma. Ele poderá ganhar os melhores poemas, a melhor biografia, os melhores filmes, mas, se tudo isso não tiver uma repercussão na realidade da exclusão social, poderá ser apenas uma ilusão ou um engodo de homenagem.

A melhor forma é fazer com que todos esses esforços - poesias, biografias, filmes - sejam no sentido de tocar mais mentes e corações, para que se continue com o desafio do combate à fome, ao desemprego, ao analfabetismo, a todas as formas de exclusão social, cultural, moral e política, em todos os aspectos da dimensão humana.

Sr. Presidente, agradeço e registro aqui a carta de Betinho destinada a Maria. Espero que o Congresso Nacional possa dar continuidade à luta em defesa de uma ação de uma ação mais apropriada para o combate à exclusão social, ampliando os recursos para essa prática, e que o Congresso Nacional aprove as diferentes iniciativas, o que, com certeza, seria uma grande contribuição aos sonhos do Betinho, que continuam vivos, que é o Projeto de Renda Mínima, do Senador Eduardo Suplicy.

O meu projeto foi apresentado por intermédio da Comissão de Combate à Pobreza, que cria o Orçamento Social. Há muitas outras iniciativas que precisam de conseqüência prática, e não apenas discursiva, a fim de que sejam viabilizadas para que as instituições públicas dêem a resposta necessária à problemática social do nosso País.

Muito obrigada, Sr. Presidente. 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE A SRª SENADORA MARINA SILVA EM SEU PRONUNCIAMENTO, INSERIDO NOS TERMOS DO ART. 210 DO REGIMENTO INTERNO.

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